Nunca Estive Sozinho... escrita por Nanandaime da Tijuca


Capítulo 1
Capítulo 1 - Natal


Notas iniciais do capítulo

Não tenho muito o que dizer. Espero que gostem e perdoem qqr erro, desu. Enjoy!



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Era Natal. O ar frio da noite de inverno de dezembro era congelante, a neve cobria boa parte das calçadas da vila de Konoha. Em cada casa que olhasse ver-se-iam enfeites natalinos; árvores de natal, pisca-pisca, bonecos de neves... Toda a magia daquele dia. Aquele era o dia que até os mais fortes e destemidos ninjas tiravam um dia de folga, davam uma trégua da vida como ninja ou para passar o natal com a família ou esposas. Dentro de suas casas, alheios ao frio lá fora, os pais contavam histórias sobre aquela época para os filhos, que se embrulhavam dos pés à cabeça para escutarem as histórias aquecidos. Todos riam, se divertiam. Todos juntos. Para aquelas pessoas, sejam ninjas, sejam aldeões, sejam lordes, sejam todos... Era uma época de comemorações.

Quase todos. Nem todos. Aquela noite, no meio daquele frio desumano, sentado em um banquinho quase coberto de gelo em uma praça, coberto por apenas um casaco e um cachecol vermelho, havia um menino de dez anos. Sozinho, como sempre foi. Para ele aquela época não significava nada. Enquanto todo mundo tinha uma família e todo mundo comemorava, ele não tinha ninguém para comemorar e nem uma família. Devia ter ficado em seu pequeno e apertado apartamento, dormindo, ou pelo menos fingindo dormir. Só ele e sua fiel companheira solidão, aquela que o acompanha desde o seu nascimento. Acontece que não conseguiria aguentar ouvir o barulho da felicidade da vizinha de cima, cheia do Espírito de natal, ou do vizinho de baixo, que cantava como se tivesse realmente com o espírito dentro dele. Desde que se conhece por gente, que é desde os seus sete anos, quando saiu do orfanato para viver sua vida como ninja, sempre naquela época, ele gostava de ficar ali, sozinho, naquele banco, longe da felicidade alheia. Achava que sua tristeza poderia contaminar tamanha felicidade.

Mais cedo, quando passeava pela geleira noturna das ruas de Konoha, vira uma família feliz no outro lado da janela brincar. A mãe cobria a menina de beijos, enquanto o pai a segurava, e ela sorria, com o presente em mãos. Aquela imagem feliz representava tudo o que ele não tinha. Uma família. E felicidade.

Por isso não gostava do Natal. Era só mais uma data idiota para ele. Como muitas outras comemorativas também eram. O natal só era uma vez no ano, por isso as pessoas tinham o sentimento de comemorar como se fosse o último. Todo ano, ano após ano.

O pequeno loirinho levantou a cabeça, os olhinhos azuis sem aquele brilho natural, o corpo tremendo de frio. Aguente firme, você é um ninja, ele se repreendia, dizendo a si mesmo que aquilo não era nada mais do que um treinamento de resistência. Ele era realmente um ninja. Muito embora desacreditado, escorraçado, ele era um.

Uma nova rajada de vento trouxe mais frio, mais forte, mais intenso. Ainda olhando para as estrelas, ele apertou os braços em volta do corpo, tentando se aquecer. Tentando desesperadamente extrair qualquer tipo de calor. E daí se era um ninja? Ele ainda era apenas uma criança de dez anos. Mas não iria voltar. Morreria congelado se preciso, mas não correria o risco de estragar aquela data tão especial para as outras pessoas. Sua presença já era indesejada enquanto normal, mais ainda seria naquela data. Aguentaria o frio como ninja, ou morreria tentando.

Não soube identificar quanto tempo estava ali, naquele banco, olhando para o céu, na mesma posição. Talvez já tivesse congelado o corpo, e tudo que restava era sua consciência, que logo, logo apagaria. Estava sentindo que cairia no sono. Achava ele que levou horas para piscar uma única vez, quando, no céu, um clarão iluminou fortemente a noite. Suas bochechas estavam rosadas, assim como o seu nariz, e ele deixou escapar um pequeno sorriso, achando que já estava delirando. Não sabia porque, mas o frio específico daquele natal era maior que os anteriores. Tanto que o fazia delirar. Achava que era o tal papai Noel, com seu trenó cheio de pisca-pisca brilhante. Mas não era, percebeu, ao olhar melhor aquele brilho que se distanciou no infinito do céu negro e se escondeu, como se fosse proibido se olhar algo tão bonito por mais tempo que aquilo. Era uma estrela cadente, que brilhava em várias cores diferentes e intensas. O espetáculo mais bonito que os astros haviam o proporcionado nos seus dez anos de vida e que seus olhos tiveram o prazer de verem enquanto ainda podia.

