Shadows Cold escrita por Black Unicorn


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!!



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Minha caminhada pela triste rua de Manhattan é lenta. Passos pesados ressoam no beco frio da cidade, o vento me faz fechar a jaqueta de couro pesada, meu cabelo cacheado mexe com o ar gélido.

Minha passagem por essa cidade cheia de lembranças é rápida, logo tenho que ir para um lugar especial, para pessoas “especiais”. Minha mãe ainda não se conformou com a minha situação, mas não posso mais ficar perto dela, não quero machucá-la, nem aos outros. Tenho medo de criar outro desastre e acabar com tudo que eu e ela construímos.

Chego em frente a um prédio velho no subúrbio. Moramos num lugar pequeno, só tem dois quartos, cozinha, um banheiro e uma pequena sala, mas é confortável. Senti muito quando deixei a minha casa no Kansas, tinha uma vida perfeita, exemplar talvez. Morava em uma casa grande, com jardim em um bairro bom, familiar. Vivia perto dos meus amigos, da escola, era uma adolescente normal, popular. Era a mais conhecida na escola, tinha as melhores notas, queria ser perfeita para a sociedade.

Depois de muito tempo descobri que a perfeição é uma mera ilusão, e a felicidade é uma fantasia. A dor foi o que me restou depois do grande desastre, nunca mais consegui sentir o calor de um abraço sem ter novos pesadelos…

—Gaia, você não tem jeito mesmo._fala Bryan com um longo sorriso nos lábios._ Por isso que eu te amo.

—Ah amor, você achou mesmo que eu ia deixar essa data tão especial passar despercebida?

—Sim._ele ri.

—Se deixasse não seria eu._digo dando um beijo no seu pescoço.

Estamos no nosso lugar sagrado, um parque florestal da minha pequena cidade. Estamos deitados em uma grama macia e cheirosa, está na primavera, as flores liberam o seu perfume límpido e deixam esse lugar vivido.

O perfume do Bryan se confunde com o cheiro da natureza, seu cabelo preto e macio cai livremente sobre a sua testa, ele precisa cortar isso logo! Seu jeito desleixado foi o que me fisgou, seu sorriso despreocupado e largado é a minha paisagem favorita, não sei como viveria sem ele, sem esse sorriso.

Ele encara o colar que lhe dei com um brilho intenso nos olhos.

—Também trouxe uma coisa para você.

Ele tira um pequeno colar com um pingente com uma pedra da lua do bolso, se apoia em um braço e se aproxima mais de mim. Ele passa a sua mão pela minha nuca e deixa um rastro quente muito bom, que me faz ter um pequeno arrepio, e coloca o colar em mim. A pedra fria pousa sob o meu colo e me faz sentir algo estranhamente bom.

—Gostou?_ele fala enquanto beija a minha bochecha.

—Adorei.

Me levanto rapidamente e ofereço a minha mão para ele se levantar. Bryan aceita, e eu o puxo para dentro do parque. Ele solta uma risada gostosa.

—Onde você está me levando?

—Num lugar especial.

Andamos entre as árvores velhas com folhas verdes, chegamos perto de um rio lindo com água cristalina.

—Nossa Gaia…

O interrompo com um beijo caloroso, ele corresponde sem hesitar. Seus braços envolvem a minha cintura, seus labios percorrem o meu pescoço e chegam a minha boca, sua mão percorre as minhas costas e me apertam contra o seu corpo. Minha respiração fica pesada, meu corpo estremece. Lembro do nosso primeiro encontro, mas vejo com os olhos do Bryan, sinto com os lábios do Bryan…

Sinto o seu corpo desfalecer sob os meus braços, não aguento o seu peso e faço o máximo para não deixá-lo cair no chão. Olho para o seu rosto e seus olhos castanhos estão vidrados em mim, a sua expressão é de medo, sua pele está pálida, veias roxas sobem pelo seu pescoço branco… Minha respiração para…

—Meu Deus, meu Deus… Bryan…Acorda.

