Vestido de Baile escrita por hannahwest


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Apesar da Ino aparecer como uma espécie de anti-herói, ela é uma das minhas personagens favoritas, logo após Hinata, e devo tudo isso à uma das minhas autoras favoritas Pink Ringo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/71965/chapter/1

Vestido de Baile

 

     Sentada na cadeira do computador da prima, ela vasculhava os sites ä procura do pano de cetim costurado que seria perfeito para o seu baile de formatura do colegial.

 

     Ela nunca se preocupou com essas banalidades fúteis da sociedade consumista, mas dessa vez era diferente, tratava-se do seu ultimo ano na escola e o vestido ideal era, no mínimo, necessário para construir sua fantasia perfeita de último dia sob os refletores da adolescente dependente, pois, a partir da manhã seguinte a da formatura, se tornaria uma garota pronta para novas experiências.

 

     Quanto ao par?  Já conseguira, fizera um acordo com o desconhecido bonitão que estudava na mesma escola que a prima. Foi instintivo, abordara-o no meio da rua com os olhos fulminando de esperança, o que fora suficiente, já que ele não suportou negar o pedido e acabou acatando-o até com certa empolgação.

 

    Agora só lhe resta o MALDITO VESTIDO! POR QUE NO MUNDO VIRTUAL AS COISAS NÃO PODIAM SER MAIS ESPECÍFICAS?! Estava sentada naquela cadeira desconfortável há exatas duas horas e nada de aparecer o bendito site! Até sites impróprios havia encontrado, mas nada do seu vestido rosa descente! Aquele de “Barbie” que faria os outros garotos babarem aos seus pés e seu par bonitão ter que expulsá-los de perto de sua “mercadoria”.

 

     Ela pegou-se rindo desse pensamento, só em sonhos mesmo.

 

     - Cadê essa porcaria?! – grita ela lançando uma almofada na qual apoiava os cotovelos sobre a prima esparramada no chão

     - Já tentou o site da Vogue ou Dior? – pergunta a prima se espreguiçando

     - Só marcas básicas, não é? – diz ela revirando os olhos

     - Não entendo o seu problema.

     - O meu problema?

   

    Era a gota d água ouvir aquilo naquela altura do campeonato. É claro que haviam problemas, como os anatômicos, por exemplo. Por que Deus a desproveu de comissão de frente e supervalorizou sua testa? Injustiça, certeza, afinal ela sempre fora uma garota tão aplicada! Talvez devesse ter ouvido o conselho da tia avó caquética e ter passado cebola quando tinha 14 anos. Quem sabe ainda desse tempo, ou não.

 

    “Mundo cruel!”, praguejava mentalmente o excesso de decotes e falta de pano nos vestidos. Não que não quisesse mostrar alguns artifícios, isso se os tivesse, mas não usaria algo tão vulgar.          

 

-         Você é complexada.   – completa a prima voltando a vasculhar a revista adolescente atrás de algo interessante, para ela, como 10 novas maquiagens para a night

 

     Maquiagem, outro problema, desde que se entendia por gente só usara maquiagem uma vez, e mesmo assim obrigada ao ponto de terem de prendê-la a cadeira para conseguir passar o lápis preto, artifício que não gostava, mas como era necessário no look, optou por suportá-lo mais uma vez.

 

     O que queria era algo simples e elegante, rosa e longo, bonito e ofuscante? Difícil de achar? Sim, na concepção de uma garota inteligente como ela.

 

    E o cabelo? Nada de penteados elaborados, nada de coques, cachos extravagantes e, principalmente, nada de dois cilindros de fixador, seria um pecado abrir um buraco na camada de ozônio por um penteado. E também nada que lhe caísse sobre os olhos verdes, nada que não transparecesse sua autoconfiança, mesmo sendo fingida ou temporária.

 

     Eis então a autoconfiança. Queria estar bonita o suficiente para “esmagar” as vacas que se exibiram durante todo o colegial e a chamaram de “duas-costas”. No entanto, teria um prazer especial de retribuir as ofensas a uma certa loira, só que com classe, dando-lhe uma boa lição de superioridade.

 

-         Achei!

