Home escrita por Mrs Fox


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

One de fim de ano. (Também pagamento de uma barganha com a Dona Hell)
Agradeço à:
Milla por ficar teorizando comigo
Pan por betar
Pan, Hell, Nátally, Grazi e Jackson por participarem da votação sobre qual capa usar - já que sou indecisa pra esse tipo de coisa.

Depois que escrevi lembrei de uma música, A House is not a Home, da Luther Vandross, particularmente adoro da versão do Glee, indico pra que escutem.

Boa leitura!



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O cascalho da estrada se arrastava junto de seus pés, um barulho ritmado que tinha sido seu companheiro nos últimos três anos de jornada, andando pelas mais diversas estradas em torno do mundo. Agora via o grande portão de madeira a sua frente, as grandes letras pintadas de vermelho e a placa de madeira acima com o desenho que simbolizava Konoha. Uma sensação de peso o acompanhava no estômago, ainda temia que estivesse tomado a decisão errada em certo momentos, mas era respirar fundo e lembrar das palavras dela no pergaminho que tinha certeza que aquele era o único caminho que deveria tomar agora. Só foi atravessar o grande umbral e ver Izumo e Kotetsu abandonando a postura preguiçosa, enquanto os dangos caiam de suas mãos para coçar os olhos tamanha era a surpresa que eles sentiam que teve certeza que não poderia voltar atrás.

 

Definitivamente Sasuke Uchiha estava de volta a Konoha.

 

Conforme avançou pela ruas da vila indo em direção a Torre do Hogake observava os detalhes da vila, como tinha crescido e se desenvolvido naquele período que passou fora. A verdade que aquela era como se fosse a primeira vez que pisava em Konoha depois de sua fuga para os esconderijos de Orochimaru, seu período pós-guerra tinha se resumido as paredes da prisão, e mesmo que fosse diferente, agora ele tinha a visão de um homem livre de ódio, que ainda tinha muito que aprender, aberto a sensações novas. E se aprofunda-se um pouco mais em suas lembranças, aquela era a primeira vez que conseguia apreciar os confortos e a paz da vila desde seus oito anos, quando se tornou o Uchiha solitário de Konoha.

 

Viu alguns olhares curiosos para a sua presença, mas outros nem sequer reparavam, tantos rostos diferentes, alguns até mesmo envelhecidos. Porém não houve confusão quando avistou o jovem grande e corpulento, Chouji Akimichi, saindo de um restaurante acompanhado de uma ninja de cabelos ruivos e olhos dourados em vestimentas típicas de Kumo, completamente congelado enquanto gaguejava apontado em sua direção. Piscou algumas vezes pela reação exagerada, mas continuou seu caminho de cabeça baixa.

 

Quase foi atropelado por um trio de genins quando foi abrir a porta da sala do Hokage, os pequenos passaram correndo trombando uns nos outros, a garotinha gritando para que parassem de bagunça corou ao ver o homem bonito que tinha ido para o lado abrindo passagem, antes de correr em direção aos seus companheiros.

 

— De certa forma eles me lembram o Time 7. - Shikamaru comentou tão distraído com os papéis que ele e Kakashi analisavam que não foi capaz de perceber a aproximação de Sasuke, até que o barulho do trinco chamou atenção. - Sasuke?!

— Você voltou? - o Hokage falou incrédulo, olhando seu antigo aluno parado na porta.

— Bem, eu estou aqui, não? - falou se aproximando da mesa.

— Mas, por quê? - os olhos castanhos se estreitaram - Houve algum problema, Sasuke?

— Não, só está na hora de resolver aquilo que eu deixei pendente.

 

Feliz ao entender os sentidos das palavras de Sasuke, Kakashi sorriu, largo e aberto, diferente dos sorrisos simples que geralmente dava. Vendo a reação do Hokage, uma suspeita surgiu no cabeça de Shikamaru, fazendo-o olhar surpreso para o homem em pé no meio da sala, mas nunca que ele conseguiria achar uma resposta somente observando a face serena de Sasuke.

 

— Você já tem onde ficar? - o Hokage perguntou, tentando voltar a uma postura mais composta.

