Apaixonada Por Um Morto-Vivo escrita por Rafaello


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, aquelas desculpas pelo atrasodo capítulo. Tenho tido pouco tempo, porém estou fazendo o possível para postar. Neste capítulo, um pouco de proximidade entre Tina e o vizinho. Boa leitura!



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     A expressão dele mudou de irritação para extrema surpresa. 

     — Não esperava… que viesse, senhorita Black — disse, em meio a suspiros.

   — Tina — corrigiu a garota.

Tentava não olhar para seu físico, entretanto era bastante difícil quando um deus daqueles estava seminu bem na sua frente. Não tinha noção de que o corpo de Stoll fosse daqueles grandes e musculosos, visto que ele só andava coberto por sobretudos. Seus músculos eram definidos em todos os traços, desde os braços, ao trapézio, pescoço, peitoral, abdômen, umbigo… E a calça vinha logo em seguida. Não possuía um pêlo, exceto uns poucos e ralos na axila, como Tina pôde notar pelo braço que ele mantinha apoiado no portal, numa pose até sexy demais para receber alguém inesperado. 

     A garota de cabelos azuis estava completamente arrependida de estar ali. Só ela sabia a raiva que estava de si mesma. Talvez se cortasse quando voltasse para casa. 

     — Vim fazer essa merda de trabalho, posso entrar? — Resmungou, com pouco caso.

     Prontamente, Stoll saiu da frente da porta e fez um sinal com as mãos para que Tina pudesse passar.

     — Seja bem-vinda, Tina…

     Uau!

      Era a única coisa que ela poderia dizer diante de uma casa daquelas. Uma verdadeira mansão se apresentava aos seus olhos assim que colocara o primeiro pé naquele maravilhoso piso de porcelanato preto. Parecia que estava pisando sobre vidro. Deu de cara com um corredor curto. Ao seu lado direito, havia um porta-casacos de madeira nova. Stoll tomou a liberdade de tirar a jaqueta de Tina. Esta, nem se mexeu quando sentiu na pele o toque de seus dedos grossos e gélidos. O rapaz reparou na tatuagem gritante dela enquanto pendurava sua jaqueta de couro. Porém, não soltou nenhum comentário, como era de costume. Tina não sabia para onde olhar. Estava curiosa para saber o que vinha depois do corredor. A casa era escura, todavia tinha um brilho de casa bem limpa e cuidada, além de uma cara de ostentação. 

 

     Tina não esperou que Stoll andasse a sua frente para lhe indicar o caminho. Foi arrastando os pés, curiosidade evidente. Assim que o corredor finalmente terminou, ela se deparou com uma larga sala. Que sala! O teto era rebaixado de gesso, num branco quase insuportável. Havia um grande lustre prateado no centro. Abaixo, um conjunto de sofás de couro preto com uma mesinha de centro de vidro e madeira negra. Os sofás estavam de frente para uma modesta lareira, que quase parecia de mentira, ou talvez digital, apagada. O carvão ali dentro parecia ter sido trocado recentemente. Um tapete bonito de pêlos de cor cinza se encontrava embaixo da mesinha, no centro dos dois sofás e Tina percebeu que queria ficar descalça só para senti-lo, porém, conteve os modos. Stoll ria atrás dela, observando sua fascinação espontânea.

     Havia uma prateleira na parede esquerda da sala, com alguns relatos em cima. A garota não ligara muito para aquilo depois que seus olhos avistaram um pequeno  barzinho ao lado direito da lareira. Era simples de uma madeira negra corrida, havia uma bancada na frente dele com dois banquinhos altos. Tina foi até ele, sem nenhum pudor, deu a volta na bancada e foi tocando nas bebidas. Havia prateleiras separadas para uísques, vinhos, cervejas importadas, vodkas de vários tipos… A garota estava pirando. Cada parte de bebidas tinha uma luz decorativa de fundo de uma cor diferente. A de uísque era roxa e chamava mais atenção. Tina parou nela.

 

     — Gosta? — Stoll chamou-a dos devaneios.

     Ela virou para trás repentinamente, assustada.Esquecera-se de onde estava por um mísero segundo.

     Stoll. Casa. Covil. Controle-se.

     — Aonde vamos fazer o trabalho? 

 

     — Acompanhe-me — pediu ele.

     A escuridão da casa começava a incomodar Tina. Tudo muito escuro  misterioso. Havia mais um corredor, perto da parede com a prateleira de retratos, entretanto, eles não seguiram por ali. Ao invés disso, Stoll foi até o bar e passou pelo lado dele. Ali, Tina descobriu uma escada meio estreita de mármore preto. 

