Traidor escrita por Luna


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

História para a Sara/Grim o. Espero que gostes!

Apenas como orientação: os eventos estão em ordem cronológica e o Rabastan é um ano mais novo que o Regulus.



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REGULUS

Infância

I

Rabastan estava sem ar quando entrou no quarto de Regulus: tinha corrido por quase metade da casa para lá chegar antes que Rodolphus notasse o que ele fez, mas, mesmo cansado, não conseguia deixar de sorrir.

— Conseguiste? — Regulus perguntou assim que Rabastan entrou.

— Sim, e acho que o Rolf não notou — Rabastan respondeu, sentando-se na cama à beira do amigo.

— Deixa-me ver!

— Pega. — Rabastan pegou na varinha que tinha roubado do irmão e escondido no seu manto e Regulus pegou-a com um olhar maravilhado no rosto. Eles viam varinhas todos os dias, mas raramente tinham a oportunidade de pegar numa. — Vais ajudar-me a fazer magia, não vais?

— Foi isso que combinamos, não foi? — Regulus revirou os olhos e, após analisar cuidadosamente a varinha, abanou-a no ar. Quando nada aconteceu, Regulus tentou outra vez, novamente sem sucesso. Ele bufou, irritado, e devolveu a varinha a Rabastan.

— Talvez funcione melhor contigo, já que és irmão dele. — Regulus tentou consolar Rabastan, quando a cara dele passou de entusiasmada para desiludida ao ver que o amigo não foi bem-sucedido. — Tenta tu fazer alguma coisa.

Rabastan abanou a varinha no ar, mas, tal como com Regulus, nada aconteceu. Rabastan suspirou e concentrou-se melhor, lembrando a cara de Rodolphus quando ele tenta fazer um feitiço mais complicado, e girou-a várias vezes no ar. A desilusão de Rabastan com o seu plano, que antes considerava de génio, só aumentou quando continuou a não acontecer nada.

— Não faz mal, Bas. — Regulus interrompeu-o, pousando a mão no seu ombro. — Ambos sabíamos que isto não ia funcionar. — Rabastan olhou-o quase a chorar. Regulus deu-lhe um pequeno sorriso, tentando não mostrar a sua preocupação por, nos seus sete anos de vida, Rabastan nunca ter feito magia. — Tenho a certeza que vais conseguir fazer magia, a sério. Mas agora é melhor irmos devolver a vari…

A porta abriu-se de repente, batendo na parede com força e interrompendo o discurso de Regulus. Os dois olharam na direção do barulho, assustados, para se depararem com Rodolphus. O irmão mais velho de Rabastan, cuja varinha lhe tinha sido roubada pelo irmão, olhava-os furioso; quando os seus olhos se focaram na varinha que Rabastan segurava, a sua fúria aumentou.

 — O que raio é que vocês pensam que estão a fazer? — Rodolphus gritou enquanto entrava no quarto. Rabastan fez uma careta quando o irmão se abaixou e lhe tirou a varinha das mãos, escondendo-a imediatamente na manga. — Ai de vocês que voltem a fazer algo assim! — Dirigiu-se para a porta aberta e, antes de sair, olhou para Rabastan e disse: — Tu e eu ainda vamos ter uma conversinha.

Rodolphus saiu do quarto, fechando a porta com tanta força quanta a que usou para a abrir.

Rabastan suspirou e Regulus tirou a sua mão do ombro dele, onde ainda estava pousada.

— Ao menos tentamos.

 

II

Sirius e Narcissa já estavam a discutir há dez minutos.

— Reg, podemos sair daqui? — Rabastan sussurrou no ouvido de Regulus, que estava sentado ao seu lado no banco do comboio, com uma voz frágil, procurando a mão do outro e apertando-a com força. Regulus olhou para Rabastan, ficando imediatamente preocupado ao ver o quão pálido ele estava.

— Claro. — Regulus levantou-se e soltou a sua mão. — Anda — disse, dando-lhe um sorriso que esperava ser reconfortante.

Rabastan seguiu-o pelo corredor do comboio, à procura da cabine livre mais próxima. Regulus, ao ver que estava tudo ocupado, acabou por entrar numa, que estaria livre se não estivesse ocupada por um rapaz magricela, do seu ano, com o símbolo de Ravenclaw ao peito. — Podes sair? Precisamos de estar aqui durante uns minutos — pediu com ar arrogante.