Fechou os olhos lentamente, como se estivesse apagando. Não acreditava em superstições e nem em contos, era um ninja, afinal. Mas o que mais ele poderia fazer em meio aquela sua pequena dor pessoal? Sabia que não poderia lhe dar, que uma estrela nunca traria uma família para ele. Para que pudesse comemorar todos os natais com ele, junto a ele. Mesmo assim o pediu. Era o seu maior e mais profundo desejo. Ter uma família que pudesse passar todos os natais com ele, durante todos os anos restantes de sua vida. Mais que isso, queria ter amor de uma família. Talvez até mais do que ser reconhecido como igual pelas pessoas da vila. Até mais que ser um Hokage.

Quando abriu um pouco os olhos, não havia família... Não havia ninguém além dele e sua solidão. Não ficou decepcionado. Não esperava obter nenhum tipo de desejo igual. Se não havia nenhum jutsu capaz de trazer sua família, uma estrela idiota o faria? Não era tão burro como parecia para acreditar. Além do mais, a estrela já havia passado quando fizera o pedido impulsivo. Acontece que a carência e a solidão eram tão grandes que não pode resistir. Mas já havia recuperado o controle. Pelo menos da consciência. Que sentia se apagar aos poucos. Via os finos blocos de neve sumindo pelos olhos entreabertos. Sumindo... Sumindo...

Não soube dizer, porém, quando não ficou mais sozinho. Levou um susto ao perceber que havia mais alguém no banco. Não sentiu medo e nem pavor, mas se assustou. E, mesmo que tivesse se assustado, não iria para lugar nenhum. Sentia cada células de seu corpo congeladas e seu corpo não conseguiria se mover. Por isso sustentou os olhos no homem, sem temer. Ele, por outro lado, tinha as expressões duras como ferro e a cara enrugada pela idade, fazendo muito bem parecer assustador. Mas Uzumaki Naruto não sentia medo e nem pavor. Ele seria um grande ninja que nada temeria no futuro.

— Quem é você? - sua voz saíra mais grossa que o normal, mais rouca, embora fina de acordo com sua idade imatura. Era devido a ter ficado exposto ao frio por muito tempo.

O homem demorou alguns segundos em silêncio.

— Eu poderia dizer, devido às circunstâncias que provém de hoje daqui, que sou o espírito do natal. – disse, sua voz emanando toda sua idade que parecia milênios de experiência adquirida. – Mas não vou dizer, pois não o sou. Sou, porém, aquele que é afamado pelo nome de Hagaromo, conhecido como Rikkudou Sennin. O arauto da paz.

O garotinho fez uma careta.

— Quem? – quis saber, logo balançando a cabeça freneticamente, contradizendo sua atual situação. – Não importa. O que faz aqui?

— Vim porque te convém.

— Me... Convém...?

O homem barbudo maneou levemente a cabeça.

— Exato, garotinho. Eu venho te observando durante um tempo. Um jinchuuriki que sofre o que vem sofrendo e não sucumbe a solidão e ao ódio. Que ama mais que deve, e que é o escolhido. Eu vim para que não se perca na conjectura do teu caminho.

— Do que está falando, velhote? Jin... O quê?

— É algo que você vai, eventualmente, acabar descobrindo. Quanto a sua primeira pergunta... – ele levantou levemente o dedo, apontando. Naruto o seguiu, no banco, ao lado do homem, havia uma outra pessoa, que parecia alheio aquela conversa e a tudo à redor. Jazia em repouso absoluto... Forçado. Quando seus olhos reconheceu aquela figura, ele deu um paço pra trás, caindo de bunda no chão, não sentindo, surpreso, a umidade do gelo em sua bunda. Sequer aquele frio da noite. E ele não devia estar sentado? Mas ele estava sentado, ali, no mesmo local, na mesma posição. Dormindo. – Ele é seu corpo, e você, a alma de seu corpo.

Naruto andou até seu corpo, ignorando o velho, e, hesitante, tocou o seu rosto e quase pulou para trás quando sua mão trespassou o corpo.

— Como isso é possível? – quis saber, espantado. Era como um bunshin, aquela técnica que ele não sabia fazer e que odiava justamente por não conseguir realiza-la.

