Filha de um pirata... e uma princesa?! escrita por Melissa Potter


Capítulo 16
A ilha da terra do nunca


Notas iniciais do capítulo

olha quem voltou pessoal, isso mesmo não é miragem não ta kkkk me desculpem por ter demorado um mês quase dois para postar capitulo novo para vcs gente mais desde que eu postei o ultimo capitulo aqui minhas aulas começaram e eu to realmente cheia de coisa para fazer, esse é meu ultimo ano na escola e estou me empenhando bastante para dá tudo certo e eu passar tanto no Enem quanto na escola então peço que não estranhem tanto quando eu demorar eternidades para postar sim? pq sera pelo o fato da escola esta me ocupando tempo ;) mais enfim vamos deixar de papo, para recompensar todo esse tempo sem nada o capitulo é ENORME acho que o maior que eu já escrevi na minha vida kkkk mais espero que gostem e que aproveitem bastante...boa leitura ;)



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Perto dos meus catorzes anos eu vivi uma aventura na terra do nunca, que, assim como a do país das maravilhas, eu não esqueceria, mas não foi nada tão maluco ou estranho como no país das maravilhas.

Depois do ocorrido com barba negra, meu pai decidiu mesmo ficar na terra do nunca. O tempo lá era muito diferente do tempo em outros reinos, um dia inteiro na terra do nunca poderia ser considerado um ano, ou meses. Papai não deixava eu sair do navio para absolutamente nada e, em hipótese alguma, isso estava em discussão. Depois do que me aconteceu, eu decidi que não iria discutir com papai sobre isso, mas isso não queria dizer que eu não tenha dado um jeito de sair para explorar, afinal, eu ainda era Charlotte Jones e minha curiosidade sempre me vencia.

Era noite e a maioria dos marujos já dormia, os poucos que ainda estavam acordados não estavam no deque, portanto, Charlotte estava sozinha naquele andar do navio, nem mesmo seu pai estava comandando o leme, deixara o navio preso em uma âncora, indo se deitar em seguida. Naquela noite, Charlotte não conseguia dormir, então decidiu ficar olhando a bela paisagem da ilha da terra do nunca. De onde o navio estava parado, Charlotte conseguia ver parte do mar indo em direção a ilha, e a lua sendo refletida nas águas, as árvores balançavam com o vento e a vasta floresta da ilha também era iluminada pela lua e dava para ver toda a sua beleza, foi com os olhos fixos para a ilha que começou a ter a sua famosa curiosidade e imensa vontade de explorar.

— Não, Charlotte, nada disso. Você não pode. – Charlotte tentou se convencer. Ela tocou sua cicatriz por cima da camisola que usava. – Você não pode.

Ela já ia da meia volta quando uma pequena luz verde lhe chamou a atenção, vinha da ilha e parecia se aproximar cada vez mais da Jolly. Charlotte não conseguia reagir, parecia hipnotizada pela pequena luz. Seus pensamentos, porém, trabalhavam a mil. “Eu tenho que chamar o papai, tem algo estranho, se aproximando do navio” ou pensamentos como “É uma luz muito bonita”, “Porque aquilo está se aproximando do navio?”, “Que luz é aquela? É tão bonita”.

Seus pensamentos foram interrompidos quando ela percebeu o que era aquela luz, quando ela já estava perto o bastante para saber o que era a luz.

— Você… é uma fada! – Charlotte falou de olhos arregalados e de boca entreaberta, completamente admirada. A fada a olhou nos olhos e sorriu voando para mais perto dela, afrente de seu rosto.

—  Você é uma humana.

Charlotte nunca havia visto uma fada, a não ser por imagens em seus livros de estudo ou que ela passava o tempo lendo. A fada era linda, usava uma calça, blusa com mangas compridas e botas tudo da cor verde, tinha cabelos loiros amarrados em um coque e a luz verde que chamara a atenção dela envolvia toda a criaturinha.

— Você é linda. – Charlotte comentou analisando a fada. – Você tem nome?

— Me chamam de sininho.

— Meu nome é Alice. – Charlotte respondeu, dando a apresentação de costume. A fada lhe deu um sorriso misterioso.

— O que está fazendo aqui na terra do nunca? Moro aqui a muitos anos e você não é daqui. – Sininho conversou.

— Na verdade, eu não sei o que estou fazendo aqui. – Charlotte replicou.

— É apenas uma passageira? – Sininho indagou. Charlotte fez um sinal de mais ou menos com as mãos. – Você já conheceu a ilha?

— Eu não tenho permissão para sair do navio. Principalmente à noite.

— Não tem problema nenhum, você não irá se perder, eu posso guia-la e apresenta-la a ilha, não correrá risco nenhum…, ou não está querendo conhecê-la? – Sininho a instigou a sair.

— Eu não a conheço e aconteceu bastante coisa na minha vida para que eu não confie nas pessoas e de correr riscos atoa.

— Então você não sabe se defender sozinha? – Sininho questionou em tom de provocação.

— Mas é claro que eu sei me defender sozinha! – Charlotte respondeu ofendida.

— Então, porque está com medo? Se sabe se defender bem sozinha não tem porque ter medo.

— Eu não estou com medo.

— Então deixe-me apresenta-la a ilha da terra do nunca! – Sininho insistiu com animação.

 - Está bem…, me espere aqui, preciso pegar algo. – Charlotte deu meia volta e se dirigiu para o seu quarto, pegou sua espada ao lado da cama, amarrou a bainha em sua cintura e voltou para onde a fada a esperava.

— Você já voou antes? – Sininho perguntou como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Claro que não, que pergunta estranha é essa? – Charlotte respondeu e sininho riu.

— Desculpe, esqueci que você provavelmente nunca tinha vindo a terra do nunca.

— É possível um humano voar aqui? – Charlotte indagou surpresa.

— Com quatro coisas essenciais, fé, confiança, pensamentos felizes e um pouco de pozinho mágico. – Sininho falou e pegou um punhado de pó verde de dentro de uma bolsinha que carregava com ela e jogou em Charlotte.

— O que é isso? – Charlotte questionou.

— Suba na beira. – Sininho pediu e completou quando viu que ela não concordaria com nada até que respondesse a pergunta. – É pozinho mágico. Com, fé, confiança, pensamentos felizes, isso irá te fazer voar. Vamos, suba na beira para ganhar altitude.

— Tem certeza que irá funcionar? Se eu cair, cairei no mar. – Charlotte falou sem confiança nenhuma.

— Se continuar com esses pensamentos, claro que não. – Sininho a respondeu.

— Está bem. – Charlotte disse subindo na beira do navio, ficando de pé ali, ela respirou fundo e tentou ter pensamentos felizes.

Pensou nos marujos, em Miguel, João e Smee, pensou em Dinah e floquinho e, principalmente, em seu pai e com um pequeno sorriso no rosto, Charlotte começou a flutuar.

