Herói Anônimo escrita por Kevlaf


Capítulo 19
Estrategista em ação: Captura à bandeira!


Notas iniciais do capítulo

A captura à bandeira se passa um pouco antes do fim do período comum de permanência no acampamento, acontecendo logo depois da Batalha do Labirinto.



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Capítulo 19

*Comentários do registro*

— O restante do verão foi estranho de tão normal, as atividades prosseguiram e eu quase me sentia mal de tão bem que estava, talvez se precisasse destacar algum dia do restante do período lembraria da primeira captura à bandeira que ocorreu depois da batalha.

*Narrativa*

A noite já caía sobre o acampamento meio-sangue, a lua cheia iluminava e refletia nas construções brancas, deixando-as quase fantasmagóricas. Todos já haviam comido e estavam sentado ao redor da fogueira, até que Quíron se pronunciou:

— Muito bem, como já comunicado previamente, está na hora de vocês prepararem-se para a captura à bandeira, vocês têm meia hora antes de darmos início à atividade.

Houve um rebuliço entre os campistas, todos saindo apressadamente para juntar suas armas e armaduras, Ernest aproveitou para aproximar-se de Peggy.

— Ei! – O rapaz segurou a garota pelo braço, fazendo a garota virar-se de leve.

— Não espere que eu vá pegar leve com você – A filha de Apolo lhe dirigiu um sorriso.

— Eu ia dizer a mesma coisa – O garoto sorriu de volta – Encontro você no jogo?

— Pode apostar que vai! – A menina deu uma piscadela enquanto se desvencilhava do namorado e corria em direção ao seu chalé – E você vai se arrepender!

(...)

As bandeiras já estavam posicionadas e a largada também havia sido sinalizada, o filho de Atena se esgueirava pela escuridão das árvores, buscando sinais de onde os adversários estariam, a estratégia montada era bem clara: Alguns campistas iriam seguir como batedores, descobrindo onde estava cada adversário, enquanto uma linha menor serviria de combate direto, deixando a defesa com o resto, podendo haver variações conforme a necessidade. O mestiço havia se oferecido como batedor, claro.

— Fazia um tempo que eu estava querendo testar isso – O rapaz olhou ao redor, constatando que estava sozinho – Você está prestando atenção, não é?

— Claro, tanto faz – A voz áspera e cruel de Cronos invadiu seus pensamentos – Mas por que eu deveria colaborar?

— Tem algo a perder? Trato é trato.

O titã bufou, aquele acordo começava a parecer perda de tempo.

— Certo, vamos – Finalmente o senhor do tempo concordou.

O jovem fechou os olhos e concentrou-se, sentindo o braço direito queimar, era uma boa oportunidade, já que usava camiseta de manga comprida, com a armadura e o elmo que eram exigidos por Quíron para a atividade. Ao abrir os olhos a noite parecia ter se tornado dia, Ernest enxergava toda a energia presente no local, não fisicamente, mas parecia ver um fluxo no ar, o semideus sabia que se visse seu reflexo num espelho estaria com as tatuagens do braço direito à bochecha direita e os olhos parecendo metal, um prateado e espelhado, o outro dourado. Nas atuais condições de vestimenta, seria difícil alguém constatar isso.

O rapaz seguiu o fluxo que o ar parecia traçar, desviando de algumas armadilhas e percebendo alguma movimentação ao longe, mas nada que o ameaçasse, até que... – "Flip” – Uma fecha voou na direção do garoto vinda de sua lateral esquerda, em condições normais teria sido atingido em cheio, mas o jovem apenas puxou uma das facas de arremesso com a mão esquerda e golpeou na direção do projétil, interceptando-o e desviando sua trajetória, por pouco não atingindo seu tórax, que deveria ser o alvo principal.

Com uma análise rápida, logo Ernest constatou dois atacantes: Um em solo, de onde veio a flecha e outro na árvore à sua frente, como se desse cobertura ao companheiro. Naquele ponto da floresta a visibilidade era quase nula, graças às espessas árvores, então o filho de Atena deduziu que estava em vantagem, já que sabia onde cada inimigo estava, diferente do que eles pensavam. O plano era simples e foi colocado em prática: O rapaz correu em ziguezague na direção dos atacantes, para evitar o disparo de uma flecha a queima-roupa, atirando a faca de arremesso em direção aos pés do combatente de cima da árvore, que se assustou com o estalo da faca acertando a madeira e em um movimento involuntário de recuar, caiu estatelado no chão. O outro adversário já havia largado o arco e puxado uma espada, adiantando-se com uma estocada, na tentativa de interceptar o mestiço em sua trajetória de ziguezague.

Felizmente, para o filho de Atena era possível enxergar claramente os movimentos do atacante, apenas tendo o trabalho de rolar para frente, saindo do alcance da espada e puxando o pé esquerdo do outro semideus, que por estar desprevenido e sem uma visão muito clara, acabou derrubado, mesmo que sem sofrer grandes danos.