— Eu irei me arrumar.

 

Sem dizer nada, Kakashi abriu uma gaveta, tirando de lá uma chave, que arremessou em direção a Sasuke, que pegou-a no ar com facilidade.

 

— Fique no meu antigo apartamento até conseguir se estabelecer.

 

Seu primeiro reflexo foi querer negar a oferta, era independente e gostava de fazer suas coisas sempre assim, porém tinha aprendido que não faria mal ceder às vezes, não era vergonhoso aceitar ajuda.

 

— Obrigado. - falou, guardando a chave no bolso.

 

De repente sentiu uma grande massa de chakra, alegre e poderoso, se aproximar. Olhou para a grande janela atrás de onde Kakashi sentava-se, vendo um ninja de cabelos loiros se aproximar, carregando nos braços sacolas de papel. Um sorriso discreto nasceu em sua boca vendo o rosto tão feliz de Naruto enquanto se aproximava, uma sensação quente também tomou o peito de Kakashi e Shikamaru, tão acostumados a ver a luta que o loiro travou durante todos aqueles anos para trazer o amigo de volta, que ver um reencontro entre os dois os enchia com uma sensação de alívio ao ver que finalmente tudo tinha acabado.

 

— Sasuke, finalmente você voltou! - o loiro pulou pra dentro da sala, colocando as sacolas em cima dos papéis na mesa de Kakashi - Seu grande idiota, ia ficar quanto tempo longe da gente? - agarrou o moreno num abraço enquanto o erguia no ar.

— Naruto, me larga seu bastardo! - reclamou se contorcendo, enquanto Kakashi e Shikamaru gargalhavam. - Para de gritar no meu ouvido!

— Deixa de ser chato, teme! Posso nem ficar feliz. - soltou o amigo no chão colocando as mãos na nuca - Nem acreditei direito quando o Chouji veio me contar que tinha visto você na vila. Por que não avisou que iria voltar?

— Desde quando eu devo satisfação a você, Naruto?

— Tanto tempo fora e não aprendeu a ser um pouquinho mais simpático? - levou as mãos ao quadril, balança a cabeça numa negação - Que decepção, Uchiha Sasuke. Ainda bem que a Sakura-chan não tá aqui pra ver isso.

— O quê? - as provocações de Naruto na hora perderam importância.

— Sakura está em missão, - Shikamaru falou - partiu para o País do Raio devido os últimos acontecimentos.

— O Raikage e a Misukage pediram especificamente para que ela fosse até Kumo cuidar dos ninjas que tinham sido usados pela garota. Ela tem se tornado uma ninja cada vez mais valiosa para a Aliança.

 

Sasuke tinha certeza que sim, não porque eram as palavras de Hatake Kakashi, o Rokudaime Hokage, mas por se tratar de Haruno Sakura. Sua companheira de equipe aos poucos tinha se desenvolvido e pelo próprio esforço marcado o seu nome pelos lugares que passava. Ainda na Quarta Grande Guerra Ninja, ela tinha curado os shinobis da Aliança quase que sozinha, dado ordens aos ninjas médicos em campo e ainda lutando na linha de frente.

 

Todos esses anos viajando tinha ouvido boatos sobre os feitos da Cerejeira de Konoha. Sakura era uma forte jounin, cada vez mais temida por suas habilidades em luta e reconhecida pelos seus talentos médicos, mas ele sabia que ela era mais que isso, a inteligência e a determinação eram a verdadeira força de Sakura quanto uma Kunoichi. Quando houveram aqueles problemas sobre seus clones foi ela que resolveu, estava despreocupado sabendo que Konoha tomaria providências, mesmo assim preferiu manter-se por perto, seria mais seguro andar pelas terras do País do Fogo do que ficar a mercê de ser capturado por alguma vila sem chances de poder se defender das acusações. Porém quando ouviu que Sakura tinha sido sequestrada voltou para a vila sem pensar duas vezes, corroendo-se pensando que tudo era sua culpa por se livrar de suas responsabilidades, porém antes que alcançasse os portões viu o grande número de Anbus fugindo, interceptou o grupo e com um genjutsu acessou suas memórias. Viu de vários ângulos Sakura sendo capturado, presa e ridicularizando uma cópia sua, ela mesmo fragilizada derrubando um galpão saltando para os céus e o sinal de que Kido, o chefe da Anbu tinha sido derrotado. Quase riu com as imagens, era ridículo achar que uma mulher independente como Sakura precisava de proteção.