— Pode abrir os olhos. – Sininho a instruiu.

— Minha nossa! – Charlotte exclamou ao abrir os olhos, estava completamente admirada. Ela olhou para baixo, onde estava a Jolly e o mar.

— Vamos? Eu vou te ajudando já que é nova nisso. – Sininho disse e ela arrumou os braços e pernas e todo o corpo de Charlotte para que ela tivesse um bom voo e não caísse em cheio no mar.

— Isso é maravilhoso! – Charlotte falou adorando a sensação do vento em seu rosto, que era muito parecida com o que sentia quando sentava na proa da Jolly, a sensação de completa liberdade e a maravilhosa imagem do mar.

— Iremos voar um pouco mais embaixo para ter uma imagem melhor da floresta. – Sininho a avisou guiando-a para baixo.

— Podemos descer? Quero ver mais de perto que isso. – Charlotte pediu.

— Podemos sim, só não se afaste muito. – Sininho concordou.

Suavemente, Charlotte pousou e começou a olhar o lugar que parecia ser um riacho que se encontrava com o mar, haviam árvores de vários tamanhos na pontas do riacho. No riacho, também tinha muitas rochas de todos os tamanhos.

— Aqui é onde as sereias ficam, mas agora devem estar repousando. – Sininho a informou.

— Sereias? – Charlotte disse admirada. – Meu pai me falava delas quando criança…, eu nunca vi uma.

— E nem queira, digamos que elas são… mortais. – Sininho a alertou. Charlotte concordou com a cabeça, ela sabia daquilo, seu pai já havia a alertado. – Pelo menos as da terra do nunca.

— Tem certeza que elas não vão aparecer? – Charlotte estava virada de costas para a fada, observando o lugar como se uma sereia fosse aparecer ali de repente.

Porém o que apareceu foi pior.

— Claro, elas estão dormindo. – Uma voz masculina a respondeu, nada comparada a voz da fada.

Charlotte tentou manter a calma e, devagar, ela virou-se. Seus olhos se encontraram com o de um jovem rapaz que parecia ter a sua idade, usava roupas verdes surradas e com aparência de que estava suja de terra. Para Charlotte, que já começava a perceber os meninos, aquele estranho era bonito, porém ainda era um estranho. Sininho voava ao lado da cabeça do garoto.

— Quem é você? – Charlotte indagou, tomando o cuidado de manter certa distância do estranho garoto.

— Pode ir. – O garoto disse para Sininho e a fada saiu voando rapidamente dali. O garoto se aproximou mais de Charlotte e começou a analisa-la, não demorou muito para que ele arregalasse os olhos em total surpresa.

— Não é possível, isso não possível… – Ele sussurrou para si mesmo perplexo.

— O que não é possível? Do que está falando? Quem é você? – Charlotte questionou estranhando toda aquela situação.

— Não… está me conhecendo?

— Desculpe-me, mas eu nunca o vi. – Charlotte o respondeu.

— Qual o seu nome? –O garoto perguntou cerrando os olhos para ela.

— Acho que você deveria me responder primeiro. – Charlotte falou cruzando os braços em frente ao corpo.

— Creio que não. Sou eu que comando a terra do nunca, tenho o direito de que uma pessoa que não faz parte da ilha me responda primeiro. – O garoto replicou tomando uma atitude e postura totalmente diferentes de quando a analisara, agora era muito centrado.

— Está bem, me chamo Alice. – Charlotte se apresentou como sempre.

— Sabia que não era possível. – O garoto sussurrou novamente para si e completou em voz alta. – Eu me chamo Pan, Peter pan.

— Peter Pan? Já ouvi falar de você. – Charlotte disse em resposta.

— Então deve saber que não tolero que estrangeiros entrem em minha ilha sem serem convidados ou darem satisfação do porquê vieram. – Peter disse com um sorriso de lado.

— Não ouse chegar perto de mim. – Charlotte colocou a mão na bainha de sua espada, mas não tinha mais nada lá.

— Oh, querida, eu já a peguei. – Pan falou com um sorriso diabólico, e quando Charlotte percebeu, o lugar já estava cheio de outros garotos de idades variadas. – Meninos..., hora de brincar!

Em seguida, para Charlotte, tudo ficou escuro. Alguém batera em sua cabeça.

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Pouco depois…

Charlotte despertou devagar, ela não abriu os olhos de primeira. A primeira coisa que fez foi gemer diante da dor que lhe seguiu na cabeça e quando conseguiu enfim abrir os olhos, foi com grande dificuldade que o fez. Ela estava deitada de costas e olhava diretamente para o teto de folhas… espera, de folhas?

Subitamente, ela despertou e sua dor foi anestesiada e a raiva e indignação tomou conta dela. A menina sentou-se, percebeu que estava deitada em uma espécie de cama de palha e dentro de uma cabana feita de folhas e galhos, era de tamanho mediana e possuía alguns poucos moveis improvisados. Ela percebeu também que sua camisola estava suja e manchada de terra na barra, uma das mangas parecia ter sido rasgada com algo e ela conseguiu ver em um espelho muito velho pendurado em uma das paredes, que seu cabelo estava muito bagunçado.

— Parece a mata de uma floresta. – Charlotte comentou analisando os cabelos.

— Não está em suas melhores condições…, como ainda consegue ficar adorável? – Peter se fez ouvir, aparecendo atrás dela através do espelho. Charlotte o fuzilou com o olhar e se virou rapidamente. Ele foi mais rápido e, antes que ela fizesse alguma coisa, segurou-a pelos pulsos e prendeu-a frente ao corpo. Com esse movimento, o corpo dos dois se colaram e Charlotte conseguia olhar bem em seus olhos e ficou o olhando desafiadoramente de cabeça erguida.

— Não irá me pegar desprevenido, querida, talvez você não saiba, mas, Peter Pan nunca falha.

— Para tudo se tem uma primeira vez. – Charlotte declarou com um sorriso maldoso. Pan apertou-lhe ainda mais os pulsos, sem mudar o seu semblante.

— O que veio fazer na terra do nunca? Veio sozinha? – Peter a questionou.

— Sua mini comparsa não te disse nada? – Charlotte indagou e ele sorriu de lado.

— Estava em um navio… então vou melhorar minha pergunta. – Peter se aproximou mais dela. – Quem são vocês?

— Peter! – Eles escutaram alguém gritar do lado de fora da cabana.

Ele soltou-a rapidamente e rudemente.

— Fique aqui. – Peter ordenou-a. Charlotte apenas o fuzilou com o olhar e sem dizer mais nada, Pan saiu da cabana.

