Novamente Alice escrita por Sol


Capítulo 4
A Floresta dos portais


Notas iniciais do capítulo

Yoo, não me matem pela demora, o cap está mais simples mas espero que gostem .



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720287/chapter/4

Alice

 

  Não tive tempo de assimilar, apenas senti o impacto e meu corpo começando a cair, o buraco se fechou de vez e logo a escuridão tomou tudo.

Fechei os olhos, esperando o pior...

Então meu corpo parou e a queda foi abafada por algo macio.

. . .

    Abri os olhos sentindo meu coração acelerar e minhas mãos suarem, algumas almofadas gigantes, macias e coloridas me salvaram de uma queda fatal, eu não podia enxergá-las em detalhes, pois ainda estava um tanto escuro, mas sem dúvidas deveriam ser pelo menos três vezes maiores que o normal.

 Pulei da almofada para o chão, sentindo o piso de madeira ranger sobre meus pés, a sala em que eu me encontrava não era muito grande, mas dificultava minha visão não só pela pouca luz, mas também pelas paredes pretas sem decoração alguma, notei que havia algumas prateleiras com enfeites e fotografias ofuscadas, mas a escuridão me impedia de ter clareza sobre qualquer coisa.

      Enquanto observava eu tentava me lembrar das histórias que a minha avó me contava sobre o país das maravilhas, ou pelo menos foi o nome que White usou, mas, por mais que eu tentasse reconhecer, eu sabia que algo parecia fora do lugar, pelo que ela me contava tudo inspirava algo como mágica e uma sensação boa de descoberta, algo que fazia meus sonhos de criança reluzirem.

     Mas... O que eu encontrei foi o frio, a estranheza, o incômodo pela iluminação precária e um vazio e assustador.

—Alguém aí? – Perguntei um pouco amedrontada antes de sussurrar para mim mesma que era algo estupido de se perguntar quando se encontra em um lugar desconhecido depois de sua família ser atacada.

 Meus olhos se guiavam para a porta a cada segundo, mas meu corpo não parecia ter coragem o suficiente para sair do lugar, até que algo brilhou ao meu lado, não estava lá antes, eu tinha certeza, mas brilhava intensamente enquanto caía leve do céu como uma pena e pousava calmamente sobre o chão de madeira. Me aproximei para analisar, era uma carta de baralho totalmente verde e branca.

  Conferi se não havia ninguém por perto, não queria ficar mais exposta ainda, então peguei a carta e a encarei, era um rei de espada.  Abri a boca para me perguntar o que aquilo significava, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa a carta começou a brilhar lentamente, apagando todos os seus elementos até ficar totalmente branca.

—Isso é...  – Sussurrei baixinho enquanto uma mensagem surgia na carta. –Magia? 

   Magia era algo que minha avó, um dia, tentou me fazer crer que era real, de certo para tentar explicar certas... Situações em que eu acabava causando algo inexplicável, na época não passava de uma brincadeira, com o tempo se tornou algo esquecido, mas...

                      “Um portal desgastado pelo tempo não consegue ser muito certeiro. Vou encontrar outro, atrás da porta está um túnel iluminado, você deve estar em uma passagem dimensional entre um mundo e outro, apenas siga até encontrar a saída.

   Ass. White”

  A carta parecia ser mesmo de White, ele havia me empurrado até aqui, agora simplesmente enviou uma carta que se escreve sozinha, aqueles homens que nos atacaram simplesmente apareciam e desapareciam, tudo... Era tão magico...

    Encarei melhor a porta, de fato um túnel muito bem iluminado se seguia do outro lado. Senti o arrepio tomar meu corpo, eu havia tomado essa decisão, eu certamente salvaria minha família, tudo agora parecia querer tomar forma, então, mesmo em duvidas, eu corri em direção ao túnel.

. . .

   Todo o corredor do túnel era extremamente vazio e sem cor, até mesmo a luz tinha um tom branco, sequer percebi quando cheguei ao final, pois a tontura já estava me incomodando. Se não fosse pelo som de galhos se quebrando eu certamente continuaria andando até bater em alguma arvore.

  Ainda com um pouco de dificuldade eu encarei a trilha a minha frente e as árvores densas por ambos os lados, não havia outras opções, a trilha de terra seguia uma única direção e as arvores a cercavam.

      Eu dei alguns passos em direção a trilha, mas o brilho de algo surgindo sobre meus pés me fez recuar, olhei para baixo e me deparei com uma flor colorida toda feita de luz que girava sem sair do lugar, eu a observei fascinada e arrastei meu pé em sua direção, assim que a toquei ela brilhou e girou mais rápido espalhando seu brilho como faíscas para todas as direções, até que outras flores começaram a surgir.

     Mesmo que de forma inconsciente eu me encontrava sorrindo como nunca, estar ali era como reviver todos os meus sonhos de infância.