O rapaz olhou-o, amuado, mas fechou o livro e saiu, murmurando um “não demorem”.

— Estás bem? — Regulus perguntou assim que a porta se fechou, sentando-se num dos bancos e indicando a Rabastan que se sentasse à sua frente.

— Não.

— Porquê?

Regulus sabia o motivo pelo qual Rabastan não estava bem, afinal, o ano passado ele tinha estado naquela exata posição, com medo de cair na casa errada, principalmente depois de isso ter acontecido a Sirius. Sirius ter caído na casa errada não era exatamente o motivo que deixara Rabastan no presente estado; Rabastan tinha-lhe confessado que o facto da sua magia se ter manifestado muito mais tarde do que o habitual fazia-o perguntar-se se ele merecia, se era poderoso o suficiente, para ir para Slytherin.

— Vai correr bem — Regulus acabou por dizer, quando Rabastan se limitou a olhar para ele e não lhe respondeu. — Eu não te posso ajudar mais do que já ajudei, e tu não podes fazer nada mais para além daquilo que já fizeste. Agora relaxa. Vais ver que logo à noite estás a ir comigo para Slytherin.

— Mesmo? — Rabastan perguntou com esperança a brilhar nos olhos.

— Yup. — Após uma pausa, acrescentou. — Vais deixar o teu irmão orgulhoso.

Rabastan olhou-o com pena e Regulus fez uma careta. Desde que entrou para Hogwarts, Sirius nunca mais tinha ficado do seu lado ou orgulhoso de qualquer coisa que ele tenha feito. No entanto, isso acontecer com ele não significava que o mesmo fosse acontecer com Rabastan, e Regulus sabia que Rodolphus ia ficar contente com Bas.

— Anda, vamos ver se aqueles dois já se calaram.

Regulus levantou-se e Rabastan seguiu-o, dando um breve aperto na sua mão antes de saírem.

 

III

— Black, demoras muito?

Regulus sentiu alguém tocar-lhe no ombro e virou-se. Rabastan olhava-o, já vestido, pronto para se ir embora. Olhando em volta, pôde perceber que eles eram os únicos que ainda estavam no balneário.

— Deixa-me só pentear.

— Despacha-te. Estou esfomeado.

Regulus não respondeu, demasiado ocupado a olhar-se ao espelho e tirar o cabelo molhado da cara e do pescoço. Recentemente, o cabelo comprido tinha-o começado a irritar.

— Bas, como é que achavas que eu ficava se cortasse o cabelo?

Rabastan apareceu ao seu lado, com cara de choque.

— Cortares? Por onde?

— Sei lá. Tipo o do Crouch.

— Não sei, nunca pensei nisso. Mas não achas que isso seria um bocado curto demais? E não sei se o teu pai iria gostar muito — Rabastan respondeu, referindo-se ao facto do cabelo comprido preto ser uma imagem de marca dos Black e da maior parte das famílias de sangue-puro. — Agora podemos ir?

Regulus suspirou e saiu do espelho, tendo acabado de apanhar o cabelo ainda molhado.

— Provavelmente tens razão. — Regulus acabou de vestir a capa e de a apertar. — Vamos? — Regulus não esperou que Rabastan respondesse, saindo do balneário começando a seguir o pelo campo deserto.

— Sim. Vamos jantar e depois vens comigo à biblioteca, porque eu preciso de ajuda no trabalho que tenho que fazer para o Flitwick.

Regulus encarou Rabastan com uma sobrancelha erguida e um pequeno sorriso brincalhão.

— E quem te disse que eu te ia ajudar? Tenho que acabar o trabalho que o Slughorn pediu.

Rabastan revirou os olhos e pousou a sua mão no ombro de Regulus, aproximando a sua cara da dele.

— Regulus, podes fazer a gentileza de me ajudar com o meu trabalho de Feitiços hoje à noite? — Regulus sentiu a respiração quente de Rabastan na sua cara e virou-se para ver a cara do outro a centímetros da dele. Regulus suspirou, fingindo-se incomodado, antes de sorrir e apertar a bochecha de Bas carinhosamente.

— Claro. Agora vamos comer.