Charlotte começou a andar de um lado para o outro tentando se acalmar e regular a sua respiração respirando fundo várias vezes, só que isso não foi por muito tempo e ela nem se acalmou direito, quando seus pensamentos foram interrompidos pelo som da voz de Pan e de um outro garoto. Eles não conversavam baixo e a conversa parecia estar deixando Pan muito irritado.

— Pare de fazer perguntas inoportunas e cumpra o que eu mandei você fazer. – Ela ouviu Peter ordenar.

— Me desculpe, Peter, mas todos estão perguntando o porquê da garota não estar presa e sim em uma de nossas cabanas e agora você nos pede para que tragamos comida, banho e roupas limpas para ela?

— Não questionem, obedeçam! A única coisa que vocês têm que saber é que a garota é valiosa e eu não quero perdê-la, portanto fiquem de olho nela e façam o que eu lhes mandar. – Peter respondeu com autoridade.

— Sim, senhor.

Charlotte se afastou de onde estava quando ouviu passos retornando para a cabana e então Peter entrou novamente.

— Você irá tomar um banho e trocar de roupa. – Ele disse.

— Um banho? – Charlotte se afastou dele o máximo que podia, só parando quando suas costas bateram na parede da cabana. – Porque está me tratando bem? Porque não estou amarrada? Porque quer cuidar da minha higiene?

Peter deu um forte soco na mesa improvisada próxima dele, Charlotte se sobressaltou com o movimento brusco.

— Chega de perguntas por hoje! Você irá se banhar, comer alguma coisa e dormir.

— Eu não quero comer. – Charlotte reclamou.

— Não importa, irá fazer o que eu disse. – Peter falou ao mesmo tempo em que dois meninos entravam na cabana, trazendo juntos, uma banheira de madeira, e um terceiro garoto um balde enorme com água. – E nem pense em fugir, o acampamento inteiro está cercado, não tem como escapar.

Peter se aproximou dela, a encurralando entre a parede e ele.

— E nada de usar magia. – Peter disse pegando em seu pulso direito. Charlotte sentiu como se sua energia fosse sugada toda para aquele ponto de seu corpo.

—  Que diabos…? – Charlotte falou arregalando os olhos surpresa e, subitamente, se sentiu fraca e cansada. Ao sentir algo em seu pulso, ela viu algo como uma pulseira ou bracelete de couro. Ela também tentou tira-la, sem sucesso.

— Um bruxo reconhece outro, ou, nesse caso, outra.

— O que você fez? O que isso significa? – Charlotte não parava de puxar o objeto em seu pulso. – Porque não sai?

— Isso está neutralizando sua magia, ela está toda na pulseira, enquanto estiver com ela não poderá usar magia.

— Porque está fazendo isso comigo? Me deixe ir, ou me mate de uma vez! – Charlotte gritou furiosa. Ele parou e olhou-a por um momento.

— Bom banho e tenha uma…, boa noite de sono. – Peter falou e saiu dali logo em seguida aos sons dos gritos de Charlotte.

Ela tinha que arranjar um jeito de sair dali, com ou sem magia. Seu pai a mataria por ter saído sem sua permissão, acabando por desobedecer suas ordens novamente, além disso, ela não sabia o que Peter Pan tanto queria com ela, mas isso não importava agora. Ela só precisava sair dali.

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Pouco tempo depois...

Após o banho, Charlotte vestiu uma calça e uma camiseta de mangas compridas da cor marrom, que ficaram um pouco largas em seu corpo. Os meninos haviam deixado ali para que ela trocasse de roupa, haviam deixado também um par de botas sem salto também da mesma cor. Ela suspeitava que tudo aquilo fosse dos meninos, já que deduziu por si mesma que ali não tinha meninas. Ela se olhou no espelho para ver como ficou e percebeu que seu cabelo precisava ser escovado, só que não tinha nada ali para que pudesse penteá-los.

— Vai ter que ficar assim mesmo. – Charlotte disse, passando os dedos por entre as mechas de seu cabelo, tentando melhora-lo.

— Desculpe-nos as roupas, mas não possuímos meninas no acampamento. – Peter disse acabando de chegar e parando atrás dela, encarando-a através do espelho, Charlotte devolveu seu olhar.

— Eu percebi, sem problemas. – Charlotte o respondeu.

— Não vai gritar? Não vai surtar? – Pan arqueou as sobrancelhas.

— É isso que você quer que eu faça? – Charlotte indagou, virando-se de frente para ele. – Não vai adiantar de nada, estou sem magia e, como você disse, o acampamento está cercado. E mesmo que eu conseguisse despista-los, eu não tenho ideia de onde estamos.

— Você? Conseguir despistar os melhores meninos perdidos? Nem sonhando, garota. – Pan riu.

— Pois eu garanto que eu consigo abate-los rapidinho, ou que tenho grande chances para isso. – Agora foi a vez de Charlotte de rir. Ela começou a lhe dar as costas e a se dirigir a espécie de cama de palha na qual ela havia se acordado mais cedo. – Saia, eu quero dormir.

— Por hoje eu irei deixa-la sozinha, amanhã continuaremos com o que começamos antes de sermos interrompidos. – Peter falou encaminhando-se para a saída da cabana.

— Não conseguirá nada de mim. – Charlotte respondeu já deitada em sua cama.

— Isso é o que veremos, querida. – Pan declarou e saiu dali, deixando-a sozinha novamente.

Charlotte suspirou tentando se acalmar. Ela tinha que sair dali, aquele garoto só podia ser louco. “Igualzinho a você, Charlotte” Ao pensar naquilo, ela lembrou do que lhe aconteceu no país das maravilhas. E se tudo aquilo não fosse realmente real? E se sem querer ela tivesse entrado em algum tipo de mundo paralelo? “Pare de pensar besteira, Charlotte, você está capturada por um garoto que parece ter sua idade que comanda mais um monte de garotos, isso não é coisa da sua cabeça”.

— Eu tenho que sair daqui. – Charlotte sussurrou para si mesma, fechando os olhos e dormindo, desejando mesmo assim que tudo aquilo fosse um sonho.

Mas não era. Ao acordar, novamente, a primeira coisa que viu foi o teto de folhas de uma das cabanas do acampamento de Peter pan.

— Diabos! – Esbravejou ao perceber que tudo aquilo não era mesmo um sonho.

— Pensou que fosse alguma coisa da sua cabeça? – Ela ouviu a voz de Peter. Ela olhou para o lado de onde vinha a voz e novamente ela o fuzilou com o olhar.

— Eu te odeio. – Charlotte disse sentando-se em sua cama, Peter sorriu indiferente.

— Você não é a primeira que me diz isso. – Peter apontou para um copo com água e uma tigela com algumas frutas, Charlotte olhou desconfiada para aquilo. – Coma.

— O que é isso? – Charlotte perguntou indicando as frutas com os olhos.