 

Ainda que soube disso, sentiu por um segundo um sentimento protetor quando viu as roupas sujas e rasgadas, manchadas de sangue. Por isso ficou uns segundos a vista, para de alguma forma mostrar que o quer que acontecesse ele estaria ali, com a certeza que ela o entenderia, como sempre.

 

— Entendo.

— Mas tem nada não, ela vai ficar felizona quando chegar na vila e souber que você está aqui, teme. - o loiro passou o braço pelo ombro do amigo.

— Disso ninguém duvida. - Kakashi comentou, rindo.

— Teme, tenho que te levar pra dar uma volta na vila. - Naruto começou a falar, pegando novamente as sacolas de compras - Tanta coisa mudou nesse tempo que você tava fora, um monte de prédios novos… - o loiro foi indo até a porta, confiando que o amigo o seguia.

— Naruto, Sasuke acabou de chegar, ele precisa descansar, não passear na vila.

— Hein? - parou com a mão na maçaneta, olhando para trás - Ah, você pode ficar lá em casa.

— Kakashi me emprestou o apartamento.

— Então a gente vai conversando no caminho pra lá, eu ainda tenho que comprar os ovos mesmo. Vamos logo teme!

 

Sasuke revirou os olhos, antes de girar o corpo seguindo para fora da torre. Nos corredores da torre todos ninjas cumprimentavam o loiro vestido no laranja berrante, e logo ouvia seu nome em exclamações espantadas por sua volta. O caminho todo teve que aguentar um Naruto falante, incrivelmente mais animado, e espantosamente menos escandaloso, ainda que soltasse seus gritos e piadinhas agora tinha muito mais o jeito de um adulto que um menino, uma melhora realmente boa.

 

— Naruto, parabéns pelo seu casamento.

— Hã? - constrangido ele coçou a bochecha, sentindo o rosto corar - Obrigado, teme. Pena que você não estava aqui, - uma culpa caiu sobre Sasuke, sumindo logo ao ouvir o resto da frase - mas não se preocupe, não sou rancoroso. Não vou deixar de ir no seu com a Sakura-chan!

 

A resposta de Naruto foi uma rasteira que Sasuke aplicou, antes de se virar na direção que lembrava ficar o apartamento, ouvindo o loiro reclamar pelos ovos agora quebrados.

 

 

Ino ainda não conseguia acreditar. Estava no hospital cuidando de uns papéis que Sakura tinha deixado pendente antes de sair em sua missão quando Hinata chegou, falando que Naruto tinha acabado de voltar do escritório do Hokage e finalmente Sasuke estava de volta a vila. Na hora deu risada, perguntando se era um tipo de brincadeira do loiro, ou até uma alucinação causada por febre, mas Hinata negou, afirmando que ele estava realmente de volta.

 

A história tinha passado o dia em sua cabeça. Imaginava os diversos cenários que poderiam acontecer quando Sakura retorna-se e visse que o grande amor da vida dela estava de volta. Talvez ela gritasse, chorasse, ou tivesse uma reação silenciosa, como tudo era quando envolvia os dois. Se parasse bem para analisar a história, ninguém poderia tomar o lugar que um tinha para o outro em suas vidas.

 

Sakura tinha sempre sido o ponto de luz brilhante que tentava, e atraía, a atenção de Sasuke. Na academia onde ela se empenhava em ser a mais barulhenta, ou até mesmo chata, para garantir sua atenção, era uma das poucas que conseguiu uma aproximação com o menino isolado. Quando foram para o mesmo time todos os laços se estreitaram, a prova tinha sido aquele abraço no exame Chunnin, se Sakura estava disposta a pagar com a vida para proteger seus companheiros, Sasuke estava disposto a matar por ela. E mesmo depois de todo sofrimento nos anos que ele se manteve em posse de Orochimaru, Ino só foi capaz de entender a profundidade e maturidade dos sentimentos de Sakura quando ela partiu para matar aquele que mais amava, totalmente diferente de si própria.