Rabastan deu-lhe um beijo na cara antes de se afastar e Regulus sorriu. Fora dos portões de Hogwarts, a guerra podia estar a começar, mas ele não se podia sentir mais em paz.

 

A Guerra

IV

Rabastan estava ferido. Regulus sentia que alguma coisa não estava bem desde o início do dia, quando ele foi tomar o pequeno-almoço e não conseguiu encontrar Rabastan na mesa dos Slytherin, mas não foi até entrar no quarto de Bas na Mansão Lestrange, depois de Rodolphus o ter ido buscar, que ele se apercebeu da gravidade da situação. Na mesa-de-cabeceira de Bas estavam três frascos de poções vazios e, devido ao facto da camisola do pijama de Rabastan não lhe cobrir os braços, Regulus conseguia ver o enorme curativo que lhe tinham feito.

Rabastan deu-lhe um sorriso fraco ao vê-lo entrar, que Regulus retribuiu.

— Eu vou dar-vos um momento — a feiticeira que o estava a vigiar Bas disse, saindo do quarto.

Regulus esperou que ela fechasse a porta para se sentar na cadeira à beira da cama de Rabastan.

— Hey — Regulus disse, pegando na mão não magoada de Rabastan com uma das suas e afastando-lhe o cabelo da testa com a outra.

— Hey — Rabastan respondeu.

— Como estás? — Regulus perguntou, tentando não fazer uma careta com a cara de dor que Rabastan fez quando se ajeitou na cama.

— Nada bem.

Regulus não respondeu e Rabastan não disse nada, deixando que silêncio se instalasse no quarto.

— O Lord não deve estar nada contente comigo — Rabastan acabou por dizer.

— Esquece isso agora — Regulus cortou-o logo que ele acabou de falar.

— Não consigo. Nós perdemos e a culpa foi minha — Regulus olhou para Rabastan, e não se surpreendeu ao ver lágrimas nos cantos dos seus olhos.

— A culpa não foi só tua, a culpa foi de todos. Estavam mal organizados, foi o que o Rodolphus disse. Não vai voltar a acontecer.

— Eu não sei como o vou voltar a encarar — Rabastan sussurrou, e desta vez uma lágrima realmente escorreu pela sua cara. Rabastan olhou-o com todo o seu rosto a suplicar por ajuda.

— Eu vou contigo se quiseres.

Rabastan acenou positivamente com a cabeça e largou a mão de Regulus, virando-se na cama de costas para ele, tentando ignorar a dor no braço.

Regulus suspirou e, depois de deixar um beijo no canto da testa de Rabastan, saiu do quarto.

 

V

Já há alguns anos que Rodolphus tinha comprado um pequeno apartamento numa das vilas mais ocupadas por feiticeiros da Grã-Bretanha, mas ele raramente ia lá. No entanto, eles estavam lá agora.

Depois da batalha que tiveram na noite anterior — que embora não tenha sido das mais sangrentas, foi das mais difíceis de ganhar —, Rodolphus tinha decidido desaparecer por dois dias e Rabastan decidiu ocupar o espaço, com Regulus com convidado.

— Estou tão cansado — Bas disse ao sentar-se no sofá ao lado de Regulus, que observava a lareira e o fogo nela contido.

— Eu também — Regulus concordou, voltando a sua atenção para o rapaz ao seu lado e deixando que ele se aninhasse contra ele.

Regulus não percebia o que se passava entre eles. Este arranjo que eles tinham manifestava-se tão poucas vezes e estava tão mal conversado que não podia ser chamado de relação, mas era também demasiado significante e sentido para ser um simples caso.

Houve uma época, há cerca de um ano atrás, quando eles ganharam as suas marcas, em que Rabastan começou a dormir com ele, embora dormir fosse a última coisa que faziam; nessa altura, Regulus pensou que talvez aquilo pudesse evoluir para algo mais — embora ele não soubesse exatamente o que «algo mais» significava. Atualmente, porém, ele não pensava isso; havia uma pequena parte dele que ainda gostava de ver até onde é que a sua relação com Rabastan podia ir, mas ele sabia que estava melhor assim — a guerra, à qual ele basicamente que se dedicava a tempo inteiro, já exigia muito de si; uma relação séria só iria atrapalhar tudo.

