Another Way to Die escrita por Claire Smith


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Olá, de novo.
Quanto tempo, né? Eu sei.
Perdoem a demora, meu pc resolveu não ligar e isso atrasou tudo kkkk.
Espero que gostem da leitura e enjoy :)



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Molly Hooper

Ao acordar na manhã seguinte, após uma ótima noite de sono, fui assombrada pelo pensamento de que o alarme não tocara e que deveria estar atrasada.

Eu odiava estar atrasada para o trabalho. Ainda mais quando o dia anterior havia sido de dispensa.

Droga.

Durante o tempo que levei ao me arrumar, enumerei as coisas que precisava fazer hoje. Passei um batom e estava terminando o coque lateral no cabelo quando o aroma de café preencheu o quarto. Meu estômago se revirou mostrando o quanto estava faminta.

— Isso é ótimo – ouvi Agatha falar animada ao me aproximar da cozinha. – Tenho certeza que ela vai adorar.

— Quem vai adorar o quê? – quis saber ao vê-la tomando café com um Sherlock sem casaco, sem paletó, com os punhos da camisa branca levantados e com os cabelos negros ainda mais bagunçados. – Quando criou esse ninho? – perguntei divertida.

Ele corou levemente, mas foi Agatha quem respondeu.

— Parece mesmo um ninho, só que de um jeito fofo e mais interessante.

— Não quis dizer que não está bom, apenas que está diferente. Geralmente ele aparece assim na Baker Street quando fica alucinado por algum caso.

— Isso! – ela pontou Sherlock que se assustou. Seus olhos iam de uma para a outra como num jogo de tênis. – Alucinado. Bela escolha de palavra, Molly.

— Obrigada. Então, vão me contar quem vai adorar e o quê vai ser adorado?

— Ah, uma moça na padaria que vai adorar saber que será pedida em casamento – Agatha disse.

— E o futuro noivo simplesmente contou isso a você? – Sherlock passou o café para mim.

— Não. Sherlock deduziu.

Parei a xícara a poucos centímetros da boca.

— Vocês foram à padaria juntos?

Ambos assentiram.

— Você fez deduções cotidianas e comuns em uma padaria? Com a minha irmã? – encarei Sherlock.

— Fazer deduções não é algo que possa ligar e desligar, Molly. Todos os sinais estavam lá quando observei os quase noivos, já que ele não parava de dar tapinhas no bolso do casaco e os dois estavam comprando muita comida para um café da manhã, indicando uma comemoração. Ele se mostrava afoito para propor ali mesmo, contudo teve o bom senso de esperar um pouco mais, por um local mais reservado. Aposto que já estão noivos nesse momento.

Algo me dizia que aquela não era a informação completa.

— Vocês estão bem? – mordi um bolinho.

— Ótima – Agatha respondeu.

— Claro, claro. Perfeitamente bem – Sherlock disse rápido. – Agora coma, Molly. Sua alimentação não está regulada a mais de 24 horas, e ao vê-la de camisola ontem, tenho certeza que não se alimentou tão bem nos últimos dias – ele disse num fôlego e de forma tão rápida que quase não entendemos.

Quase.

— Camisola? – Agatha me observou.

Quase cuspi o café.

— Sim. Sua irmã. Numa camisola azul escuro, com detalhes em renda branca. Ontem à noite, após finalmente conseguir abrir a maldita janela – me perguntei como ele não se enrolava na própria língua. – A propósito, Molly, as novas trancas são belas, mas ainda não são perfeitas. Vou indicar um local onde poderá comprar algumas mais resistentes.

— Foi você que arrombou – o acusei.

— Espera aí – Agatha pediu. – Quer dizer que você entrou pela janela dela e não pela porta?

— Claro – Sherlock merecia ser chamado de alucinado. – Ela me deixou entrar porque sentia frio.

— Como é que é? – um brilho de malícia e diversão se espalhou pelo rosto dela.

Eu devia estar vermelho escarlate agora.

— Definitivamente, não dá para tomar café com vocês – me levantei para embrulhar os bolinhos e comer no caminho. – Você dormiu? – perguntei a Sherlock.