— Pedistes, do fundo do teu coração, uma família. Eu, como um monge eremita, não tenho tamanha autoridade para burlar as leis da vida e da morte. Não por não poder fazer, mas por questão de ética. Mas posso lhe “mostrar”. Você está se sufocando em dor e solidão, e não posso parar de pensar que um dia poderá sucumbir a toda essa solidão. Como defensor da paz, não posso deixar que isso aconteça. Por isso separei tua alma do teu corpo. Quero te mostrar o que não vê. Você não está sozinho. Nunca esteve. Não vê por ser ignorante a sua volta, mas é protegido, querido e amado.

Aquilo apenas ficava mais confuso para Naruto.

— O que quer dizer?

O velhote lançou-lhe um olhar terno.

— Espere e observe em silêncio.

Naruto o obedeceu e esperou. Não tinha idéia do que iria acontecer, e nem estava ansioso por isso, era mais interessante e intrigante olhar para o seu corpo inerte. Ficou olhando para si mesmo tempo de mais enquanto nada acontecia, era apenas ele, o velho silencioso e a noite. O velhote havia fechado os olhos, e pareceu ter caído no sono. Naruto não ligou e voltou a olhar para si mesmo. Ele mesmo tremia, de frio. Talvez realmente morresse ali. Porém, sons de passos afundando no gelo tão sutilmente como pluma o fizera se desprender de sua curiosidade momentânea. Toda coberta dos pés à cabeça por um grande casado, apenas com os olhos perolados e grandes a mostra, ela se aproximou com dificuldades do seu corpo inerte. Havia saído de detrás de uma árvore, então, ela rodeou o banco, parecendo alheia as duas outras presenças, e tocou gentilmente a bochecha do adormecido com as mãos enluvadas. Tão sutilmente e tão carinhosamente... Naruto cresceu o olho, surpreso. Ainda alheia a isso, ela retirou suas luvas de pano grossas e, com cuidado, desprendeu as mãos do loiro de si mesmo, em seguida calçando as luvas em cada uma das mãos, antes de, ainda com cuidado, voltando a coloca-lo na mesma posição de antes.

— O... O que está fazendo, Hinata? – perguntou, quando ela retirou o seu casaco, que a deixava mais confortável, e cobriu seu corpo com ele, a deixando, agora, totalmente exposta ao frio do inverno. Mas ela não parecia ter o ouvido. Ela abraçou seu corpo quando o frio intenso veio. Agora parecendo desprotegida. Naruto não conseguia entender. Ela ficou o olhando por mais alguns minutos, antes de, depois de seu corpo mexer-se adaptando aquele novo conforto, ela sair correndo e com dificuldades para detrás da árvore. – Por que fez isso, Hinata? Me responda, ei!

— Não adianta, garoto. – respondeu o velhote, abrindo os olhos. – Ela não pode nos ouvir. Mais ninguém pode. Somos espíritos agora. Mas se quer saber porque ela fez isso, porque não descobre?

Não soube o quê, nem como, mas ao estalar os dedos, a noite não era mais noite, embora ainda houvesse muito gelo. Iria perguntar o que estava acontecendo, mas o velhote se antecipou, apontando.

Arregalou os olhos em surpresa quando reconheceu aquela memória. Três garotos zombavam de Hinata e ela estava chorando encolhida. Era covardia. Assim como naquela vez, quis avançar, mas um grito o fizera parar. Sua outra imagem vinha correndo ao auxílio da garotinha, com o cachecol vermelho enrolado no pescoço e o bafo frio saindo pela boca a cada palavra gritada. Ele tenta fazer um bunshin, mas falha miseravelmente e é motivo de risos. Aproveitando a deixa ele parte pra cima de um, o derrubando, mas eram três contra um e ele acaba apanhando. Os três após cessarem de baterem no garotinho, pegam o seu cachecol e começam a brincar, até no final não resta quase nada do cachecol. A menina se aproxima e se agacha, hesitante, mas preocupada e agradecida, mas ele se levanta e vai embora, os olhos inchados e a boca sangrando. Ela pega o cachecol em suas mãos e depois aperta contra o peito enquanto olha a imagem do loiro desaparecer pela estrada gelada. Naruto grava tudo aquilo com dúvida e fascínio.

Olha para o velhote com dúvidas.

— Ainda não entendo o que queria me mostrar.

— O começo. – não lhe respondeu nada. – Aqui foi o começo de tudo.