Nada, ele não…se mexe. Lágrimas quentes se formam e escorrem no meu rosto, mãos trémulas acariciam o seu rosto petrificado pelo medo desconhecido

…Depois daquele dia eu fiquei conhecida como a assassina, a bruxa, um monstro. Ninguém acreditavam em mim, era taxada como louca, psicopata. Fui a diversas delegacias, fizeram vários testes para tentar provar uma loucura inexistente, eles não me entendiam.

Tive que abandonar a minha vida quase perfeita e viver fugindo. Nunca mais toquei em ninguém com as mãos descobertas, não tive nenhum relacionamento. Acabei o meu colegial em uma escola publica de New York, o ensino não era muito bom, por isso eu passei a estudar muito nas bibliotecas publicas. Ganhei mais conhecimento do que nas salas de aula.

Nos livros eu descobri o que sou. Uma nephilim ou uma canbilom, metade humana metade demônio. Posso fazer coisas destrutivas inimagináveis, sugar a energia das pessoas juntamente com as suas memórias. Foi o que eu fiz com o Bryan…Posso saber a verdadeira personalidade das pessoas só de olhar em seus olhos, por isso não tenho amigos, ninguém presta nessa cidade. Posso me transformar em um monstro.

Para piorar, minha mãe me contou uma história sinistra sobre os meus antepassados, que eram antigos bruxos poderosos e temidos por muitos, por isso que ela decidiu ir embora de Moçambique…Mas não acreditei nesse conto de fadas, já tenho desgraças o suficiente na minha vida.

Felizmente com o tempo, consegui controlar os meus “poderes” e usá-los ao meu favor. Aprendi a manipular as pessoas ou a descobrir o seu verdadeiro eu. Não faço isso muito, é divertido mas acaba com as minhas energias.

—Mãe, cheguei.

Joguei a minha mochila no canto da sala e pendurei a minha jaqueta na cadeira. Minha mãe surge da cozinha, ela está com uma pequena caixa nas mãos.

—Finalmente, onde você esteve?_ela fala preocupada.

Jogo um envelope amarelo na mesa, sua passagem para a casa da minha avó.

—Gaia…

—Mãe, você tem que viver sua vida, eu vou para um lugar melhor, não tem que se prender por minha causa. Você vai voltar para o Kansas sim, minha vó morre de saudades todos os anos, e você sabe disso. Não dá mais para vocês duas se comunicarem só por cartas.

—Você vai ficar…

—Muito bem, eu sei me virar.

Ela se aproxima de mim com lágrimas nos olhos.

—Não acredito que vai partir hoje.

—Não se preocupe, você também vai. E daqui a pouco o ônibus vai passar para me pegar…

Morro de vontade de dar um abraço bem apertado nela, mas nem isso consigo mais. Termino de arrumar a minha mala, coloco só o necessário, quando entro na sala minha mãe está em prantos, tudo que eu posso fazer é falar que vai ficar tudo bem e que não vou abandoná-la.

O ronco do motor do ônibus chegando a faz derramar mais lagrimas, não quero prolongar essa despedida.

—Bem, chegou a minha hora.

—Gaia você não precisa…

—Mãe, é questão de necessidade, também não quero te deixar. Melhor eu ir agora, não quero que sofra mais.

Não a vejo responder e saio o mais rápido possível, desço as escadas rapidamente e chego na portaria. Um ônibus velho de viagem me espera, coloco a minha mala no porta-malas e entro nessa lata velha. Vários adolescentes me encaram de uma vez, me olham de cima a baixo, alguns riem, mas ignoro. Olho nos olhos de poucos e vejo as suas personalidades, nenhum presta. Já vi que minha estadia nesse local vai ser bem cansativo. Sento no fundo, pego os meus fones de ouvido e viajo na música do Black Sabbath.


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