— Como um anjo – respondeu. O que era engraçado, pois ele parecia muito com um anjo rebelde no momento.

— Sei, e deixou os meus livros numa bagunça enquanto os lençóis ao lado do sofá estão intactos.

— Arrumo quando voltar – vestiu o paletó.

— Aonde vai?

— Acompanhá-la ao hospital – disse com naturalidade.

Tradução: ser minha babá.

— Ah não, não, não, não mesmo – empurrei-o em direção aos quartos. – Por favor, arruma para mim – joguei o saquinho dos bolinhos para Agatha que assistia a tudo. Devíamos ser um programa muito divertido.

— O que está fazendo Molly? – Sherlock perguntou enquanto o puxava pelo braço.

— Você vai dormir – abri a porta do quarto de hóspedes.

— Esse quarto não está pronto para mim.

— Como assim não está? Apenas Agatha dormiu nele.

— Exato – cruzou os braços para dar ênfase a sua lógica.

— Então? – questionei.

— Prefiro outro quarto – e marchou para o meu, porque não havia outra opção.

Abriu a porta e sentou-se na cama feita.

— Perfeito.

Onde se encontrava aquele Sherlock calmo que a toda hora me pedia desculpas ontem à noite?

Peguei minha bolsa para sair do quarto quando sua mão envolveu meu pulso me mantendo no lugar.

— O que foi agora?

— Quero fazer um pedido – disse.

— Você não está em condições de pedir.

— Isso é sério, Molly.

Suspirei.

— Diga.

— Almoça comigo hoje?

Sherlock Holmes podia não ser expert nos traquejos sociais, entretanto ele realmente sabia surpreender.

— O quê?

— Um almoço comigo. Aceite.

— Não.

— Respondeu rápido demais, Molly, e nem adianta dizer que marcou algo, pois Emma informou que não há nada tão importante para prendê-la durante o horário, e ela claramente não se incomoda por não almoçarem juntas hoje. Portanto, se quer se ver livre de mim ao inventar uma desculpa para recusar, convença-me – tornou a cruzar os braços, dessa vez em desafio.

Quando o fato era tão bem exposto assim, ficava difícil saber em qual desculpa pensar.

— Isso significa um sim? – perguntou após o curto silêncio.

— Caso seja, isso significa que você vai dormir? – retruquei.

— Sim.

— Mesmo?

— Claro.

Olhei bem para ele.

— Se usar qualquer substância que o faça parecer acordado e descansado irei saber.

— Óbvio. Agora cumpra sua parte que eu cumpro a minha, ok? – estendeu a mão.

Estendi a minha em resposta.

— Ótimo. Até o almoço, Hooper.

— Até lá, Holmes.

Voltei à cozinha, onde Agatha me esperava com a sacola dos bolinhos em mãos e um sorriso enorme nos lábios.

— Sem comentários – falei a ela assim que saímos.

— Táxi – ouvi Sherlock chamar. Sua mão ainda esfregava a face estapeada a pouco.

Na verdade, já fazia algum tempo. Ele só estava sendo dramático.

— Ainda acho que devia colocar gelo nisso – o Sr. Parker, dono do pequeno restaurante, opinou para o detetive.

— Não é nada demais – ele desconversou quando o táxi para ao seu lado.

— Então porque continua esfregando o rosto? – perguntei.

Mas em vez de responder, ele apenas me encarou por um instante antes de abrir a porta do veículo e inquirir:

— Você vem, Hooper?

Pensei em dizer não, eu ainda tinha fome. Fora um almoço conturbado.

Quem manda Sherlock deduzir as pessoas em local público?

— Leve isso, senhorita – o Sr. Parker me entregou uma cesta com batatas fritas. – Se continuar andando com ele não vai comer tão cedo.

Ao que parecia, o simpático dono do restaurante gostava muito do detetive, conhecendo bem o “trabalho” dele e o modo de agir do mesmo. Ficou feliz por encontrar em mim uma ouvinte novata que ainda não soubesse dos seus feitos ao ajudar a polícia.

