Era entardecer, mas o entardecer chegava cedo demais em São Petersburgo, e o lilás adornando o céu quase noturno fascinava Yuuri completamente. Suas orelhas estavam vermelhas — talvez por causa do frio, talvez por causa de um certo patinador russo segurando sua mão com um sorriso no rosto.

As luzes se acendiam com lentidão, e ele se sentia voando, seu estômago por baixo das diversas camadas de roupas de inverno retorcendo-se com felicidade e vergonha — a inocente vergonha de uma primeira paixão. Por mais frio que estivesse, Yuuri estava aquecido, pois Viktor Nikiforov estava de seu lado, e isso bastava.

Foi o próprio Yuuri que quebrou o silêncio entre eles — um silêncio gostoso, em que Yuuri deliciava-se completamente na companhia do outro.

— Viktor, o que você vai querer de aniversário? — sua voz era como um sussurro, destinada somente aos ouvidos do noivo. A neve demorava a cair, enfeitando os traços de o outro de modo angelical, quase.

Por sua vez, Viktor contentou-se em soltar um suspiro. Apertou um pouco mais a mão de Yuuri, fitando o mesmo com uma certa irritação brincalhona. — Já disse que só quero você, solnyshko. — piscou um dos olhos para o japonês, enquanto o mesmo virava a face, que, por sua vez, era decorada por um rubor envergonhado.

— Pare com isso, seu bobo. — ele voltou-se para o russo, dando um fim a caminhada pacífica que eles compartilhavam. Mirou o noivo, os olhos brilhando, e pegou a outra mão dele para si, ambos parados no passeio. — Eu me sinto mal por não te dar nada... você fez e ainda faz tanta coisa por mim... — suas palavras ainda eram baixas, como se para mascarar a emoção que elas radiavam.

Com um sorriso jovial, Viktor continua a caminhar, desvencilhando-se do aperto do outro. — Então, vou te levar a um lugar que tem algo que eu estou querendo faz um tempinho. Claro, só se você insiste.

Yuuri observou as lojas ao seu redor, ainda em confusão, antes de correr para alcançar Viktor novamente. — Óbvio! Me leve até lá.

Seu sorriso alargou-se, e Viktor guiou o japonês por São Petersburgo, novamente de mãos dadas. O céu já era estrelado quando o russo parou, e Yuuri sentiu suas sobrancelhas franzirem.

— Uma... ponte? — ele soltou uma risada, como se debochando do patinador. — O que, você quer que eu te compre uma ponte de natal?

Ignorando a fala de Yuuri, Viktor apontou para a ponte, sua expressão atenuando-se. — Essa é a ponte de Potseluev. Calma, você vai entender. — começou, observando os olhos confusos do noivo. — É um costume beijar as pessoas quando você passa por essa ponte. Boa sorte no amor, alguma coisa desse tipo. — Yuuri sentiu seu rosto avermelhar-se, e Viktor continuou. — Se você beijar alguém que você ama nessa ponte, vocês com certeza serão felizes no futuro. E é só isso que eu quero de você, Yuuri. Eu quero que você seja feliz, e eu quero que você seja meu.

O russo virou-se para seu noivo, tomando seus lábios em um beijo apaixonado. Ainda que inicialmente surpreso, Yuuri foi rápido em respondê-lo, com maior fervor ainda. Levaram alguns segundos para eles se separarem, o rosto de Yuuri completamente vermelho, entrando em um contraste magnífico com a neve que caía nos dois.

Ficaram ali, apreciando a companhia um do outro, arfando para reconquistar o fôlego.

— Esse foi o melhor presente de aniversário da minha vida. — Viktor anunciou, pressionando com carinho as mãos geladas do noivo.

— Cala a boca, Vitya. — e se pôs a beijá-lo novamente.