Novamente ele estala os dedo e o cenário muda. Agora não existia mais gelo, mas sim árvores. Naruto reconhecia aquele lugar, era seu lugar especial de treinos solo. Todo dia ele treinava arduamente ali. E ali estava ele, deitado de barriga para cima, esgotado e frustrado por não ter conseguido mais uma vez. Se levanta e tenta novamente e falha novamente. Mas não desiste. Tudo era conhecido por ele, tudo já foi vivido, porém, nem tudo. Nunca lembrava de ter visto ela ali, atrás daquela árvore, assim como na praça, escondida. Ela fazia uma expressão de preocupação toda vez que o seu eu caia, e seu corpo fazia um movimento involuntário de ir pra frente, mas ela parava toda vez quando ele levantava-se, para mais uma vez tentar. Ela tinha as mãos no coração e os olhos grudados no loiro. Olhos tão intensos e que pareciam admirar o que via.

Naruto a admirou ali, tão compenetrada.

Mas por quê? Sou somente eu ali.

O que ela fazia ali?

— Te observando. – disse o velhote, fazendo lembrar sua presença. – É o que ela sempre faz. Todo dia. É como uma rotina.

—Por quê? – quis saber.

Ele solta um pequeno sorriso, e tudo muda mais uma vez. Estavam em uma espécie de dojo e não estavam sozinhos. Haviam mais quatro pessoas, duas sentadas sob os joelhos de cabelos longos e com olhos parecidos com os de Hinata, e outras duas garotinhas no centro, pareciam prontas para lutar. A de cabelos azuis curtos era a Hinata, a reconheceu. Elas se curvaram e se puseram ambas em posição de luta. A mão direita aberta e a perna direita a frente enquanto a mão esquerda encolhida e a perna esquerda atrás, um pouco dobrada. Naruto nunca havia visto aquela posição de luta em nenhum estilo. Logo a luta deu início, lutavam um estilo de luta igual, atacando e defendendo, até que, em um movimento, Hinata abriu a guarda e foi acertada. Um dos que assistiam balançou a cabeça parecendo bastante decepcionado e levantou-se, saindo sem olhar para trás. Hinata acompanhou os passos do homem até sumir enquanto jazia no chão, seus olhos já cheios de água. Levantou-se e correu. Naruto a acompanhou, correndo também. Ela se trancou em seu quarto e Naruto teve de parar, com medo do baque da porta. Parou e respirou um pouco antes de tentar tocar a porta, mas sua mão trespassou. Havia esquecido, ele era um fantasma. Assim como um, ele invadiu o quarto e a viu num canto, com a cabeça entre as pernas e chorando. Seus soluços eram ouvidos, sua dor podia ser sentida. Naruto sentiu uma forte vontade de consola-la.

— Não pode. Ela é a herdeira da família principal Hyuuga, é uma obrigação ser forte, e isso é um fardo para ela, que não consegue não ser gentil com os outros. Isso está acabando com ela. A consumindo pouco a pouco.

Naruto não desviou os olhos da garotinha, que chorava compulsivamente.

— Mas ela... É tão pequena ainda. Por que tem que carregar esse fardo?

— Por ter nascido na família principal. É o destino dela.

Naruto discordou.

— Não. – disse. – Não é. O destino não manda em ninguém. As pessoas escolhem o que querem fazer. Ela não precisa suportar isso.

— E o que sugere? – Naruto ficou em silêncio. Não tinha idéia do que poderia fazer. Era apenas uma criança. - Vamos, quero te mostrar mais coisas.

Agora ele via ele e Hinata, pareciam um pouco mais velhos e ele usava bandana. Era um ninja? Havia virado um? Focou no seu eu mais velho. Parecia preocupado e hesitante. Ele encarou o chão e desabafou. Não sabia quem era Neji, mas pelo que entendeu, era um primo de Hinata. Ele tinha medo desse Neji?

Hinata agarrou-se mais à o tronco.

— Isso não é verdade... – discordou veemente ela. - Mesmo quando você falha... Nos meus olhos... Você é uma falha orgulhosa! Quando eu olho pra você... Eu fico com um intenso sentimento no coração... Porque você não é... Perfeito. Porque você falha e tem a força de levantar novamente. Acredito que essa é a verdadeira força. Pra mim você é uma pessoa incrivelmente forte, Naruto-kun...

Os lhos azuis dele brilharam intensos em resposta. Surpreso. Era como se ela tivesse acabado de desarma-lo, só que o contrário. Em seguida o rosto que parecia angustiado se suavizou tão rapidamente como se nunca tivesse preocupado, e ele abriu um largo sorriso pra ela. Uma clara e súbita mudança. Antes que pudesse ver mais, o cenário mudou novamente. Agora via ele... Ou o que parecia ser ele um pouco mais velho, no chão, com estacas penetrando seu corpo, indefeso. Um homem de cabelos laranja e olhos estranhos parecia ser o autor daquilo, e dialogava com ele. Quando ele achou que a conversa deveria terminar, Naruto viu, por cima, um vulto trespassar os céus e obrigar o homem desconhecido se afastar. A força do ataque no chão fizera o chão rachar e uma cratera rasa se abrir.