     Tudo escuro lá em cima. Por dentro, a garota estava com medo, sim. Ia admitir? Jamais. O rapaz a sua frente subia, convicto e com certa rapidez. Ao chegar no final da escada e já no cômodo de cima, passou a mão pela parede à sua direita e uma bifurcação de corredores se acendeu. 

 

          *******************************************************

     Havia uns vários quadros pendurados com rostos de pessoas desconhecidas. 

     — Seus pais não estão em casa? — Ela ousou perguntar, carregada de marra.

     — Não moro com meus pais, senhorita. São meus tios. E não, eles não passam muito tempo aqui — respondeu, seguindo pelo corredor da direita.

     Tina só podia ir atrás dele. Passaram por algumas portas fechadas. O corredor era espaçoso e longo. Alguns quadros iam aparecendo durante o percurso. Andaram por o que pareceu uma eternidade para Tina. 

     — Quem são essas pessoas? — Tornou a perguntar.

     Stoll não parou, somente virou o rosto para que Tina pudesse vê-lo enquanto falava.

     — A família que deixei em meu país… — respondeu, relutante.

     Houve uma súbita curiosidade. A garota queria perguntar muitas coisas, queria explicações, no fundo, não queria admitir, mas estava completamente abismada e curiosíssima para saber mais da vida daquele rapaz. Porém, não disse mais nada.

 

     Deram mais uns passos a frente e Stoll tocou a maçaneta de uma porta à sua direita. Tina parou de repente atrás dele. Por fim, ele abriu a porta e entrou. 

     A garota não conseguiu se mexer. Ficou ali, onde estava, admirando o quarto, hesitante. Não havia palavras para descrever o quão deslumbrante para somente um rapaz de 17 anos o quarto era.

     Sua estrutura era retangular, luzes azuis brilhavam no teto de bocais fundos e redondos. Com metade do corpo já dentro do cômodo, Tina pôde ter visão mais ampla, não sabia o que olhar primeiro. Na parede esquerda, direcionada à porta, uma estante embutida e repleta de livros ia do chão ao teto, literalmente, numa madeira negra impecável. Seguindo à esquerda, estava a cama. Uma redonda, lotada de travesseiros decorativos, grande demais até para duas pessoas, com um belíssimo espelho atrás. Após a cama, uma porta de vidro perto da janela. Ao lado direito, uma TV de tela plana pendurada de frente para a cama, com uma escrivaninha logo abaixo, um tanto rebaixada para uma pessoa de tamanho normal, também revestida em madeira negra, que ia desde perto da porta até a parede janela do outro lado do quarto, contendo um notebook aparentemente novo da Apple e uma cadeira para fechar o conjunto. As paredes coordenadas com azul e preto, e toda a decoração do quarto nas mesmas cores. Tina estava encantada, de fato. Assim que fechara a porta atrás de si e reparava no ambiente em que estava, Stoll apertou um interruptor, o qual ela não viu, e as luzes azuis deixaram de se mostrar, dando lugar a um quarto iluminado em cor branca, fazendo assim com que ela tivesse melhor detalhe de tudo. Reparou na escrivaninha/mini estante, ela continha tudo que se pudesse precisar: dvd, rádio com entrada USB, várias gavetas, um encaixe de inox improvisado que parecia um frigobar, um videogame conectado, entre outras tantas coisas. 

     A garota arrastava os pés no que notou ser um piso frio de porcelanato azul escuro, como uma noite sem estrelas. Reparando em cada objeto. Foi andando até a porta de vidro ao lado da janela acompanhando a escrivaninha com os olhos. No final, já quase na parede havia uma luneta dourada, escondida em meio a livros e cadernos. A janela estava coberta por uma persiana simples preta. Tina enfiou os olhos para enxergar a rua através do vidro. Deu de cara com a sacada de seu quarto bem do outro lado. Prendeu a respiração brevemente. Agora tinha a certeza de que o quarto que vivia aceso era o de Stoll e que ele a observava.

 

     Não virou o rosto para ele. Foi em direção da porta à sua direita. Através do vidro, descobriu um cômodo metade closet, metade banheiro, os dois em cores branco e preto. 

     Por fim, sentou-se nos pés da cama e encarou o rapaz. 

     — Podemos acabar logo com isso? — Tão fascinada com a mansão deslumbrante de Stoll, Tina acabara esquecendo de que ainda estava com ódio dele e, agora que tinha sua atenção, ela não o deixaria escapar das perguntas. 

