Veneno escrita por Ragnhild


Capítulo 1
Você vê, Sherlock, mas não observa.


Notas iniciais do capítulo

Fanfic inspirada em um capítulo da autora Sherlolly mais linda que você respeita, Bloodstained. Com autorização da mesma, fiz essa pequena continuação.



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Cansaço. Provavelmente uma, não, duas crianças hoje. Acidente fatal. Excesso de café, ansiedade. Mancha na parte superior da blusa, foi surpreendida enquanto tomava a bebida. Talvez quando os corpos infantis tenham dado entrada no St. Barts. Não conseguiu ir ver o gato hoje, está preocupada se o mesmo recebeu o alimento que deveria ter sido dado pela vizinha uma hora após o horário convencional de almoço. Devido ao estresse, só mandou a SMS no táxi e espera a resposta. Celular no silencioso, porém função vibrar ativada.

Molly Hooper.

— Sherlock? O que está acontecendo?

— Mrs. Hudson! Mrs. Hudson! Chá para dois!

Ao deslocar-se da porta, conseguiu escutar a voz da idosa gritar um “não sou sua empregada”, porém sabia que em onze minutos teria chá e biscoitos frescos para ele e sua convidada. Aquela que mais importava, aquela que fazia o lado defeituoso de si vencer a razão.

— Sente-se, por favor, Molly. Sinto muito pela perda, embora não tenha necessariamente sido intíma da família dos falecidos, e sim, sua vizinha alimentou o gato e provavelmente o fará de novo se não aparecer em casa até nove da noite. Ah! O que me lembra que preciso de alguns dedos anelares, tenho um caso nível 8 que pode ser desvendado com um breve experimento acerca de anéis e seus diferentes materiais e pesos. O suéter é novo? Você deveria usá-lo mais. Realça sua pele, embora hoje esteja um pouco cansada.

— Sherlock, o que está acontecendo? Por que me chamou para vir aqui, mesmo que fosse inconveniente?

— Ah, sim, isso. Preciso de sua ajuda em um caso, um caso muito particular e que precisa, Molly Hooper, de sua maior discrição. Creio que para quem guardou a minha vida em segredo por anos saiba que algumas palavras podem ser fatais.

— Sherlock...

— Ontem consegui um caso nível 10. Obviamente minha mente aguçada conseguiria resolvê-lo em pouco tempo, ou pelo menos era isso que eu acreditava até ter que lidar com tudo... Isso. Livros, muitos livros. Nada realmente importante, toda aquela bobagem de amor platônico e afins, algo que pessoas menos interessantes devem ler. Nada contra você, porém sabemos que um artigo científico como o que você publicou há quatro dias é muito mais fundamental que um bando de letras desconexas sobre intimidades e desabrochar de rosas, uma comparação ridícula com a fantasia social da perda da virgindade. Enfim, o caso que estou trabalhando nesse momento precisa de informação crucial que está em um destes livros.

— E onde eu me encaixo? Conheço alguns destes, que aliás são sim interessantes, mas não posso ser de muita valia de não souber o que procurar.

Oh, Molly Hooper. Sempre tão cega a respeito de si.

— Molly, para este caso, preciso da definição de amor. Simples, rápida, objetiva. É de fundamental importância e pode valer a vida de um homem.

Nervosismo. Provavelmente algo no passado foi tocado, algo com relação a mim. Mordida no canto do lábio, ainda possui fantasias sexuais. Mistura de indignação com dúvida, não está procurando a resposta da pergunta.

— Sherlock, por favor, isso é ridículo. Amor não é algo definido, amor é sentido. Não sei qual psicopata você está perseguindo agora, e que Deus abençoe Londres, mas eu preciso de algo a mais que isso. É alguma definição literária, isso eu consigo ver, porém alguma época ou estilo de escrita específica?

Me joguei na poltrona mais próxima, bufando irritado e não escondendo minha insatisfação. Segundo minhas deduções, isso deveria ser mais fácil e rápido. “Ora, o grande Sherlock Holmes está com problemas justo em sua parte mais quebrada?” Agora não, Mycroft. A lucidez de um homem depende dessa resposta, a vida dele corre a cada segundo e preciso parar esse ciclo antes que leve a uma queda.

— Molly, você vê, mas não observa. Um homem foi envenenado com uma droga potente e certamente fatal, e precisamos dessa resposta pela vida dele. Não sei quanto tempo o mesmo irá durar, e com certeza ficar buscando terceiros sentidos na pergunta não vai salvar a pele deste ser.

— Não estou buscando terceiros sentidos, Sherlock, estou sendo sincera. Você não pode colocar dentro de uma categoria um sentimento que pode ser sentido de diferentes formas e intensidades. O amor de uma mãe é diferente do amor de um pai, por exemplo. Eu preciso saber do quê estamos falando exatamente aqui, qual a situação. Não posso trabalhar sem ter um espaço para isso.

Os lábios pequenos e finos tomaram um gole do chá, e somente com isso percebo que Mrs. Hudson provavelmente entrou e saiu do apartamento sem minha total percepção. Informação inútil perto da resposta que espero ter, evidentemente.

— Molly Hooper. Meu cliente, podemos colocar desta forma, está em agonizante sofrimento. Não encontra mais sentido em certos atos, vê lembranças de outra pessoa em outros. Está sorrindo de forma bizarra e não quer mais a mesma vida que tinha. Compreenda, neste caso, a vital importância que este homem tem para seu trabalho e vice versa. Meu cliente precisa aniquilar isso antes que tome proporções mais abrangentes.

— Sherlock...

— Quero dizer, onde está o sentido em desperdiçar tempo valioso somente em encarar uma pessoa? Que tipo de droga tão viciosa é essa? Assim eu pensava, até encontrar em algumas dessas baboseiras que você chama de literatura algo verossímil, o amor. Preciso de uma definição precisa, você precisa se tornar seu inimigo para matá-lo.

— Sherlock.

— Oh! Sim! O calor. Definitivamente um dos sintomas. Calor, muito calor. Calor no peito, nas bochechas e regiões intímas. Talvez um banho gelado ajude a retardar o avanço do veneno? Claro, afastar a pessoa do que a intoxica é o mais viável para evitar a contaminação, mas como proceder se o ato é impossível? É como respirar embaixo d’água, uma necessidade básica. Vital para o sucesso do meu cliente tanto no saber científico quanto pessoal.

— Sherlock.

— Um sacrifício necessário, creio. Oh, oh. Sim! Claro! E se...

— SHERLOCK.

Sobrancelhas unidas, lábio inferior saliente. Mãos em forma de punho, sentimento refreado. Indecisão e vontade, olhos percorrendo minha face em busca de alguma afirmação. Pisco duas vezes, tentando compreender mais a fundo sua expressão, quando recebo a resposta de uma forma divina. Como o Big Bang, sinto-a percorrendo meu ser, inundando meu cérebro com certeza. Molly Hooper tem razão. Amor não é definido, é sentido.

Assim como um beijo.


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