— Não conhece esse alimento? – Peter arqueou as sobrancelhas surpreso. Charlotte ficou calada.

Aquela era uma das raras vezes em que ficava encabulada, Peter se aproximou dela e a analisou.

— Quantas vezes saiu daquele navio? – Pan a questionou. Charlotte respirou fundo e olhou para ele.

— Não muitas vezes, mas conheço muitos lugares… não permaneço muito tempo andando pelas aldeias, vilarejos, florestas, ilhas, reinos…, digamos, que isso faz com que eu não conheça certas coisas. – Charlotte confessou.

— Compreendo… – Peter a olhou de cima a baixo, Charlotte se sentiu incomodada. – Você é jovem, quanto tempo vive naquele navio?

— Eu não vou te dizer mais nada, eu já lhe disse o bastante. – Charlotte pegou as frutas de cor laranja e as analisou, não sabia como comê-la. Peter soltou uma risada debochada pelo nariz.

— Eu te ensino. – Peter disse pegando a fruta da mão dela. Charlotte aceitou a ajuda a contragosto.

— Obrigada. – Charlotte agradeceu quando ele lhe devolveu a fruta em alguns pedaços.

— Quantos anos você tem? – Peter perguntou-a de forma casual.

— O tempo passa diferente aqui na ilha. – Charlotte o respondeu.

— Entendo…, quando faz aniversário? – Peter perguntou enquanto mastigava a fruta. Ela o olhou nos olhos e disse a data de seu aniversário. Peter parou e pensou e no fim sorriu. – Feliz aniversário.

— Como você sabe? – Charlotte o olhou confusa.

— Tem um jeito de calcular o dia e o ano fora da terra do nunca… hoje é seu aniversário de quatorze anos.

Charlotte não falou nada mais e continuou comendo sem olha-lo nos olhos. Seus pensamentos estavam trabalhando a mil novamente.

Era seu aniversário, havia sido capturada, estava desarmada, não estava com seu pai, Miguel, Smee e os outros marujos como sempre, estava em uma terra não muito conhecida por ela e não na ilha do aniversario como de costume. Esse último pensamento era o que mais a incomodava, depois de não estar perto de seu pai… seu pai.

Já era de manhã, com toda a certeza ele já percebera que ela havia sumido e agora a estava procurando feito louco. Charlotte sabia que ele a acharia e não ficaria nada receptivo quando soubesse que ela foi capturada quando saiu induzida por uma fada que ela não conhecia, justamente quando ele vive falando para ela não falar e muito menos sair com estranhos. Tinha certeza que isso lhe renderia um castigo pelo resto de sua vida. Por incrível que parecesse, isso a fez sorrir para si mesma, mas Peter a estava observando.

— Porquê do sorriso? – Peter perguntou. Charlotte o desfez e semicerrou os olhos para ele.

— Eu não posso mais sorrir? – Charlotte respondeu na defensiva.

— Porque ainda continua na esquiva comigo? Já não lhe dei provas que não quero lhe fazer mal?

Charlotte se inclinou sobre ele, ainda o encarando nos olhos.

— Meu pai me ensinou que não devo confiar em quem não está no navio. Já cometi esse erro uma vez, não irei cometer novamente. Eu não confio em você e, muito menos, em todo esse… comportamento estranho comigo. Se você fosse meu prisioneiro, ou de qualquer um que vive naquele navio, eu não tenho ideia se você conseguiria sobreviver à todos os ferimentos que receberia.

Peter a olhou como se algo clareasse em sua mente.

— Vocês são piratas! – Ele exclamou.

— Você acha? – Charlotte deu um sorriso presunçoso. Peter devolveu o sorriso com um olhar furioso, seu tom de voz mudou completamente quando disse:

— O que vocês querem aqui? – Peter questionou se aproximando perigosamente dela. Se Charlotte não fosse a Charlotte, ela estaria morrendo de medo que ele lhe machucasse ou fosse algo mais fatal. Porém, como era ela, a menina o encarava de volta em desafio e queixo erguido, nunca desviando o olhar, e para irrita-lo ainda mais, ela deu um sorrisinho, funcionou.

— Não importa o que queremos aqui, acho que você deveria pensar agora que meu pai não vai descansar até me achar e não ficará nada feliz em saber que fui capturada ao desobedecer uma de suas ordens.

— Jeito estranho esse seu de me ameaçar. – Peter comentou.

— Só estou falando a verdade, eu errei em desobedecê-lo, mas quem irá pagar mais caro é você.

Outra coisa clareou a mente de Peter.

— Seu pai é o capitão…, quem é ele?

— Descubra sozinho. – Charlotte sussurrou para ele, Pan se levantou em fúria e, por um momento, Charlotte pensou que ele iria lhe bater, mas isso não aconteceu. Ele se retraiu, virou as costas e saiu da cabana. Charlotte soltou o ar que não havia percebido que segurava e continuou a comer seu café da manhã.

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Um pouco mais tarde…

Charlotte não gostava de não fazer nada e já estava com o tédio a flor da pele, ela tinha que fazer algo ou morreria. “Essa é uma das horas em que sinto falta da magia”, se tivesse magia ela poderia movimentar algumas coisas com a mente ou com alguns movimentos de seus dedos, ou melhor ainda, poderia sair dali e voltar para a Jolly.

— Que tédio! – Charlotte reclamou batendo o pé como uma criança. Em seguida, ela ouviu um barulho que lhe era muito conhecido vindo do lado de fora. Espadas colidindo.

Charlotte franziu o cenho estranhando. Seu pai a achara tão rápido assim? Cautelosa, ela se levantou e se dirigiu para a saída da cabana. Ela arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços em frente ao corpo e começou a analisar a cena em sua frente. Peter treinava os outros meninos para luta de espadas, eles não pareciam tão bons com aquela arma. Charlotte soltou uma risada pelo nariz e acabou chamando a atenção para si, Peter pediu para que parassem e todos olharam para ela, que exibiu um sorriso zombeteiro.

— Do que está rindo? – Peter perguntou se sentido ofendido com a atitude da menina.

— Vocês são péssimos. – Charlotte disse ainda rindo um pouco. – Deveria ter me dito que se eu tivesse uma espada eu conseguiria fugir com grande facilidade.

Peter a olhou furioso, assim como os outros meninos.

— Se fica se gabando tanto, porque não nos mostra do que é capaz? – Peter a desafiou pegando uma das espadas e estendendo para ela, que se aproximou e a pegou com grande facilidade, algo que impressionou aos meninos por conta do peso de uma espada.

— Quem vai ser meu adversário? – Charlotte questionou.

— Félix! – Peter escolheu um dos meninos.

O garoto se aproximou, pelo jeito que agia, parecia ser o braço direito de Peter.

