Firelight escrita por Kuchiki Gaby


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Recomendo que ouçam a musica ''Someone That Loves You - Honne'' durante a leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720285/chapter/1

— Nii-Sama? - a garota espiou pela porta entreaberta, colocando a cabeça para dentro do quarto. - O senhor está pronto?

— Eu já lhe disse que não vou a essa festa, Rukia. - Byakuya respondeu, o tom de voz calmo, apesar dos olhos permanecerem com a seriedade habitual.

— Todos vão estar lá, Nii-Sama. Eu gostaria que o senhor estivesse também. - ela deu um pequeno sorriso, na tentativa de convencer o Kuchiki. 

— Você sabe que não aprecio muito esses tipos de comemoração. - ele suspirou profundamente, desviando o olhar para o chão.

Rukia buscou diversos argumentos para tentar persuadir o irmão a sair de casa naquela noite de Réveillon. Sabia que não seria tão fácil convencê-lo a algo e mesmo com a iminência do fracasso, insistiu da melhor forma que podia. Ao perceber que ele permanecia irredutível em sua decisão, se mantendo firme em cada resposta, ela finalmente desistiu.

— Boa noite Nii-Sama. - ela se pôs para fora do quarto, dando uma última olhada pela porta. - Feliz Ano Novo. 

Ele apenas assentiu com a cabeça, numa retribuição muda. Sentia um leve desconforto ao saber que seu querido Nii-Sama passaria aquela noite tão especial sozinho. Tinha esperanças de que ele aproveitaria melhor esses convites sociais devido a moderada flexibilidade no seu comportamento usual. Mas afinal, nada muda completamente do dia para noite. Desceu as escadas, encontrando com algumas pessoas que a aguardavam na sala.

— Podemos ir. - ela se direcionou ao pequeno grupo, para em seguida todos começaram a deixar o cômodo.

— Rukia. - ouviu uma voz familiar, se atendo a ela por um instante. - Onde está o Kuchiki Taichou?

— Ele decidiu ficar, Renji.

Renji franziu o cenho, encarando-a intrigado. Ela apenas abaixou o olhar e seguiu junto das outras pessoas rumo ao local de destino: a festa. 

                            ***

Algumas horas haviam se passado desde que a festa de Réveillon tinha começado. O espaço aberto concedido pelo Soutaichou era quase irreconhecível, tanto pela decoração como pela quantidade de pessoas. A maior parte do Seireitei estava ali, desde Taichous a Oficiais, aguardando ansiosamente pela meia-noite. 

Todos pareciam bem animados e sorridentes. Conversavam, apreciando as bebidas ou até mesmo se arriscavam a se movimentar no ritmo das musicas animadoras que dominavam o ambiente. Seus rostos se misturavam rapidamente em meio ao vermelho e dourado dos quimonos que trajavam e a decoração do local mesmo tom, deixando todos parecidos, quase indistinguíveis.

Pelo menos era essa a visão de Abarai Renji no meio daquela gente toda. Não sabia se era o pouco álcool de seu segundo copo de saquê, já correndo por suas veias ou se era uma sensação estranha no peito, quase incessante, todas as vezes em que se pegava pensando em Byakuya sozinho naquela casa enorme. Volta e meia percorria os olhos pela multidão, anseando por vê-lo ali, sua figura elegante e imponente, bem trajada em meio as pessoas, apreciando a festa, do jeito dele. Sentia falta disso. 

Varias pessoas se aproximaram dele, perguntando pelo Taichou, mas ele não sabia o que responder. Dizer o real motivo, jamais. Não gostaria de ouvir comentários maldosos e zombarias sobre ele e seus motivos. Um ''talvez mais tarde ele apareça'' era uma boa saída, que alimentava até mesmo as esperanças do próprio Renji. Não conseguia se conformar. Apesar de saber que ele não gostava dessas comemorações tumultuosas e significativas, chegou a conclusão de que, seja lá quais fossem suas razões, aquela noite era especial demais para o Kuchiki que tivesse que passá-la sozinho.  

                          ***

Observava pela janela, podendo captar alguns ruídos e luzes concentradas em um só lugar. Não se via nenhum movimento ao redor, quase como se o resto do Seireitei não existisse. Por um breve momento quis ver uma alma que fosse, perambulando por ali, para ter a certeza de que ele não era o único.