— Reforços...? – questionou o estranho.

— Não vou permitir que continue machucando o Naruto-kun! – disse a azulada, lançando ao homem um olhar feroz.

— O que você está fazendo aqui?! – gritou o seu eu abatido, desesperado. – Fuja, você não pode...!!!

— Eu sei... – o interrompeu, a voz toda serena. – Este é apenas um ato egoísta meu...

— Do que está falando?! Não tem porque você vir a um lugar tão perigoso!

— Estou aqui por vontade própria. – o surpreendeu, e em um de seus olhos, o direito, grandes veias saltaram. Enquanto falava, Hinata armava-se em sua posição de luta. A mesma do dojo. - Eu estava sempre chorando, desistindo antes mesmo de tentar... Sempre tentando do jeito errado. Mas, então, Naruto-kun... Você me mostrou o jeito certo de viver. Eu estava sempre atrás de você... Sempre tentando te alcançar... Queria tanto poder andar ao seu lado... Sempre próxima a você... Você foi aquele que me mudou. O seu sorriso foi o que me salvou... E por isso, se for pra te proteger, eu não tenho medo de morrer! Porque, Naruto-kun, eu te amo...

Tanto o garotinho intruso quanto o seu eu abatido arregalaram os olhos estáticos com aquelas palavras profundas. Ficaram sem reação, e então ela partiu para cima, mas antes de vê a conclusão de tudo aquilo, tudo desapareceu, e depois ele se encontrou novamente dentro de uma casa.

Era uma casa grande, cheia de vida. Havia flores em jarros em alguns cantos da casa, porta retratos de pessoas que não conhecia, mas podia supor quem eram alguns. Andou mais, curioso. A casa era quente e trazia uma alegria desconhecida para seu coração. Caminhou mais, explorando cada local da casa. Uma escada o levou até à um quarto e o que mais chamou atenção não fora o quarto bem organizado em si, mas sim a pessoa que estava de costas e ajoelhada sob uma almofada, olhando para o monte através da janela. Naruto Caminhou para sua frente, e a reconheceu dos porta retratos. Diferente dos cabelos azuis curtos da Hinata que conhecia, aqueles eram grandes, que caiam como cascatas por suas costas, chegando a tocar o chão naquele momento. Seus olhos exalavam uma pureza incomum, e uma lágrima escorreu por sua face. Naruto quis limpa-la, mas ela se antecipou.

Ela fechou os olhos e abriu um pequeno sorriso. Ela era a mulher mais linda que já vira em sua vida, usava um quimono branco com detalhes em preto, um batom sem muita cor nos lábios e uma flor presa no cabelo. Naruto estava encantado e seu coração se aqueceu estranhamente.

— Hinata...

— Naruto-kun... – ela sussurrou de olhos fechados, parecendo não acreditar. – Eu finalmente vou me casar com o Naruto-kun, Neji-nii-san... Queria que estivesse aqui comigo, para me vê casar... Irmão. É tudo graças a você... Obrigada, Neji-Nii-san, nós nunca esqueceremos você.

Então, ela se levantou, limpou as lágrimas e deu uma última olhada para o monte dos Hokages como se tivesse se despedindo antes de sair.

Naruto se viu agora em um local onde havia muitas pessoas, todas vestidas tradicionalmente. O que todos tinham em comum além das roupas era que todos rodeavam um “altar”, e sob ele, vestido também tradicionalmente, com cabelos loiros e curtos, com uma flor do lado do coração havia um homem. Seu ar maduro não dava brecha para achar outra coisa.

— Quem... É ele? – questionou, sem conseguir parar de olha-lo. Mesmo parecendo nervoso, o homem emitia empatia e alegria pelos poros.

— Não está se reconhecendo, garotinho? – Hagaromo perguntou e o menino arregalou os olhos.

— Sou eu?

— Sim.

— E o que ele está fazendo ali?

— Se casando.

— Se casando? Pra quê?

— Para construir uma família. – disse e os olhinhos azuis brilharam.

— Sério?

— Sério.

