Betting Stars escrita por mrszyslak


Capítulo 1
0.1 + mamãe mandou




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Eu normalmente acordo parecendo um monstro, eu sei disso, mas hoje eu tenho certeza que pareço o próprio capidemo.

Noite passada fui à festa do McConnell. A primeira coisa que me disseram quando cheguei foi: "maconha, cara?". Você deve imaginar o que aconteceu durante as quatro horas seguintes. Ashley Solmin, uma das garotas mais estranhas do mundo, admitiu gostar de mim e o namorado dela estava bem ao seu lado. Ele estava tão bêbado que não conseguia nem andar direito, então ele não se importou. Na verdade, ele me chamou para um menáge. Eu não aceitei, claro.   Eu só não estou muito interessado em genitálias masculinas, pelo menos não por enquanto. Quero dizer, tudo é possível.
Acho que eu bebi tudo que podia e ainda mais um pouco, sentia como se meu sangue fosse feito de álcool. Aí eu fumei umas ervas e tudo que de que me lembro é essa garota loira com uns peitos gigantes e... acho que é isso.

A única coisa que eu quero fazer agora é assistir Law & Order e beber café até morrer de overdose de cafeína.
Nada vai me fazer levantar. Hoje as únicas coisas que meus olhos verão são comida e televisão.
Pelo menos é o que eu achava.
Não passei trinta minutos dormindo até o meu celular tocar me avisando que alguém estava ligando. O nome no visor era o último que eu pensava que veria. Meu dedo foi até o botão verde, e então, minha mãe estava gritando comigo do outro lado da linha. E eu não podia fazer nada senão aceitar, afinal ela estava certa.

— Oi, mãe.

"Luke, nós precisamos conversar. Você tem feito coisas que você nunca fez antes e isso pode afetar teu futuro de um jeito irreversível."

— É, mãe, eu sei. Desculpa, tá?  Vou tentar me comportar e fazer o que você quiser, tanto faz.

"Você vai vir jantar em casa, Luke. Seu pai conheceu esse cara e ele é dono de uma grande empresa, com a qual seu pai quer colaborar. Hoje ele trará sua esposa e filha. É a sua chance de fazer as coisas melhorarem. Quero que você me prove que consegue ser decente como te criei para ser."

— A senhora sabe que eu não quero ir. Sabe que eu odeio os jantares do papai. Ele nunca acha ninguém pra trabalhar com ele, porque ninguém nunca quer. É uma droga. É uma droga ver a esperança nos olhos dele e o desapontamento depois, quando eles nunca ligam de volta. É uma droga ver os sonhos dele caindo por terra. Mas se isso vai melhorar as coisas entre nós, então conte comigo. Não que eu tenha muita opção, claro. Eu vou. Vou e vou agir como o filho perfeito, já que eu sei que é o que a senhora quer que eu faça. Mas eu não sou isso. Ambos sabemos. — digo e desligo a ligação, exaurido. Essa família é só mais um peso nas minhas costas.

Ligo a televisão e assisto Chicago P.D., Chicago Med e Chicago Fire até as 18h, quando tenho que trocar de roupa e me preparar para mais uma noite exaustiva na presença de meus progenitores.

Camisa polo, jeans e vans. É tudo que eu posso oferecer.

Dirijo com cuidado até a casa da minha mãe, onde eu não mais vivo desde os meus dezesseis anos. A última vez que estive aqui, foi por volta de sete meses atrás. Tudo permanece intacto. O pequeno jardim em frente à casa, o corrimão quebrado da escada que leva à porta de entrada. Atravesso a mesma e vejo meus pais se agarrando como se não houvesse um amanhã. Finjo tossir e minha mãe instantaneamente empurra meu pai para longe.

— Eles não estão aqui ainda, pelo que posso ver. Me mandem uma mensagem quando chegarem.

Eu só não queria ficar lá com eles, porque sei que a única coisa que ela faria é me corrigir e dizer as coisas que fiz de errado e como a desaponto todo santo dia, e ele só manteria sua cabeça baixa e não diria uma palavra, porque ele é a criatura mais omissa com quem já tive de lidar.