Eles se colocaram em posição de ataque e o combate começou. Logo nos primeiros golpes de Charlotte, ela impressionou, seu manejo da espada era espetacular e suas defesas contra Félix eram muito bem executadas. O garoto com quem lutava não era tão ruim quanto os meninos que ela havia visto treinando, ele sabia se defender e atacava muito bem também, arrancando um sorriso de Charlotte, um elogio à sua performance, o que surpreendeu ao garoto, tanto que o distraiu. Charlotte deu um golpe com o cabo da espada nas costas dele, derrubando-o, e em enfim lhe colocou a ponta da espada no peito do menino.

— Morto. – Charlotte declarou exibindo um sorriso maroto.

— Você é muito boa. – Peter fez a observação.

— Sou treinada desde criança, é um dos meus passatempos preferidos. – Charlotte conversou animada. Ela ainda mantinha a espada no garoto, que a olhava com cara de poucos amigos.

— Ainda não estou convencido. – Peter disse por fim.

— Não? – Charlotte indagou com uma das sobrancelhas levantadas, costume que adquirira com seu pai. Enfim soltando Félix.

— Não… Quero que lute comigo, garanto que não irei usar magia. – Peter a respondeu.

— Com você? Está bem. – Charlotte aceitou o desafio, já se posicionando para o combate com Pan.

Eles começaram a luta e, logo Charlotte percebeu que Pan era muito melhor do que seu antigo oponente. Charlotte já havia enfrentado piores, então não era nada tão difícil para ela, algo, é claro, que surpreendeu a todos ali. Os golpes eram muito bem desferidos e se Charlotte não fosse ótima, seriam fatais.

Para Charlotte, aquilo estava bastante divertido, porém, a diversão cessou por um momento, quando ele conseguiu leva-la para o chão e os dois acabaram entrelaçando as espadas muito perto do pescoço de Charlotte.

— Você não é tão boa quanto parece. – Peter comentou se posicionando melhor em cima dela. Charlotte riu em deboche.

Rapidamente, ela deu um chute nas partes intimas dele e mudou as posições, ficando agora por cima dele e com a espada perto do pescoço dele. Peter gemia com a dor.

— Tem razão, eu sou muito melhor do que pareço. – Charlotte o respondeu. Ele quase a fuzilava com o olhar, ela não sentia medo. Os meninos estavam paralisados, sem saberem o que fazer.

— Muito bom, menina, muito bom. – Peter declarou, pondo um fim à luta.

— Obrigada. – Charlotte agradeceu e se levantou e, colocando uma de suas mechas que estavam no rosto atrás da orelha, se afastou de Peter. Por um momento, os dois ficaram se olhando muito sérios. Até que Charlotte jogou a espada que segurava no chão, virou-se e voltou para a cabana. Tudo sob o olhar de pan.

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Um pouco mais tarde, já a noite…

Como não tinha nada para fazer, Charlotte aproveitou que já havia comido seu jantar e decidiu se deitar, porque assim o tempo passava mais rápido, porém, ela recebeu novamente a visita de pan.

— O que está fazendo aqui? Você não descansa? – Charlotte falou, revirando os olhos para ele.

— Veste isso. – Peter mandou jogando algo como um manto marrom nela.

— O que é isso? – Charlotte indagou com curiosidade.

— Uma capa, você e eu iremos dar um passeio.

— Nós iremos fazer o que? – Charlotte tentou ter mais informações.

— Um passeio! Vista a capa logo. – Peter continuou evasivo.

— Vou ser sequestrada novamente? – Charlotte insistiu.

— Cale a boca e vista a capa. – Peter manteu-se firme.

Charlotte suspirou resignada, levantou-se e colocou a capa, vestiu o capuz da mesma também.

Assim que ficou pronta, ele a pegou pelo braço e foi a guiando para o lado de fora e, sem mais explicações, entrou na floresta. Charlotte logo começou a ficar cautelosa e retraída. Porque Peter Pan a levaria para longe do acampamento àquela hora da noite? O que ele queria com ela? Charlotte não caíra na história de passeio.

— Para onde você está me levando? – Charlotte voltou a perguntar. Peter continuou a andar, não lhe dando ouvidos. Charlotte, porém, insistiu, fazendo com que ele a olhasse quando tentou soltar o seu braço do aperto da mão dele. – Peter Pan, para onde estamos indo?

— Eu quero te levar para um lugar – Peter a respondeu. Contudo, Charlotte ainda se mantinha na mesma postura. – Eu já não dei provas suficientes para você saber que eu não irei machucar você?

Ela olhou para ele desconfiada, não confiava nada nele.

— Eu te conheço há um dia e meio, estou vivendo como prisioneira em seu acampamento e você ainda não quer que eu desconfie de você enquanto está me arrastando para dentro de uma floresta no meio da noite? – Charlotte o questionou.

— Não se preocupe, eu só estou te levando para ver uma coisa. – Peter tentou tranquiliza-la.

— Mostrar o que? – Charlotte perguntou com a curiosidade crescendo.

— Uma coisa bonita. – Peter disse com simplicidade.

— Algo bonito? – Charlotte arqueou as sobrancelhas surpresa.

— Não é seu aniversário? – Peter indagou e ela acenou em concordância. – Pensei em mostrar algo bonito como presente.

Charlotte ficou mais surpresa ainda.

— O que? Está falando a verdade?

— Estou! Vamos. – Peter a apressou, puxando-a com menos força e brutalidade de antes. A curiosidade de Charlotte sempre lhe vencia, então ela foi com Peter de bom grado, contudo, ainda estava atenta para o caso de ele ser burro e se atrevesse a ataca-la.

Os dois andaram bastante até que chegaram em uma enorme clareira na floresta. Ela era bonita a noite, mas Charlotte tinha certeza que poderia ser bem melhor de dia. Parecia um lugar reservado, exclusivo, como o acampamento de Pan, como se fosse algum tipo de entrada. Uma enorme árvore meio que protegia o lugar.

— Sobe nas minhas costas. – Peter pediu de repente.

— O que?

— Não faça tanta pergunta. Sobe nas minhas costas, eu vou te segurar, fica tranquila. – Peter pediu outra vez.

— Tranquila é tudo que eu não vou ficar. – Charlotte replicou.

— Vai logo. – Peter insistiu. Ele se abaixou em frente e de costas para ela. Charlotte enlaçou os braços no pescoço dele, e as pernas, Pan as segurou na altura da cintura dele.

Charlotte demorou a perceber que eles estavam voando em direção ao meio da enorme árvore, mas arregalou os olhos quando notou e apertou os braços no pescoço de Peter.

— Você está segura… e está me sufocando. – Peter a alertou.

— Desculpe. – Charlotte disse e afrouxou o aperto no pescoço dele. Apareceu em frente, uma abertura no tronco da árvore.

