Feliz Natal, Puddimman escrita por Maga Clari


Capítulo 1
O Natal do Puddimman e do Gingerman




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Dez.

Nove.

Oito.

Sete.

Seis.

Cinco.

Quatro.

Três...

— Okay, okay, okay, Hugo, eu não aguento mais! Eu desisto, eu desisto! Hugo! Ei, Hugo! Você não..?

Quando Lorcan implorou para recobrar o ar que perdera ao ficar de cabeça para baixo no píer, ele notou o sorriso de vitória se espalhando pelas bochechas sardentas de Hugo Weasley.

O menino-ferrugem balançou os braços no ar, e atreveu-se a quase dançar ali, pendurado somente pelos pés na superfície frágil de madeira velha e molhada. Seu cabelo, embaraçado e cheio, sentia os respingos d’água que o vento levava, e ele atreveu-se também a fechar os olhos para apreciar o momento.

Hugo disse:

— O doce sabor da vitória!

Lorcan torceu o nariz, aborrecido, e voltou a se sentar no chão, de onde nunca deveria ter saído:

— Você sabe que detesto alturas!

— E você sabe que tem que superar isso.

— Eu não preciso fazer coisas idiotas como ficar de cabeça pra baixo quando eu for um auror.

— Ah, você acha?

Hugo soltou uma gargalhada gostosa, seguido por um suspiro.

— Aurores são super heróis, Lô. Você vai ter que dar vários saltos mortais se quiser continuar trabalhar ainda vivo.

— Espera... — a expressão de Lorcan era de puro terror. Seus olhos estavam arregalados — O que você quis dizer com “ainda vivo”?!

Havia algumas covinhas nas bochechas de Hugo quando ele sorriu:

— Ah, Lô. Você ainda pode ser um auror fantasma. Mas você pode ser mais legal que o Nick Quase Sem Cabeça.

Hugo voltou a rir ao notar o silêncio do melhor amigo, e seus olhos arregalados de temor.

— Eu sou muito jovem pra morrer, Gingerman! — Lorcan constatou, deitando-se de barriga para baixo, e apoiando-se na beirada de madeira para olhar Hugo pendurado.

— Ah, é? E o que o faz pensar assim, Puddimman?

— Puddimman?! — a risada de Lorcan foi música para os ouvidos arteiros de Hugo Weasley — De onde tirou esse apelido?!

— Ora, Puddimman. Por que eu posso ser uma sobremesa e você não?

— Gingerman não é sobremesa, é só biscoito!

— Quem liga?

— Hugo, essa brincadeira não teve tanta graça assim.

— Claro que teve. Eu sou gingerman por causa do meu cabelo.

— E..?

— E todo mundo sabe que pudim de leite é da cor do seu!

— Continua não tendo graça — Lorcan revirou os olhos e direcionou-os para o céu que se punha atrás das pedras — Ei, Hugo.

— O que foi agora?

O vento do fim de tarde começava a esfriar. Lorcan esfregava as mãos por dentro de luvas de lã, uma na outra, e tentava não se importar com os fios finos de seu cabelo louro empatando sua visão.

Ele estava com um pouco de medo, para não dizer aterrorizado.

Lorcan não queria chorar ou fazer algo similarmente estúpido. Ele só queria poder segurar aquele momento para sempre e não precisar ter que seguir sua vida.

Então, reunindo coragem, falou:

— Hugo, é só que... — mas então, sentiu pingos macios e leves caírem em seu nariz e mudou de ideia — Acho que está nevando!

— É, acho que sim...

— Gingerman, levanta daí! Você vai ter hipotermia!

O sorriso sardento, aquele que desde o princípio permanecia com Hugo, transformou-se em gargalhadas quando ele impulsionou o próprio corpo para cima e arrumou a própria cabeleira laranja-enferrujada.

Lorcan somente ficou lá, olhando para ele, estupefato, enquanto seu melhor amigo lhe sorria sem entender qual o motivo para tanta seriedade.

— Acho que eu que deveria me tornar auror, Puddimman. Não acha?