 

Não tinha outra pessoa para Sasuke que não fosse Sakura. Não pela relação de ambos, as histórias que cresceram no decorrer dos anos, ou que ele merecia finalmente ter amor em sua vida, porém depois de tudo que tinham passado era tolice achar que os olhos dele cairiam sobre outro alguém. Sakura tinha sido a luz na escuridão, o esforço dela para salvá-lo era obviamente a coisa que ele mais notava, e a demora para reconhecer isso a que mais se envergonhasse. Ela merecia conquistar aquilo porque tinha lutado tanto, e ele merecia se dar uma chance de recomeço.

 

Então quando viu uma figura alta de roupas escuras, dias depois da visita de Hinata, olhando para os narcisos do lado de fora da loja ela quase teve um infarto. Pela surpresa e felicidade que teve em ver que ele tinha retornado, e sua amiga poderia finalmente viver seu amor de toda uma vida.

 

Afinal era isso que um significava para o outro, Sasuke era o único no coração de Sakura, e ela era a única que ele aceitaria ter ao seu lado.

 

— Sabe Sai, - comentou mais tarde enquanto jantavam juntos - quero que a Sakura volte logo, ela vai ficar muito feliz quando ver o Sasuke-kun aqui.

— Sim, ainda mais quando ele a pedir em casamento. - ele falou, colocando uma porção de arroz na boca.

— O que?! - ela esbravejou, tentando não se engasgar com a comida - Por que você tá falando uma coisas dessas?

— Eu vi o Naruto falando algo ontem com o Hokage-sama sobre ser padrinho de casamento, e hoje de manhã o Sasuke-san estava andando pela vila olhando alguns apartamentos, eram muito grandes para alguém solteiro morar. E segundo o livro que eu li, as pessoas quando querem se casar começam a planejar uma moradia confortável.

— Por Kami, ele vai pedir ela em casamento… - Ino sorriu, até cair numa gargalhada contagiante - Quero só ver a cara da Testuda quando ele fizer o pedido. Nossa, nem consigo imaginar o Sasuke-kun falando sobre isso!

— Talvez ele não fale, eles parecem sempre se entenderem, - falou lembrando dos momentos durante a guerra - mesmo sem falarem nada.

— Isso é verdade, - ela apoiou o queixo na mão - desde o tempo no Time 7 olhar eles se encarando sempre pareceu invasão de privacidade.

— De qualquer forma… Ino, o que você acha de nos casarmos?

— O que?!

— É que eu li que esse é um assunto que deve ser conversado pelo casal…

 

 

Com cuidado ela despejou a carne ao molho na travessa, andando devagar para a sala de jantar tomando todo cuidado para não derrubar, até que Naruto apareceu na sua frente, sorrindo enquanto pegava a vasilha quente e depositava no centro da mesa, sentando-se lado a lado, de frente para o seu convidado. Quando seu marido sugeriu fazer um jantar para convidar Sasuke, Hinata viu problema algum, foi quase uma semana tentando até convencer o Uchiha de ir. Naqueles últimos dias o loiro irradiava alegria, saia para treinar com o amigo, e voltava empolgado contando para a esposa as mudanças que ia percebendo no outro, muitos elogios sobre suas novas habilidades, mas principalmente sobre o homem que ele tinha se tornado.

 

Agora, frente a frente, ela via aquilo. Era verdade que nunca foi minimamente próxima de Sasuke, mesmo na academia quando estudaram juntos, tinha até dificuldade de lembrar algum momento que se falaram. Porém sempre foi observadora, e podia até se orgulhar em dizer que era boa em ler as pessoas, e ela entendia um pouco de quem era Sasuke, ao menos no que dizia respeito de seu comportamento. Desde o menino, até o jovem rebelde.