Eu olho em volta e vou para a garagem, onde os convidados não me verão quando chegarem. Por volta de quinze minutos depois, minha mãe me manda uma mensagem dizendo que estão esperando por mim. Passo pela porta e todos me encaram.
Há um homem pequeno e aparentemente amigável em frente a meu pai. Sua pele é pálida mas seu cabelo é quase preto. Sentado ao lado dele, uma mulher igualmente pequena em estatura. Sua pele é mais bronzeada e seu cabelo é marrom claro, ela veste um vestido azul escuro. E, ao lado dela, uma menina aparentemente da minha idade. Pálida como o pai. Seu cabelo é marrom claro como o da mãe e as pontas são loiras. Ela está vestida com um vestido branco repleto de flores desenhadas.
Me sento na cadeira vazia em frente à ela.

— Melanie quer ter a empresa no futuro. É para isso que estamos a criando. — a mulher diz orgulhosa, e a menina sorri.

— Isso é maravilhoso, ela vai administrar a empresa como ninguém, posso ver isso. — minha mãe diz. Opa, falsa.

— Tenho várias idéias que podem ajudar o negócio a melhorar significativamente. Poderíamos doar fundos para a caridade, por exemplo. Temos ótimas condições financeiras, e várias pessoas não. Acho que todos deveriam ter as mesmas oportunidades, afinal somos todos humanos.

— Isso é tão bonito, meu amor. — a mãe da garota mãe diz e beija sua testa.

— Sua filha está certa. Doar dinheiro para a caridade, além de ser uma ação muito honrada, melhoraria sua relação com o cliente em mil vezes — meu pai diz. Eles começam uma conversa sobre o que eles deveriam fazer e qual instituição deveriam ajudar. A garota à minha frente sorri orgulhosa a cada elogio que a fazem, e isso está me irritando como o caralho.

— Luke? — ouço minha mãe dizer.

— Oi? O quê?

— A comida tá boa? — não sei porque ela está me perguntando isso. Ela sabe que odeio sua comida. Hoje está até aceitável, ela deve ter pesquisado no google. Liz provavelmente está me testando. Para ver se eu sei ser legal nessas situações.

— Aham. — digo e descanso a faca e o garfo no prato até os outros terminarem de comer também.

— Vocês deveriam vir para a nossa casa esse domingo, pra jantar. Seria legal. — o homem diz e os olhos do meu pai se arregalam e consigo quase ver a felicidade escorrendo pelos cantos da sua boca. Eu estava feliz por ele.

— É, com certeza. — mamãe diz, vendo que meu pai não estava em condições.

— Ótimo. Ah, amor, lembra do Watoto? As crianças africanas que nossa igreja ajuda?

— O que fez aquele concerto que Melanie e Maddie assistiram?

— Exatamente. — a mulher se vira para encarar minha mãe e meu pai.

— Eles são uma comunidade de crianças órfãs que perderam seus pais para a fome, guerra, e coisas do tipo. Dentre dezenas, senão centenas de igrejas que os ajudam, a que frequentávamos é uma delas. Mas não se enganem, não é por serem tantas igrejas que os ajudam que a condição por lá melhora drasticamente. A comunidade é imensa. Você pode "adotar" um deles e mandar uma quantidade de dinheiro para essa específica criança. Eles te mandam cartas e os adultos fazem questão de te manter à par do que acontece na vida da criança. — suas necessidades, como estão indo na escola, saúde. É maravilhoso.

— Meu Deus, isso é tão lindo. Querido, deveríamos adotar uma dessas crianças. — minha mãe diz.

— É, claro. Como podemos fazer isso?

— Eles tem um site. Não lembro o endereço agora, mas amanhã eu te dou.

— Obrigada, isso é ótimo. — a mulher olha para o celular e depois para a gente.

— Foi ótimo conhecer vocês. Obrigada pelo jantar maravilhoso, mas temos que ir. Nossa outra filha está doente e está ficando cada vez pior. Esperamos vocês amanhã para jantar.

— Estaremos lá, obrigado por virem. —  minha mãe e meu pai os acompanham até a porta dizendo mais algumas coisas que não consegui entender. Aceno e logo que minha mãe fecha a porta, meu pai começa a surtar.