"Mais uma vez só", concluiu por dentro. Não que fosse algum tipo queixa, tinha consciência de que isso havia sido consequência de sua própria escolha, e isto, apenas um resmungo vindo de dentro do peito. Poderia ter ido com Rukia a tal festa de Réveillon, apenas para apreciá-la, onde estaria cercado de pessoas a seu redor. Inclusive as queridas. 

Não tinha paciência para esse tipo de festas. Nunca teve. Sempre preferiu comemorações mais íntimas e discretas. Gostaria muito de saber o porquê de Rukia imaginar que ele cogitaria ir a essa festa. Seria por algum tipo de flexibilidade que ofereceu em algumas situações cotidianas? Era difícil se desapegar de velhos hábitos e padrões de pensamento. Ele ainda era Kuchiki Byakuya e haviam muitas coisas que ainda faziam parte de quem ele é e não deixariam tão cedo.  

Se afastou da janela, balançando a cabeça negativamente, tentando espantar esses pensamentos. Deitou-se no futon, ainda recebendo uma parcial iluminação de fora. Não sentia sono, então duvidava que dormiria tão cedo. Ficaria ali, apenas esperando com que o sono o apanhasse. E sem se dar conta, permaneceu assim por algum tempo.

Mas então sentiu uma coisa, quase pertubação. Como se um reiatsu estivesse bem próxima a ele. Sentiu o incômodo aumentar e se virou no colchão. Assustou-se ao se deparar com uma figura alta á porta de seu quarto. Um misto de surpresa e confusão se estamparam na face do Kuchiki quando ele finalmente conseguiu distinguir o que estava acontecendo.

— Taichou? Eu o acordei? - viu o rapaz se aproximar, parando em um lugar aonde havia mais iluminação próximo ao futon.

— Não Renji, só estava repousando. -  Byakuya franziu o cenho, estranhando a visita repentina. - Aconteceu alguma coisa?

— Bem senhor... - ele buscava as palavras certas. Mas achou melhor ir direto ao ponto. - Na verdade eu vim buscá-lo. Tem um lugar que o senhor precisa ir.

— Renji, por favor entenda. - ele suspirou profundamente, semicerrando os olhos. - Eu já disse que... 

— Não é nada do que o senhor está pensando. - ele agitou as mãos, interrompendo imediatamente o outro. - Vista-se por favor, vou estar esperando lá embaixo. - completou com um sorriso, sem se importar com formalidades. Em seguida deixou o cômodo.

Byakuya ficou paralisado por instante, analisando toda aquela petulância, como se não soubesse agir. Estava decidido a não ir a lugar algum, mas ao se deparar com a empolgação daquele jovem tão despojado e sorridente, sua curiosidade ficava mais aguçada em descobrir qual seria o real motivo de Renji irromper em seu quarto no meio da noite. Estaria alcoolizado? Ele parecia bem firme no que dizia, apesar de aparentar certa falta de sensatez. Saindo do seu dilema interior, se deu por vencido por tal estímulo curioso e, finalmente começou a se vestir, escolhendo cores padrões de Ano Novo para seu quimono.

Ao chegar na sala encontrou o jovem parado diante de alguns móveis, como se observasse o ambiente em volta. Não que nunca tivesse ido a mansão Kuchiki antes, mas não deixava o fascínio toda vez que a visitava. Meio minuto depois que entrou no cômodo, Renji se virou para o moreno imediatamente, observando-o de cima a baixo com olhos calorosos e ternos. Pode-se ouvir um leve suspiro, se não de admiração, de alívio por finalmente vê-lo em sua frente.

— O senhor está...incrível. - disse sorrindo, criando uma linha invisível que sustentou os olhares por mais tempo que o normal.

— Obrigado. - agradeceu desviando o olhar, tentando entender o elogio vindo do outro. Não estava trajando nenhumas de suas melhores vestes, então tentava entender o que de incrível o ruivo tinha visto. 

— O senhor por acaso tem taças? 

— Taças? - o moreno pareceu meio confuso, indicando um local com a mão. Tudo aquilo parecia muito estranho. Não pretendia sair e muito menos beber. Para que diabos ele queria taças?