 

Foi por essas e outras coisas que muitas vezes se pegava temerosa em relação aos sentimentos de Sakura, mais especificamente sobre a reciprocidade que poderia acontecer. Sabia da força e garra da amiga, ao contrário dela que demorou anos para se expressar, Sakura declarava seus sentimentos desde a infância com convicção, sempre em discursos aclamados e com o passar do tempo mais profundos. Por várias vezes tentou entender como ela não sentia medo ao se confessar, até perceber que suas mãos tremiam junto da voz embargada e rosto corado, ela temia, mas seu amor por Sasuke era maior que isso.

 

Mas e o dele? Essa era a sua dúvida. Às vezes falava sobre isso com Naruto, que Sakura o amava demais e tinha medo que ela não pudesse ser retribuída, ou que nunca receberia esse sentimento na mesma intensidade, situação que nenhum dos dois merecia. Sasuke por melhor que voltasse seria sempre um homem marcado, sempre sofrendo, com feridas irreparáveis, e nem sempre as pessoas aprendiam a lidar com elas para conseguirem viver.

 

Naruto a tranquilizava, dizia que entendia suas preocupações e que às vezes ele pensava da mesma forma, entretanto a confiança que Sakura depositava naquilo era o que fazia relaxar, já que diversos modos eles sempre tiveram um jeito particular de se expressar, e que ela deveria se agarrar nisso.

 

— Eu te entendo Hina-chan, - ele fazia um carinho em suas costas enquanto estavam deitados na cama - mas o Sasuke é um sobrevivente, ele é um mestre nisso, então eu sei que ele vai aguentar o que for a partir de agora para aprender a viver com a Sakura-chan.

 

E quando aquilo não bastava para a fazer relaxar, então ele lhe contava histórias, pequenas coisas que desde criança observou nos tempos de equipe, e cada vez que ia ao templo rezava para que aquele garoto que um dia o Uchiha foi voltasse a tona.

 

E o garoto tinha voltado, voltado melhor. A expressão séria era leve, não carregada de dor, ele falava pouco, o suficiente para manter diálogos que antes desprezava, contava algumas histórias sobre locais que tinha passado durante a viagem e sua educação parecia ser mais natural que uma obrigação. Entendia alí o que era ser um sobrevivente, não ao modo Uzumaki Naruto, mas no estilo Uchiha Sasuke. A personalidade taciturna estava tão enrustida na pele que nunca mudaria, suas opiniões sempre mais pessimistas eram o resultado da história que carregava, e a esperança que carregava era o que o motivava a continuar.

 

Sorriu, estendendo mais uma porção de carne que ele negou com o que para ele talvez fosse gentileza, e pensou que da próxima vez poderia estar vendo uma mulher de cabelos rosados comendo do seu lado.

 

Afinal a esperança que Sasuke tinha para o futuro atendia por nome de Haruno Sakura.

 

 

— Sabe, eu não sou mais criança para não notar sua presença.

— Não fiz questão de escondê-la, só não quis atrapalhar seu momento de contemplação.

 

Kakashi saiu de trás do prédio em que se encostava, indo para a ponte de madeira, onde Sasuke estava em pé no centro, escorado no parapeito vendo a correnteza correr. Exatamente como fazia quando tinha treze anos, e o Time 7 ficava naquele mesmo lugar a espera de seu sempre atrasado sensei.

 

— Faz duas semanas que você chegou, e até agora não consegui encontrá-lo para conversar.

— Seus Anbus estão muito ruins em rastreamento?

— Não exatamente, apesar que isso eu devo considerar, acho que é você que é difícil de ser perseguido. E faz questão de mostrar.

— Deveria treiná-los.

— Você já está fazendo fugindo deles, porém é claro que essa nunca foi a sua intenção.

— Tsc. - ele desviou os olhos da água para seu sensei, sorrindo discreto - Claro que não.

— Naruto apostou que era porque você não aceitaria nada menos que o próprio Hokage a sua procura. Teremos jantar por conta de Naruto hoje no Ichiraku.

— Aquele dobe, sempre sendo um idiota.

