O Passado Sempre Presente. escrita por Tah Madeira


Capítulo 10
Capítulo 10




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Emília perdeu a noção do tempo e do que se passava à sua volta tamanho a dor que sentia, por tudo e por nada, pela volta do pai dessa forma, pelo que Bernardo fez, por sua mãe estar em casa, era tudo ao mesmo tempo, recuperou um pouco o autocontrole, interfonou para a secretária.
— Carola, cancele toda a minha agenda…
—Mas dona Emília..
— E não quero nenhum telefonema e ninguém em minha sala, nem você — e desligou sem esperar resposta.

Não podia acreditar que depois de todos esses anos tinha notícias do pai e não era da forma como ela esperava, quantas vezes secretamente imaginou o retorno dele, que ele pediria desculpas por ter demorado tanto para ir procurar por ela, mas não tinha mandando um estranho adentrar em um negócio que ela arduamente mantinha, um lugar que era apaixonada, que herdou dele essa paixão, Emília sentia que dessa forma não tinha mesmo nenhuma importância para ele, chora ao pensar nisso, que Alberto mandou Bernardo por causa da empresa, só por isso, por sentir que o seu fim está próximo quer assegurar que o “filho” fique bem.

Olha sobre a mesa o cartão de Bernardo, custava a acreditar do que ele foi capaz de fazer, se aproximar dela dessa forma, não sabia qual tinha sido a real intenção dele, ela estava gostando muito dele, da forma como ele a tratava, a olhava, estava começando a se apaixonar sabia bem não podia negar, ele mexeu com ela de uma forma.

Novamente cenas que viveu com ele repassa em sua cabeça, a delicadeza com que ele lhe tratava, as palavras de carinho tudo de mentira, novamente começa a chorar. Jurando a si mesma que o sentimento que estava começando a brotar, ela não iria deixar crescer.

Estava tudo desmoronando, Bernardo, o pai, a volta da mãe, parecia que todos tinham entrado em um acordo em transformar a sua vida de cabeça para baixo. Ela chora tudo que tem, por tudo o que está vivendo.


Luís chega a empresa e vai até a sala de Emília.

— Ela está aí? — pergunta para Carola que está em sua mesa e confirma a pergunta que foi feita — E o rapaz?


— Não, já foi a algum tempo.
— E como ela ficou?
— Não deve estar nada bem senhor Luís, ela não me deixou entrar.
O tio respira fundo sabe que não será nada fácil esse encontro, mas sabe que é única pessoa que pode ajudar é ele e entra na sala sem bater.

As cortinas estão fechadas, a escuridão só não é total por causa da claridade que vem da porta do banheiro particular que há ali, olha para a mesa de Emília, mas ela não está ali, uma rápida busca com os olhos e não a vê, caminha até ao banheiro e sem sinal dela, ao voltar a sala a encontrou encolhida, entre a parede e o sofá, cabeça escondida entre as pernas, braços envolta do corpo, como se isso pudesse a proteger do mundo, ele via que ela ainda chorava, quantas vezes ele a encontrou assim quando ainda era pequena e morava com ele e Zilda, inúmeras, ali novamente está a menina que sofria com o abandono dos pais, isso cortou seu coração, Luís aproxima-se devagar, apesar da idade e do esforço consegue sentar ao lado dela.

— Emília— ele chama baixinho, tocando na mão dela. —Emília minha querida. — Emília levanta um pouco e olha para o tio, tenta falar algo mas não consegue, ele a puxa para um abraço, que ela permite o abraçando de volta, era disso que ela precisava e novamente cai em um choro profundo.
— Ele ….meu pai…..— ela tentar falar entre soluços— Depois de tantos anos deu algum sinal, mas mandou um estranho, o senhor acredita nisso.
— Eu sinto muito minha querida. sinto muito— Luís a abraça mais forte, ele sentia muito por tudo o que ela estava passando e por saber que o sofrimento dela poderia crescer mais com as novas descobertas que ainda estavam por vir.

Eles ficam um bom tempo sentados no chão sem nada dizer, o telefone de Luís toca, ele olha no visor e é Zilda, ele faz que não vai atender e vai guardar o celular, mas Emília o interrompe.


— Atende, ela deve estar preocupada.— ela limpa o rosto, levanta e ajuda o tio, que está retornado a ligação da tia, ela vai ao banheiro para se recompor.

Emília se olha no espelho e por pouco não reconhece a pessoa diante de si, os olhos vermelhos, a maquiagem borrada, o rosto um pouco inchado, os cabelos levementes despenteados, se tivessem dito a ela a uns dias atrás o quanto a sua vida iria mudar ela teria rido na cara da pessoa, mas não vê graça nenhuma em tudo o que está acontecendo e tem medo do que possa vir.

Lava o rosto, usa a necessaire que tem guardada ali, retoca a maquiagem, para disfarçar a cara de sofrimento que está, ajeita os cabelos, prendendo-os em um rabo de cavalo, arruma a sua roupa, e sai no exata momento em que o tio diz que eles conversam mais em casa, ela estranhou, mas acha que ele não quer falar na frente dela ´para poupá-la. Emília senta em sua mesa, e pega os papéis que Bernardo lhe deu e começa a analisar melhor.

Luís senta a sua frente, ele percebe que a empresária decidida é quem está à sua frente, sabe que neste momento ela vai resolver a parte prática, a parte que cabe a empresa, vai por os negócios em primeiro lugar, que os seus sentimentos ficarão por ora reservados, Luís admirava essa capacidade dela em se transformar de um momento para o outro, o que ele teme é quando os seus sentimentos, seu lado sentimental voltar e eles vão surgir novamente por causa de tudo o que ela passou e vai passar, como vai ser e quem vai estar com ela, talvez tenta convencer ela a ir com ele para casa, o que sabe ser impossível de ela aceitar.