— Santo Cristo, o que eu vou fazer? Eles nos convidaram. Nós iremos, certo? Precisamos. O que a gente tem que vestir? Será um jantar formal ou casual? — ele está agindo como uma garota antes de um encontro com o garoto que ela gosta. Rio com o pensamento e minha mãe me olha com o olhar da morte.

— Pai, está tudo bem. Você e a mamãe vão, você agirá como um cidadão civilizado e tentará não surtar sempre que eles mencionarem a possibilidade de uma futura provável parceria. E BAM, será como tirar doce de criança. De nada, tchau. — digo e ando em direção à porta, mas antes que eu pudesse abri-la, uma mão envolve meu pulso.

— O que você quer dizer com "você e a mamãe"? Você vai.

— Mas...

— Sem mas, já está decidido. E, de qualquer maneira, ele convidou a todos nós, não apenas a mim e seu pai. Você vai.

— Ok, ok. — abro a porta, e quando estou pondo meus pés para fora, minha mãe grita:

— Ei, Luke! — olho para ela.

— Você não quer dormir aqui hoje? Você esqueceu algumas roupas, e você vai conosco para o jantar amanhã, de qualquer maneira. — ela diz, olhando para os pés, visivelmente envergonhada. Durante esse tempo que se passou, perdemos toda a intimidade que uma vez tivemos. Somos quase como estranhos agora. É nesses momentos que me arrependo de algumas escolhas que fiz durante a vida, mas sei que é um sentimento passageiro. Segunda-feira provavelmente nem lembrarei dela mais, e então, quando a ver novamente, me arrependerei dessas mesmas escolhas, que me fizeram quem sou hoje e o que tenho. Mas então tudo acontecerá de novo. É como um ciclo vicioso do qual não consigo sair.

— Tá, claro. — digo, aparentemente não dando muita importância, embora não seja isso que eu estou sentindo. Fecho a porta de abri e vou até a cozinha. Encho um copo com água e o levo ao meu quarto, ou, pelo menos, o que um dia foi. Coloco o copo no criado-mudo, coloco uma bermuda qualquer que tinha abandonado na cômoda e tiro a blusa.

Estou sentado no sofá assistindo Chicago P.D. (eu amo isso) quando meu celular vibra.

De: Kevin

"ei, onde você tá? teu carro não ta aqui"

Para: Kevin

"ah, jantar na casa da minha mãe, conhecendo umas pessoas com quem meu pai quer trabalhar"

De: Kevin

"eles ainda tão aí? são quase 11 horas da noite"

Para: Kevin

"nah, já foram. minha mãe me fez ficar porquê eles nos convidaram pra um jantar amanhã"

De: Kevin

"e pq você tá indo? eles são adultos, normalmente essa espécie não convida a nossa espécie para jantar."

Para: Kevin 

"Bem, eles tem uma filha, na verdade. acho que já vi ela na escola, não prestei muita atenção. ela tem mais ou menos nossa idade."

Para: Kevin 

"ah, na verdade eles tem duas filhas, e acho que nem minha mãe ou meu pai sabiam da segunda. acho que só uma veio pq só uma quer a empresa pelo que disseram"

De: Kevin 

"e ela é bonita?"

De: Kevin 

"e isso é estranho, no mínimo. não acho que essa seja um bom argumento. seus pais te levaram pro jantar mesmo que você não tenha interesse nos seus trabalhos"

Para: Kevin 

"eles devem ter uma razão, quem sou eu pra julgar. e sim, ela é linda. mas ela é muito garotinha, sabe? e parece que tudo que ela diz foi ensaiado, coisas do tipo: 'vou alimentar os sem-teto, dar casas para os desabrigados e abaixar os impostos, porque eu sou uma boa pessoa e você tem que me amar'''.

De: Kevin 

"como se ela estivesse tentando ser eleita como presidente"

Para: Kevin 

"ou como miss"

De: Kevin

"ou como a dona de uma empresa"

Para: Kevin

"faz sentido"

 


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Notas finais do capítulo

Gente, o Watoto existe mesmo e recebe doações de quem quiser as fazer. Tudo que eu escrevi na fanfic com relação a essa instituição é real e é muito importante estar ciente do que acontece por lá. Se você quiser fazer uma doação ou "adotar" uma criança, entrem no site :) www.watoto.com/brasil



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