A Chuva de Atena escrita por Kate Lewis


Capítulo 1
Capítulo Único




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Atena tinha um olhar que dirigia só a ele. Era azul escuro de algumas estrelas - singelo como os outros gestos dela; intenso e potente como todas as mínimas intenções que tinha em sua vida. Não sabia por que o olhava assim. Sabia que ele era repouso confortável, que tinha cabelo negro e espesso, e que ele era - talvez pela junção de seus traços fortes e os olhos verdes - uma combinação linda. Sabia que gostava de olhá-lo porque era figura contraditória e instável, e porque o mar de seus olhos mergulhavam-na e quase afogavam-na, de um jeito bom. Não entendia, no entanto, sobre energias e atrações cósmicas, então pensar nele subitamente como uma noite escura e estrelada era surpresa para ela.

Desviava os olhos acizentados quando ele percebia, sorrindo, seu magnetismo; mas nada podia fazer para evitar contato.

Ela sempre repetia: o odiava de certa forma, há certo tempo. Mas, afinal, por não haver como odiar "de certa forma", porque só se odeia por inteiro e por intensidade, ela estava começando a desistir de tal ideia. Não havia parado de repetir, visto que era criatura teimosa e convicta (sabe-se lá de quê e por quê), mas seus pensamentos já não eram os mesmos. Como poderia odiá-lo se tanto a sugavam seus olhos marinhos, cheios de estrelas?

Não dizia, não dizia nada disso. Pensava de vez em quando em estudar astronomia, quem sabe biologia marinha, mas achava-se tola das ideias. Gostar dele, em meio ao seu antigo ódio, parecia bobagem, ato quase ridículo. E era assim que confundia-se entre olhares sugestivos e palavras ainda brigadas.

Poseidon, como homem leve e intenso que era, aproximava-se por vezes, gostando um pouco de ver aquela confusão. Sorria com o estômago se revirando, ansioso pelas bochechas rosadas e contrariadas dela.

— Pensando em mim? - cutucava, sabendo que a irritaria justamente por adivinhá-la quando ela queria ser esfinge.

Atena rolava os olhos, quase rosnava, quase não conseguia responder.
— Em que universo eu estaria pensando em você? - balbuciava, inteligente.

Ele respondia olhando-a nos olhos de propósito, querendo sorrí-la por dentro.

"No nosso", ela entendia. E seus olhos tornavam-se novamente escorregadios, voltados de repente para um livro ou outra distração. Ele, sem saber bem como reagir, também se desviava, agradecendo ao menos pelo nervosismo dela (porque aquilo tinha de significar alguma coisa), e tentando não se aborrecer pelas recusas.

Ele seguia em frente, pra onde quer que fosse, conformado por tê-la ao lado em pensamento, triste por ser só daquela forma.


OoO


Foi um dia de sol. Amarelo, brilhante, à beira do desconforto que o calor traz. Mas tão cheio de harmonia que era difícil pensar em quaisquer dificuldades. Atena estava deitada sobre uma toalha xadrez vermelha e branca, ouvindo com todo o conforto a voz macia de Apolo. Fora um combinado raro: decidiram deixar a vida de lado e encontrar-se para ela o ajudar com poesia - mais especificamente, com os haicais aos quais ele tanto se apegara.

Ela o ouvia recitar suas frases, forçando a boca para não deixar escapar nenhum riso porque sabia que aquilo levava tempo. Já havia se perguntado, é bem verdade, algumas oito ou nove vezes sobre o motivo de ele ter sido eleito o deus da poesia em algum momento de sua vida, mas pensava que talvez aquele estilo só não fosse o seu forte. Ao menos era o que esperava.
Ouvia-o, apesar dos pesares, com toda a paciência. Corrigia, brincava às vezes, e até se deixara deitar em um momento, quando já tinha visto progresso grande e não precisava se preocupar tanto assim com gramáticas feridas e rimas descabidas. Mesmo assim, relaxada, não deixava nenhum deslize passar.

Era divertido estar ali com ele, e eles faziam várias pausas para comer o que havia dentro da cesta. Um piquenique um tanto poético, risonho e cheio de luz solar.


Se os tivesse visto mais cedo, mais tarde, ou mesmo se tivesse sabido do acontecimento séculos depois, Afrodite teria feito o mesmo berreiro que fez ao encontrá-los naquele momento. A mente dela passeava distraída pelo Olimpo quando avistou um piquenique, Apolo e Atena, uma cesta e uma toalha, livros, e cachos loiros deitados, na maior tranquilidade. Fora o fim. Ela correu no mesmo instante, guinchando reclamações até que fosse devidamente ouvida.