 

Para Kakashi não restou nada além de concordar. Por uns instantes ficou em silêncio apreciando a folhas das cerejeiras que ladeavam todo riacho se desprenderem caindo na água, enquanto um perfume agradável tomava o ar. Ficava em paz só em ver a devoção que Sasuke tinha ao ficar naquele lugar. Suas expectativas estavam altas, sendo um espectador desde de muito cedo daquela história, todos caminhos difíceis que ambos percorreram para se tornarem que eram, ansiava por um final, um muito feliz.

 

— Sua posição como um shinobi de Konoha foi oficializada, não como genin, Shikamaru aproveitou para colocá-lo como um jounin.

— Achei que ninjas tivessem que fazer algum exame para subirem de cargos.

— Exames só servem para atestar as habilidades, você já comprovou as suas há muitos anos. - coçou o queixo, fazendo uma rápida análise - Se as coisas tivessem seguido um outro percurso tenho certeza que você teria se tornado um jounin junto de Neji.

— Mas elas não foram assim. - disse após um suspiro.

— Foram do jeito que deveriam ser. - falou firme, sentenciando o assunto - Você também tem uma reserva em dinheiro numa poupança, mesmo não estando nos cadastros, esses trabalhos que você tem feito para Konoha e os outros países foram contando como missões realizadas.

— Você não poderia fazer isso, é ilegal Kakashi. - acusou.

— Não se eu tivesse a aprovação do conselho e dos outros Kages. Na verdade isso foi idéia de Tsunade-sama, parece que Jiraya-sama tinha uma situação parecida com a sua. Um status de ninja desvinculado, mas atuava em favor da vila. A antiga Hokage não achou justo você trabalhar sem receber então cuidou de tudo antes de sair da vila para suas viagens.

— Achei que ela me odiava.

— Ela odiava mais a situação em que Sakura e Naruto estavam do que a você. Em todo caso, eu não tenho os dados da sua conta, pedi para Sakura resolver esses detalhes.

— Sei o que está tentando fazer, Kakashi.

— Ora, eu não preciso fazer nada. - ele sorriu - Mas pensando por outro lado, fica mais fácil para vocês resolverem os detalhes para a compra do apartamento deste modo.

— Você não sabe nem se eu vou ficar.

— Se fosse para ir embora, você não estaria aqui ainda, ou melhor, nem teria voltado. - Sasuke bufou com o sorriso vitorioso que Kakashi levava - De qualquer modo, acabei de receber uma mensagem do Raikage, Sakura volta hoje para a vila, agora tenho que voltar ao trabalho. Até, Sasuke.

 

 

A vila estava definitivamente estranha. Sentiu isso quando passou pelos portões e viu a dupla de chunnins se agitarem, lhe cumprimentando com animação pouco habitual. No caminho pensou se era alguma data comemorativa que estava para chegar, mas não se lembrava de nenhuma, então achou que seria uma folga que se aproximava, ou até umas férias sendo concedidas.

 

No entanto no escritório do Hokage foi a mesma coisa. Primeiro Kakashi perguntou o motivo de um dia de atraso, envergonhada explicou que encontrou uma casa de banho no caminho e resolveu aproveitar dos serviços para descansar e cuidar um pouco da aparência. Esperou uma bronca mas ouviu um “ótimo” de Kakashi, que de repente não parava de sorrir enquanto ela lhe dava detalhes da missão. Não que ele fosse um homem mal humorado, porém até Shikamaru parecia eufórico sem ter nenhum motivo para aquilo, a não ser que tivesse chegado a data de Temari voltar para a vila e se casarem, mas ainda assim era estranho ver ele animado com aquilo. Ainda quando foi saindo da sala, Kakashi perguntou às pressas se ela poderia ir nos campos de treinamento falar com Lee, que devia estar lá ministrando uma aula pra seu esquadrão de Taijutsu, um serviço que deveria ser executado por algum Anbu mensageiro. Aceitou fazer o favor, considerando que o trabalho ou a idade devia estar começando a afetar o cérebro de Kakashi.

