O Passado Sempre Presente. escrita por Tah Madeira


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

desculpem pela demora..



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Emília chega em casa,  sabe que terá uma difícil tarefa pela frente,  conversar com a mãe  já era complicado, agora ter que falar que o pai de certa forma voltou, era algo que exigia mais de si.


Não a vendo no andar de baixo vai até a cozinha, o cheiro do jantar invade suas narinas e abre o seu apetite, Anitta está finalizando uma tarefa enquanto a cozinheira está ao fogão.

— Boa noite Anitta, Rosa— as  duas moças a olham  um pouco assustadas, pois nem perceberam a presença dela.

— Bom  noite. — elas respondem.

— Anitta onde está Vitória?

— No jardim dos fundos.

— Claro. — Emília deveria saber, o jardim sempre foi o lugar predileto dela,  e mesmo não querendo, um jardineiro aparecia uma vez por semana para cuidar das flores,  ele era contratado de Vitória,  Emília ria dessa ironia,  ela se preocupava com as flores e não com a filha. Um barulho na cozinha a trás para a realidade.— Rosa o cheiro está muito bom.

— Obrigada  — a moça passa o cardápio da noite,  Emília sorri e mais uma vez elogiou,  agradeceu as moças e se retira.

— Quer que eu a  chame? —Anitta ao ver que ela vai em sentido para os quartos perguntou.

— Quem?  — Emília questiona.

— Dona Vitória,  quer que eu a chame,  avise que chegou.

— Não Anitta, obrigada,  vou tomar um banho e depois vou até ela,  nem precisa avisar que cheguei,  sei o quanto ela ama a solidão com suas rosas.  — e vai ao quarto,  Anitta pelos anos que trabalha ali, sabe o quanto a relação daquelas duas é difícil, Emília é uma boa pessoa, mas quando se trata da mãe, se transforma, decide  voltar aos seus afazeres.

 

Vitória está podando uma roseira,  gostava muito de estar ali,  as lembranças que aquele jardim e as flores traziam, fazia um bem enorme, foi por uma rosa que se apaixonou por Alberto, uma paixão avassaladora que tomou conta de si, por saber de sua adoração por tal flor,  em cada data ou momento especial Alberto sempre  trazia pelo menos uma rosa vermelha para celebrar,  Vitória lembra que seus momentos mais preciosos com Emília foram ali naquele jardim,  se o silêncio fosse total e a concentração grande, podia ouvir a risada gostosa que Emília tinha quando pequena,  quando casou com Alberto e deixou aos cuidados do marido e do pai a empresa, foi a esse jardim que se dedicou,  onde sentia-se feliz,  onde colocou suas tristezas quando não conseguia engravidar ou a traição de Alberto, ali depositou a felicidade que sentiu quando soube estar grávida, ficou nesse jardim até o nascimento de Emília,  a cada mês plantou uma roseira, simbolizando a sua gravidez, e depois a cada ano de vida de Emília ela plantava mais uma muda de rosa, sempre as vermelhas, até o dia em que foi embora do casarão, mas manteve um jardineiro fiel cuidando das rosas,  desde uma de suas visitas que  viu o jardim completamente abandonado,  Emília  dizia esquecer do jardim que quase não ia ao local, mas ela sabia que na verdade para a filha o jardim lembrava o quão importante eram as rosas para Vitória e lembrava quantas tardes ali as duas passaram, queria dizer a Emília o porque do jardim ser importante, um pouco da história dela estava ali, cresceu por causa dela,  mas como as outras coisas entre elas,  era mais uma das que ficam pendentes, mal resolvidas e entaladas na garganta.


Tão absorvida em seus pensamentos não percebe ser observada,  só quando ouviu o barulho de um galho ser quebrado é que olha para trás,  sua menina está ali,  quantas vezes ela chegou assim de mansinho quando era pequena, muitas vezes,  Vitória sorri,  mas e Emília não sorri de volta, continua séria,  ela dá um passo para frente,  analisa uma muda ou outra, Vitória continua o que fazia antes da chegada  dela.


Emília fica incomodada com o silêncio da mãe,  as rosas de Vitória sempre foram as mais belas que viu,  bem cuidadas,  claro que ela lembrava o quanto cuidaram juntas desse canto, das conversas, dos momentos de cumplicidades que ali tiveram, mas que por orgulho fingiu abandonar,  foi quando a mãe contratou alguém para cuidar e dar vida novamente ao local,  mas as rosas não pareciam ser as mesmas sem os cuidados da mãe,  assim como ela mesma.


        — Nunca entendi o porque dessa paixão pelas rosas.

—  Quem sabe um dia eu tenho o prazer da sua companhia, como antes  nas tardes em que era pequena e ficávamos juntas aqui, e aí você possa lembrar o porquê. — Vitória diz sem tirar os olhos da roseira que cuida.

—Poderíamos ter ainda aquelas tarde se a senhora não tivesse ido embora.

—Direta como sempre, as vezes me pergunto por quem puxou.—Vitória vira-se para afilha.

— Não sei,  a você?  —pergunta a mãe com um olhar de desdém, que Vitória percebe e se magoa.