— Quer dizer que vocês fazem piquenique E NEM ME CHAMAM? Oh! - exclamou, aguda e exasperada. Por estarem acostumados aos chiliques dela, contudo, Atena e Apolo só sorriram um para o outro, ela revirando ligeiramente os olhos.

— Estou praticando haicais com ele, Afrodite - explicou, didática frente aos surtos da outra. - Não costuma ser uma atividade pela qual você realmente anseia.

— Oh! Como é que pode dizer uma coisa dessas? Eu? Não ansiar por um piquenique todo familiar e lindo? Em frente ao lago do meu jardim favorito?!

Atena suspirou, Apolo rindo um pouco de sua cara.

— Nós já treinamos por bastante tempo - ele tomou a palavra. - Se quiser ficar agora, você pode, e a gente pode comer o que ainda tem nessa cesta.

Afrodite pulou, de olhos sempre brilhantes e um pouco arregalados.

— Vou chamar todos os deuses, podemos ficar até de noitinha!

E com mais um "awnt!" e olhos rosados, ela sumiu em purpurina, deixando-os ali para se conformarem com a situação e com o seu plano repentino.

— O que seria "de noitinha" pra ela? - Atena questionou, meio sem esperar resposta, só para ele rir da situação.

— Ah, no mínimo uma da manhã ainda estamos aqui.

Atena soltou suspiro, lançando um olhar vago para o lago. Lembrou-se então de certo tridente, de certos olhos fogosos que a deixavam fora de si e que provavelmente estariam ali em breve. Mordeu o lábio inferior por instinto, sentindo-se de repente nervosa.

— Atena?

Ela virou-se para ele, os olhos grandes, e tentou disfarçar aquele sentimento.

— Sim?

— 'Tá tudo bem? - perguntou, sorrindo e tentando entendê-la.

— É claro. Eu só... estava preocupada com alguns deveres meus. Já adiei eles pra estar aqui hoje à tarde.

Apolo aproximou-se, esticando os dedos para um rápido cafuné, inesperado e carinhoso.

— Irmãzinha, tira isso da cabeça. Você tem a eternidade inteira pra resolver o que quer que seja. Vamos ficar juntos hoje, Afrodite ficaria uma fera se você fosse embora.

— Ah, sim, eu sei, eu sei. Não pretendo ir embora, só estava pensando... Faz um bom tempo que os deuses todos não se reúnem e... Bem, deixe pra lá. Não quero ser pessimista.

— O que poderia acontecer?

— Nada, acho. Foi... só um pensamento rápido - ela fez uma pausa, observando-o se apoiar em uma árvore próxima, o cabelo loiro naturalmente despenteado. - Você quer continuar os haicais? - perguntou, tentando mudar de assunto porque sabia que ele perguntaria mais.

Ele a olhou, distraiu-se, e seus olhos se azularam; um instante depois havia um violão materializado em seu colo, e melodias displicentes e inevitavelmente lindas saiam de seus dedilhados. Ela sorriu, pensando que a eleição para deus da música, essa sim, devia ter sido unânime e bem mais feliz que a de poesia. Aceitou a sugestão silenciosa que ele fez, e sentou-se por perto.

Cantou com ele. A energia que exalava era incrível. Ela não podia evitar deixar de lado preocupações, ele com aquele jeito de fazer sentimentos puros saltarem de cordas e dançarem em volta deles. Era um sentimento dourado que se libertava ali. Ela percebia porque se sentia rica, banhada em ouro, só por ter aquele momento.

Gostava de Apolo.

OoO

Os deuses foram chegando aos poucos, alguns trazendo toalhas (vale dar destaque à de Afrodite, que tinha flores em relevo e bastante gliter), outros comidas de cheiros inebriantes, outros vinhos, outros a própria presença (trazendo junto, assim, várias histerias da deusa-organizadora-do-evento). Mas era um clima bom, de energia forte, noturna, feliz. Algumas luzes brilhavam amarelas como vagalumes.

Quando Poseidon chegou, a música era azul escura. Veio tarde, o céu já era noite e os deuses dinâmicos, comendo, cantando, rindo, deitados. Ele sorriu enquanto os olhava, procurando por ela. Encontrou-a sentada, as pernas cruzadas, mexendo em uma cesta com a cabeça inclinada. Os fios loiros, ora dourados, ora claros muito claros, pareciam ter valsado até chegarem àquela posição linda de cachos. Ele deixou-se esparramar olhares sobre ela, sem discrições. Ela ainda não o tinha percebido, compenetrada no que estava fazendo, sem ouvir bem as histórias que Ártemis contava e que Apolo e Hera ouviam.