 

Dois meses depois

 

    O prateado do jogo de luz  e os refletores circulares banhavam o ginásio de luz. Ali, nem purpurina seria tão espalhafatosa quanto a decoração em si. Por quê? Bom, talvez porque o motivo da decoração “Via Láctea Prateada” fosse suficientemente chamativa por si só.

 

    E talvez aquilo ofuscasse as garotas que passaram horas e horas no salão se produzindo, exceto uma. 

 

    Ela adentrou de mãos dadas com um ruivo mal encarado, equilibrando-se no salto que resolveu seu problema de altura. O cara de olhos verdes não a reconheceu, ela estava diferente com os cabelos rosa presos num penteado singelo que reluzia sua esmeraldinas oculares, destacadas pela fina maquiagem feita elaboradamente e exclusivamente para deixá-la hipnotizante.

 

     A pele alva tomara uma textura macia mesmo visível sob os tecidos de seda esvoaçantes, a deslizarem sobre o piso como um lago de calmas ondas cintilantes, subindo de encontro ao busto firmemente preso, apertado e realçado, dando-lhe a impressão de serem duas delicadas esferas pulcras. 

 

    As costas levemente aparecendo eram apalpadas pelas mãos do rapaz que brincava com as finas alças transversais, o que a fez corar. 

 

   A música começou e eles estavam dançando tão próximos, que todos os olhares lançados, principalmente por uma loira raivosa, não a incomodava mais, pois a pele dele roçando na sua a fazia suspirar.       

“Fiz uma boa escolha!”, pensaram os dois ao mesmo tempo.

 

   O ruivo parou por uns instantes paras refletir enquanto a melodia prosseguia seu ritmo habitual, ele queria descrever o cheiro exalado por ela, mas era algo tão indescritivelmente bom que a expressão “rolou uma química” passou a fazer sentido, afinal, o doce não era tão doce, o forte não era tão notável, e a fragrância em si já não era tão comum.

 

    Resolveu desistir de pensar diante do olhar vitorioso daquela garota, especialmente quando sentiu a necessidade incontrolável de experimentar o néctar dos lábios daquela garota tão singular que fez seu olhar indiferente tomar outra expressão. Mas não era só o provar, pois sabia que se o fizesse a tomaria para si, somente si. Por quê? Por que queria desvendar o sabor escondido daquela boca vermelha tão sedutora.

 

-         Qual o sabor dos seus lábios? – pergunta ele num sopro de voz, fazendo arrepiar cada fio de cabelos do corpo da jovem

-         C-como? – estava confusa, ele queria beijá-la? Seria mesmo este belo ‘cara’ com quem dançava o garoto emburrado que por obra do destino, e deverás perseverança, aceitou seu convite tão desajeitadamente realizado?  Sim, era. E ele, sem saber explicar, estava preso no encanto misterioso unicamente naqueles olhos encontrado

-         Se não souber me responder, então terei que descobrir.

 

    Doce, salgado, azedo e amargo, todos os sentidos misturaram-se como uma corrente elétrica naquele beijo sôfrego. Enquanto ele tentava entender porque ela conseguia ser tão interessante, ela buscava desvendar o porquê de acha-lo tão arrogantemente perfeito. 

 

    Após os segundos, que mais pareceram minutos, ele cessou para então por em ordem as sensações.

 

-         Não é salgado... – reflete ele em voz alta, umedecendo os lábios para solver os últimos resquícios do sabor – Doce, azedo ou amargo. É úmido, quente e vicioso, mais forte que uma corrente elétrica de sabores. É algo do qual só eu quero ter o direito de desfrutar.

 

Ele passou a mãos pelo tecido rosado, e a puxou para mais perto, sem perceber o sorriso magnífico nos lábios vermelhos antes de tomá-los para si novamente.

 

   Sim, havia conseguido a alma daquilo, aquele que te deu confiança, o vestido de baile perfeito.

 

Fim

 

 

 

Dedicado a minha prima e a todas as garotas que sabem que por trás de toda uma futilidade aparente, mesmo que pensadores protestem, a confiança que o vestido perfeito lhe dá, nada mais pode oferecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!