Naruto se calou, apreciando o sentimento daquelas palavras. Se casar significava ter uma família? Se se casasse agora, poderia ter uma? Seus questionamentos ficaram para depois, estava havendo uma comoção. Todos fitaram o espaço fora da multidão que fazia um caminho com expectativa. Logo a imagem da mulher de segundos atrás apareceu, grudada no braço de um homem, que tinha os mesmos olhos que ela. Ela tinha um caminhado firme e em nenhum momento a serenidade de outrora abandonara sua expressão. O homem a deixou no altar e depois se retirou.

Naruto assistiu toda a cerimônia e como eles pareciam encantados um com o outro. No final as pessoas aplaudiram e eles tocaram os lábios. Naruto viu outra lágrima solitária escorrer dos olhos da mulher enquanto o ato estranho acontecia. Gentilmente ele levou um dedo e limpou a lágrima, dando-a um largo sorriso, sussurrando algo inaudível aos ouvidos distantes.

Mais aplausos foram ouvidos. Os dois eram parabenizados.

Um homem subiu o altar, chorando, e abraçou o loiro. Tinha o cabelo amarrado em um rabo de cavalo. Seu rosto parecia familiar, e talvez realmente fosse o seu professor na academia ninja. Suas lágrimas eram de alegria e comoção, como se ele realmente estivesse feliz. Se sentiu amado.

— Vamos. – Aquele que se apresentou como Hagaromo o chamou.

— Pra onde?

— Para a parte final de sua vida.

Em um instante o cenário mudou novamente.

O cenário de gelo e à escuridão noturna retornaram, mas seus olhos não reconheceram aquele lugar.

Seus olhos procuraram o velhote.


— Onde estamos? – quis saber.

— Não reconheces tua aldeia?

O loirinho balançou a cabeça.

— Não, não. Aqui não é Konoha. Konoha não é assim.

O homem apontou para um lugar lá no alto.

— Reconheces, garotinho?

Os olhinhos azuis arregalaram ao reconhecer o monte dos Kages, agora com mais somas. Invés de quatro, tinham sete cabeças.

— Eram só quatro. Não sete.

— Isso é. Mas isso é no seu tempo. No futuro há sete Hokages de Konoha.

Naruto admirou mais ainda a visão.

— Quem são os outros três?

— Cada uma daquelas estátuas tem suas próprias histórias que os levaram ali. – disse, sábio. – Mas o último é aquele que foi escolhido pelo meu filho, que tem um coração brindado a ouro e que trouxe paz a todas as nações. – o velhote desviou os olhos do monte do Hokage e encarou o pequeno com olhos ternos. – Ele é aquele afamado pelo nome de Uzumaki Naruto. Ele é você.

Piscou três vezes antes de seus olhos voltarem-se para o velhote.

— Eu... Um Hokage?

O velhote balançou a cabeça.

— O Hokage que conseguiu reunir todas as nações. – antes que pudesse fazer mais perguntas sobre aquilo que mais desejava, tudo mudou novamente. Era uma sala, parecida com o escritório do velhote Sandaime; de lá de dentro podia-se vê boa parte das coisas lá fora, e como Konoha havia progredido. Mas sua atenção, porém, fora para o homem que jazia sentado em uma cadeira, com uma expressão de cansaço e tristeza no rosto. Era um homem bonito. – Ele é o Hokage. Ele é você.

Naruto o admirou mais um pouco. Vê aquele homem ali, que diziam ser ele, parecia loucura. Aquele homem exalava respeito e poder, tudo que ele nunca seria. Mas tinha os riscos na cara.

— O que ele está fazendo? Porque ele parece chateado?

— Nessa época do ano se comemora o natal. – disse. – É Natal e ele não pode estar com a família porque o trabalho como Hokage ocupa boa parte do seu tempo. Ele quer estar lá com a família, mas não pode, e isso está o deixando zangado e triste. Sabe, o filho dele é difícil.

—Filho?

— Dois. Um par.

— Uma família? E ela está esperando por ele para comemorar o natal?

Hagaromo concordou.

— Você entende rápido as coisas, garotinho.

Naruto voltou a olhar para o seu eu mais uma vez. Aos poucos a admiração fora se tornando em raiva e indignação. Tudo o que ele mais sempre quis fora ter uma família e agora que tinha ele preferia se trancar dentro de um escritório ao invés de estar com ela? Que tipo de pessoa havia se tornado?! Quis soca-lo, bater nele até entender que o lugar dele era lá, na casa dele, com sua família, comemorando o natal.

— Por quê? – quis entender.

— Ele é o Hokage. É o dever do Hokage.

Naruto se indignou mais ainda.