— Bom só pode ser, seu pai foi rei em esconder as coisas.

— Não só ele,  diga-se de passagem a senhora…

— Emília chega — Vitória  a corta e diz com impaciência, não queria brigar com ela — Você veio aqui por um motivo,  diga.

— Bom,  vou ser direta como a senhora mesmo disse— Emília respira um pouco,  não quer prolongar o  assunto, não há porque, como o tio mesmo disse,  Vitória vai ter que saber. — Apareceu um homem na empresa ontem,  dizendo ser não só representante, mas filho do Alberto Castelinni,  isso quer dizer que papai está de volta— Emília finge um sorriso,  não sabia o que a mãe estava sentindo, ficou muda,  sem reação, ela então tenta a parte prática e desata a falar — Falei com os advogados e os documentos que esse homem trouxe é todo legalizado, mas ainda assim pedi   também que  investigassem  a vida dele,  não sabemos quem ele é de fato… Você está sangrando — Emília diz as últimas palavras mais alto,  ao olhar para a mão da mãe e vê sangue, Vitória não percebeu que segurava a tesoura de poda com tanta força a ponto de conseguir se cortar,  vê a mão com a  cor das suas rosas e fica observando o sangue sair sem fazer movimento nenhum,  pensa em quão vermelho e brilhoso é,  nem percebe Emília se aproximar, tirar o lenço que está em seu pescoço e passar em volta da mão ferida, um toque  delicado e suave. Certa vez foi Emília quem se feriu com uma rosa,  espetou o dedo em um espinho, chorou horrores,  Vitória lembra como foi difícil a filha querer ir para o jardim com ela novamente,  graças a Alberto que convenceu a menina, ao lembrar do marido,  lembra do que Emília falou,  que ele está de volta, mas como? porque agora?  pensa em fazer perguntas mas Emília está concentrada segurando em sua mão e  a conduzindo  até o carro, Vitória perde um pouco o senso de realidade, algumas imagens do passado se sobrepõe as do presente, ficando inerte as coisas à sua volta.


Emília está preocupada com a enorme quantidade de sangue que sai do corte ela mesma é quem dirige até uma clínica ali perto,  todo o caminho tenta falar com Vitória que parece não ouvir está aérea, Emília tem certeza que é pelo que disse, sabe que deveria ter tido um pouco mais de cuidado ao falar, mas como poderia ter sido, sutileza era algo que às vezes faltava a ela, sempre que possível segura na mão da mãe, e nem o toque faz Vitória interagir com ela, o sangue não para de jorrar, certeza que levará alguns pontos.


A chegada na clínica enfim  faz  Vitória despertar,  dispensa os cuidados de Emília e toma conta da situação.

— Pode deixar filha. — ela interfere,  quando Emília está na recepção passado as informações um pouco atordoada. — Oi sou Vitória Beraldini, só preciso dar um jeito em corte que fiz enquanto podava as minhas rosas.


A recepcionista a encaminha para o médico de plantão,  Emília diz  alguns dados da mãe,  e senta-se para esperar, olha para a manga de sua camisa tem um pouco de sangue ali, fica olhando para a mancha e relembra o acidente de carro que ela e a mãe sofreram, odiava hospitais desde então, pouco tempo a mãe está de volta com a mão já sem sangue e com  pontos onde teve o corte.

— Está tudo bem?  —Emília perguntou levantando-se e indo em direção a mãe..

—Sim — Vitória passa o braço em volta da filha, que não repudia o gesto, vão em direção a porta— Vamos para a casa minha filha.


No carro,  voltando para a mansão o silêncio é total,cada uma imersa em seus pensamentos, Emília tocada pela pequena aproximação que as duas tiveram, não sabia o que sentir, e Vitória que veio em busca de resolver uma situação e a vida trazendo tudo à tona de volta, precisa manter o seu autocontrole,  por causa dessa falta de controle sobre suas emoções é que pôs tudo a perder, o silêncio só quebrado quando Emília anuncia que chegaram,  ela  sai e vai para o lado afim de ajudar a  mãe a descer do carro, mas Vitória desce sem o seu auxílio,  novamente silêncio até que chegam a sala e Vitória diz:

— Fale mais sobre esse moço que foi a empresa. —ela senta,  Emília que estava prestes a subir a escada vai até a mãe.

—Podemos voltar a esse assunto amanhã.

— Diga.

—Mas a senhora…

— Emília eu preciso saber ,  tenho  que saber se não agora depois,  porquê prolongar, diga por favor.— Emília senta de frente para ela.

—Não tem muito o que dizer —ela olha para a mãe que mantém um olhar firme sobre ela, e Emília conhece esse olhar,  é o mesmo que ela carrega, quando quer saber de algo, quando sabe que algo vai lhe machucar, mas precisa seguir em frente, por mais que não queira, não pode deixar de negar as inúmeras semelhanças com a mãe. —Bom esse homem,  ele apareceu ontem dizendo ser filho de Alberto e que é representante da porcentagem que Alberto tem sobre a empresa.

—Como seu pai ainda está vivo ele pode delegar um representante para a parte dele da empresa.— Vitória diz mais para si mesmo, do que para a filha.

