Para um semideus, é absolutamente normal passar um fim de tarde lutando contra monstros. Ou em missões aparentemente simples, como monstros aterrorizando uma praça sem motivo aparente, situação na qual Thalia Grace, Nico Di Angelo e Leo Valdez se encontravam. Um trio selecionado a pedido de Quíron, que aproveitara a rara visita das caçadoras de Ártemis para enviar a tenente delas junto com dois garotos, coisa que não a agradou a princípio, numa missão aparentemente banal: destruir alguns monstros, provavelmente remanescentes do exército de Gaia, que pareciam aterrorizar uma praça pública.

— Atrás de você, Di Angelo! – Thalia alertou o filho de Hades, que quase foi atingido por um telquine.

Nico agradeceu rapidamente enquanto matava o monstro. Ele olhou, por um momento, para as pessoas ao redor, e imaginou o que elas estariam vendo. Talvez cosplayers simulando uma luta ou simplesmente alguns loucos brigando entre si. Uma bola de fogo passou ao seu lado e ele virou-se para ver Leo sorrir de canto enquanto o telquine que atingira queimava.

— Cuidado comigo! – O filho de Hades reclamou. Leo, pelo contrário, abriu um pequeno sorriso.

— Eu não ia te atingir nem querendo, Di Angelo... Não quero que Hades mande seus cães infernais comerem meus pés enquanto durmo – Brincou, rindo baixo em seguida e levando Nico a ceder aos risos. Estavam já aliviados por terem acabado quando, de repente, as pessoas ao redor da praça gritaram, fazendo os três se entreolharem, confusos, por poucos segundos, já que uma sombra cobriu a área em que os três se encontravam. Thalia segurou o arco com firmeza e olhou para cima, arregalando os olhos ao ver o ciclope que se erguia acima dos três.

— Que ótimo! – A garota reclamou, guardando o arco e puxando suas facas de caça. – Nico! – Chamou. – Sei que Will vai me odiar por isso e, provavelmente, você também vai... Mas preciso de impulso e acho que alguma rocha sinistra do Mundo Inferior pode ajudar!

O Di Angelo a encarou, pensativo sobre fazer ou não o que pedia. Porém, entre os três, Thalia tinha a melhor estratégia no momento. Mesmo que não fosse ela quem ouviria Will reclamar como se fosse sua mãe. Então, assentindo levemente, Nico esperou até que Thalia saltasse para concentrar suas forças e fazer uma rocha negra emergir do chão, sobre a qual Thalia pegou impulso para ir mais para cima e pousar graciosamente no braço do ciclope.

— Vamos derrubá-lo! – Sugeriu Leo. Nico o encarou com os olhos arregalados, indicando Thalia em seguida. – Ela vai ficar bem, Di Angelo! Caçadoras são como gatos... Caem sempre de pé e sempre em cima da presa certa!

Nico revirou os olhos diante da comparação ridícula, mas assentiu, correndo junto com Leo na direção do monstro. O latino lhe jogou a outra extremidade da corda que puxara do cinto e, numa perfeita sincronia, ambos envolveram as pernas do ciclope. Nico invocou alguns esqueletos, que cuidaram de puxar a corda no exato segundo em que Thalia fincou sua adaga, num arremesso perfeito, no olho do ciclope, que urrou, tentando dar um passo e logo tropeçando nos próprios pés, devido à corda. De cima do monstro, Thalia empalideceu por alguns segundos ao olhar para baixo.

— Medrosa... – Disse a si mesma antes de respirar fundo e saltar desajeitadamente, graças à queda repentina do ciclope. Já imaginava que iria se espatifar no chão quando algo, ou melhor: alguém, amorteceu sua queda.

A caçadora ofegou, olhando para baixo e reconhecendo Nico, que ofegava mais do que ela, já que a Grace caíra sobre o abdômen do garoto.

— Como eu disse... – Leo se aproximou com um sorriso zombeteiro. Estava fazendo piadinhas com os dois desde o momento em que Thalia dissera que preferia sair numa missão com Nico a sair numa com o Valdez. – As caçadoras sempre caem em cima da presa certa. – Ele lançou uma piscadela para os dois e Thalia lhe mostrou o dedo do meio, olhando para Nico logo em seguida.

— Desculpe – Pediu enquanto o ajudava a levantar. – Tudo bem?

Nico ofegou, com a mão sobre o abdômen.