— Até mais! – Ernest apenas olhou de canto enquanto continuava a correr, verificando se os dois não estavam a persegui-lo.

O garoto prosseguiu seguindo o fluxo do ar, rumando à uma tênue claridade que podia ser percebida com muita concentração, só parando nas sombras ao avistar a bandeira em uma clareira. Era possível ouvir o som de espadas se batendo, gritos de combates ao redor e estalos de passos ao redor do local, porém não era possível dizer qual das equipes levava vantagem, então era melhor ter cautela.

— Um, dois, três, quatro, cinco, seis... – O rapaz contava os guardas que estavam na clareira – Sete, oito. Oito campistas, cinco circulando a clareira e três nas árvores, como sentinelas.

Mais uma coisa chamou a atenção do semideus: Se olhasse com muito cuidado, veria finas linhas esticadas em vários pontos da clareira. O padrão sugeria que existiam duas maneiras de chegar à bandeira: Lutando com os defensores para abrir caminho ou correndo por uma via supostamente livre, porém repleta de armadilhas e sistemas de segurança.

— Esse é o problema do time deles – O mestiço mordeu a ponta do dedão direito enquanto pensava – O pessoal de Apolo está nas sentinelas, Ares lutando em solo junto com o chalé de Hefesto, que aprontou as armadilhas.

— Bom, eles não sabem que você decifrou as armadilhas – Cronos se pôs a opinar – Se tiver habilidade o suficiente, deve conseguir usar isso a seu favor.

Mais alguns passos adiante e as trevas não iriam mais camuflar o filho de Atena, ainda mais com a armadura e o elmo de crina azul que não eram nada discretos, se fosse perito em combate à distância o trabalho seria mais fácil, porém já havia perdido uma faca de arremesso e só lhe restava o par da mesma. O rapaz deu mais uma olhada no campo à sua frente e, para sua sorte, identificou outras duas crinas azuis no outro lado da clareira.

— Ótimo, não estou sozinho – Sussurrou para si mesmo, enquanto corria para perto dos companheiros com o cuidado de não fazer barulho ou expor-se na luz do luar – Só podiam ser vocês mesmo, caramba.

Percy e Annabeth apontaram suas armas para o rapaz, que havia assustado a dupla com sua chegada repentina, logo relaxando quando identificaram o companheiro.

— Droga Ernest, não podia ser menos sorrateiro? – A irmã do mestiço deu um soco no braço do garoto, que já havia desativado suas habilidades combinadas com Cronos, mantendo sua aparência normal.

— Não, foi por isso que saí como batedor – Sorriu ao responder a irmã – Mas de qualquer modo, qual o plano?

— Bom – Percy apontou para a clareira – Temos cinco caras guardando a bandeira, acho que conseguimos vencê-los se formos juntos.

— Não vai funcionar, tem mais três arqueiros – Ernest apontou para três árvores.

— Como você viu isso? Eu não vejo nada! – A garota estreitava os olhos para tentar achar os inimigos citados.

— Na posição que eu estava antes dava para ver mais facilmente, daqui eles estão encobertos...

— Certo, então que tal eu ir com o meu boné da invisibilidade, pegar a bandeira e sair correndo enquanto vocês distraem os guardas?

— Pode dar certo, mas vai ter que tomar cuidado com as armadilhas, tem fios bem finos por toda a clareira.

— Não vou nem perguntar dessa vez – O filho de Poseidon abanou a cabeça – Consegue dizer onde estão os fios?

Mais uma vez o rapaz olhou para a bandeira e mordeu a ponta do dedão, pensativo.

— Tenho uma ideia melhor: Vou na frente correndo e vou desarmar os fios que estiverem no caminho, Annie vem invisível correndo atrás de mim, pega a bandeira e se manda, os atacantes vão estar distraídos comigo e vão demorar um pouco para perceber o que está acontecendo.

— Eu vou te dar cobertura quando eles começarem a atacar, não se preocupe – Percy puxou contracorrente e espiou por cima do ombro, verificando se ninguém estava se aproximando.

— Certo, pronta Annie? – A garota assentiu e colocou o boné, sumindo no ar – No três. Um, dois, três!

O jovem entrou correndo na clareira, rápido como um raio e com as facas em mãos iniciou o trabalho de cortar os fios, desarmando as armadilhas uma a uma, enquanto abria espaço para Annabeth avançar para a bandeira.

— Invasor! Sentinelas! – Uma voz gritou às costas do semideus.

O filho de Atena começou a se preocupar, se estivesse sozinho poderia usar a energia de Cronos para melhorar sua percepção e seus reflexos, cortando os fios mais rapidamente e podendo contra-atacar com facilidade, porém, não seria possível fazer nada mais naquele momento. Uma flecha passou zumbindo pelo ouvido do rapaz, nesse ponto os fios já haviam sido cortados em sua maioria na área onde haviam forçado a entrada, então simplesmente o garoto virou-se na direção do atacante para confrontá-lo, mas infelizmente o movimento foi lento, tendo tempo somente de perceber uma flecha atingindo o ombro esquerdo com um forte impacto, fazendo-o largar a faca de arremesso. Por mais que as flechas não tivessem pontas de metal perfurantes, ainda machucavam bastante e, dependendo da região, tirariam um guerreiro do combate facilmente.