— Está vendo? – Peter disse olhando em frente. Charlotte dirigiu o olhar para a mesma direção dele e ficou deslumbrada com o que estava vendo.

— Isso são… fadas? – Charlotte questionou, com a boca começando a se entreabrir com o tanto que estava surpreendida com tanta beleza.

— Seja bem vinda ao refúgio das fadas…, quer dizer, parte dele. – Peter sorriu.

Ali no buraco do tronco da árvore, fadas flutuavam despreocupadas, conversavam sobre algo e não davam a mínima para Charlotte e Peter ali os observando. Elas pareciam estar se preparando para algum tipo de reunião, ou tinham acabado de sair de uma.

— Isso é lindo, Peter.

— Está gostando? Creio que irá achar o que vou lhe mostrar agora bem mais lindo. – Peter voou mais para cima, ultrapassando a árvore gigante.

A vista que eles tinham agora era bem mais bonita do que a anterior.

— Esse é todo o refúgio das fadas. – Peter anunciou.

Todo o lugar por trás da enorme árvore estava repleto de pequenas casinhas, flores multicoloridas, pequenos lagos e algumas luzes coloridas que flutuavam por todo o lugar. Charlotte sabia que não era nenhum tipo diferente de vagalume, eram as fadas que moravam ali e que davam mais brilho e beleza ao lugar.

— É perfeito!

— Não consegue dizer mais que uma palavra ou duas? – Peter comentou em tom brincalhão.

— Para falar a verdade, não! – Charlotte replicou não lhe dando tanta atenção. – Não podemos nos aproximar mais?

— Sinto muito, mas é o máximo que podemos chegar, nenhum humano pode entrar no refúgio. – Peter negou.

— Porquê? – Charlotte ficou curiosa mais uma vez.

— Já aconteceu muitas tragédias por conta dos humanos com as fadas…, então foi declarada essa regra na ilha, nada de humanos no refúgio das fadas. – Peter explicou.

— Quem aplicou essa regra?

— Eu mesmo.

Charlotte ficou em silêncio.

Depois disso, os dois apenas ficaram calados observando o local que era o lar das fadas. Charlotte tinha certeza que nunca havia visto coisa mais bela que aquela, ela gostaria de tocar, chegar mais perto, mas como não podiam, já estava muito feliz de ter a oportunidade de ver aquele lugar mágico.

Depois de alguns minutos, Peter posou suavemente no solo e Charlotte desceu de suas costas, se colocando de frente à ele com um pequeno sorriso.

— Obrigada pelo presente, Peter. – Charlotte agradeceu olhando-o nos olhos.

— De nada. – Peter respondeu também a olhando nos olhos.

Eles ficaram um tempo se encarando.

— Porque está me olhando desse jeito? – Charlotte perguntou, analisando-o. E colocou uma das mechas de seu cabelo atrás da orelha quando Peter se aproximou ainda mais, sem tirar os olhos dela.

— De que jeito? – Peter replicou se aproximando cada vez mais.

— Eu não sei… ninguém nunca me olhou desse jeito antes…, você nunca me olhou desse jeito. – Charlotte tentou explicar. Agora ele estava mais próximo, Charlotte tinha que levantar um pouco a cabeça para poder lhe encarar nos olhos. – Seus olhos estão brilhando.

— Faz tempo que isso não acontecesse com eles. – Peter a informou.

— Do que está falando? Eu não entendi.

Ele não olhava mais para seus olhos e sim para algum ponto de seu rosto.

— Posso fazer algo que a faça entender. - E então ele a beijou.

Charlotte tinha certeza que aquele beijo estava sendo bem melhor do que o seu primeiro beijo. Estava gostoso e, ela até havia levado suas mãos para os cabelos de Pan, despenteando-os. O beijo era delicado e suave, quase doce. Peter havia levado uma das mãos para a nuca de Charlotte e feito um pequeno carinho ali, durante todo esse processo do beijo.

Apesar de estar muito bom, Charlotte não queria que aquilo tivesse acontecido, ela não queria, totalmente, esse beijo. Então, com certa relutância, ela o afastou, empurrando-o com as duas mãos no peito dele.

— Eu não posso fazer isso… você não pode fazer isso. – Charlotte falou quando se afastaram.

— Do que está falando? – Peter perguntou confuso.

— Você não pode gostar de mim, eu não posso gostar de você.

— Porque?

— Porque você é meu sequestrador, sou sua prisioneira, cedo ou tarde meu pai vai me achar, eu vou embora e a última coisa que eu quero é sentir a sua falta! – Charlotte tentou se justificar. Peter a olhou ressentido e com raiva, Charlotte suspirou frustrada.

— Está vendo? Era isso mesmo que eu não queria, agora você está machucado porque eu não quero sentir nada por você, nem mesmo saudade. – Charlotte tentou se aproximar, mas ele deu um passo para trás, sem dizer nada, apenas a olhando com aquele mesmo olhar. – Peter…

Ela não conseguiu completar a frase, eles ficaram se olhando por muito tempo, até que Peter deu as costas e começou a andar novamente.

— Você tem razão, vamos voltar para o acampamento. – Peter falou sem olhar para trás. Sem saber o que dizer, Charlotte apenas o seguiu.

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Pouco tempo depois…

Ao voltarem para o acampamento, eles tiveram uma surpresa. Killian e os marujos da Jolly estavam atacando o acampamento, Peter e Charlotte estacaram. A mente da menina trabalhava rápido, seus olhos arregalados acompanhavam a rapidez de seus pensamentos, procuravam algum rosto familiar, de preferência, o de seu pai. Sua respiração começou a ficar ofegante quando percebeu que todos os marujos estavam ali para resgatá-la. Peter parecia não ter ligado as coisas, pois mantinha um dos braços em sua frente, como que a protegendo. Ele pareceu perceber apenas o que realmente estava acontecendo quando os olhos de Charlotte se encontraram com os de Miguel.

— Miguel! – Charlotte se desvencilhou do braço de Peter e correu na direção dele, se enfiando por entre as lutas. Miguel a viu, golpeou o menino com o qual lutava e correu na direção dela. Quando a alcançou, ele a abraçou, tirando-a do chão e a girando.

— Charlotte! – Miguel falou enquanto ela correspondia o abraço e gargalhava. Ele a colocou no chão e começou a analisa-la. – Alteza, você está bem? Eles te machucaram?

Sorrindo, Charlotte revirou os olhos para o apelido que Miguel passara a lhe chamar desde do último ataque à Jolly.

— Eu não acredito que eu estava com saudade desse apelido horroroso. – Charlotte o respondeu e Miguel a acompanhou. Porém, os risos foram interrompidos, estranhamente, por um cacarejo, ou algo bem parecido com isso. As pessoas, ou melhor, todos os piratas estavam paralisados, incluindo Miguel, que olhava para ela confuso.