Dei mais alguns passos vendo mais flores surgindo pelo caminho enquanto eu andava. Era inacreditável... Era Mágico!

      Sem perceber eu comecei a correr pela trilha, rindo ao notar as flores brilhando como rastros por onde eu passava e, mesmo quase tropeçando em algumas pedras ou galhos, eu não conseguia deixar de sorrir, era a primeira vez em tanto tempo que eu me sentia tão livre.

      Comecei a notar as árvores que me cercavam, algumas delas, estranhamente, possuíam portas em seus troncos. Parei de correr e comecei a observar uma das árvores, sua portinha era rosa e eu não fazia ideia de como poderia haver uma porta em uma arvore.

    Dei alguns passos em sua direção, encostando levemente em sua superfície, algo brilhou e a porta se entreabriu um pouco, espiei e notei que por trás dela havia algo como um quadro, esse quadro retratava um deserto e, para meu espanto, eu podia ver o movimento da areia causado pelo vento e algumas pessoas caminhando com dificuldade, o que me fez considerar aquelas portas como os portais que White havia citado.

   Olhei bem ao redor, nem todas as arvores possuíam portas, mas ainda assim eram muitas e a maioria se encontrava desgastada. Então esses portais eram como o que eu usei?

  Suspirei, me lembrando de que precisava encontrar White, então tornei a encarar o resto da trilha, eu já podia ver o fim dela então apenas segui calmamente, voltando a notar as flores e rindo baixinho.

—Alice? – Ouvi então a voz de White, parecia ter vindo de trás, então me virei quando estava perto do fim da trilha, ele parecia ter acabado de sair de uma das portas. –Céus! Que bom, fiquei preocupado pensando que não daria tempo!

    Segurei a risada ao notar que ele tentava retirar algumas folhas do cabelo, que a essa altura passou de arrumado para uma zona. 

 -Onde estamos, afinal? Isso vai me levar até minha família? – Perguntei enquanto ele se aproximava. –Essas coisas são mesmo portais?

—Estamos em uma parte oculta de uma das florestas do país e sim, são portais velhos que a rainha manda usar quando está muito sem ter o que fazer, ou melhor, quando está mais sem ter o que fazer do que o normal!

  O encarei com as sobrancelhas erguidas, tentando decidir se perguntava primeiro sobre o fato daquele lugar ser um país ou se perguntava se não seria desrespeitoso chamar a própria rainha de desocupada.

—Enfim... – Murmurei. – A saída é por ali?

Ele assentiu ao tirar a última folha do cabelo e eu respirei fundo, segurando o vestido enquanto tornava a caminhar para o fim da trilha.

. . .

  Um fato sobre o final de uma floresta cheias de portais: A saída também é um portal!

  - Aí Alice, você já pode ser rainha do obvio. – Murmurei para mim mesma, passando por outro corredor branco e tedioso, me virei algumas vezes para conferir se White ainda estava por perto, aparentemente esse portal/saída não estava tão desgastado e nós dois passamos por ele sem problemas.

   Respirei o ar fresco ao pisar sobre o gramado do campo, notando o céu azul, flores por todos os lados e algumas árvores aglomeradas a minha frente, pensei ter visto um vulto se mover entre elas, mas deveria ser culpa do stress. Olhei para trás e me surpreendi ao notar que o nosso portal não era uma porta e sim uma caverna ou algo próximo, segurei uma ponta do meu cabelo meio emburrada, era muita coisa para assimilar.  

—Enfim chegamos! – White resmungou, ajeitando o cabelo, eu o encarei em dúvidas e ele sorriu de lado, segurando a minha mão e me puxando até uma das árvores.

—Onde estamos indo?

 Ele me puxou até passarmos pelas árvores e chegarmos a ponta de um morro. Ele soltou minha mão e sinalizou para que eu olhasse, revirei os olhos por causa de todo o mistério e me aproximei mais da beirada do morro para encarar a vista.

—Estamos oficialmente em Copas! Bem... Uma das nossas vilas pelo menos, o país é bem maior, obviamente. – White comentou, parando ao meu lado.

   Algumas arvores ainda se destacavam, estavam mais próximas do morro, mas pouco abaixo de onde eu estava havia uma vila simples, depois das arvores eram elas que tomavam conta do espaço, vendo de cima pude notar que o tom vermelho era quase predominante, tanto nas casas como nas roupas ou objetos, parecia ser um lugar bem harmonioso ninguém estava parado, cada adulto ou criança trabalhava em algum canto: alguns carregavam materiais nas costas, crianças cuidavam de outras menores que elas, outros colhiam frutos de algumas das várias plantas que ali estavam ou tentavam tirar água de um rio que passava bem próximo.

—Isso...

—Você está oficialmente no país das maravilhas! 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Novamente Alice" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.