— Não acho nada, para ser sincero — Lorcan respondeu, brincando com os flocos de neve caídos nas tábuas de madeira — Talvez fosse mais legal ficar aqui pra sempre.

— Aqui... no píer?

— Não, Gingerman! Eu digo, aqui nesta idade, você sabe. Por que essa obsessão com o futuro?

Hugo pareceu refletir alguns instantes, e então tirou a varinha do bolso do suéter velho e gasto. Apontou-a na direção de salgueiros, e Lorcan arregalou os olhos debaixo do clarão causado pelo feitiço:

— Incendio! — Hugo gritou para a árvore, que, tão baixinha e nova, transformou-se em lenhas e acendeu-se como uma fogueira.

Lorcan permaneceu olhando-o em suas maneiras. Em seu modo de apertar as sobrancelhas, ou de inspirar o ar em suas narinas alérgicas ao frio.

— Ei, Gingerman! — Lorcan chamou-o outra vez.

— O quê?

— Você ainda não respondeu a minha pergunta. Por que quer tanto pensar no futuro?

— Você quer mesmo saber?

Lorcan balançou a cabeça em afirmativa. Hugo continuou:

— É o futuro que faz meu presente ter algum sentido, Puddimman. Consegue me entender?

— Um pouco...

Hugo balançou a cabeça e aproximou-se da fogueira para esquentar as mãos. Lorcan, que ainda estava deitado, arrastou-se para perto dele:

— Se você não me vê auror... O que você vê para mim, Gingerman?

— Hum... — Hugo mordeu os lábios e seu olhar perdeu-se vagamente ao dizer: — Acho que você terá uma família.

— Então, você fica com o melhor emprego do mundo e eu me contento com uma família?

Hugo não resistiu às risadas:

— Não reclame, Mr. Puddimman. Eu vejo uma mulher linda e sexy no seu futuro.

— Ei, ajudante da Sibila..!

— Pois não?

Lorcan respirou fundo e virou de barriga para cima, para olhar o céu com as primeiras estrelas.

— Sinto lhe decepcionar, mas duvido que eu esteja com uma esposa sexy no futuro.

— Mas por que não? — suas sobrancelhas se juntaram, e Lorcan achou aquilo uma graça — Lorcan, já conversamos sobre isso. Não se rebaixe.

— Não é isso que quero dizer.

— Então o que é?

Lorcan respirou fundo mais uma vez, e tentou não notar as bochechas e o nariz avermelhado de Hugo Weasley em reação a tanta neve congelante.

— É só que... É Natal, Gingerman. Por que estamos tendo este tipo de conversa, afinal?

— Porque foi você que me tirou da brincadeira do píer.

— Touchè.

E aí, Hugo sorriu, como de costume, e voltou a esquentar as mãos no fogo.

— Aliás, por que não está n’A Toca? Com os Weasleys? Com... Lily?

Havia uma pergunta não feita naquele questionamento. E é bem provável que Hugo soubesse qual era. Por isso, limitou-se a percorrer os dedos frios dentro de sua mochila, e tirar de lá um embrulho mal amarrado, para então estendê-lo ao amigo:

— Você tem razão, Puddimman — Hugo sorriu de canto e esperou-o desamarrar o presente — É Natal.

Então, quando Lorcan segurou o suéter azulado com a letra “L” bem no meio, ele pensou que fosse chorar. Ou rir. Ou os dois. Mas o que quer que fosse fazer foi adiado. Isso porque Hugo agachou-se ao seu lado:

— Gostou? — Hugo quis saber, e seus dedos tremiam por dentro das luvas.

Mas Lorcan respondeu com outra pergunta:

— Quando foi?

— Quando foi o quê?

— Quando que seu presente deixou de fazer sentido?

Lorcan não conseguiu tirar os olhos do suéter, que refletia a luz da lua.

Hugo, por sua vez, voltou às gargalhadas e bagunçou os fios finos que insistiam em bagunçar a visão de Lorcan Scamander:

— Feliz Natal, Puddimman.

E então, rápido o bastante para ser uma alucinação, Lorcan sentiu os lábios quentes de Hugo Weasley no topo de sua cabeça.

E ele era capaz de jurar ter sentido cheiro de gengibre.


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