— Bom...- ele pegou duas em suas mãos. - Eu roubei isso da festa - ele ergueu uma garrafa de champagne para o alto. - Duvido que alguém vai notar.  - ele passou pelo Taichou surpreso, e se pôs junto a porta. - Bom, acho melhor irmos, não queremos perder nada.

Os dois deixaram a mansão Kuchiki, rumando o caminho por uma Seireitei completamente vazia, tal como o moreno imaginava. Provavelmente todos deveriam estar na festa, já que a meia-noite se aproximava. Passaram por alguns caminhos, e apos alguns minutos de caminhada, chegaram á uma área descampada, um amplo gramado acompanhado leve subida. As poucas arvores de cerejeiras estavam afastadas entre si. O céu estava escuro com poucas estrelas, ofuscadas pela luz brilhante da lua cheia.

— Aonde estamos indo? - Byakuya finalmente perguntou.

— Já estamos chegando. - disse o ruivo, andando um pouco mais na frente.

Assim que chegaram ao fim, o moreno observou um cercado baixo na beirada mais alta do declive e um banco comprido feito de madeira, logo chegando a conclusão de que aquilo se tratava de um dos mirantes do Seireitei. Se aproximando da cerca podia ter uma visão geral da cidade lá embaixo, inclusive de onde podia ver as luzes da grande festa de Réveillon. 

— É lindo não é? - Renji indagou, observando a admiração de Byakuya. - Um ótimo lugar para ver os fogos. - sorriu ligeiramente, sentindo uma vaidade boba.

— Imagino que deva ser. A vista é ótima. - respondeu sem encarar o ruivo.

— Pegue sua taça, Taichou. - ele a estendeu para o moreno, abrindo o champagne e enchendo ambas as taças. - A meia-noite está próxima.

Ambos se recostaram na cerca, observando a paisagem, aguardando os poucos minutos que faltavam para meia-noite. Renji apenas desfrutava da presença de seu Taichou, capturando cada gesto e cada expressão, agradecendo mentalmente por ele ter vindo. Sentia-se feliz apenas por vê-lo ali, junto a ele, mesmo que nada dissessem.

Uma contagem regressiva mútua começou no local onde acontecia a festa, ecoando por toda Seireitei, deixando ambos arrepiados com a energia. Os olhares dos dois se encontraram. Eles sustentaram o olhar por alguns segundos, até Renji suspender sua taça com um sorriso adornando os lábios.

— Feliz Ano Novo, Taichou.

— Feliz Ano Novo, Renji.

Eles brindaram por um breve momento, sem deixar que o contato visual se quebrasse. E a tão esperada meia-noite chegou, inundando o céu com os mais belos fogos. As explosões brilhantes iluminavam o rosto de ambos em cores vibrantes, atraindo todos os olhares. A não ser por Renji, que parecia não deixar que nada dominasse seu olhar além da sua admiração por Byakuya. As luzes pareciam tão mais bonitas e intensas vistas pelo reflexo de seus olhos, os quais abandonaram aquela expressão grave pelo mais puro fascínio. O ruivo tomou um gole da bebida, se voltando para os fogos. Assim que a ultima explosão se findou, os olhares voltaram a se encontrar por um rápido instante.

— Isso foi lindo. - o ruivo comentou, sorrindo. - Os fogos...

— Sabe a quanto tempo eu não via os fogos? - o Kuchiki indagou, ainda encarando o céu como se esperasse mais alguma coisa. Houve uma pausa, um silêncio que demorou tempo suficiente para que Renji entendesse o significado daquelas palavras. - Obrigado por me trazer aqui hoje.

Renji ficou completamente surpreso com o que o Taichou acabara de dizer. Sentia emanar dele essa gratidão, sincera e verdadeira, com um misto de paz e ate mesmo diria felicidade. Podia jurar que teve um vislumbre de um sorriso adornando os lábios finos do outro. O que criava no ruivo uma vaidade boba, sobre tê-lo feito feliz pelo menos por alguns instantes e fazia o seu coração bater mais rápido.

— Eu tinha de trazê-lo. - começou, buscando os olhos claros do outro com ternura. - Não poderia deixá-lo sozinho. Eu só...Queria fazê-lo feliz...- O silêncio pareceu atrair o olhar dos dois ainda mais. Byakuya parecia aguardar que ele continuasse. Mas isso não aconteceu.