— Vou ficar – Tranquilizou-a. Entre as caçadoras, Thalia parecia ser a única da qual Nico não se manteve longe durante mais que uma hora. Ele nunca gostou muito de Ártemis. Muito menos de suas caçadoras. Um dos motivos era o fato de terem tirado sua irmã. Mas o principal motivo era o que mais lhe doía: o fato de simplesmente substituírem-na chamando outras garotas para se unir à Ártemis e jurar castidade pelo resto de suas vidas. – Fez um bom trabalho.

Thalia sorriu levemente.

— Digo o mesmo. – Ela finalmente parou para olhar em volta, arregalando os olhos ao ver câmeras, celulares e tablets apontados em sua direção. – Meninos... – Chamou em voz baixa. – Deveríamos estar sendo filmados?

Nico e Leo, assim como a caçadora, olharam e volta e também arregalaram os olhos. Principalmente quando as câmeras foram direcionadas para o ciclope se dissolvendo em poeira dourada.

— Cazzo! – O italiano xingou, segurando rapidamente o braço de Leo e o de Thalia, que, incrivelmente, não reclamou por estar sendo tocada por um indivíduo do sexo masculino. Depois desapareceu com eles nas sombras. Estava visualizando o tão confortável Acampamento Meio-Sangue quando algo interceptou sua viagem, puxando os três para o não tão confortável Olimpo, onde, na sala dos tronos, os deuses discutiam entre si. Nico olhou ao redor e reconheceu seu pai, Hades, sentado ao seu trono, o qual raramente era visto no Olimpo, já que o deus não fazia parte dos doze.

Thalia olhou em volta, confusa ao não ver os campos de morangos ou simplesmente o seu pinheiro, ao redor do qual Peleu tirava uma soneca, e sim um salão cheio de deuses discutindo entre si, culpando uns aos outros pelo que a menina supôs ser o acontecimento de poucos minutos atrás: quando, inexplicavelmente, os três foram vistos. Como se a névoa falhasse por um segundo.

Ela percebeu que o único deus que notara sua presença foi Hades, que tinha um olhar de tédio. Depois voltou a fitar os deuses e assoviou. Não era um assovio como os horríveis assovios de Will, mas fora o suficiente para chamar a atenção dos deuses, que logo baixaram o olhar para fitar os três semideuses que não entendiam absolutamente nada do que estava ocorrendo.

— Eu tenho absoluta certeza que fizeram isso a troco de ter a atenção para eles! – Acusou a deusa da sabedoria, cruzando os braços abaixo dos seios.

— Espere um pouco. – Por fim, Hades pareceu entender do que se tratava a discussão, pois resolver soltar a voz. – Você está mesmo acusando meu filho e seus amigos, Atena?

— Não ficou óbvio? – Rebateu a Deusa da Sabedoria, revirando os olhos.

Leo encolheu-se um pouco, saindo da pose de superior que sempre tinha, alternando seu olhar entre Nico e a caçadora, que pareciam ter a mesma confusão que a sua.

— Escute aqui, você pode ser a mais inteligente daqui. – Começou o deus do mundo inferior, segurando-se para não se levantar de seu trono. – Ou apenas ver as coisas com outros olhos; mas eu não vou permitir que acuse meu filho e seus amigos de calunias.

— O que aconteceu? – Foi no pior momento, que Thalia resolveu soltar a voz, fazendo a pergunta que estava engasgada em sua garganta desde que aparecera ali.

— Calem-se os dois. – Ordenou o rei dos céus, tomando a frente. - Nós sabemos que foram vocês.

Hades estava tentado a parar o irmão, mas como se previsse isso, Zeus levantou a mão fazendo ele bufar alto.

— Sabem que fomos nós? Poderiam informar do que estão falando? – Nico resolveu soltar a voz, dando um passo à frente.

Zeus riu debochado, surpreendendo os semideuses ali presentes, já que o Deus costumava ser carrancudo e não dar risadas de deboche.

— Vocês derrubaram a névoa.

Os três arregalaram os olhos, tendo a mente invadida por trilhões de perguntas diferentes que se esforçaram para não jogarem no ar, já que isso geraria uma discussão maior.

— Isso é possível? – Leo não aguentou a língua, soltando a pergunta que não queria calar dos três.

— Olhe o que você fez, Zeus! – Acusou Hefesto, levando as mãos para as têmporas. – Agora que sabem que não foram eles, terão que explicar tudo o que não deveríamos, informações demais.