Agradeci a ele e entrei no carro. Sherlock mal havia dito o destino ao motorista e já estávamos em movimento.

— E agora?

— Vamos falar com Charles Turner. A namorada dele foi uma das últimas vítimas de Vicent Bolton – disse.

Como era de se esperar, ele não estava satisfeito com as poucas informações que possuía, e todo o tempo ocioso poderia significar uma nova vítima para as manchetes. Isso explicava a insistência em querer saber o possível em relação a todos os atingidos de forma indireta.

Me resignei em evitar suspiros com a situação, aproveitando ao máximo da batata que comia. Meu almoço, parcialmente devorado, se encontrava a várias quadras de distância, numa lanchonete próximo ao Barts. Eu devia imaginar que tentar manter uma refeição com Sherlock teria suas dificuldades.

— Você acha mesmo que são duas pessoas diferentes? Não poderia ter se enganado? – percebi, tarde demais, a pergunta idiota que fizera.

— Não parece a mesma pessoa – respondeu sem dar atenção ao tom duvidoso que usei. – Você realizou a necropsia e viu as marcas nas vítimas. Também viu as marcas em Agatha; não há qualquer familiaridade além disso.  Foi relatado que Helena Bolton sumiu poucas horas antes de sua morte, o mesmo aconteceu com Laura Smith, só que por um período maior. Quem quer que tenha tentado matar sua irmã tinha um motivo diferente para isso.

Senti um arrepio à simples menção desse fato.

— Ele parecia muito com Vicent – contei.

— Sem dúvida, o porte mediano e o fato de você estar involuntariamente ligada à situação colaboraram para isso – disse ao pegar uma batata da cesta.

— Pensei que não comesse durante um caso.

— Podem haver exceções, é claro.

— E quais seriam?

— Bom, talvez um dia seja preciso usar um disfarce de chefe de cozinha francês, ou um degustador de vinhos.

— Também francês?

— Sim – não disfarçou o riso.

Eu tampouco.

— Há alguma explicação para a preferência francesa?

— Nenhuma. Apenas deixa as coisas mais divertidas – leva uma nova porção de batatas à boca.

No ritmo que estávamos indo eu ficaria sem algo para comer logo, logo.

— E qual foi a exceção de hoje?

— Meu convite para almoçar, Molly. Esperava algo diferente disso?

Uma resposta menos direta que essa, talvez. Ele parecia estar plenamente ciente sobre o que dizia.

— Talvez um almoço que não seja interrompido por uma discussão – sugeri, observando-o.

— Em minha defesa, ela pediu.

— Era uma fã, Sherlock. Pediu por uma dedução e não pelo fim do relacionamento – e quem em sã consciência pede isso para ele? – Você sabe que devia ter optado pela foto com eles.

Ele se recusara veementemente a essa opção. O casal que nos abordara perguntou então se ele poderia deduzir algo deles.

Sim, eles pediram isso. Devem se arrepender amargamente agora.

— Foto? Para quê? – quis saber. – Eu sinceramente não entendo tanta comoção, afinal eu fui atingido.

— Me poupe, Sherlock. Como queria que ela agisse após saber da traição do namorado?

— Dando tapas nele.

— Ela fez isso – lembrei-me da cena. Foi impressionante e embaraçoso. – Ela se sentiu traída.

— Sim e não – disse.

Antes de conseguir perguntar, o veículo reduziu a marcha. O motorista passou por um parque e deslizou por mais alguns metros até que virou à esquerda e parou.

Pagamos a ele e saímos.

— Ok, o que quis dizer com isso? – perguntei.

— Você não distinguiu a fragrância presente nos dois?

— Ah claro, sou formada na percepção sensorial do perfume alheio.

— É uma habilidade útil – defendeu-se.

— Sim, eu sei – resolvi concordar. – E então, qual perfume havia no ar? – definitivamente uma pergunta que nunca pensei em fazer.

— Ambos tinham fragrâncias diferentes no corpo, elas não se misturaram como normalmente acontece nos casais fiéis.

— Como conseguiu distinguir os cheiros? – não havia qualquer traço de sarcasmo agora.