—Sim, enquanto vivo ele pode pedir a qualquer um.. — Emília confirma.

—Esse homem é filho da amante de seu pai?

—Eu presumo que sim, que seja filho da mulher que ele se envolveu,  pedi para fazerem um levantamento da vida dele.

—Para saber dele ou do seu pai? — Vitória questiona, mais com o olhar de com palavras.

— Quero saber quem ele está colocando dentro da empresa. — Emília foi incisiva.

—Está certa, as escolhas de seu pai tem que ser analisadas.

—Não só as escolhas dele—Emília levanta do sofá—Quanto a isso não irei comentar.

—Por que você o defende tanto Emília, ele errou, ele nos traiu, ele…

—Você o mandou ele embora, não deixou ele chegar perto de mim,  eu nunca consegui ouvir o lado dele…

— Mas depois que você cresceu ele poderia se aproximar, porque ele não fez?

— Eu não sei, posso perguntar o mesmo para você, porque deixou para voltar só agora?

—Sempre tenta virar o jogo para mim, mas eu diferente de seu pai, eu tento uma aproximação, que você nunca aceita.

— E como posso aceitar Vitória, você colocou meu pai para fora, não deixou ele vir me ver, se trancou em um mundinho só seu a base de remédios e ataques de bipolaridade, ficava dias e mais  dias trancada no quarto ou no jardim, esquecia que tinha uma filha, provocou um acidente que quase me matou…— Emília tenta em vão segurar as palavras, mas já não pode mais.

— Eu não provoquei o acidente...— Vitória interrompe a filha.

—Como vou saber, você estava completamente descontrolada naquele dia.

— E você acha que eu seria capaz de fazer algo assim? — Vitória olha bem para a filha.

—  Eu não sei...— Emília tenta desviar daquele olhar, mas a mãe aproxima-se bem dela e segura em seus ombros.

— Olha bem pra mim  e diga  se eu  seria capaz de machucar a pessoa que mais amo no mundo.

— Tanto ama que me abandonou.— Emília sabe que jogou baixo, mas não há outra forma de fugir desse olhar da mãe.

— É impossível conversar com você— Vitória a solta — Só quero que me responda uma coisa, isso é se conseguir.

— Eu estou cansada, a senhora também…— Emília senta.

— Porque Emília tanto rancor de mim, sei que essa mágoa vem do abandono, mas você nem me dá abertura para uma aproximação., e não venha falar do abandono.

— Você  Vitória, ficou meses sem querer saber de mim, tinha vezes que eu ficava grudada perto do telefone esperando você ligar, dizendo estar com saudade e que logo voltaria, mas isso nunca ….aconteceu—  Emília tenta segurar o choro mas novamente é impossível, faz uma breve pausa para recuperar a voz embargada pela emoção.— Eu chegava a dormir perto da mesinha do telefone esperando e nada,a saudade era tamanha que tinha noites que eu só conseguia dormir com uma blusa sua, que eu tinha encontrado nas coisas de tia Zilda. Pensa Vitória o que é para uma criança que vê a mãe colocar o pai para fora, vê essa mesma mãe que prometeu inúmeras vezes proteger e amar essa filha, esquecer dela, e não digo esquecer só quando você viajou, pensa na quantidade de dias em que você ficou trancada no quarto ou no seu precioso jardim e deixou-me de lado, eu sem saber o que fazer, como agir, achando que a culpa fosse minha por todo o caos que nosso vida virou, pensa Vitória o que é para essa mesma menina que um dia sonhou em ser como a mãe, imitava seus gestos, usava os seus sapatos, suas jóias e maquiagens,  vem a saber que essa mãe em meio a suas loucuras  possa ter causado um acidente  que quase tira a vida das duas, e descobre no seu aniversário de quinze anos... — novamente uma pausa, as lembranças daquela festa onde descobriu a verdade ainda dói, Vitória a olhava abismada com os olhos marejados, mas segurando as lágrimas, Emília recupera um pouco do fôlego e continua a colocar para fora o que a muito guarda —  Descobre através de uma caixa que sua mãe não só não foi passar o aniversário com ela, como acusou o seu pai pelo acidente, não permitindo que ele vá  vê-la, pensa Vitória como é para uma menina ter que lidar com tudo isso— ela limpa o rosto, levanta — Como você pode ver não foi só o abandono, foi decepção, confusão, foi ver a pessoa, não as pessoas que mais ama deixando-a, bom acho que era isso que queria saber.


Fica um silêncio, pesado no ar, Emília não sente a leveza que achava que iria sentir ao pensar em quantas vezes teria essa conversa com sua mãe, sente um incômodo estranho, já Vitória pensa que nunca estaria preparada para ouvir Emília dessa forma, mas ela lhe deu muito o que pensar, por fim ela levanta, respira fundo e declara.


      —Mas digo uma coisa eu não a deixei assim como você pensa, abandonada, largada, eu tenho sim culpa e muito, não minto, mas não foi decisão minha deixar você.

— O que está querendo dizer

— Pergunta para a sua querida tia Zilda—  e ela sobe as escadas indo para o seu quarto, sem olhar para atrás.


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