A Origem Hant escrita por Mallock


Capítulo 7
Capítulo 6 - Pela Família


Notas iniciais do capítulo

O que você faria pra salvar quem ama?



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Capítulo 6

Pela Família

 

Demeros estava observando, caído e respirando como nunca antes. Era sua primeira aula de tiro com seu tio Manell. O garoto estava tentando se mostrar dedicado para que seu tio não lhe abandonasse também, assim como fez a sua mãe que infelizmente desapareceu na mesma semana que uma misteriosa onda de corpos foram encontrados. Para seu tio, era algum maluco psicopata que bebia sangue por aí. Os corpos eram sempre encontrados sem líquido algum. Secos como gesso.

Mas para a esposa de seu tio, que era meio lunática e falava coisas sem sentido, isso era fruto de alienígenas. Segundo ela, eles descem a terra para coletar sangue das criaturas, se baseando nos animais que apareceram assim, também.

Foram longos meses vivendo na velha cabana, isolada do resto da humanidade, caçando e aprendendo a atirar. Na ultima vez em que viu seu tio, ele lhe disse algo que o jovem guarda até hoje em sua memoria: "Algum dia, você vai precisar atirar e isso vai lhe custar algo muito importante; sua vida ou a vida de alguém que você ama... Nesse dia, proteja sua irmã. Ela será a sua vida depois que partirmos".

Demeros guardou isso em sua mente e mesmo tendo perguntado inúmeras vezes o que significava, seu tio não lhe contou.

No dia seguinte, seu tio saiu para um jantar romântico com a esposa dele — sua tia — e nunca mais voltou. Apesar de novo, Demeros jurou proteger sua irmã e encontrar sua mãe, já que seu pai, ele nunca conhecera.

 

                  (...)

 

No seu relógio marcava 10hrs da noite. Ele se mantinha atento a cada movimento lá fora. Ninguém entraria de surpresa. Ele trabalhou durante anos na cabana antes de levar a irmã para a cidade grande para encontrar seus tios, sem sucesso. Agora, esse é o único lugar seguro — ou era — para se ficar. Quem pegou seus tios, esta se aproximando para terminar o que começou.

Alguns minutos se passaram... Um barulho terrivelmente ensurdecedor surgiu sem explicação. Demeros não resistiu e colocou suas duas mãos nos ouvidos. Ele gritava de dor e com isso, sua visão ficou nublada. Ele caiu ao chão, tonto.

Alguém apareceu na janela e ficou olhando para Demeros por alguns instantes, antes de fazer alguma coisa. Ele estava usando um capuz azul marinho. Não era possível ver seu rosto. Com um chute apenas, a porta se abriu. O sujeito entrou e Demeros estava fraco demais para olhar para cima, sua visão era dos sapatos do estranho.

—Achei que seria mais difícil. — disse o homem de pé.

— Quem... É... Você...? — Demeros mal entendeu o que ele havia dito e quase desmaiando, perguntou.

— Shi... — fez sinal com o dedo num pedido de silêncio. — Descanse, Demeros. Deixe rolar. Agora sua morte é questão de instantes. — deu um tapinha no rosto dele.

Demeros olhou para a carabina ao seu lado. Ele estava cada vez mais fraco e o desespero de morrer deixando sua irmã em perigo, tomou conta dele, naquele insano momento.

— Onde está sua querida irmã, Demeros? — perguntou, insatisfeito. — Não tenho tempo para brincar de caça ao rato. — continuou, olhando para todos os cantos da velha cabana.

 O moreno seguia se arrastando até a carabina. Ele estava buscando qualquer força que tinha em seu interior para aquilo. Seria sua última tentativa para salvar a irmã e depois, morrer.

— Ah, você escondeu ela no armário? Vou verificar. — indagou, indo em direção ao quarto. — Laura? Olha quem chegou. — dizia, quase que cantando.

Mais um pouco. Força. A arma está a um palmo. Seja forte, Demeros. Laura precisa de você. Você vai conseguir. Seus pensamentos eram tantos e o estranho barulho continuava.

Era como se algo o devorasse de dentro para fora. A dor era intensa demais para aguentar. Sua cabeça parecia que ia explodir. Mas ele persistiu.

Demeros era um homem de palavra e não seria agora que ele iria desistir.

