Debulhava em lágrimas.

Espelho, espelho na parede, você é verdadeiro com ela. Revelava o que ela precisava ver, tudo o que os outros mentiam com seus sorrisos falsos. Lilian encarou o espelho limpo de mentiras, observando cada canto de seu corpo imperfeito. O espelho era seu amor, idealizado, amarrado ao seu reflexo.

Magra… Sussurraram as vozes. Aqueles monstros demoníacos em sua mente, fazendo-a soluçar. Cobriu seus seios, virando-se de lado, movimentando-se lentamente por conta da sua dor corporal. Estivera treinando diversos passos de danças minutos atrás com sua melhor amiga, Dominique.

Ah, Dominique tinha o corpo perfeito. Tão magra, com suas coxas tão afastadas, os ossos sempre a mostra. Era tão linda, com seu sorriso simples, os cabelos louros bagunçados e seus passos de borboleta. Lily sempre passava horas encarando seu corpo, desejando tê-lo. Queria ser magra. Queria ser tão bonita quanto Dominique.

Magra… Sussurraram novamente ao pé de seu ouvido, aquela criatura horrível que a consumia. Lily limpou as lágrimas com pressa, deixando que seu olhar demorasse no biquíni novo que sua mãe comprara e que ela desejava usar. Era tão bonito, mas, ela não era bonita o suficiente para ele. Bonita… Você precisa entrar nesse biquíni.

Sentiu-se enjoada mais uma vez, querendo voltar ao banheiro, mas as batidas na porta a impediram. Vestiu-se rapidamente, escondendo-se vergonhosamente em seus jeans tão largos. Colocou sua camisa rapidamente, abrindo a porta encontrando a tão linda e magra Dominique sorrindo em sua direção.

— O que estava fazendo? — perguntou a menina bonita passando por ela, entrando em seu quarto. Dominique olhou para a peça de vestimenta na cama. — Uau, que biquíni lindo!

— Ah, sim. — disse desconfortável pensando o quão bonita Dominique ficaria usando-o. Apertou seu quadril com força, sentindo-se um pouquinho satisfeita ao sentir seu osso dando resposta. Mas não era o suficiente. — Você quer?

— Não! — exclamou a loira sentada na cama, passando seus dedos pelo biquíni. — Você ficará linda com ele. — a encarou sorrindo. Lily abaixou a cabeça e olhou para o espelho de esguelha. — Sua mãe fez biscoitos, vamos descer?

— Não tenho fome. — respondeu simplesmente se jogando na cama com cuidado, pela frustrante dor de cabeça. Sua barriga resmungou baixinho. Ela queria biscoitos.

— Você nunca tem fome. — Dominique fez biquinho e então se levantou, alongando-se rapidamente, mostrando seus ossos das costelas. Lily mordeu o lábio inferior, tocando suas costelas sem que a amiga notasse. — Eu vou comer! Volto depois.

Sua amiga se retirou correndo e Lily se sentou, cruzando as pernas em ‘forma de chinês’, olhando para o espelho. O mesmo a criticava, mostrava o quão gorda estava. Deseja atenção, idolatra a imagem de Dominique, Lilian só quer ser esculpida pelo escultor.

— Se quero o corpo perfeito — tocou suas coxas magras, mas não o suficiente. —, não irei comer. Afinal, garotas propagandas não comem nada. — sorriu forçado e se levantou da cama. Sua cabeça reclamou mais uma vez. Apoiou-se na cama. — A beleza requer sacrifícios, e a beleza é tudo. O que é um pouco de fome? — perguntou a seu reflexo, insegura.

Magra… Fora a resposta do espelho.

— Eu consigo. Eu consigo. Eu consigo. Não preciso comer. Não preciso comer. — riu. — Irei ficar magra e assim todos irão me amar. — sua cabeça rosnou em resposta mais uma vez. Tentou dar um passo para frente. — Finalmente serei linda.

Lilian desmaiou, e, em seu espelho, seu tão amado reflexo magro riu amargamente.