— Foram esses os papéis que Bernardo trouxe.— ela passa para o tio, que faz uma breve análise, Emília anota em um papel os números de Bernardo e guarda discretamente em uma gaveta o cartão dele.
—Aparentemente os documentos estão todos em ordem, de fato parece que ele tem mesmo a permissão de Alberto para ficar a par de tudo.
— Mesmo assim vou levar para os advogados analisarem e ver outras coisas.— ela diz de uma forma que Luís sabe que ela vai aprontar alguma coisa.
— Que coisas Emília?
— Bom começando para saber se é verdade que ele é quem diz ser, ele não vai me enganar de novo..
— De novo? — o tio não entende e ela percebe que falou demais, levanta de sua cadeira, tentando achar uma forma de sair dessa situação, não iria falar da forma como conheceu Bernardo e nem que trocaram beijos, não iria falar do encontro deles dois.
— Digo eu não quero ser enganada de novo por ninguém, porque...porque o senhor já sabe— ela desconversa o que não o convence muito, ela sabe e resolve mudar o assunto, indo até o telefone ligando para Carola pedido uma reunião com urgência com os advogados ainda para aquele dia.— O senhor pode participar ? Por mais que eu tenha o controle total das ações, o senhor tem os controles das ações da tia Zilda.
— Confiamos totalmente em você, mas participo sim.
O telefone toca e Carola informa que os dois advogados estão fora da cidade, Emília marca a reunião para o outro dia.
— Você não quer ir lá para casa? — Luís resolveu arriscar.
—Nâo, agradeço muito mas irei para casa.— ela sorri para o tio.
— Como você está com tudo isso Emília?
— Eu não posso mentir para o senhor, não estou feliz com essa forma que ele, meu ausente pai, quis se fazer presente, mas não quero pensar muito nisso.— Emília faz um gesto com a mão, como quem espanta os pensamentos — Não agora, preciso ver a legalidade dos documentos e ver o que Bernardo quer aqui, agora só quero ir para casa.
— E sua mãe?
— Vitória é o menor dos meus problemas.
— Não seria esse um bom momento para vocês conversarem, sabe mãe ajuda nessas horas…
— O senhor disse bem, mãe ajuda, mas não a minha que sempre me virou as costas —ela tenta, mas não consegue e seu tom de voz altera, falar da mãe sempre resultava em um pouco de descontrole— Que de uma certa forma causou tudo isso….
— Emília você está sendo dura demais, dê uma chance…
— Tio eu não quero discutir isso, não hoje, por favor.
— Tudo bem— Luís não quer mesmo causar mais aborrecimentos a ela e atende ao pedido e se cala — Vamos?
— Sim — eles saem da sala.


Já em casa ele encontra uma Zilda agitada caminhando para lá e pra cá, demora a ver a presença do esposo, e quando o faz caminha com passos ligeiros até ele.

— Luís até que enfim. — ele a recebe de braços abertos.— O que está acontecendo?
— Zilda minha querida.— ainda abraçado a ela ele diz, sem mais— Alberto voltou.
— Como assim? —confusa ela solta-se dos braços do esposo o olhando— Voltou?
Luís nada diz e a pega pela mão a levando até o sofá, sentados lado a lado, ele começa a falar o que sabe, sobre Bernardo, os documentos que ele trouxe falando que ele era representante e filho adotivo de Alberto.
— Meu Deus então ele é aquele garoto que vimos com ela da ultima vez?
— Sim, filho da mulher que ele se envolveu.
— E como está Emília? Porque não a trouxe com você?
— Ela está devastada, mas mantendo-se forte, e quanto a vir para cá eu tentei, mas sabe o quanto ela é teimosa.
— Eu sei, mas também sei que ela e Vitória juntas não vai dar boa coisa, ainda mais no estado que Emília está.
— Mas Zilda uma hora elas terão que se entender…
— Uma hora sim, a questão é quando.— Zilda olha para o esposo que tem o olhar distante, ela passa suavemente a mão sobre a face dele— O que mais te preocupa meu bem?
— Como vamos sair disso tudo. — Zilda olha sem entender o que ele quis dizer— Falo de nossas estruturas com o que tudo que está por vir, você sabe, Emília não vai nos perdoar.


Emília chega em sua casa, com a cabeça cheia, e o estômago vazio, mas pensar em comer só faz revirar o estômago e sentir náuseas. Ela abre a porta e se encosta no batente, quando uma tontura a atinge leva as mãos a cabeça, por pouco não cai, apoia-se na mesinha que ali tem, fecha os olhos e respira fundo uns minutos, fica assim pra ver se o mal estar passa quando sente um toque em suas costas.
— Você está bem? O que está sentindo?— é sua mãe quem está ali.
— Me deixa — Emília diz com esforço— Estou bem — com certa dificuldade ele se desvencilhar da mãe e com passos tortos caminha não muito, pois a tontura é maior e ela cai escorada na escada.
Vitória grita por socorro que prontamente é ouvida por Anitta e Ariel.


No hospital, avisam que é uma leve desidratação, normalmente por quem ficou horas sem se alimentar, uma noite em observação, soro e comida leve vão ajudar Emília a sair dessa.
Mesmo não precisando Vitória passa a noite ao lado da filha.


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