14º DP escrita por DElizy


Capítulo 2
Capítulo 02




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Ele abriu a porta do apartamento lentamente e entrou tirando os sapatos e jogando as chaves em cima do sofá. Na cômoda ao lado da cama o relógio digital marcava 03:56 AM.  Se jogou sobre a cama e fitou o teto do quarto. Um misto de cansaço, sono e frustração remexendo em seu peito. Mas antes que sua cabeça entrasse em um frenesi de pensamentos determinou que precisava dormir. Bem como sua parceira havia dito, não teria mais do que uma hora e meia de sono para descansar e logo o trabalho chamaria mais uma vez.

—***-

Quando Dimitri entrou no 14º Departamento de Policia e Investigação de Irnun, ou apenas 14º DP, não se surpreendeu ao ver sua parceira, Aghata Rutier, sentada à mesa ao lado da dele, muito concentrada em algo na tela de seu computador.

“Dimi, meu amigo!” – Ouviu a voz do colega mais sacana de todos os Dp’s de Sanaeda, Erik Gourt, se aproximando com os braços abertos para um comprimento com batidas nas costas.

“Fala, Gutier.” – respondeu Dimitri com um sorriso de provocação.

“Ouch! Cara, você sabe que eu odeio que me chamem assim. Machuca meus sentimentos.” – Respondeu Erik, encenando como se tivesse levado um tiro no peito.

“Eu não sei nem o que dizer então com você me chamando de ‘Dimi’ pelo distrito.” – Rebateu Dimitri, com um olhar de desespero dramatizando tanto quando o amigo.

Ambos caíram na gargalhada.

“Mas, e aí? O que está rolando? Sua cara está horrível. Parece que foi atropelado por um caminhão.” – Disse Erik, trazendo Dimitri para fora da passagem.

“Não dormi muito hoje.” – Respondeu ele.

“Huum... Dice não está te dando folga, hein?” – Disse Erik, olhando para Aghata que permanecia da mesma forma de quando Dimitri chegará.

Erik gostava de misturar mitologia grega com a vida real. Dimitri não sabia se isso era apenas mais uma das brincadeiras do homem ou se realmente lhe faltava um parafuso na cabeça, mas nas palavras de Erik “Aghata é a encarnação de Dice, a deusa da justiça”.

“Digamos que mais ou menos isso.” – Respondeu Dimitri olhando para Aghata também e, com dois toques no ombro do amigo, saiu andando para sua mesa.

O rapaz mal se sentou na cadeira e sua parceira lhe estendeu uma pasta-ficheiro.

“Estava de pilhérias com o Momo?” – Disse ela, sorrindo sem tirar os olhos do computador e com a caneca de café encostada no lábio inferior.

Já que Erik gostava de chamá-la de deusa da justiça, ela o chamava de espírito da zombaria, crítica e cinismo.

Dimitri riu.

“Caso novo?” – Perguntou, abrindo a pasta-ficheiro e pegando uma das fotos que estava lá dentro.

“Não. Temos que reabrir o caso das Hortênsias.” – Respondeu ela e bebericou seu café.

“O caso das Hortênsias? Por que?”

“Parece que Hendrix voltou a ser atacada. E os padrões se repetem.”

“Mas nós encontramos o culpado. Coiote está cumprindo pena na Prisão de Asntr, em Foon.”

“Exato. Logo, não é por Coiote que estamos que estamos procurando aqui, Hewns.” – Respondeu Aghata, olhando por cima de seus óculos de descanso.

“Vamos dar uma olhada na cena do crime?” – Indagou Dimitri, folheando a papelada antiga do caso.

“Sim. Só tem um detalhe: Madame Sobber chegará em alguns minutos.”

A expressão de Dimitri se contorceu em uma careta de desgosto e Aghata soltou um riso complacente com o parceiro. Ela não sabia o que era ter um “ex-marido problema” em sua vida e desde que conhecera seu parceiro de trabalho decidira que lutaria para nunca ter, se um dia chegasse ao matrimonio.

Marina Sobber, antiga senhora Hewns, não queria saber de nada além da pensão que seu antigo marido lhe dava todo o mês. Ambos tinham uma filha, Alice, de nove anos. Aghata fora nas ultimas duas festinha de aniversário da pequena e simplesmente amava a menina. Infelizmente não podia dizer o mesmo da mãe.