— É dever do Hokage ficar trancado aqui enquanto sua família está o esperando para comemorar o natal? Todas as famílias estão comemorando enquanto ele está aqui dentro, sozinho! Sozinho...

— É. – concordou. – Mas você não pode fazer nada. Esse era o seu sonho, não era?

O garoto não respondeu. Estava com raiva, triste e decepcionado. E chorando. Era isso? Mesmo depois de crescer e realizar seu sonho a sua sina era sempre ficar sozinho?

— Você não entende? – tudo sumiu e um novo local aparecera. Era uma grande casa, toda mobilada e apreciar estar bastante aquecida. Porta retratos espalhados por todos os locais. – Você nunca esteve sozinho.

Seus olhos seguiram o ponto para onde ele olhava. Sentada, sozinha, em frente uma lareira, havia uma mulher. Os cabelos negros-azulados eram curtos. Quando se aproximou a reconheceu de imediato.

— Hinata...

Embora estivesse de olhos fechados, a reconheceu. Estava encolhida no sofá, perto da lareira.

— Ela te esperou até adormecer. Você prometeu que iria participar desse natal. O filho não acreditou e foi dormir logo após cansar de esperar. Himawari, a menor, foi pega pelo sono e a mãe a levou para dormir. Mas ela voltou para cá, para esperar o marido que havia prometido voltar para comemorarem o natal. Ela esperou até cair no sono. Mesmo em leito ela espera pelo seu retorno.

O garotinho voltou a olhar para a mulher, sempre com a mesma admiração de sempre.

— Por quê?

Hagaromo deu-lhe um sorriso por cima da grande barba pontiaguda.

— Porque você prometeu.

Antes que pudesse entender a profundidade das palavras, a porta principal foi aberta. Ele deu um longo suspiro antes de entrar pela porta. Aproximou-se lentamente de onde estavam. Deu outro suspiro ao vê-la ali dormindo. Acocou-se até ficar a altura dela. Levou sua mão lentamente às bochechas dela, em uma pequena carícia.

— Eu sinto muito, Hinata. Eu não vim. Eu prometi.

Ele Sussurrou, se sentindo culpado. Naruto pode vê através da expressão dele o quanto ele estava triste com aquilo. Devia estar sentindo o mesmo com ele. O mesmo sentimento.

Ela se mexeu no sofá.

— Não. – respondeu e então abriu os olhos perolados. Ela encarou-o com grande intensidade e então, igual a ele, tocou a bochecha dele. – Você veio.

Ela era Hinata. Mesmo mais madura, ele a reconheceria em qualquer lugar. A sua gentileza a fazia única e inconfundível.

Ambos os Narutos a olharam se ajeitar no sofá, coçando os olhos.

— Eu dormi. – ela admitiu e Naruto soltou um risinho sem graça.

— É. – suspirou. – E Boruto e Himawari também...

— Boruto disse que não iria esperar, mas esperou até não aguentar mais. No fundo ele sabia que você viria. Himawari, coitada, não aguentou. Ela ainda é tão pequena. – disse, com ternura.

Naruto concordou com outro sorrisinho morto e sentou-se ao lado da esposa. Um pequeno silêncio se instalou.

— Não abriram os presentes. – Naruto disse para a esposa, olhando fixamente para a montanha de presentes perto da árvore de natal.

— Boruto não quis abrir. Ele não quis demonstrar, mas ele estava a sua espera. E Himawari sempre apoia as decisões mais sensatas do irmão.

O grande Hokage deixou-se abater. Não sabia o que se passava pela cabeça dele, mas podia adivinhar. Para alguém como ele a família era tudo. Sempre viveu sozinho, uma pessoa solitária. Agora, mesmo que tenha uma, não podia estar com ela. Naruto sentiu a dor que o seu eu futuro sentia.

Hinata pós a mão no ombro dele.

— Ainda dá tempo, querido. Não quisemos comemorar sem você aqui, mas agora já chegou. E daí se o natal já passou algumas horas? Ainda podemos comemorar.

— Mas as crianças....

— Tenho certeza que o Boruto não vai realmente ficar chateado de ser acordado se for para passar o natal ao lado do pai. Foi o presente que ele pediu. – Hinata sorriu pra ele. – Espere aqui, já, já eu volto.

Disse e saiu. Ambos os Narutos gravaram o trajeto que ela trajava com admiração e gratidão. Hyuuga Hinata era uma pessoa incrível, só não entendia porque havia escolhido alguém como ele.

Demorou-se alguns minutos antes de retornarem. O primeiro a aparecer no seu campo de visão foi um loiro emburrado, talvez um pouco mais velho do que ele, vestido um pijama de bananas; mais atrás, coçando os olhos, uma menina de cabelos azulados. Tinha mais ou menos sua idade; e, por fim, Hyuuga Hinata, a última.