— Já é tarde, Hefesto. Estão vindo atrás deles e você sabe muito disso. – O senhor do céu rebateu.

Thalia se cansou de tanta ladainha e revirou os olhos, resolvendo-se arriscar.

— Qual é? Falem logo o que está acontecendo nessa merda.

 – Está me desrespeitando, Thalia Grace? – Zeus faiscou os olhos para a morena, que apenas segurou o olhar do pai por alguns segundos, antes de desvia-los.

— Escute bem, pai. Acho melhor contar para eles logo, antes que a confusão fique maior e venham até aqui. – Apolo, que até então se encontrava quieto em seu trono, ergueu a mão pedindo a palavra.

Zeus suspirou, mas pigarreou.

— Há um tempo, o Olimpo fora descoberto pelo Governo Estadunidense e a CIA entrou em ação para nos manter escondidos, para que os humanos não enxergassem o real perigo que corriam. Nós fizemos um acordo, que os semideuses continuariam a proteger o mundo se não fossemos expostos. E o principal protocolo do acordo, era, nunca, jamais, derrubar a névoa. O que, consequentemente, aconteceu hoje. Então, os causadores disso teriam que ser entregues a eles sem resistência alguma. Eles decidirão o que vão fazer com vocês. Vocês escolheram o destino de vocês derrubando a névoa, então agora aguentem as consequências que serão impostas.

Ao termino do discurso de Zeus, Hades e Hefesto se levantaram em conjunto.

— VOCÊ OUSOU DIZER MESMO O QUE DISSE? VAI ENTREGA-LOS ASSIM? – Acusou Hades, aproximando-se do irmão com uma fúria no olhar.

— O QUE ESPERAVA QUE EU FIZESSE? – Rebateu. – ELES QUEBRARAM O ACORDO.

— NÃO FORAM ELES! – Hefesto entrou no meio de Hades, antes que tivesse agressão física. – OLHEM A CARA DELES, ACHAM MESMO QUE SÃO CULPADOS?

— Ás vezes os mais inocentes causam mais estragos. – Zeus bufou alto. – Então sim, eu irei entrega-los.

— ELA É SUA FILHA, SERÁ QUE SE ESQUECEU DISSO? – Hades berrou, apontando para Thalia que olhava fixamente para o chão, tentando conter todos os pensamentos que circulavam sua cabeça, fazendo o pânico correr por suas veias, sua cabeça latejar e seus pulmões faltarem ar.

Um pigarreio alto cortou o ar, chamando atenção até mesmo dos Deuses que discutiam entre si, sobre o que deveriam fazer em uma hora dessas.

Leo, que estava despreparado e muito viajado em seus próprios pensamentos, teve um sobressalto e saltou para o lado, como consequência, esbarrando em Nico, quase levando os dois para o chão.

— Com licença. – Na mensagem de Íris que surgira no meio do Olimpo, um homem, de cabelos negros e olhos escuros, avaliava os três semideuses de cima a baixo antes de se voltar para Zeus. – São eles?

— São. – Confirmou o Senhor dos Céus. – Nico Di Angelo, filho de Hades. Leo Valdez, filho de Hefesto. E por fim, Thalia Grace, minha filha e caçadora de Ártemis.

— Eu não aceitarei que meu filho seja entregue dessa maneira tão tosca! – Protestou Hades, encarando o cara que estava na mensagem de Íris com uma fúria fora do comum.

— Está no protocolo, Hades. – Atena interferiu, saindo de seu trono disposta a acabar com aquilo logo.

— Vocês fizeram um acordo e não podem quebra-lo, nós iremos levar eles para longe assim como o combinado. – O homem se pronunciou através da MI.

— Hades, eles vão ser levados queira você ou não. – Dessa vez fora Ares que decidira levantar de seu trono e se intrometer na discussão que estava havendo.

— E se eu não permitir? – Hefesto assumiu um tom furioso, olhando para Ares, que apenas revirou os olhos.

— Bom, cansei dessa discussão besta de vocês. – A voz se vez a ouvir novamente, calando os deuses. – Zeus, espero que os semideuses estejam no Camp assim que formos busca-los daqui a algumas horas. Você sabe o que é melhor para todos, eles terão que ser entregues por bem ou por mal. Até mais.

E assim a mensagem se desintegrou no ar, deixando os três semideuses assustados e incrédulos demais para fazer algo.