Após a ex-esposa de Dimitri sair, ele e Aghata seguiram para casa da família Jenovann, a nova cena do crime do caso das Hortências. Coiote, codinome de Keyne Gown, experiente ladrão de jóias que sempre deixava pétalas de Hortência Azul no lugar das joias roubadas. Segundo ele mesmo, as pétalas eram uma referência à “frieza, indiferença e vaidade dos que antes as possuíam”. Ele se julgava um HobbinWood moderno.

A casa dos Jenovann fica no bairro Hendrix, o principal bairro nobre da cidade de Irnun. Na verdade, chamar as casas do Hendrix apenas de “casa” seria um tanto quanto eufêmico, porém, mesmo ciente do que esperar Dimitri soltou um assovio quando desceu o carro.

“Isso é o que eu chamo de doce lar.” – Disse ele, enquanto Aghata parava ao seu lado.

Ela não respondeu. Dimitri a observou de canto de olho. Sabia que por detrás de toda aquela pose durona e indiferente ela não estava bem. Estaria no mínimo frustrada com o resultado do caso dos Bankers. Trabalhava com ela há três anos e meio e já tinha percebido, quando Aghata Rutier ficava quieta demais como se o mundo a sua volta não a afetasse era porque algo estava mal. Orgulho ferido, talvez?

A porta da mansão dos Jennovann se abriu assim que os detetives param frente á ela; Dimitri estava prestes à tocar a campainha. Quem abriu era um rapaz jovem, um pouco mais baixo que Dimitri, mas ainda assim mais alto que Aghata. Ele olhou surpreso e em seguida se voltou para dentro da casa.

“Mãe!” – Exclamou ele. – “A polícia está aqui!”.

Aghata olhou para Dimitri que deu de ombros.

“Eu sou o detetive Hewns e essa é...” – Começou a apresentá-los, mas o garoto o interrompeu.

“Detive Rutier. Aghata Rutier.” – Completou ele a frase de Dimitri.

Aghata encarou o rapaz por alguns segundos com uma sobrancelha erguida, mas não disse nada.

“Eu acompanhei o caso dos Banker. Estavam no enterro, não?” – Explicou o rapaz de feições leves.

Dimitri estava levemente surpreso. Não se lembrava de tê-lo visto antes, mas não podia deixar de notar o quanto ele era observador.

“Ah! Eu sou Lucas. Lucas Jennovann. Aliás, podem entrar, parece que minha mãe está enrolada. Vão criar raízes antes que ela finalmente chegue aqui para recebê-los.” – Disse Lucas, estendendo a mão para cumprimentar Dimitri e dando espaço para que entrassem.

Dimitri reprimiu outro assovio assim que entrou. Aquele hall deveria ser maior que seu apartamento inteiro, e ele não estava exagerando, “Infelizmente.” – pensou.

A mãe de Lucas chegou em seguida, um pouco ofegante como se tivesse corrido para chegar até lá.

“Me perdoem a demora! A casa está um caos depois do que aconteceu essa noite!” – Exclamou ela, arrumando a saia longa e cumprimentando os detetives com apertos de mãos rápidos.

Aparentemente estava desmistificado de onde o garoto tinha tirado tanta energia para falar, apesar de a mãe ser um pouco mais eufórica, observou mentalmente Aghata.

Após ouvirem o depoimento da senhora Jennovann, Aghata e Dimitri pediram permissão para investigar a casa e conversar com os empregados. Aparentemente todos os depoimentos possuíam coesão. O roubo ocorrera entre meia noite, horário em que Gioconda, a governanta, fora para seu quarto descansar e quatro e vinte e três da manhã, quando o senhor Jennovann (que agora estava cuidando dos assuntos da empresa) entrou em seu escritório no segundo andar da casa e encontrou seu Paysage bord Du Seine (Renoir-1879) fora de esquadro. Desconfiado, decidiu checar o cofre da família que ficava atrás da obra. O cofre estava trancado, sem vestígios de ter sido acessado. Seu conteúdo aparentemente também intacto, exceto pelo sumiço das jóias da esposa. Mas não todas. Apenas as peças exclusivas e mais valiosas foram levadas. E foi quando se afastou do cofre percebendo o ocorrido que o senhor Jennovann pisou nas pétalas de hortênsia azul.

A perícia já havia isolado a cena do crime e Aghata decidiu olhar a parte de trás da casa enquanto Dimitri conversava com um dos peritos sobre as pistas no escritório dos Jennovann. Ela percorreu o jardim tentando imaginar como o ladrão havia invadido a casa e foi ali que encontrou mais algumas pétalas de Hortência azul bem debaixo de uma janela através da qual Aghata pode ver alguns policias na sala de jantar. Ao levantar os olhos, viu que a outra janela logo á cima daquela era do escritório. Dimitri a viu lá embaixo e fez sinal para esperar onde estava.