— Papai! - a garotinha gritou e correu, parecendo despertar, assim que se deu conta da presença do pai. O Hokage levantou-se para receber a menor nos braços para abraça-la e beija-la no rosto. - Você veio mesmo!

— Unf! – bufou o terceiro loiro presente ali no recinto, de braços cruzados. – Atrasado... Atrasado mais veio, velhote!

O Hokage sorriu e abriu o outro braço livre, o chamando para um abraço. O garotinho hesitou algum tempinho, mas suas pernas se moveram e a cada passo aumentava uma marcha, até se vê nos braços do mais velho.

Naruto assistiu, fascinado, tudo o que se seguiu depois. Os quatro sentaram-se em frente à lareira e foram abrir os presentes. O pequeno garotinho gravou cada reação de cada pessoa daquela família. Podia não ser ele, mas se sentia em casa, como se fizesse parte daquilo. Mais que tudo, se sentia amado. E não mais sozinho.

Enquanto assistia a felicidade daquela que se dizia sua família do futuro, Naruto chorou. Pela primeira vez soube o que era ter uma família. O sorriso de cada uma daquelas pessoas era como um sorriso em sua alma. E ele chorou mais ainda.

— Eu... Não estou mais sozinho. – olhou para o sorriso da mulher que se tornara a sua tímida amiga da academia. – Nunca estive.

Hagaromo Aproximou-se.

— Então você finalmente percebeu. Você é um garoto de sorte, Uzumaki Naruto. Sei que nunca vai se perder. Devemos retornar. Quando acordar, tudo isso vai parecer um sonho. Se acredita ou não, é somente você quem decide. Feliz natal...

Seus sentidos captavam pequenos sonhos ir reconhecíveis à distância; se era da brisa da noite, do cair do gelo, não sabia. Com lentidão seus olhos se abriram para reconhecer o lugar. Desde que chegara ali, dali não mais saíra. Era como se tivesse congelado. Não sabia que horas era, mas onda havia frio. No entanto, não tão intenso como antes. Olhou para si e logo reconheceu o casaco que o cobria e as luvas que aqueciam suas mãos. Olhou para cima e fechou os olhos. A baforada gelada saia a cada respirada. Abriu os olhos e fitou o chão. Apertou o casaco contra a barriga para que não pudesse cair e deu um pequeno pulo do banco para seus pés tocarem o chão de gelo.

Pisou em cima da pegada curta e olhou para frente, para a árvore. Voltou a encarar o chão e deu outro passo, pondo em cima da outra pegada. Fez o mesmo movimento outra vez. E mais outra... Até chegar no final, atrás da árvore. Seus olhos avistaram pés soterrados no gelo e subiram. Estava de olhos fechados, as bochechas rosadas e tremendo de frio. Tirou a luva com cuidado para que pudesse tocar o rosto dela. Por um instante ela pareceu aceitar, suavizando a feição pelo toque, mas então ela abre os olhos perolados e os arregalam.

Naruto abre um grande sorriso pra ela e estende o casaco.

— Acho que isso é seu, Hinata. Muito obrigado!

Ela parece ficar mais vermelha ainda.

— N-Naruto-kun...

— Shii. – pede e põe o casaco sobre ela. Ele era forte e aguentava aquele frio. Pegou as mãos pequena que pareciam congeladas e as levou até a boca. Seus olhos encarando os escancarados dela.

—O... O que vai fazer?

Parou bem próximo de sua boca e soprou uma, duas, três vez.

— Esquenta-la. Está fria. Parece congelada. – disse. Então soprou mais outra vez. Abriu outro largo sorriso, mesmo sentindo a boca doer pela dormência do frio, e as calçou nas mãos dela. Outro largo sorriso. - Obrigado por sempre estar ao meu lado, Hinata!

Pela segunda vez, naquele dia, Uzumaki Naruto não passou o natal sozinho. A partir daquele dia o natal deixou de ser um incômodo, pois foi o dia que ele reconheceu a pessoa que sempre esteve preocupada com ele. Não sabia até onde aquilo que viveu enquanto dormia era real, mas sabia, porém, que sentiu cada emoção como se realmente estivesse lá.

Haviam se passado dois natais antes daquele depois de ter saído do orfanato, e em todos os dois, que dormia no relento do frio do inverno, acordava sempre, de alguma maneira, aconchegado em algum pano grosso e quente.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigado para quem leu ^^