 

Até que já na saída do prédio encontrou Shizune, que a abraçava risonha, perguntando sobre a missão. Ela contou brevemente, questionando o porquê daquela alegria, ouvindo um “O dia está bonito.” de volta. Poderia estar ficando paranóica, todavia tinha certeza que algumas pessoas a encaravam enquanto andava na rua, talvez fosse a hidratação que tinha feito no cabelo no dia anterior, mas aquilo não faria nenhum sentido. Decidiu que na volta passaria na floricultura para conversar com Ino, se alguém saberia lhe contar o que estava acontecendo era ela.

 

Quando chegou no campo o encontrou vazio, se irritou com o sensei, anotando mentalmente para convencê-lo  a ir no hospital verificar como estava sua memória. Na volta passou pela velha ponte de madeira, parou para admirar como aquela parte da vila estava bonita com o rosa, feliz por tudo que ouvira na sua estadia em Kumo. Se antes Sasuke lá era um inimigo declarado da população, agora tinha conseguido ser elogiado até pelo Raikage, mesmo que a contragosto.

 

Um barulho de madeira chamou a atenção, olhou esperando verificar se era alguém conhecido, quase passando mal pela surpresa de ver quem se tratava. Sasuke estava andando em sua direção, com um sorriso na boca, os cabelos mais compridos, vestido totalmente de preto. A vontade que teve foi de coçar os olhos para ter certeza que não era uma miragem, mas estava sem reação para aquilo. A ficha só foi cair quando ele, olhando nos seus olhos, a abraçou, o cheiro a fez despertar os sentidos, retribuindo o gesto.

 

— Q-quando você voltou? - sua voz abafada ao sentir os olhos marejados.

— Faz quase três semanas.

 

Sasuke a apertou mais, nunca imaginou que seria tão fácil ter esse tipo de contato com ela, muito menos que a urgência poderia ser ainda maior do que a que vinha sentido. Estava feliz e completo com Sakura em seu braço, as dúvidas sobre se era o momento certo acabaram, e se perguntou porque tinha demorado tanto. O conforto que ele passou tanto tempo procurando nos últimos meses estavam todo nela, não nas cerejeiras que encontrava no caminho, nem nos verdes mares que passou, tudo isso era só maneiras de disfarçar a falta que ela fazia.

 

— Tadaima, Sakura.

 

Mesmo depois de todos aqueles dias em Konoha só agora ele se sentia em casa, em seu verdadeiro lar, sua calma, sua paz, seu amor. Uma vez tinham lhe dito que o local onde alguém estivesse pensando nele era para onde deveria retornar. E para Sasuke ele só poderia voltar para Sakura, o seu lugar, e ela entendeu isso.

 

— Okaeri, Sasuke-kun!








Casa é uma construção de cimento e tijolos.
Lar é uma construção de valores e princípios.

Casa é o abrigo das chuvas, do calor, do frio…
Lar é o abrigo do medo, da dor e da solidão…

Casa pode ser o lugar onde as pessoas entram para dormir, usar o banheiro ou comer. Onde tem-se pressa para sair e retarda-se a hora de voltar.
O lar é o lugar onde os membros da família anseiam por estar nele, onde refazem suas energias, alimentam-se de afeto e encontram o conforto do acolhimento. É onde tem-se pressa de chegar e retarda-se a hora de sair.

Numa casa pode-se criar e alimentar problemas.
O lar é o centro de resolução de problemas.

Numa casa podem morar pessoas que mal se cumprimentam e se suportam.
Num lar vivem companheiros que, mesmo na divergência, se apoiam e nas lutas se solidarizam.

Casa é local onde podem acontecer dissensões, conflitos, discórdia sem fim.
No lar as dissensões e os conflitos, existindo, servirão para esclarecer e engrandecer.

Numa casa pode-se desdenhar de valores.
No lar sonham-se juntos.

Numa casa pode haver azedume e destrato.
Num lar sempre há lugar para a alegria.

Numa casa podem nascer muitas lágrimas.
Num lar plantam-se sorrisos.

A casa pode ser um nó que oprime, sufoca…
O lar é um ninho que aconchega.

Texto de Abigail Guimarães




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Notas finais do capítulo

Feliz 2017 pra tudo mundo, e vamos torcer que não seja um ano 2016.2, porque tá foda.

Até.



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