Ele sorriu.

— Elementar, minha cara. Já bloguei sobre as características primárias de várias essências – respondeu orgulhoso.

Tentei não rir da sua pose altiva e enigmática dizendo aquilo. Eu tentei...

Sherlock virou-se em direção ao prédio do apartamento que procurávamos sem esperar por mim.

Quando o alcancei, ele já tocava a campainha pela segunda vez.

— Parece que não há ninguém – disse.

— Não está mais sorrindo, Hooper – tocou a campainha novamente.

— Ah por favor, Sherlock. Não tive a intenção. Me desculpe – contive um novo acesso de riso.

Ele me observou sem dizer nada. Como na noite passada, parecia não haver mais nada ao redor, apenas nossos olhares no outro. Reprimi a vontade de dar um passo atrás e me forcei a falar.

— Você vive fazendo isso.

— Isso o quê? – pergunta.

Até penso em responder, mas sou interrompida por uma voz feminina conhecida.

— Ei, Shezzy! – a mulher grita, então olho para ela e a vejo abrir um pequeno sorriso. – Oi, Molly.

— Oi, Jess.

Era engraçado, mas nos tornáramos colegas após ajudáramos na morte falsa de Sherlock.

— Estamos de olho em você, garota. Fique tranquila – ela disse.

Anuí com a cabeça.

— Alguma informação para mim, Jess? – Sherlock perguntou.

— Charles não está em casa. Ele costuma jogar basquete com os amigos nas folgas do trabalho.

— E porque não fui avisado? – seu tom era irritado.

— Seu irmão nos informou que ele mesmo contaria a você, mas pelo visto ele não lembrou – a expressão dela me fez crer que a última coisa que queria ver era uma briga entre os Holmes.

— Onde ele joga? – Sherlock perguntou e pegou o celular. Talvez fosse ligar para Mycroft.

— Nesse caso, seu irmão pediu para lembrá-lo que há algo mais importante a ser feito – disse.

Ele encarou a figura baixa, magra e enrolada em dois cachecóis que era Jess. Voltou sua atenção para a tela do celular.

— Tudo bem. Me informe quando houver mudanças da parte de Mycroft – pediu.

— Sem problemas, Shezzy – acenou para mim e voltou para onde quer que ela tenha surgido.

— Mudança de planos? – perguntei.

— Sim – digitou algo no celular e chamou um táxi.

...

Dividimos o táxi. De novo.

Mas foi diferente de uma hora atrás. Sherlock ficou calado o tempo todo. Ele não parecia zangado ou algo do tipo, apenas não estava ali fisicamente.

Eu imaginava se Agatha já tinha resolvido seu trabalho na galeria. Mandei uma mensagem a ela pedindo para comprar algo para comermos mais tarde.

O táxi parou na Baker Street.

— Está tudo bem? – perguntei a ele.

— Sim, porque não estaria?

Suspirei.

— Por nada.

Silêncio.

— Pode subir por um instante? – ele perguntou.

— Para quê?

— Tenho uma lista de coisas que preciso do seu laboratório.

— Mande por mensagem.

— Prefiro entregar pessoalmente – respondeu. Abriu a porta e a segurou para mim. – Molly?

Tudo o que eu queria era chegar em casa e tomar um banho. Bem demorado. Ele realmente não precisava me entregar essa lista agora.

— Tenho certeza que a Sra. Hudson fez biscoitos e chá – ele disse.

Não pude deixar de sorrir ao olhá-lo sendo tão irritante.

— Acho bom terem coisas importante nessa lista – disse.

Subimos as escadas. A porta do 221B estava aberta. Mary e John estavam na sala tomando meu esperado chá com biscoitos.

— Ah, oi. O que fazem aqui? – perguntei ao servir-me de um dos amanteigados do recipiente.

— Esperando você, Molly – minha amiga respondeu, despreocupada.

— Porquê? – olhei para Sherlock que tirava o casaco e o cachecol.

Mas foi John quem falou.

— Para nos ajudar.

Por um minuto, todos ficamos em silêncio. Então, cada um deles me contou o plano.


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