Quando o estranho surgiu na porta do quarto, foi surpreendido com o sujeito caído ao chão, com uma carabina apontada em sua direção.

— Faça silencio! — exclamou, segundos antes de apertar o gatilho fazendo o sujeito ir para traz com o impacto da bala, caindo pela janela.

O barulho havia parado. Então, ele se levantou, respirando lentamente e foi até a janela se escorando em cada cômodo que tinha a sua frente. O estranho não estava lá. Ele simplesmente havia desaparecido.

O temporal era intenso lá fora. Luzes brilhavam devido aos relâmpagos e as lâmpadas da velha cabana piscavam. Assim que o estranho invadiu e acendeu as luzes, tudo ficou mais difícil. Era a primeira vez que Demeros havia visto aquele sujeito. E quase foi morto com isso.

Ele olhou para a porta e a viu aberta. Foi até ela e a fechou. Respirou fundo e voltou até a janela. A noite estava apenas começando e ele precisava continuar atento.

 

                (...)

 

 

Laura estava deitada, tendo outro de seus pesadelos. Ela gritava com as duas mãos na cabeça e com os olhos fechados ainda, sonhando.

Seu irmão logo chegou ao seu quarto e a abraçou. Tentando acalma-la.

— Ei, estou aqui. — disse, tentando desperta-la. — Vai ficar tudo bem. Você esta comigo, agora.

Laura começou a se acalmar e logo acordou. Seu semblante que era de medo passou a ser de calma. Seu irmão estava ali para lhe proteger e com ele, ela acreditava que nada poderia lhe ferir.

— Deme, estou com medo. — ela disse. — Não aguento mais isso.

Demeros olhou para ponta dos cabelos de sua irmã e eles estavam azuis e brilhantes.

— Venha, vamos pintar seus cabelos. — ele a pegou nos braços e a levou até a sala.

— Eles estão ficando azuis de novo? — Laura estava confusa. Não era a primeira vez que aquilo acontecia.

— Sim. — respondeu o jovem que a largou no sofá para ir até o banheiro pegar a tinta.

Laura ficou olhando para a tela da TV desligada e pensou em assistir algo. Então, procurou o controle, mas não estava conseguindo acha-lo.

Um minuto depois, ela o achou. Porem, quando apertou o botão para ligar a TV, ela não ligava. Nervosa com a situação, ela apertou mais forte o botão seguido de um "Liga logo!", dito por ela.

A TV ligou na mesma hora. Ela respirou fundo e se escorou no sofá. Tentou trocar o canal, mas novamente o controle não estava funcionando. Verificou as pilhas e ficou assustada ao notar que não havia nenhuma no controle.

Demeros chegou com a tinta em mãos minutos depois e viu sua irmã deitada no sofá com os olhos arregalados como se tivesse visto uma assombração.

—Laura? Você esta bem? — perguntou, agachando-se a frente dela.

— Deme... — murmurou. — O que eu sou? — indagou deixando uma lagrima cair.

— Você é minha irmãzinha que eu amo e estou aqui para te proteger contra tudo e todos. — ele respondeu tentando a deixar tranquila e mais segura possível.

— Você precisa me dizer a verdade. O que eu sou? — ela insistiu.

Demeros sentou no chão, respirou fundo e ficou pensativo por alguns segundos.

— Eu não sei. — respondeu. — Só o que sei é que você é minha família e eu farei qualquer coisa pra te manter a salvo. — ele olhou para ela e Laura sorriu.

— Eu te amo. — ela disse segundos antes de se abraçarem.

 

                    (...)

 

 

Suas lembranças eram tantas naquele momento e nenhuma parte do seu corpo pensava em recuar. Ele estava pronto para morrer por sua irmã e isso parecia questão de tempo. Os implacáveis caçadores estavam se aproximando e os primeiros já eram vistos saindo da floresta que cercava a pequena cabana de seu falecido tio.

Carregou a carabina novamente e já mirou no mais próximo acertando a cabeça, não dando nenhuma chance para voltar a vida. Novamente recarregou a arma e sem perder tempo, atirou em outro.

Estava escuro. Era quase impossível ver rostos. Não dava para identificar se eram humanos ou seres das trevas. Só se sabia que estavam vindo em sua direção. Ele não estava interessado em arriscar.

O problema é que eram muitos e pouca munição para conseguir deter todos eles. Era questão de minutos para que Demeros tenha que enfrentar vários deles sem nenhuma bala para se defender.