Ele aproximou-se devagar, tentando não se denunciar porque queria ver os olhos surpresos dela mais de perto. Demorou pouco, no entanto, até que ela sentisse cheiro de mar, e era simplesmente delicioso para que ela não conferisse de onde vinha.

Sentiu-se cambalear diante daquela expressão salgada e intensa. Contou até dez mentalmente, procurou respirar fundo e olhar para baixo, enquanto suas mãos hábeis terminavam de pegar um recorte perfeito de torta doce. Queria sentir cheiro de maçã, chegou a forçar as narinas. Mas ele percebia que ela falhava, percebia e se aproximou sorrindo para atrapalhá-la mais um pouquinho - só pra ter o gostinho de sentí-la inebriada com o seu cheiro marinho. Sentou-se ao seu lado, contendo o impulso de roçar seus braços, suas pernas, qualquer pedacinho iludido de pele.

— Parece estar boa - comentou Poseidon, fingindo cobiçar sua torta.

Atena ergueu os olhos, vendo-o um pouco tenso mesmo que ele tentasse não demonstrar.

— Está... ótima, na verdade.

O deus inclinou-se para frente, e ela sentiu-se disparar, mas ele apenas revirou a cesta. Revirou um pouco demais.

— Poseidon! - exclamou, indignada, por alguns instantes se esquecendo de que estava nervosa.

Ele riu, alcançando enfim a travessa que queria e tirando-a sem muito cuidado. Mas o que a escandalizou, de verdade, foi quando ele cortou de qualquer jeito um pedaço e o pegou com a mão.

— Poseidon!!

— Atena, nós só vivemos uma vez.

— No nosso caso isso significa muito tempo, será que tem como ser um pouco mais civilizado?

Poseidon deu de ombros.

 - Não - e mordeu a torta.

Humm,  fez, mentalmente. Aquilo era simplesmente... Incrível.

Atena estava um pouco boquiaberta, sem saber bem o que dizer diante daquela pequena discussão.

— E então - ele disse, percebendo sua expressão -, conte-me como é pra você perder uma disputa.

Ela revirou os olhos.

— Oh, que disputa essa! Eu não estava competindo com você. E, aliás, eu não perdi.

Ele riu.

— Você é sempre orgulhosa assim?

— Só quando há um deus do mar irritante por perto.

— Eu não sou nada irritante.

— É super agradável.

— Exatamente - disse feliz, mordendo mais um pedaço.

Olhou para ela de canto, percebendo-a mais leve que de início e sorrindo para si mesmo.

— O que foi? - Atena perguntou, sentindo o rosto quente.

Poseidon alargou o sorriso para as bochechas vermelhas dela.

— Você.

— Qual o problema?

— Nenhum problema. Você é... engraçada de se observar, muda de expressão com facilidade.

— Acho que você me irrita com facilidade.

Ele sorriu.

— A melhor forma que consigo pra conversar com você é te irritando.

— Isso porque essa é a única forma que você já tentou usar pra conversar comigo! - indignou-se, fazendo-o dar de ombros levemente.

— Você é bonita irritada. Mas também - acrescentou, para não deixá-la sem palavras -, porque das últimas vezes que tentei falar com você, você ficou vermelha e esquiva antes mesmo de eu te irritar.

Ela rolou os olhos, sentindo novamente o rosto queimar contra a sua vontade.

Então é minha culpa você ter esses olhos penetrantes? Minha culpa você me deixar confusa e sem ar?

— Bem, está conversando comigo agora. Quer fazer alguma reclamação?

Ele a encarou, mas seu olhar era mais intenso. Queria prendê-la ao menos um pouco dentro de si, por aqueles minúsculos e imensos segundos.

— Não. Por enquanto estamos ótimos.

A voz dele era mais grave do que o normal. Atena de repente se imaginou ouvindo aquele timbre bem perto, roçando-lhe a orelha, antes de dormir, e estremeceu. Balançou a cabeça para outro lado e olhou sem querer Afrodite, ali perto. A deusa a olhou de volta, no meio de uma risada que dava a Hermes. Seu rosto continuou sorridente, mas ela lhe piscou uma vez, os olhos claros mudando sempre de cor, aquarelados.

Apolo então se aproximou de Poseidon, parecendo notar sua presença somente naquele momento. Hera e Ártemis pareciam já entretidas em outro assunto, e burburinhos vinham de vários cantos.

— E aí, cara? - começou sorrindo, dando tapinhas no ombro do outro, mas logo suavizou um pouco a expressão. - Como é que tem sido a separação?