A resignação e a aceitação, porém, não o impediam de desfrutar daqueles momentos. Eles deviam estar em Hogwarts em vez de estarem ali, mas nos tempos que corriam ninguém realmente se importava, e quem se importava estava demasiado ocupado para notar. A guerra tornara-se a primeira prioridade de toda a gente.

Rabastan bocejou e Regulus apertou-o gentilmente.

— Queres ir para a cama? — perguntou.

— Já vamos. Quero ficar um bocado aqui por agora. — Rabastan calou-se, parecendo pensar no que ia dizer, e acrescentou: — Amanhã podes ajudar-me com os feitiços de proteção? Não posso deixar que o que aconteceu hoje se repita — Rabastan disse, com um olhar duro e decidido. Ele tinha cortado o cabelo recentemente, muito mais curto do que o de Regulus, o que lhe dava o perfeito ar de soldado.

Regulus acenou com a cabeça positivamente, lembrando-se do momento aterrorizador em que Rabastan quase foi feito em pedacinhos por um membro da Ordem devido ao seu escudo não ser forte o suficiente. Se fosse noutros tempos, um deslize assim tê-lo-ia deitado completamente abaixo; os tempos, porém, tinham mudado, e Rabastan não se deixara ficar para trás na mudança. Regulus podia dizer com confiança que, se não fosse ele ter acompanhado a transição, ele não seria capaz de reconhecer a pessoa ali com ele.

Apercebendo-se que Rabastan, que tinha a cabeça pousada no seu peito, não conseguia ver os seus movimentos, Regulus beijou-lhe o cabelo carinhosamente e disse:

— Claro.

 

VI

Regulus não conseguia perceber o que é que ele estava ali a fazer. Rosier tinha-o chamado na última reunião para o avisar que ele iria lutar na frente naquele dia. Não é que ele tivesse algo contra isso ou tivesse demonstrado que não concordava com aquilo — afinal, não havia razões para atrair para si atenção desnecessária —, mas toda a gente sabia que ele trabalhava melhor na linha defensiva, onde ele tinha tempo para pensar antes de agir e onde não tinha que ser ele a dar a cara.

— Hey. — Regulus virou-se bruscamente quando sentiu uma mão tocar no seu ombro. — Não esperava ver-te aqui.

Regulus surpreendeu-se ao ver Rabastan ali, embora não devesse. Ele estava diferente desde a última vez que Regulus o vira: tinha o cabelo ainda mais curto, a barba por fazer e o olhar duro. Estava quase irreconhecível.

— Também não esperava estar aqui — Regulus acabou por responder, soltando uma risadinha nervosa.

Rabastan sorriu-lhe, um sorriso pequeno e ligeiramente forçado.

— Não tens nada com que te preocupar. Estás connosco.

— Eu sei.

Rabastan sorriu-lhe e saiu para ir falar com Mulciber e Regulus suspirou. Ele nunca estivera tanto tempo sem ver Rabastan — quase dois meses — e a mudança nele era palpável, principalmente agora que ele não tinha estado lá para a acompanhar.

Ele observou Rabastan ao longe, a confiança no seu andar, e não tinha que pensar muito para saber quais são as razões para isso: Rabastan tinha começado a subir na hierarquia a passos largos, estando basicamente ao mesmo nível que Rodolphus; era o tipo de pessoa a quem agora se agora devia obediência. Enquanto isso acontecia com ele, Regulus tinha-se deixado ficar na mesma. Eles já não frequentavam as mesmas reuniões, lutavam nas mesmas posições ou tinham as mesmas tarefas. Rabastan era agora a estrela que Regulus nunca esteve destinado a ser.

A aproximação de Rabastan do sítio onde ele estava parado tirou-o dos seus pensamentos. Rabastan sorriu-lhe, um sorriso sincero desta vez, e deu-lhe uma leve palmada no ombro.

— Então, pronto para mais uma batalha? Estive a falar com Mulciber e vens comigo cobrir o lado oeste em vez de vir ele. Ainda bem que sim, estava farto de o aturar.

— A sério? — Regulus perguntou, não muito interessado.