     — Claro, sugiro que se dividirmos as tarefas, talvez terminemos mais…

     — É o seguinte. Eu dito as regras aqui. Você não acha que vou ler um livro chato ou ver um filme maçante, né? Você faz tudo e eu fico aqui olhando esse teto maravilhoso pra passar o tempo — rebateu.

     Stoll sorriu diante do absurdo que a garota acabara de dizer. Aqueles dentes…

 

     — O que a faz pensar que concordarei com isso, senhorita? — Indagou, se aproximando da cama.

      Tina se sentiu encurralada. Não sabia como reagir com a presença dele ainda e muito menos com a proximidade dos dois. Ele apoiou as mãos ao lado das pernas dela, na cama, e abaixou o rosto para encará-la.

     — Por que não bebemos algo? — Murmurou ele, sexy.

     Tudo nele era sexy. Seu modo de andar, seu jeito de falar, seu cabelo bagunçado, até sua respiração, o sobe e desce que seu tronco musculoso fazia. 

     — Ótima ideia… — Tina conseguiu dizer. Estava preocupada em manter a face séria e decidida, mas havia se esquecido de como falar sem parecer uma medrosa.

     — Bom, posso lhe oferecer um chá, ou talvez um café… — ele deu meia volta e já em direção à porta.

     — Tá brincando com a minha cara? Você tem um show de bebidas importadas naquele bar e quer me oferecer um chá? 

     Tina nao sabia aonde estava a graça e não entendeu porquê ele gargalhou quando ela disse aquilo. 

      — Como quiser, senhorita — e bateu a porta, deixando a garota sozinha.

 

         *************************************************

     Ok. Ele me observa. Disso eu já tenho certeza. Agora, por quê? Qual motivo? Por que eu seria tão importante? Não posso vacilar na hora de jogar ele contra parede...

Tina estava submersa em pensamentos enquanto tirava os tênis dos pés e esperava Stoll voltar. Sentada na cama, ela se ocupava em organizar tudo em sua mente, com um certo medo de hesitar nas mãos dele e suas dúvidas irem por água abaixo. Quando teria outra oportunidade daquela? Melhor, quando teria paciência de encará-lo novamente? Já havia feito um roteiro de como agiria, porém assim que Stoll voltou com duas taças extravagantes  e uma garrafa de vinho, a determinação e o texto decorado se dissiparam. 

 

     — Trouxe um dos meus vinhos favoritos… — observou ele.

     Apoiou as taças na escrivaninha e abriu o vinho com saca-rolhas que tirou do bolso da calça de moletom. Ainda usava a mesma roupa, com o peito nu. Tina não entendia qual era a intenção dele e o que ele esperava causar nela com aquilo. Despejou o líquido vermelho escuro que chamou a atenção da garota e entregou a ela sua taça.

     Foi até o banheiro/closet enquanto bebericava o conteúdo. 

     — O que você sabe sobre Jay Gatsby? — Perguntou de lá.

     Tina experimentou a bebida. Um doce quente, com um fundo ácido e gosto leve de romã. Bom! Virou o cálice todo na boca, não deixando um gole sequer. 

     Stoll saíra do outro cômodo com uma calça jeans escura e algo pendurado no pescoço. Tina não estava enxergando de longe o que era. 

     — Sei que não estou afim de saber nada sobre ele — sorriu, mostrando a taça vazia nas mãos. 

     O rapaz se aproximou com a garrafa e preencheu de novo. Menos, desta vez. 

     — Vamos devagar, senhorita. Assim não vamos fazer trabalho algum — soltou ele, sem maldade.

     Com isso, Tina fechou a cara e adquiriu uma expressão severa. 

     — O que tem no pescoço? — Indagou a ele.

     Stoll tocou em seu cordão de prata. Tirou-o e deu na mão dela. Antes que Tina pudesse tocar, viu o que era e virou o rosto. 

     — Qual é a dessa pedra?

     O jovem  estranhou a pergunta. Colocou o cordão de volta e acariciou o pingente com uma das mãos, enquanto a outra levava o cálice aos lábios.

     Sorriu.

      — Ganhei da minha mãe. Tenho desde pequeno e nunca tiro — respondeu, olhando a garota nos olhos. 

 

     Ela não teve reação. Bebeu logo, na mesma rapidez de antes o líquido que fora recolocado em sua taça. Esticou-a para que Stoll reabastecesse pela terceira vez. 

     Ele o fez, mas não tão seguro.

