The Cursed Canvas escrita por Teruque


Capítulo 1
Uma noite fria de Natal




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A véspera de natal sempre fria, porém acolhedora. A neve caia branca e pura.

Crianças bem agasalhadas corriam pelas ruas, afundando naquele manto macio. Gritando e rindo. Nada parecia ser capaz de desfazer aquele momento de paz e alegria.

Afastado da zona de conforto familiar encontrava-se um pequeno casebre. Uma habitação rústica bem conservada e poderia se dar como deserta se não fosse pela jovem ajoelhada ao chão, a frente da varanda fazendo coelhos de neve.

Pequenos cachos loiros caiam sobre seu rosto enquanto fazia suas artes. Seus pensamentos ocultados pela concentração em cada detalhe moldado. Queria se distrair do mundo.

— Ele continua lá. – disse para si escondendo a mecha atrás da orelha. – A culpa ainda está o corroendo.

Decidiu levantar-se e bater a neve parada sobre a saia do vestido. E olhando rapidamente para o céu nublado, dirigiu-se para dentro da casa.

— Garry. – chamou suavemente, o encontrando em um cômodo praticamente vazio. Apenas com uma poltrona onde o rapaz estava sentado e um vaso no chão com uma única rosa vermelha em frente a um quadro do outro lado. - Está olhando essa pintura de novo?

— Hm... – respondeu sem vontade. – Ah... Sim.

“Esse quarto vazio é uma representação de sua alma”— pensava ao se aproximar do rapaz e passar os braços por seu pescoço. Encostando a cabeça em seu ombro. – “Eu queria poder aquecer seu coração...”

— Você trocou tudo que mais amava por essa pintura. – dizia calmamente. – Até aquele casaco que tanto amava... Ela é tão importante assim? Acha essa garota mais bonita que sua irmã?

— Não. Claro que não. – sorriu – Ainda é estranho. Você nunca me considerou como seu “irmão”. Por que isso agora, Mary? Quer que eu a considere minha irmã agora?

— Que seja. – se afastou em um movimento brusco. – Não somos irmãos de sangue mesmo.

“Você me deixa enjoada. Por que tinha que ser assim?”

— Não ligue tanto para laços sanguíneos. Você sempre será minha valiosa irmãzinha. – respondia sem abandonar o olhar vazio e um sorriso ilúcido. – Além disso, eu tenho esse sentimento apenas por você. A garota da pintura me desperta outro tipo de satisfação.

— E poderia dar nome a essa emoção?

—... Não. Eu acho que não. – suspirou debruçando-se ao braço da poltrona.

“Mentiroso...”

— Vamos Garry. É quase natal. Vamos lá fora. – o puxava pelo braço. – Ela continuará aqui te esperando.

“Não importa o que eu faça. Não importa para onde ele vá. Nem quantas pessoas conheça. Seu coração seguirá preso aqui. Nesse quarto. Com essa rosa e esse quadro.”

— Garry. – voltou a chamar docemente, esperando por uma reação.

“Posso tirá-lo desse quarto, mas ele nunca o deixará de verdade.”

— Você quer que eu brinque com você na neve? – indagou ameaçando levantar.

Não há nada que eu possa fazer. Não somos irmãos de sangue, mas temos cumplicidade em um ‘crime’”

Sim. Vamos ver os fogos. Logo será meia noite. Eu fiz coelhos na neve.

Ele não foi capaz de salvar aquela criança e me assusta nunca ter me culpado por isso. Eu roubei a ‘vida’ dela.”

— Ok... Já estou indo.

“Desde aquele dia, após a galeria de artes o vi se tornar essa casca vazia. Nós ‘matamos’ aquela criança ao permitir a minha liberdade.”

Logo estarei de volta. – voltou sua atenção uma última vez ao quadro. – Continue esperando por mim, Ib.

“Somos tudo que sobrou daquele dia. Como rosas secando lentamente.”

— Garry... – chamou mais uma vez sendo interrompida pelo barulho dos fogos do lado de fora.

— Vamos, Mary. Já começou.

—... Feliz Natal, Garry. – tentou sorrir para manter a farsa daquela vida superficial.


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Notas finais do capítulo

Feliz Natal para todos
E que ano que vem as boas ideias estejam conosco