“Aghata, Roger me falou que não há sinais de arrombamentos em nenhuma das portas. Ou nosso novo Coiote obteve ajuda de dentro para entrar...” – Contou Dimitri, mas Aghata o interrompeu.

“Ou usou as janelas.” – Disse ela, apontando para as pétalas no chão.

Dimitri seguiu com os olhos para onde ela estava apontando e refletiu por um segundo. Seu estômago roncou alto e Aghata o olhou com as sobrancelhas levantadas e um meio riso.

“Vamos almoçar. Roger só vai entregar os primeiros relatórios no final da tarde, mas prometeu um panorama geral assim que encerrar por aqui.” – Disse ele, dando de ombros.

“Okay. Vamos ao Gatuno. Você dirige.” – Respondeu Aghata, jogando as chaves para Dimitri.

Ele as agarrou no ar e riu, mas seu olhar estava sério. Sabia que esse era outro sinal do quanto Aghata estava abalada. Ela provavelmente iria aproveitar para montar um panorama do caso no caminho ao Gatuno e usá-lo para bloquear totalmente qualquer pensamento ligado à Jonnathan Louis. No fundo ele gostaria de saber o que mais tinha acontecido entre eles. Sabia que a relação dos dois era anterior a Aghata ter entrado na polícia, mas ela nunca, em tempo algum, entrou em detalhes. Aliás, Aghata Rutier nunca entrava em detalhes sobre sua vida pessoal. Quando ele foi transferido para o 14º DP e informado que ela seria seu novo parceiro, Erik, que era seu amigo de longa data tratou de passar a “ficha completa” dela para ele: “Ela é legal, cara, mas muito reservada. Uma das melhores detetives daqui, apesar de ainda não ter feito muita fama por ser nova também. Na verdade, tem alguns daqui que acham ela fria e maluca, mas eu gosto desse jeito dela. Tenho certeza que vocês vão se dar bem.”

Bom, não demorou muito para Dimitri perceber que Erik estava muito certo sobre a primeira parte e claramente o sacaneando na última. Arrastaram-se uns bons cinco meses e um tiro na perna para eles se acertarem.

O Gatuno é um restaurante perto do 14º DP que Dimitri conheceu através de Aghata. Algo que ele não imaginava que ela frequentaria ou que não era seu estilo, mas foi apenas mais uma das surpresas da Rutier. Com um ambiente extremamente familiar, aconchegante, colorido, bem vintage e despojado ele facilmente se apaixonou por lá, (além deles terem os melhores pratos feitos de toda cidade). O que ele não esperava é o quanto Aghata também é apaixonada pelo lugar. E pelas pessoas. Hoje ele conhece o senhor e a senhora Rutier, mas antes disso, no primeiro contato que teve com Aghata naquele lugar percebeu que é o mais próximo de família que ela tem em Irnun.

Laura Stello é a dona do restaurante e o administra junto com seus três filhos: Sara, Teo e Marcus. Pode-se dizer que Aghata é a quarta filha da saudosa viúva extremamente materna que sempre a recepciona com abraços apertados e calorosos.

O restaurante estava lotado. Dimitri teve que estacionar do outro lado da rua e ainda aguardaram por vinte minutos até conseguirem uma mesa. Essa definitivamente não era a hora preferida de Aghata para estar ali. Ela preferia o final da noite, após o jantar, quando a maioria das pessoas que frequentavam o Gatuno já tinham ido para suas casas e ela podia desfrutar de um cappuccino sentada ao balcão e jogando conversa fora com a família Stello.

“Aghata! Dimitri! Venham, sentem-se aqui. Desculpe, mas estamos lotados.” – Disse Marcus, o irmão mais velho da família.

“Não se desculpe Marcus. É motivo de orgulho!” – Respondeu Dimitri, com seu carisma usual.

Marcus sorriu e olhou para Aghata.

“Ele está certo.” – Disse ela, dando de ombros com um meio sorriso nos lábios.

Já devidamente acomodados, enquanto esperavam seus pedidos, Dimitri observou de rabo de olho Aghata fingir mexer no celular como se procurasse algo. Ele sabia que era apenas um truque para parecer ocupada e concentrada. Ela estava fugindo de conversa. Ele não iria se deixar levar. Não dessa vez.


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Notas finais do capítulo

Mais um cap. pessoas!
Aguardo suas opiniões *-*

BJs sabor ANO NOVO! /
Vem 2017!! hehehe



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