— Não sou eu. – Charlotte falou para Miguel, foi nesse instante que seus olhos se encontraram com Peter, que a olhava com uma expressão assassina.

— Charlotte? Alteza? – Peter falou, se colocando em frente a ela.

— Alteza é um... apelido carinhoso. – Charlotte disse numa explicação.

Peter a olhou furioso. Pela primeira vez desde que foi raptada, Charlotte realmente sentiu medo. Aquela era a sua família, era totalmente diferente de ser só ela correndo risco, ela temia que Peter fizesse alguma coisa contra eles. Ele pareceu perceber o seu medo, porém, não deu importância.

— Você mentiu para mim, disse que se chamava Alice e, além disso, ainda descubro que é princesa? – Peter a rodeava enquanto falava.

— Eu não sou princesa. – Charlotte retrucou a resposta. Ele olhou ao redor.

— É acho que não é mesmo, eles não têm cara de soldados. – Peter começou a andar por entre as pessoas. – Qual deles é seu pai? Não, espere! Essa eu quero adivinhar.

Ele passava por cada marujo os analisando, parecendo procurar alguma evidência de quem era o pai da menina. Charlotte estava entrando em desespero “O que ele quer com meu pai? Com toda certeza não é coisa boa”.

— Lottie, faça alguma coisa, use magia. – Miguel sussurrou para ela.

— Eu não posso usar magia. – Charlotte sussurrou de volta com pesar, mostrando-lhe o bracelete preto em seu pulso. – Isso está segurando os meus poderes.

— Então arranque isso fora! – Miguel disse como se fosse óbvio.

— Você não acha que eu já não tentei isso? – Charlotte o respondeu com certa rispidez.

— Então pegue minha espada, não quero você desprevenida. – Miguel a ofereceu.

— Aí, você que vai ficar desprevenido. – Charlotte replicou, se negando.

— Não se preocupe, eu tenho outra, pode pega-la em minha bota? – Miguel a tranquilizou. Charlotte pegou a espada que era menor que estava nas mãos de Miguel e trocou a maior pela a menor. – Pegue-a e não seja pega.

Charlotte escondeu a espada por dentro de sua roupa, os músculos dela ficaram tensos quando Peter se aproximou de Killian, que estava com uma expressão nada agradável. Charlotte ainda não tinha visto o seu pai até que Pan chegou perto dele, mas, ao vê-lo, ela sentiu uma mistura de sentimentos; feliz e aliviada, por ele estar ali, e angustiada por ele estar correndo perigo por conta dela… mais uma vez.

Peter não demorou muito para descobri que aquele era o seu pai, bastou apenas ele olhar fixamente para os olhos de Killian que ele soube, aquele era o capitão, aquele era o pai de Charlotte.

— Então você que é o pai dela? – Peter indagou cruzando os braços em frente ao corpo. – Um pouco jovem para ser pai, não?

Killian não lhe respondeu nada, apenas o fitou, Peter o olhou mais atentamente.

— Eu acho que eu conheço você. – Peter falou semicerrando os olhos. Foi ai que algo clareou na sua mente. – Esperem um momento…, não! Eu não estou acreditando! … é isso mesmo meninos? Capitão Gancho está aqui paralisado na minha frente como o pai da uma prisioneira minha? Espera! Não me diga que a mãe é a Srta. Swan? - Pan voltou seu olhar para Charlotte. – Oh, meu deus, é claro que é! Vejam…, a menina é a cara dela! Como não percebi isso antes? – Peter continuava falando com um extremo tom de deboche, enquanto ainda olhava Charlotte.

— Conhece minha mãe? – Charlotte questionou, tentando distrai-lo.

— Claro! Personalidade forte ela tem. – Peter respondeu com uma cordialidade estranha. Ele olhou ao redor, como que procurando alguém. – Estranho… onde está Emma?

Ele falou a última parte olhando para Killian, que, novamente, não o respondeu. Peter se irritou com aquilo.

— Está bem, se não irá falar por conta própria, irei fazer com que fale. – Peter se aproximou de Charlotte e a prendeu em seu corpo pelo pescoço, ameaçando sufocá-la.

De onde Killian estava, ele não via a filha direito, então Peter arrastou Charlotte para lá, colocando-a em seu campo de visão.

— Solte-a! – Killian gritou como podia, Peter apenas riu.

— Agora sabe falar? – Peter disse com um sorriso debochado. – Sabe, Gancho, você criou muito bem a sua filha, ela não me contou nenhuma informação valiosa sobre vocês…, apenas me fazia querer estrangula-la a cada segundo, então… porque não fazer essa minha vontade agora? - Ele apertou os braços em torno de Charlotte.

— Você não tem coragem de me machucar. – Charlotte disse em voz baixa, apenas para Pan ouvir.

— Claro que não, só que eles não sabem disso. – Peter respondeu de volta. – E se ousar alerta-los, eu criarei coragem rapidinho.

Para dar ênfase ao que disse, ele apertou mesmo o pescoço de Charlotte, que arregalou os olhos. Ela não duvidava nada que ele fosse cumprir com o que estava ameaçando, porém, ela tinha que agir. Ela olhou para seu pai com carinho, lhe perguntando com o olhar quando poderia agir. Killian não tirava os olhos dela e, com o olhar, eles se conectaram e Killian conseguiu lhe dar autorização para o ataque, Charlotte então atacou.

Com uma das pernas, ela conseguiu atingi-lo em cheio com um forte chute onde sua perna alcançou e ele imediatamente a soltou. Charlotte foi rápida em se afastar dele, pegar a espada escondida e aponta-la para Peter, que a olhava com uma mistura de dor e raiva.

— Peter, eu não quero te machucar, por favor, solte a minha família. – Charlotte tentou evitar um possível desastre.

— Eles invadiram meu acampamento, machucaram meus meninos, já partiram para a violência e você ainda quer que eu os liberte? – Peter respondeu pegando uma das espadas das mãos de um menino perdido.

— Só fizeram isso porque não me viram. – Charlotte argumentou, tentando contornar a situação. – Por favor, Peter.

— Charlotte, pare de enrolação, nos liberte você mesma! – Ela ouviu algum marujo gritar.

— Eu não tenho magia! – Charlotte replicou, já cansada de ter que admitir aquilo.

— Como assim? Você não é mais bruxa? – Ouviu outro perguntar.

— Ele… ele tirou meus poderes. – Charlotte explicou, não tirando os olhos de Peter, que também não avançava na “luta” entre eles.

— O que? Como? – Killian questionou confuso.

— Peter, tira a pulseira. – Charlotte o pediu.

— Como é? – Peter falou zombeteiro. – Posso até gostar de você, Charlotte, ou seja lá, como se chama, mas eu não recebo ordens suas, eu dou as ordens, e a ordem é que você não vai sair dessa e muito menos desse acampamento.