Vários corpos estavam espelhados pela terra a frente da cabana. Demeros conseguia ser ágil o suficiente para matar todos os que estavam próximos demais. Mas, as balas estavam se esgotando. Quando levou a mão para pegar mais uma, notou que haviam somente 3 balas restantes e 10 ou mais inimigos lá fora.

Usou da única estratégia que tinha e saiu da cabana para a luta. Correu até um tonel de gasolina que estava próximo e o derramou no chão. Pegou uma caixa de fosforo que tinha no bolso e esperou a aproximação dos seres. Ao menos quatro deles caíram em sua armadilha improvisada. Acendeu o fosforo e o jogou no combustível, queimando os quatro que gemeram de dor e instantes depois, caíram no chão, mortos. Haviam pelo menos mais seis.

Ele correu até eles e com apenas um tiro, matou dois quase que num efeito dominó. Matou o terceiro com outro tiro. Sobrou uma bala para três.

— Vocês terão que dividir. — disse, tentando aliviar sua tensão.

Quando os três vieram ao mesmo tempo o seguindo, ele correu para a entrada da floresta e os levou para as armadilhas que havia criado. O primeiro caiu num buraco enorme que tinha como brinde, estacas feitas de madeira que perfuraram todo o corpo do sujeito que morreu em segundos. O outro, também caiu em uma armadilha e teve sua cabeça perfurada por uma enorme madeira pontiaguda. O ultimo conseguiu alcançar sua presa.

Demeros não conseguiu segurar a carabina que voou longe e caiu.

Agora de perto, era possível perceber quem estava lhe caçando. Era aqueles estranhos seres Deformados.

— Achou que ia fugir? — indagou o estranho.

— Eu matei todos vocês. — Demeros estava confiante para detê-lo também.

O sujeito começou a gargalhar.

— Do que você está rindo? — perguntou Demeros sem entender a situação.

— Nós éramos apenas a distração da noite. — disse, com um sorriso demoníaco no rosto. — Você falhou em salvar sua irmã.

Demeros rapidamente pegou uma faca que sempre tinha consigo e cravou no crânio do sujeito.

— A distração está morta. — ele disse, pegando a carabina novamente e voltando para a cabana as pressas.

Corra Demeros. Corra! Sua mente lhe dizia. Laura está em perigo. Seja rápido.

Quando enfim chegou — ofegante pela velocidade que correu — a porta estava aberta e ao entrar, viu sua irmã de joelhos, com algumas lagrimas nos olhos. Ele tentou correr até ela para salva-la, mas foi parado por um Vampiro.

— Vá com calma, humano. — disse. — A noite está apenas começando.

Meio tonto com o golpe, Demeros levantou, num esforço que só ele conseguia fazer.

— Você é realmente muito forte. — comentou o Vampiro. — Porém, sinto lhe informar que eu e meus subordinados iremos levar a sua irmã conosco. E você não nos serve para nada. — ele foi até Demeros e o pegou pelo pescoço o erguendo no ar. — Fique tranquilo. Iremos cuidar bem da sua irmãzinha. — sorriu.

Demeros cravou a faca no braço do sujeito que o deixou o cair dando lhe tempo para pegar a carabina e atirar na cabeça do outro que estava com sua irmã. Ele correu até ela e ficou a sua frente.

Percebeu que havia apenas dois vampiros agora. Eram diferentes dos Deformados. Pareciam humanos, só que eram mais fortes e perigosos.

— Você é impressionante caro Demeros. Estou totalmente surpreendido. — comentou olhando para a faca cravada em seu braço. — Vou adorar te matar muito mais do que antes. — ele tirou a faca do seu braço e atirou na cabeça de Demeros que estaria morto se não fosse a irmã que o puxou para o lado segundos antes de atingi-lo. Pela velocidade que a faca foi em sua direção, nenhum humano poderia desviar a tempo. Com isso, o Vampiro sorriu.

— Então sua irmã é mesmo uma Senser. — ele olhou para o vampiro ao seu lado enquanto seu braço fechava o ferimento da faca como se nada tivesse acontecido. — Agora isso ficou realmente divertido.

Demeros olhou para a irmã sem saber se agradecia ou se ficava nervoso com a situação. Agora eles têm certeza que ela é uma Senser e irão até o fim para leva-la.