O Kuchiki ergueu uma sobrancelha, como se tentasse decifrar o que ele queria dizer com aquelas palavras. Não foi preciso muito, logo o ruivo estava bem próximo a ele. O ruivo parecia estar tomado por algum tipo de emoção intensa. Uma das mãos desferia um carinho leve que começava na maçã do rosto e vinha suavemente até o queixo. Envolvido pelos olhos do outro, juntamente a seu perfume que emanava contra o vento, se inundou de coragem e, tomado por um ímpeto, o ruivo avançou sobre sua boca, beijando-o com ternura. 

Foi um beijo curto e terno, mas de uma paixão inimaginável. E quando este se partiu, Byakuya, surpreso, abaixou o olhar, levando discretamente os dedos longos ao lábios por alguns segundos, paralisado numa espécie de transe, como se pudesse reter o beijo misturado ao gosto do champagne para que nunca os perdesse. Quando finalmente voltou a si, procurando o olhar do outro na esperança de entender o que estava acontecendo, não encontrou nada além de um rapaz perdido num êxtase de sensações e emoções intensas, os olhos ternos o encarando apaixonadamente, aguardando talvez uma resposta do Kuchiki. 

— Acho que... - o nobre disse de repente, encarando o outro nos olhos. - ...preciso ir.

Nesse momento o coração do ruivo falhou uma batida. Gostaria de enchê-lo de perguntas, declarar-se, desculpar-se, tudo ao mesmo tempo. E então ele decide apenas ir embora. Não podia impedi-lo de ir, mas não tinha coragem de pedir pra ele ficar. Ainda mais depois dessa reação tão amistosa da parte dele, pois conhecendo o Kuchiki, não imaginou que sairia simplesmente ileso depois de uma atitude dessa. Por fim, resolveu apenas esperar em silêncio e deixa-lo ir. 

Percebendo a ausência de resposta e atitude da parte de Renji, Byakuya sabia que era uma boa hora para sair. Esperava que o ruivo desse alguma explicação ou pedisse desculpas. Ou no mínimo dissesse o seu nome, encabulado. Mas nenhuma dessas coisas aconteceu. Então deu as costas para o ruivo e começou a caminhar, descendo o declive. 

— Eu te amo... 

O Kuchiki parou. Estava perto o suficiente para ouvir aquelas palavras. Permaneceu imóvel, sentindo uma coisa estranha no peito. Tinha quase certeza do que se tratava, como se tivesse despertado algo dentro de si que há muito dormia. Era mesma sensação que o fez a sair de casa e a estar com Renji até o momento. Levou os dedos aos lábios novamente, como se pudesse sentir todas as sensações de novo. O carinho em seu rosto, o gosto do champagne, as mãos em sua cintura e a paixão. A quanto tempo não era beijado daquela forma? Talvez fosse mais uma vez um grito abafado do peito. Tudo então fez sentido. Virou-se para trás, vendo o ruivo parado no mesmo lugar. O encarou sustentando o olhar por um tempo.

— Obrigado por me trazer aqui hoje. - ele disse calmamente, vendo a expressão do outro se encher de surpresa. Deixou os lábios suspenderem por um instante. 

Renji sorriu abertamente quando ele disse estas palavras. Tudo estava bem, sabia pela veracidade de seu sorriso. Mesmo sem saber o que estaria por vir, não se arrependia em nenhum momento de finalmente ter tido nos braços o homem que amava. Viu as costas dele desaparecerem conforme o declive ia ficando mais baixo. Então deu uma ultima olhada ao redor e se foi também.

Byakuya não poderia ir embora sem dizer aquelas palavras ao ruivo. Entendeu que, a noite de Réveillon era uma delicada fusão de sentimentos e emoções, goles de champagne e fogos de artifícios brilhantes e fascinantes, que nos encorajam e renovam para obtermos tudo o que almejamos.

Assim que o primeiros fogos iluminaram o céu e o brilho que eles traziam atingiu sua face admirada, secretamente o Kuchiki fez um pedido. E caminhando ali, naquele descampado de volta para casa, percebeu que o seu pedido havia sido realizado.

Um alento para o coração, foi apenas o que ele desejou.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Feliz Ano Novo!

Espero que tenham aproveitado a leitura. Deixe seu review!

P.S: Qualquer erro de formatação, por favor me avisem. Me desculpo desde já.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Firelight" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.