— Ele é muito chato, ambos sabemos isso, mas eu não me posso livrar dele. Seria ridículo arriscar a minha vida só porque ele é uma lambe-botas. — Regulus não disse nada, mas Rabastan não pareceu estar importado com isso. — De qualquer maneira, és melhor ajuda do que ele.

Lutar na linha da frente não tinha nenhuns prós quando comparado a lutar na linha da defesa, mas cair na velha familiaridade de estar próximo de Rabastan tinha as suas vantagens, como o estranho conforto que o preencheu das duas vezes que Bas gritou pela sua ajuda e em que Regulus pôde brilhar um bocadinho mais que ele.

 

RABASTAN

O Traidor

A noite estava mais fria que o normal. Rabastan aconchegou-se melhor no seu manto enquanto caminhava em direção ao vulto de Regulus, que o esperava sentado num dos bancos do jardim.

— Hey — Rabastan cumprimentou quando o alcançou, pousando a mão no ombro de Regulus e sentando-se ao seu lado.

— Hey — Regulus respondeu enquanto afastava o cabelo dos olhos. Rabastan viu Regulus virar os olhos na sua direção e forçar um sorriso.

Ele parecia triste, Rabastan notou ao observar Regulus atentamente, reparando nos ombros caídos e nos olhos cansados. Na verdade, pela primeira vez desde que Rabastan tinha memória, Regulus realmente parecia mais velho do que ele.

Algo dentro de Rabastan rachou quando ele tentou procurar, debaixo da postura deprimida do amigo, algo que se assemelha-se ao Regulus que ele conhecia desde pequeno — a timidez, a simpatia, o ar acanhado —, e deparou-se com pouco. Remorso atacou-o nesse momento. Talvez se ele tivesse dado mais atenção ao seu melhor amigo durante os últimos tempos, mais atenção aos comportamentos poucos característicos e à atitude mais retraída do que o normal, talvez ele tivesse conseguido impedir que Regulus se sentisse assim neste momento.

Rabastan abriu a boca para perguntar a Regulus o que se passava, mas o outro foi mais rápido:

— Eu preciso de ajuda — Regulus disse, olhando para ele desesperado.

— O que foi? — Rabastan perguntou, procurando a mão do outro e apertando-a com força. Naquele momento, aquele era o único tipo de suporte que Rabastan conseguia fornecer. Regulus também parecia nervoso: ele mexia nas mangas do manto constantemente e abanava-se ligeiramente.

— Eu não te posso dizer concretamente, mas eu descobri umas coisas importantes sobre… — Regulus olhou em volta e aproximou-se de Rabastan, de modo a sussurrar no seu ouvido. — Sobre o Lord.

— Hã? — Rabastan disse, baralhado durante alguns momentos. — Descobriste o quê sobre quem?

— Já disse que não te posso dizer, Bas — Regulus repetiu, impaciente, parecendo não o ter ouvido.

— Regulus, eu não te consigo ajudar se não me disseres o que se passa — Rabastan respondeu com um tom de como se aquilo fosse óbvio.

— Podes sim. Diz que vens comigo e que me vais ajudar. Eu só preciso de ter alguém comigo.

— Reg, não estás a fazer sentido nenhum. De que raio é que estás a falar? Ajudar em quê? — Regulus não parava de revirar as mãos e olhar constantemente em volta. — Regulus, porque é que estás tão nervoso? O que é que se passa?

— Shh! Fala mais baixo! — Regulus pediu, olhando para ele com se ele estivesse louco. — Ninguém nos pode ouvir, ou estamos os dois mortos.

— Regulus, o que é que tu podes ter descoberto que… — Rabastan parou-o e piscou lentamente. — Regulus, o que tu descobriste implica trair-nos?

Regulus olhou-o, quase a chorar de desespero, e Rabastan não precisou de uma resposta verbal ou do aceno afirmativo que Regulus lhe deu. Ele devia ter visto isto a acontecer: Regulus ia em cada vez menos missões, parecia cada vez menos confortável e entusiasmado nas reuniões.

— Regulus, tu não podes. Tu não podes abandonar a nossa causa, a sobrevivência de uma comunidade mágica saudável, por algum estupidez que possas pensar ter descoberto — Rabastan disse, tendo cuidado em manter a voz baixa.

— Tu não percebes — Regulus disse com a voz estranhamente estável. — Rabastan, responde-me a uma pergunta e sê sincero: até onde estarias disposto a ir pela nossa causa?

