Possuía em domínio dos dedos grossos e calejados nas pontas uma estrutura semelhante a uma base de cone com uma meia esfera no topo. O microfone em um tom escuro era tão duramente apertado que caso trocasse de lugar com o pescoço do homem à sua frente o mesmo estaria em outro plano astral com seu bilhete único de ida ao inferno em mãos. Não seria uma má ideia, pensou malignamente, porém muito trabalhosa e renderia muito tempo procurar outro empresário tão eficiente quanto ele.

Eficiente ao extremo, pensou sombriamente enquanto a expressão fechada consistida em um semicerrar de pálpebras, maxilar travado, lábios umedecidos com a língua firmemente apertados e sobrancelhas e testa franzidas em um escárnio mortal. Assemelhava-se a uma criança mimada, ignorando o fato enquanto direcionava todos os esforços para se manter impassível. Cruzando os braços, permaneceu parado no meio do palco não completamente arrumado pelo horário discrepante ao de sua apresentação; esta que possuía extrema vontade de cancelar para que suas lamentações infantis não fossem escutadas.

Porque ele era Justin Drew Bieber, mais um homem de vinte e quatro anos e um metro e setenta e cinco de altura o qual não possuía metas em amadurecer mentalmente. Se com pensamentos de adolescente sua conta bancária superava o Produto Interno Bruto de muitos países, imaginem o que conseguiria fazer se agisse como alguém de sua idade!

Felizmente, suas posses já eram o bastante para o manter, e em sua opinião não necessitava de mais, mesmo que a cada dia mais entulho de valor fosse jogado em si. Um suspiro irrompeu por sua garganta, fingiu não se importar com a atenção recebida de alguns ajudantes da equipe de montagem que no momento pareciam entretidos em realizar duas tarefas ao mesmo tempo. Incomodado com os olhares, porém em partes acostumado, procurou evitar uma reclamação e concentrar-se no de fios mais escuros e alinhados à sua frente, nada intimidado com a teimosia rotineira.

“— Uma babá?” O tom rouco em evidente desagrado fez-se presente, seu próprio dono dando ênfase à ultima palavra venenosamente. Em nada a notícia de outra sombra soava amigável; como se já não bastasse Scooter querendo adquirir as rédeas de sua vida e a mídia opinando sobre seu estado emocional. Muito bem, obrigado, e livre de certas ervas – exceto às quintas-feiras, certos hábitos nunca mudariam –.

O suspiro do outro exalava cansaço, entretanto não fora capaz de derreter a careta do menor. Estava enfadado de suas palhaçadas, e aquela há menos de horas atrás havia sido o último espetáculo não pago destinado à paparazzis e todos que estivessem fora de suas casas em plenas cinco da tarde. As manchetes, como sempre, caíram de boca na aparente desgraça do astro pop.

“— Uma psicóloga.” Corrigiu, buscando manter o mesmo tom compreensivo, fazendo com que Justin revirasse os olhos, soltando uma baforada enquanto forçava mais para cima sua testa sem maquiagem, evidenciando uma veia saliente no local.

“— Não sou louco.”  Retrucou o loiro em uma escala mais alta, exercendo uma maior pressão no objeto em mãos, piscando rapidamente para hidratar os globos oculares. Novamente teve o vislumbre de seu Braun em feições irritadas que faziam parte de seu orgulho se esvair. 

“— Você se faz. Estamos conversados, volte ao ensaio.” Com a ordem dada, o loiro não pôde fazer algo que não obedecer contra a sua vontade. Extravasaria toda a angústia no palco, como todas as vezes.