     — Hum, entendi. E pra que serve?

     Pegou-o de surpresa. Ele disfarçou virando de costas para ela. Puxou a cadeira e sentou-se. 

     — Tem um significado familiar para mim, senhorita. 

     — Me chame de Tina — pediu, um tanto grosseira na voz.

     Stoll fez que sim com a cabeça. 

     — Seus lábios já estão roxo. É melhor começarmos o trabalho, tudo bem?

     Tina não respondeu.

    Ele se virou e abriu o notebook. Digitou algumas coisas, provavelmente sobre a biografia de Gatsby, depois foi até a estante. A garota acompanhava cada movimento dele. O ódio não estava presente com tanta força dentro dela. Estava ali, claro, mas não com a mesma intensidade de quando ela batera em sua porta talvez alguns minutos antes. Quanto tempo fazia que estava ali?

     Observou quando ele selecionou dois livros da estante e jogou-os na cama, ao lado dela. Voltou a sentar-se na frente do computador.  Encheu novamente a própria taça. A garrafa já estava na metade.

     — Como conseguiu meu número? — Mudou de assunto.

 

     Stoll demorou um tempo para se virar e responder a pergunta dela. A garota pensou que talvez ele estivesse formulando uma resposta que não a deixasse mais irritada. Entretanto, não sentiu raiva na própria voz quando se dirigiu à ele.

     — Achei na internet — foi a resposta, afinal.

     Oi?

   — O quê? 

 

    — Eu disse que achei na internet… Tina — sussurrou.

   Tudo bem. Ela já havia conhecido e passado por muitas coisas estranhas na vida, mas a mais sexy de todas era seu nome sendo pronunciado por ele.

     — Se importa se eu fizer algumas perguntas pra você? 

     Stoll girou a cadeira e se aproximou dela na cama. 

   — Então não vamos fazer o trabalho para você dar uma de investigadora? — Levou uma mão ao queixo e sorriu.

     Reparou na taça já vazia na mão dela e tomou a liberdade de completar mais uma vez. Ela o olhou friamente. 

     — Sobre seu cordão…

     — Se não se importa, não gosto de falar sobre isso. Me lembra minha família e é assunto delicado para mim.

     Era a primeira vez que Stoll se mostrava rude. Aquilo fez Tina se calar temporariamente.

     Derramou o conteúdo todo na boca. Fechou os olhos e sentiu o álcool queimar a extensão da garganta até o estômago. Reabriu os olhos e deu de cara com um Stoll sério, fitando-a. 

     — Se não quer falar… ok. De onde você veio? Comentou que não era daqui.

     — Venezuela — Stoll parecia desconfortável, porém ainda respondia.

     — E por que veio para Detroit? — Ela brincava com o objeto de cristal na mão, tentando não mostrar muito interesse, talvez assim ele se abrisse mais.

     O rapaz na sua frente sentado passou a mão entre os cabelos, deixando-os mais bagunçados.

     — Preciso ficar um tempo longe dos meus pais. Estamos passando por problemas…

     — Que tipo de problemas?

     Stoll de repente parou. Tina estendeu a taça para que ele a pegasse. Depois que ele o fez, ela se deitou de bruços na cama e apoiou os cotovelos para segurar o rosto. Stoll se virou e voltou a digitar no computador.

     Tina não entendeu a atitude dele e ainda esperava que eles pudessem conversar.

 

     — Os livros que estão aí, contém algumas coisas superficiais sobre a vida de Jay Gatsby. Procure algo de útil neles, enquanto eu faço o resumo — foi a única coisa que ele disse, depois de um tempo.

     — Eu quero mais vinho — a garota pediu.

     Stoll não olhou-a e nem sequer parou de escrever no notebook. 

     Ela esperou, talvez uns minutos, até que finalmente pegou um dos livros. Não conseguiu ler nem uma frase inteira. Estava tonta e com a visão embaçada. O vinho fizera efeito rápido.

     — Merda, não consigo ler. Fiquei chapada — resmungou.

    Isso fez ele se virar para analisar o rosto dela. 

     — Vou buscar algo para você comer e nada de mais vinho por hoje — levantou e saiu do quarto.

     Tina saiu da cama e catou a garrafa de vinho. Em cinco grandes goles, terminou o líquido todo e caiu na cama de volta, admirando o teto cheio de luzes por toda parte, como estrelas muito brancas. E sua mente apagou sozinha.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Não deixem de COMENTAR. Até o próximo capítulo! Sem lista de personagens.



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