E com isso, ele a atacou com a espada. Charlotte conseguiu se defender em tempo com perfeição. A menina ainda estava arredia em ter que lutar com Peter e apenas se defendia de seus ataques, provocando sons metálicos fortes a cada encontro que as espadas tinham uma com a outra.

— Vamos, querida, eu sei que você é muito melhor do que isso. Vamos, lute pela a sobrevivência de sua família. – Peter tentou instiga-la a lutar de verdade. Ele disferiu um golpe, o qual Charlotte defendeu segurando a espada em frente ao rosto, tentando empurra-la na direção de Pan. Na posição que estavam, eles conseguiam olhar muito bem nos olhos um do outro. – Pois você sabe muito bem que eu sou capaz de machuca-los… e irei começar pelo magricela ali.

Peter disse a última frase indicando Miguel com o queixo. Em resposta, Charlotte lhe deu um forte empurrão e, pela primeira vez desde que a luta começara, ela atacou. O duelo entre eles tornou-se muito violento.

— Me deixe ir embora! – Charlotte continuava pedindo, enquanto fazia um ataque diferente para cada palavra que dizia.

— Não sairá daqui tão fácil! – Peter respondeu se defendendo, procurando por maneiras de ataca-la.

— Porque me prende aqui? O que quer de mim? – Charlotte tentava entender a complexidade de Pan.

Ele não a respondeu, apenas continuou a atacando, tentando impedir que ela fosse embora.

— Charlotte, acabe de uma vez com isso! – Killian se fez ouvir autoritário.

Charlotte obedeceu e, com agilidade, entrelaçou sua espada com a de Peter, fazendo com que ele acabasse sendo obrigado a soltar a espada, que foi lançada para o ar, caindo nas mãos de Charlotte, que tomou a espada e o rendeu, agora com ambas as espadas.

— Me deixe ir. – Charlotte voltou a pedir, estava ofegante por causa da luta. – Solte minha família, por favor, Peter.

Naquela mesma posição, eles se encararam por vários minutos, até que Pan levantou a mão direita e com um movimento simples, ele soltou os piratas.

— Agora tire o bracelete de mim. – Dessa vez Charlotte usou um tom autoritário.

— Sinto muito, mas aqui na ilha não há nada que possa ser usado para tira-la. – Peter a respondeu com simplicidade.

Killian se aproximou furioso e lhe apontando o gancho próximo do rosto.

— Está dizendo a verdade? – Charlotte indagou com seriedade. Peter olhou para o gancho e sorriu malicioso.

— Estou, nada que pertence a ilha pode ajuda-la. Terão que se virar sozinhos – Peter respondeu com um ar de mangação.

Já não aguentando mais aquilo tudo, Killian lhe deu um soco que o fez cair desacordado e puxou Charlotte pelo braço para saírem dali.

— Como não temos magia teremos que ir a pé. – Killian falou, mais para si mesmo que qualquer outra pessoa. – Vamos! Todos de volta para o navio, marujos!

Durante o caminho, Charlotte pensava no que acabara de acontecer e no sentimento estranho de não querer ir embora. Peter não era uma boa pessoa, dava para ver, mas… porque aquele sentimento? Estava ficando pior em sua loucura? Ele apenas dispersou de seus pensamentos quando uma chuva começou a cair.

— Acelerem os passos, marujos! – Killian gritou para todos ouvirem.

Charlotte também estava estranhando o silêncio de seu pai, pensou que ele brigaria com ela por todo o caminho, porém, ele estava tenso e de cara fechada. A bomba não iria estourar agora, iria estourar mais tarde, quando estivessem sozinhos.

— Prepare os seus ouvidos, você vai ouvir. – Miguel a alertou, ele andava ao lado dela.

— Ele sabe que eu fui sequestrada não sabe?

— Sabe, mas também sabe que você saiu do navio quando não tinha permissão. – Miguel replicou.

— Nada passa por ele, não é mesmo?

— Nós te conhecemos, Charlotte. – Miguel afirmou. Ela apenas levantou as mãos em rendição.

O processo de ida até o navio foi duro, a chuva não facilitava o trabalho, a parte mais difícil foi a ida em pequenos barcos até onde a Jolly estava, pois o mar estava agitado. Quando enfim chegaram, estavam ensopados e a tempestade piorando. Mal chegaram e já estavam correndo para todos os lados, tentando controlar o navio, logo após soltarem a âncora, tudo aos sons dos gritos de Killian no leme.

— Charlotte, já para o seu quarto! – Charlotte conseguiu ouvir seu pai gritar por entre as ordens.

— Eu vou ajudar vocês! – Charlotte gritou de volta, já puxando uma das cordas que Miguel puxava, o ajudando.

— Charlotte, não… - Killian não conseguiu completar a frase, pois o navio deu um forte solavanco quando uma forte onda bateu de encontro com o navio. Levando muitos ao chão. – Alguém jogue o feijão rápido, nós temos que sair daqui!

— Pronto, capitão! – alguém gritou do leme poucos momentos depois. Killian rapidamente direcionou o navio para o portal com muita dificuldade.

Foi tudo muito rápido e violento, a tempestade, ao passarem pelo o portal, os derrubou violentamente no chão novamente e, quando voltaram a se levantar, estavam no porto de um reino… um reino que Charlotte não conhecia.

Como eu disse, foi uma aventura inesquecível para mim. Principalmente por conta do sentimento estranho de querer ficar na ilha da terra do nunca, viver no acampamento dos meninos perdidos, viver com Pan. Era um sentimento misterioso demais, nunca tinha ouvido falar sobre esse sentimento, nem sabia ao certo qual seu nome. O beijo e o presente de Peter foram… especiais.

Mais tarde eu me perguntaria o porquê do comportamento estranho de Peter comigo, o porquê de tudo aquilo. Foram sentimentos demais para um dia, contanto, nada comparado aos sentimentos e sensações que viriam a seguir… no reino desconhecido por mim.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado ;) pf comentem oq acharam do capitulo me deixaria muito feliz eu adoro os comentários de vcs :D eu gostaria de agradecer a maravilhosa Ra jones por ter comentado o capitulo anterior muito obg linda :3 a proposito esse capitulo é inteiramente dedicado a vc flor por ter se disponibilizado um tempinho seu para deixar um comentário muito obg minha linda ♥ eu vi que chegou gente nova sejam bem vindos lindos muito obg por lerem a fic isso é muito importante para mim. bom como eu já avisei na notas iniciais meus dias de postagens podem ficar mais imprevisíveis por conta dos meus compromissos escolares então eu não tenho ideia de quando eu irei posta certo? mais vcs sabem que eu odeio demorar e que tentarei ser breve então ate os próximos capítulos ou comentários



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