Viagem escrita por Lady Lanai Carano


Capítulo 1
Viagem - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Ohayo/Konnitchiwa/Kombawa, minna-san!
Esse é um pequeno conto que eu tive a ideia enquanto viajava de ônibus. Mal consegui dormir depois de pensar nela. Mente de escritor é assim mesmo u.u
Enfim, aproveitem!



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Nós éramos do terceiro ano do Ensino Médio; digo éramos porque todos nos formamos na semana anterior. Como um presente de formatura a nós mesmos, resolvemos fazer uma viagem à praia.

Totalmente clichê, mas fora uma decisão praticamente unânime. Então, lá estávamos nós, um bando de adolescentes e jovens adultos de 17 e 18 anos, dentro de um ônibus, mais empolgados que crianças do primário em uma excursão ao zoológico.

O chacoalhar do ônibus passando pelos buracos na estrada impedia a maioria de nós de dormir, já que estávamos viajando de madrugada. Era um caos completo dentre do veículo, com várias músicas diferentes tocando de celulares diferentes, conversas, risadas, um ou outro casal disputando pela privacidade do banheiro. Mas, de certa forma, era aconchegante; depois de três anos juntos (sem contar o ensino fundamental), agíamos como uma grande família.

Estiquei a mão para o bagageiro acima da minha cabeça e puxei de lá uma bolsinha com alça à tiracolo e abri, tirando uma câmera de dentro. Aquele era praticamente o meu maior item de valor, tanto monetário quanto sentimental, já que a minha maior paixão é fotografia e filmagem. Eu até tinha passado em uma boa faculdade de Audiovisual, e mal podia esperar para testar câmeras muito mais sofisticadas que a minha.

Liguei o modo de vídeo e comecei a falar:

— Diário de Bordo da viagem de formatura da turma 3-B, primeiro dia. – Ao ver o que eu estava fazendo, alguns colegas acenaram para a câmera e disseram algumas coisas obscenas. – A viagem segue sem muitos problemas. Pena que estamos todos quebrados demais para alugar um ônibus mais confortável.

— Não consigo sentir meu traseiro depois de uma hora – uma garota atrás de mim gritou.

— Mas esperamos que o nosso destino seja mais divertido. – Voltei a câmera para a janela, onde só se via breu, mesmo que eu aumentasse ao máximo o ISO*. – Pode não parecer, mas estamos no meio de uma rodovia.

— E se o ônibus bater? – alguém gritou.

— Credo, não fala essas coisas – uma menina disse. Então, iniciou-se uma discussão sobre o que poderia acontecer durante o trajeto, desde as mais reais, como um assalto, até as mais fantasiosas, como um meteoro cair bem em cima do ônibus quando estivéssemos quase chegando ao nosso destino.

Eu estava prestes a virar a câmera novamente quando, em um piscar de olhos, eu consegui ver alguma coisa na janela. A princípio, parecia uma pessoa comum iluminada pelos faróis do ônibus, o que já era muito estranho. Mas a pessoa virou o rosto no exato momento que eu olhei, como se tivesse sido pega de surpresa – e sorriu.

Logo depois dela desaparecer, eu senti um arrepio passando pela minha espinha. Levantei bem rápido, com um péssimo pressentimento, prestes a implorar que parassem o ônibus, mas a minha voz foi encoberta pela buzina do veículo.

Logo depois, o ônibus sacudiu e eu perdi a consciência.

~//~

Quando eu despertei, semiconsciente, senti a parte de trás da minha cabeça latejar. Tentei alcançar o local com a mão, mas o meu braço estava preso em alguma coisa pesada. Quanto tentei movê-lo, uma dor excruciante subiu até meu ombro.

Gritei de dor e me encolhi. Olhando ao redor, percebi que estava caída na rua, com cacos de vidro e pedaços de metal perfurando e arranhando a minha pele. A coisa pesada que prendia o meu braço era – céus— o próprio ônibus, virado de ponta cabeça.

Usando a minha mão livre, peguei o celular do bolso para ligar para a emergência, mas ele estava estilhaçado. Em vão, tentei libertar o outro braço, mas a julgar pela dor que senti ao puxá-lo com um pouco de força a mais, eu havia deslocado o ombro ou algo pior.

Em meio aos meus gritos e gemidos de dor, comecei a recuperar a lucidez – e Deus sabe que eu gostaria de não ter recuperado. A visão do sangue dos meus amigos espalhado em poças no asfalto, e nas pontas afiadas das janelas quebradas era horrível. Gritei ao ver o corpo da garota que tinha medo de acidentes pendurado pela janela, flácido como uma boneca de pano.

Em meio àquilo, vi alguém andando. Quase chorei de alívio. Uma ajuda enfim!

— Ajude-me! – gritei, tentando acenar com a mão livre. – Ei! Aqui! Por favor!

A pessoa olhou para mim e ficou lá longe, parada. Depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade, ela andou na minha direção. Conforme ela se aproximou, notei que segurava uma coisa na mão direita, um pequeno galão transparente.

A pessoa jogou o líquido de dentro do galão por todo o meu corpo. Horrorizada, constatei o pior: o cheiro era de gasolina.

Com um sorriso macabro familiar, ela se afastou, derramando gasolina durante todo o trajeto, acendeu um isqueiro e jogou no chão. Só quando o fogo começou a se alastrar, percebi que tudo ao redor do ônibus estava molhado de gasolina.

Fechei os olhos um milésimo de segundo antes das chamas envolverem meu corpo.


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Notas finais do capítulo

*ISO é o nível de sensibilidade à luz de uma câmera. Quanto mais ISO, mais luz a câmera capta.
Obrigada por lerem até aqui!
Beijos de Mel ^^



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