— Certamente a mais longe que tu — Rabastan respondeu, sentindo algo semelhante a fúria começar a crescer dentro dele. Quem é que Regulus pensava que era para sentir que os podia abandonar, que o podia abandonar, por alguma estupidez que ele pensa ter encontrado? — Tu estás a ser ridículo, Regulus. Mesmo que tenhas descoberto alguma coisa assim tão importante, tu sabes que esta causa não é apenas do Lord. Esta causa é aquela pela qual os nossos pais, os nossos avós e os nossos amigos sempre lutaram. O Lord é apenas um líder, alguém capaz de nos guiar, alguém que foi corajoso o suficiente para dar a cara e assumir aquilo que todos nós sempre pensamos. Ao fazeres qualquer que seja a estupidez que estás a pensar fazer, tu não o estás só a trair a ele, estás a trair todos nós.

— Tu realmente acreditas nisso, não acreditas? — Regulus olhou-o com maldade. — Tens razão ao dizer que esta causa não é só nossa, mas estás a ser tão ingénuo quando dizes que o Lord é apenas um líder. Tu sabes que se algum de nós fizer alguma coisa com a qual ele não concorde, que ele nos mata. Ele não é um apenas um líder se nós estamos completamente à sua mercê.

— Então tu deixaste de acreditar em tudo aquilo pelo qual nós sempre lutamos, é isso?

— Claro que não, Rabastan! Tu sabes que eu não concordo e nunca concordei com todas as políticas pró-muggles do Dumbledore e que eu sempre acreditei e lutei por isto. — Regulus fez um gesto a indicar tudo o que os rodeava. — Mas, tal como tu disseste, eu não estou disposto a ir tão longe por esta causa como tu e o Lord.

Rabastan olhou-o, tentando encontrar alguma coisa, qualquer coisa em Regulus que o lembrasse do seu melhor amigo, mas nada parecia sobrar.

— Tu estás louco, Regulus.

— Talvez, mas se sim então é pelo motivo certo. — Regulus fechou os olhos e suspirou, procurando a mão de Rabastan que ele tinha largado. — Vem comigo, Rabastan. Vamos ficar do lado certo da História, lutar pela coisa certa, como sempre fizemos — Regulus pediu, pousando a outra mão na cara de Rabastan e olhando-o nos olhos, a implorar silenciosamente.

Rabastan levantou-se de repente, como se tivesse sido eletrocutado, separando-se completamente do toque de Regulus.

— Tu estás a fazer a coisa errada ao dizer que vais virar costas a todos nós. Eu não te reconheço Regulus. Tu faz o que quiseres, mas não contes comigo para nada. E pensa bem se o que quer que tu pensas em fazer é a coisa certa, pois tenho a certeza que não terás caminho de volta.

Rabastan sentia as lágrimas a formarem-se nos seus olhos e, com um último olhar para aquele que sempre foi o seu melhor amigo e talvez algo mais que isso, Rabastan voltou para casa.


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Notas finais do capítulo

Heey!! Antes de qualquer coisa, desculpa o atraso, mas tive um imprevisto que resultou nisto.
De qualquer maneira, espero que tenhas gostado. Eu tenho que admitir que estou muito contente com o resultado desta história; tinha a ideia na cabeça quase desde o início mas demorei muito a concretizá-la. No entanto, acho que até saiu bem (já agora, foi o meu AS mais longo).
Não sei se é aquilo que estavas à espera — se era esta a relação que imaginavas entre os personagens, se tem angst suficiente, se lês este tipo de histórias — mas eu tentei fazer o meu melhor a partir daquilo que me disseste.
Aproveito para dizer que eu não sei nada sobre estratégia militar e inventei em VI e que o ano de nascimento da Narcissa foi alterado para II. A história também estás escrita em pt-pt e os termos do universo de HP são os da tradução portuguesa, o que eu espero que não te incomode.
Espero realmente que tenhas gostado, porque eu escrevi a história com essa intenção, no entanto, se há algo que não imaginavas de desta forma ou que achas que pode melhorar, avisa.
E, claro, vou tentar arranjar uma capa durante os próximos dias.
Feliz Natal e um ótimo Ano Novo! :D