Atena voltou-se para a história, esperando não ter sido tão abrupta. Poseidon percebeu, sorrindo um pouco mentalmente.

— Difícil como sempre é, imagino. Mas era preciso fazer, sabe, eu já nem gostava dela. Nessas situações não vale a pena ficar brigando a toa.

Atena pensou nas pequenas brigas que eles tinham a todo o momento, e percebeu que deviam ser bastante diferentes das que ele tinha com Anfitrite. Percebeu de repente que talvez ele gostasse menos de Anfitrite do que gostava dela própria - e Anfitrite era sua esposa, o que fazia aquilo soar no mínimo estranho. Ainda mais pelo fato de eles se considerarem inimigos há mais de milênios.

— Ah, vocês vão passar bem por isso, tenho certeza. Ilesos não, mas posso ajudar com os machucados, se quiser - ele piscou, porque era carinhoso. Olhou de repente para Atena, sugestivo. - Atena aqui me ajudou com poesias hoje. Ela também é cheia de paciência.

Poseidon riu no mesmo instante que ela, ambos pensando na conversa anterior, sobre como aquilo não se aplicava ao deus dos mares.

— Com Poseidon é um pouco mais difícil - disse ela, escolhendo as palavras.

Apolo observou-os, depois sorriu de lado.

— Bem, de alguma forma tenho certeza que ela te ajudaria a superar Anfitrite - e ele riu, deixando Atena confusa. - Mas se me dão licença, casal, tenho um violão a administrar.

Ele levantou-se, indo até um Dionísio bastante bêbado, bastante desafinado, que segurava o violão tortamente e o tocava dessa mesma maneira. Tomou o instrumento dele e foi logo melodiando outros carnavais.

Quando Atena olhou para Poseidon, que obviamente tinha entendido as segundas intenções de Apolo, suspirou.

— "Casal"...

Ele curvou os lábios.

— Ridículo - murmurou, porque apesar das cantadas ele ainda achava a ideia um pouco absurda. Eles não tinham uma rixa, afinal? - Mas bem que nós poderíamos tirar isso a limpo.

Atena olhou-o um tanto surpresa, o que teria o feito sorrir, mas ele simplesmente se levantou.

— Pra onde vai?

— Eu tenho você do meu lado, por que eu iria pra outro lugar?

Ele estendeu a mão e Atena a olhou por instantes até segurá-la - porque queria deixar seu orgulho de lado, ali sentado, longe dela. Ergueu-se, e percebeu-o um palmo mais alto que ela, de cabelo escuro, pele bronzeada de sol. Não soltou sua mão, como poderia? Ele era aconchegante, estava muito perto, e a mão larga apertou a sua. Atena sentiu o estômago revirar-se. Como poderia questionar-se sobre qualquer rivalidade com ele olhando-a assim?

Poseidon levantou as mãos entrelaçadas, girando-a e agarrando mais seu corpo quando voltaram a estar um em frente ao outro.

— Me permite? - perguntou baixinho, olhando seus olhos, segurando-a em posição de valsa.

Ela sorriu, deixando-o desnorteado por alguns segundos.

— Acho que dessa vez vou deixar passar.

Poseidon sorriu, mas parecia mais incerto do que de costume.

— E depois volta a ser a Atena teimosa de sempre?

Ela balançou a cabeça levemente. Encostou o nariz em sua bochecha, então levou os lábios ao seu ouvido, arrepiando-se.

— Posso teimar a ficar do seu lado.

Ele poderia tê-la beijado. Contentou-se em rir e apertá-la, já em movimento, ignorando a música e dançando com ela em seu próprio compasso.

Apolo mudou aos poucos os seus acordes. Os jardins encheram-se de harmonia vagarosa, como um mar em suas noites tranquilas. Não sabia se valsavam, se se abraçavam, se tal dança não passava de desculpa para que ficassem juntos. Talvez porque fosse tudo verdade, Apolo sorria e tentava acompanhá-los, olhando para uma Afrodite exultante, que exalava energia cor-de-rosa vibrante.

Atena mal percebia, mal podia perceber. Sorria de olhos ora fechados ora atentos a um mar profundo de outros olhos. Encostou a cabeça em seu ombro largo, que tanto parecia chamá-la todos aqueles anos, que tanto a acolhia agora. Poseidon apertava-a como podia, as mãos às vezes em sua cintura, às vezes passeando por suas costas. Ele não queria saber se eram inimigos. Caso o fossem, ele reinventaria o sentido dessa palavra só para poder dançar assim com ela, para agarrá-la em pensamento, no ato, onde quer que fosse.

