Para minha alegria, sem mais dificuldades, encontrei o toalete. Encarei o espelho por um instante e me concentrei na imagem de confusão que ele refletia. Me apoiei na louça da pia, tentando acreditar que David estava mesmo ali, com alguém que não era eu.

Não era justo que eu tivesse me desmanchado em lágrimas por meses e aquele bastardo rodasse o mundo para encontrar a Kate Foster. Tinha que ser a Kate? Eu não tinha condições de competir com ela com aquele corpo, aquele cabelo, todo o reconhecimento e a cabeça viajada…

Levantei o rosto, interrompendo aquele pensamento ridículo.

Eu não deveria estar querendo competir com a Kate. Aquilo deveria ficar no passado. David deveria ficar no passado. Doze anos depois, ele estava infinitamente mais atraente, no entanto, não pro meu bico. Sem contar que eu ainda tinha o Jason, que mesmo com todos os problemas, estava me esperando em Denver.

Um pouco mais calma, lavei as mãos e respirei fundo. Agradeci por ter passado meu batom matte de cor fúcsia naquela noite, pois dificilmente ele teria de ser retocado. Depois de secar as mãos, realinhei os fios do meu cabelo e saí do banheiro.

Meu coração foi à boca quando senti meu corpo sendo preso entre a lateral do armário de troféus e a parede. Minha respiração ficou ofegante.

— D-David? — gaguejei. — O que está fazendo?

— Eu precisava ter certeza de que você não se lembrava…

Lentamente David se aproximou de meu pescoço e inspirou fundo o cheiro do meu perfume. Logo, pressionou meu corpo contra a lateral do armário e friccionou nossos corpos.

— David! Pare! — protestei. — Isto não está certo!

— Parecia tão certo há uns anos atrás… — Ele insistiu, acariciando meu corpo.  — Tem certeza de que não se lembra de nada?

Ao ouvi-lo murmurar aquilo com aquela voz rouca que eu adorava, senti várias borboletas invadirem meu estômago. Eu não conseguia mentir com ele me agarrando daquele jeito.

— Por que você desapareceu? — David me perguntou, vendo que eu nada respondia.

De repente, parei de lutar. Como assim?

— Como assim? — questionei. — Foi você quem não respondeu mais… Eu presumi sua falta de interesse…

— Ah! Então se lembra? — Seu lado safado havia aflorado completamente e não parecia querer ir embora mais. — Uma pena eu nunca ter recebido uma mensagem sua, nem uma ligação…

Fiquei em silêncio por um instante como se procurasse em seus olhos uma justificativa para aquela situação, porém ele apenas pressionava mais meu corpo contra o armário.

— Então, por que nunca me procurou?

— O que sabíamos um do outro, Eve? Que você era do Colorado e eu da Califórnia? — Ele ironizou.

Encontrei uma brecha em seu braço direito e me agachei para fugir daquela armadilha que era seu abraço. Ficamos de frente um para o outro com uma distância de mais ou menos dois metros.

— Você tinha meu número… — murmurei.

— Eu perdi aquele papel no qual você anotou. — David voltou a se aproximar. — Mas, por Deus, não vamos mais perder tempo!

David me agarrou pela cintura de novo e me levou para trás. Mal senti o baque de minhas costas se chocando contra a parede, tamanha a euforia que me invadiu e a vontade que tive de me entregar a ele. Mas eu não podia. Ele estava a milímetros de distância quando murmurei:

— E Kate?

— Esqueça! Ela está se divertindo com os outros lá dentro…

Eu estava nervosa, mas ansiosa para tê-lo novamente. A saudade era tanta que eu não mais enxergava direito e quase esquecia até de meus próprios princípios. Se não fosse pelo “quase”...

— Prefiro ter este momento contigo agora do que estar com ela…

Bastou que David dissesse aquilo para minha consciência reclamar. Ok, nos pegaríamos ali naquele corredor, talvez arrumássemos um local mais reservado para darmos uns amassos, mas e daí? Seria apenas um momento, como ele havia dito.

Eu merecia muito mais do que um momento. David foi meu primeiro amor, minha mais louca paixão. Ele havia significado muito para mim e doía perceber que aquele sentimento jamais fora recíproco.

Em resposta, meus braços arrumaram uma força que nem eu sabia que tinha e o empurraram para longe de mim.

— Chega, David!

Imediatamente a porta do ginásio se abriu e, da mesma forma, olhamos em sua direção.

— Eve?