— Vocês terão que passar pelo meu cadáver para levar minha irmã. — comentou Demeros.

— É exatamente isso que vamos fazer. — disse o vampiro, ordenando que o outro o atacasse. — Mate-o. — ordenou.

Demeros ficou a frente da irmã logo após de ter pego a faca. O vampiro subordinado não era dos mais fortes, mas era mais do que um humano comum. Ele foi até Demeros e com um golpe rápido o jogou contra a parede. O homem se levantou rapidamente e voltou a luta, o vampiro o acertou novamente o fazendo cair pela segunda vez.

O outro vampiro estava de braços cruzados, olhando toda a ação. Depois de levar alguma golpes, Demeros caiu, aparentemente sem conseguir levantar para mais um round. O subordinado olhou para o outro Vampiro esperando alguma ordem.

— Acaba logo com isso. — ordenou.

Ele sem perder mais tempo, foi até o chão se abaixando para matar Demeros e foi surpreendido com uma facada. O homem cortou o peito do Vampiro e na sequencia, cravou a faca na cabeça da aberração, o matando.

Demeros se levantou, olhou para o ultimo vampiro ali e cuspiu sangue no chão.

— Você é o próximo. — mesmo cansado e sem nenhuma força, estava disposto a morrer naquela noite para salvar sua irmã.

— Você superou todas as minhas expectativas. Confesso que estou muito impressionado com o que você fez aqui para salvar sua irmã. — o Vampiro descruzou os braços. — Agora eu irei acabar com isso porque estou com pressa. E você já me fez perder tempo demais. — ele o atacou em uma velocidade nunca vista antes. Quando Demeros notou, já estava com a faca cravada em seu peito e sangue no seu pescoço.

Laura olhou chocada para a cena. Ela não pode fazer nada para ajudar seu irmão. Demeros caiu de joelhos totalmente fraco. Ele não tinha força alguma para ficar de pé.

O Vampiro o olhou com a boca suja de sangue e suas presas visivelmente sujas do tom vermelho.

— Nunca bebi o sangue de um homem tão valente quanto você. É suculento. — comentou lambendo os lábios.

Demeros olhou para Laura com uma lágrima saindo dos seus olhos.

— Desculpa. Eu falhei. — ele disse segundos antes de cair no chão e agonizar antes de selar os olhos e parar de respirar.

— Não... — Laura murmurou derramando todas as lagrimas que tinha.

Ela lembrou das palavras que Demeros havia lhe dito antes de vir para a cabana. "Eu morreria por você, pois você é minha família. Eu faço o que for preciso pela família". E isso a fez chorar mais ainda.

— Desculpe interromper esse momento, mas agora eu preciso te levar para o meu Lorde. — disse o Vampiro que se aproximava dela.

Laura não pode se defender do sujeito que de alguma forma a fez desmaiar apenas com um toque na cabeça.

 

                 ###

 

 

O celular de Lila tocou...

— Cane, fale. — disse atendendo.

— Lila... — murmurou. — Demeros... Ele... — Não conseguia dizer.

— O que tem o Demeros? — ela perguntou, já nervosa.

— Demeros esta morto. — Cane disse mais diretamente, desta vez.

— Você deixou que o matassem? — Lila usou um tom de voz visivelmente alterado.

— Me perdoe... Eu... Eu estou ferido. — disse, ofegante.

— Do que você esta falando? O que aconteceu, Cane? — Lila não conseguia ler o pensamento do amigo e isso a deixou ainda mais furiosa.

— Eles... Eles me encontraram. — disse. — E me feriram gravemente. — continuou.

— Eles quem? — indagou sem entender.

— Eles... — murmurou.

— Droga! Onde você está? — perguntou com uma das mãos na cabeça.

— Estou dentro de um pequeno galpão, escondido. Não sei quanto tempo vou aguentar. — respondeu.

— Fique calmo. Estou a caminho. — disse desligando a ligação. — Droga! Laura está com os malditos Vampiros. — comentou alto fazendo Alana ouvir.

— Quem é Laura? — perguntou Alana.

— Não tenho tempo para isso. Você precisa ficar aqui. Voltarei em breve. — a garota de cabelos azuis saiu rapidamente do navio. Já estava amanhecendo e ela tinha muita coisa para resolver. E pouco tempo para isso.


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Notas finais do capítulo

R.I.P Bro!



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