Eles teriam continuado por mais tempo se os outros deuses não tivessem feito estardalhaço tão grande ao vê-los assim. Atena enrubesceu com alguns comentários e até mesmo palmas (sem contar os sermões de Zeus), mas Poseidon não pareceu se abalar, rindo e pousando os olhos sobre ela. A deusa percebeu seu olhar malicioso, sem entender bem como aquilo se encaixava naquele momento.

Até ouvir as primeiras reclamações.

— Oh, não! Minha toalha bordada!!

— As comidas! Rápido, as comidas!

— Quantas gotas!

— Argh!! Meu cabelo, todo molhado!

— Meus Deuses, que frio!

Logo já faziam todos um pequeno escarcéu divino. Juntaram rapidamente as coisas, foram evaporando aos poucos sabe-se lá pra onde - talvez Afrodite os tivesse direcionado para outro endereço, já que era uma grande fã de festas.

Não se sabia, na realidade não importava.

Atena se viu no meio da barafunda, desnorteada por alguns momentos. Sabia que havia algo de errado, mas demorou algumas gotas para descobrir o motivo. Estacou: elas não a molhavam. Não sabia se a água se desviava, ou se tocava a sua pele sem que ela sentisse a sensação comum de estar debaixo d'água; mas o fato é que ela não sentia frio, nem sentia incômodo algum.

Assustou-se. Olhou para ele, e percebeu que a observava quase sorrindo, deixando a chuva molhá-lo porque talvez também não a sentisse - ou talvez só gostasse da sensação. Ele era a chuva; ele era a gota que escorria pela bochecha dela, tocando seus lábios, caindo em seus seios. Ele passeava por todo seu corpo naquele momento. Ele a olhava, molhado; ele guiava cada pingo d'água. Era Poseidon, deus das tempestades. Ela, cheia dele, sentia-se submersa. Ela, cheia dele, não poderia estar mais apaixonada.

Ele a alcançou rapidamente. Não queria ficar longe, não conseguiria ficar somente olhando-a por muito mais tempo. Beijou primeiro sua bochecha, sentindo-a segurar com força sua camisa. Não aguentou aqueles lábios vermelhos roçando seu rosto, e beijou-a de uma vez, apertando seu corpo com força porque já tinha esperado muito tempo por aquilo.

Atena, inebriada, levou as mãos aos cabelos espessos dele. Seus dedos entrelaçavam os fios, tentando puxá-lo mais para perto, mesmo que já estivessem grudados.

Ela quase suspirou quando ele encaixou suas pernas. Subiu uma coxa sua pela perna dele, lembrando vagamente de que ele sorriria maliciosamente para ela depois, por causa disso. Parou de beijar os lábios dele para dar pequenos, quase tímidos beijos em seu pescoço.

Poseidon sorriu, os olhos fechados, as mãos parecendo segurar tesouro. A chuva dançava em volta deles, a música parecia continuar a envolvê-los.

— Talvez Apolo esteja certo... Formamos um casal bonito, afinal - disse, a voz rouca e grave.

Atena olhou-o intensa, sorrindo. Linda como um milhão de dracmas.

— Uhum... Posso até pensar em te dar uma chance.

Ele a beijou de leve, sorrindo com malícia.

— Ah, pode?

Ela sentiu-se formigar. Murmurou qualquer coisa, esperando que ele a beijasse novamente, porque não podia de fato pensar em nada naquele momento. Poseidon riu, apertando-a, e beijou seus lábios - porque não podia de fato resistir muito mais tempo.

Quando ele encostou-a em uma árvore, ouviu um trovão e sorriu. Talvez fosse Zeus, irado. Ele simplesmente adorou a ideia de tê-lo como sogro. Porque queria irritá-lo, como sempre.  E porque queria Atena para sempre, se os deuses e todas as brigas os permitissem, se não fosse romântico demais até para ele.


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Notas finais do capítulo

Olá! Faz um bom tempo que não apareço por aqui... A verdade é que ando começando inúmeras histórias sobre os dois, mas não acabo nenhuma delas por pura insegurança. É difícil escrever sobre eles, porque tenho tentado fazê-los de um jeito diferente (sem tantos clichês, com mais profundidade), mas é muito dolorido recriar personagens que você ama, e nunca sei se estou fugindo da essência deles. Por isso, espero que tenham gostado dessa one-fic, que o ritmo não tenha ficado estranho, e que me perdoem por ficar longe assim (isso também tem sido difícil).
Muitosmuitos beijos! Pretendo voltar em breve, mas até lá, espero que fiquem felizes com essa história ♥