Um sorriso brincalhão surgiu nos lábios do jovem, que observava quem havia disparado a flecha e, por baixo do elmo com crina vermelha, via os olhos castanhos da namorada.

— Acabamos nos encontrando – Disse em voz alta, tendo consciência de que haviam pelo menos três flechas apontadas para ele em diferentes ângulos, fora os cinco guerreiros de Ares que observavam a cena, com as armas em punho.

— Eu disse que você iria se arrepender de me encontrar – A morena respondeu, sem perder o foco.

— Bom, eu vou contar até cinco, depois disso é bom você correr – Ernest esperava que sua irmã percebesse que a fala era para ela.

— Você não está em condições de dizer nada, não esqueça que temos a vantagem e o território, querido.

— Bom, então vocês não irão se importar se eu começar. Um, dois, três, quatro... – O rapaz respirou fundo, a plano improvisado precisaria funcionar para conseguirem pegar a bandeira sem chamar atenção logo de primeira – Cinco.

O garoto chutou uma linha quase invisível que estava no chão, foi a única armadilha que ele não havia desarmado ainda, fazendo uma explosão com fogo e flechas surgir ao redor da bandeira, só não interceptando o mestiço por causa de um pulo de última hora para fora da clareira, atraindo a atenção dos sentinelas e guardas.

“Vai irmã, ganha essa pro time” – Pensou Ernest, ao ver que a bandeira já havia sumido quando a poeira baixou.

— Bom, acho que não foi muito útil, não é mesmo? – Peggy tinha o namorado em sua mira, a corda do arco já estava esticada.

O garoto se deixou cair no chão, ficando deitado, olhando para o céu que aparecia além da copa das árvores e, contando até dez, respirou fundo e respondeu:

— Tem certeza? Eu olharia com mais cautela para a bandeira, se ela fosse minha.

— Mas o que... – Todos pararam para olhar o centro da clareira, já vazio – Quando? Eles pegaram a bandeira! Corram, recuperem!

— Eu conto mais tarde, agora eu estou cansado.

Em pouco tempo todos haviam saído de lá para caçar a bandeira desaparecida, até que Percy apareceu em pé ao lado do filho de Atena.

— Funcionou, mandou bem Ernie.

— Bom, temos que esperar pra ver se... – Uma trombeta soou, interrompendo a fala do rapaz.

— Vencemos, graças a você – O filho de Poseidon ajudou o companheiro a levantar-se.

— Não... Foi um trabalho conjunto. Você e Annabeth chegaram até aqui juntos, você deu cobertura pra realizarmos o plano – O mestiço argumentava enquanto caminhavam em direção aos outros campistas, que já comemoravam a vitória, erguendo sobre os ombros a loira que carregou a bandeira até o território amigo.

(...)

— Eu não devia esperar menos de você... A estratégia foi genial, realmente – A filha de Apolo encarava o namorado enquanto caminhavam de mãos dadas rumo aos chalés.

— Eu disse que não pegaria leve – O garoto sorriu – Mas também não podia querer vencer no combate físico, a desvantagem numérica era consideravelmente alta naquela situação.

— Bom, fico feliz por você estar no meu time na hora da guerra, talvez você seja o estrategista mais brilhante do acampamento. Melhor que a Annabeth.

— Prefiro não pensar em uma competição, mas... É legal ser reconhecido – Admitiu o jovem.

— Bom, é isso, não é? – A filha de Apolo parou de caminhar e sorriu, estando em frente ao seu chalé – Nos vemos amanhã.

— Pode crer que sim! – O rapaz deu um beijo na namorada e despediu-se, entrando no próprio chalé e, inesperadamente, ouvindo uma gritaria seguida de palmas: Todos ainda estavam acordados.

— Bom, devemos a vitória dessa noite à dois membros desse chalé – Malcolm começou a dizer, sem sair de cima de seu beliche – Os maiores gênios do acampamento!

Annabeth sorriu e, debruçada em sua cama disse em voz alta o suficiente para que o mestiço a ouvisse no meio de toda a algazarra:

— Desculpe, mas me adiantei e contei a eles como você bolou a estratégia, foi digno de um filho de Atena, estamos todos animados e orgulhosos por fazer parte disso. Vencemos pela inteligência, não pela força. O pessoal de Ares vai ficar de cara amarrada até o próximo verão.

Ernest simplesmente largou-se na cama, sorrindo como bobo, afinal essa era a primeira vez que de fato havia se sentido acolhido pelo chalé, como parte de um todo. O garoto não se lembra quando, mas em pouco tempo já estava dormindo, com as roupas, tênis e tudo aceso no quarto, deixando de lado a própria comemoração para ter, finalmente, uma boa e feliz noite de sono.


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Notas finais do capítulo

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