Misguided Angels escrita por Selene


Capítulo 2
Capítulo I - You found me


Notas iniciais do capítulo

Olá, 8 leitores! Fico muito feliz de ver que tem gente acompanhando ♥ espero que gostem do capítulo novo! Meu plano é postar toda sexta, se der tudo certo haha vejo vcs nas notas finais!



AVISO: Esse capítulo tem cenas que podem servir como gatilho para traumas relacionados à estupro e violência. Mil perdões ao que leram antes que eu editasse essas notas para avisar, eu realmente esqueci.


Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719384/chapter/2

Lost and insecure, you found me, you found me

 (Perdido e inseguro, você me encontrou, você me encontrou)

Lying on the floor, surrounded, surrounded

(Deitado no chão, cercado, cercado)

Just a little late, you found me, you found me

(Só um pouco tarde, você me encontrou, você me encontrou)

You found me – The Fray

O som dos tiros era alto o suficiente para ensurdecer algum desavisado. A construção tremia com as explosões, mas os três homens de pretos sentados no avião não muito longe dali pareciam achar tudo normal. A única coisa que atraiu sua atenção, na verdade, foram os homens que atravessaram as janelas, não tão sutilmente empurrados pela névoa vermelha. Ah, e a armadura vermelha e dourada que cortou o céu, entrando na construção por uma das janelas previamente estouradas. Fora isso, continuaram a observar pacientemente a neve cair, limpando suas armas bem lentamente.

Já dentro do edifício, o cenário era outro. Homens armados corriam em direção aos andares subterrâneos, determinados a defender os bens mais preciosos da instituição. No caminho, porém, o Homem de Ferro os esperava. E Anthony Stark estava inspirado para a luta.

Dois andares para baixo, Wanda Maximoff arrebentava a última porta do andar, dando passagem para seu companheiro e treinador, Steve Rogers, o famoso Capitão América. Jogou os últimos homens que podia pela janela, antes de entrar nos andares subterrâneos do edifício.

Natasha Romanoff deu um tchauzinho para os dois companheiros, apontando a arma em sua direção e acertando um dos agentes que se aproximava da Feiticeira. Os dois recém-chegados nem ao menos pareceram surpresos em ver todos os agentes caídos no chão, aos pés da Viúva Negra. Mas ela sabia que eles estavam. Ah, sabia! Viraram-se juntos para a imensa porta circular de metal em uma das paredes, o arrepiante símbolo da HYDRA pintado em vermelho por toda sua extensão. Stark chegou não muito depois, aterrissando atrás dos três, e suspirou dentro da armadura.

— Obrigado por me deixarem sozinho com dois andares de babacas, vocês são demais.

Natasha revirou os olhos, chutando o rosto de um agente da HYDRA que começava a se levantar.

— Se nós derrubamos todos você reclama, se não derrubamos você reclama também. Alguém já te disse que você está ficando velho?

Com a mão esquerda, Stark mostrou o dedo do meio para a ruiva. Com a direita, soltou um feixe de luz que atingiu a porta, arrancando-as das dobradiças. Do outro lado, mais um corredor. E, claro, mais agentes.

Eles correram, se espalhando, nem dando atenção ao colega que entrava voando por cima deles. Sam foi direto para uma das várias portas, seu pássaro de metal indo fiscalizar todas as outras. Wanda derrubava quantos via, e Steve arrombava as portas para dar passagem para Natasha. Stark atirava para todos os lados derrubando seus oponentes, até ser jogado para trás por uma garota que não devia ter nem a idade de Wanda.

— Eu não posso lutar contra uma criança! – Ele gritou, fazendo os colegas rirem. Wanda correu em sua direção, jogando a menina longe com seus poderes.

“Steve, você precisa ver isso aqui” – A voz de Sam ecoou pelos transmissores, chamando a atenção dos Vingadores. Em seguida, Natasha: “Aqui também, Rogers.”

O Capitão correu primeiro em direção à Nat, que estava mais perto. A mulher estava parada em frente a oito armários de metal, todos trancados. Atrás dela, mais três portas.

— Eu não entendi a tecnologia por trás dessas aqui. – Ela bufou, obviamente irritada. – Vou precisar de mais força bruta.

Ele assentiu, já chamando Wanda pelo comunicador. A Feiticeira correu até Romanoff ao mesmo tempo em que Rogers ia em direção ao Falcão.

Wilson estava parado em frente a uma grande porta branca. Abriu, revelando ao capitão um enorme quarto branco, muito parecido com o de um hospital. Seis garotas presas em macas por tiras de couro nos pulsos, tornozelos e pescoços, com tubos e agulhas em seus braços, desacordadas. Rogers mal teve tempo para formular uma frase, e a voz de Nathasha ecoou em sua mente, chamando-o novamente.

— Chame os agentes que ficaram lá em cima. – Wilson assentiu frente à ordem do Capitão, já levando a mão ao comunicador. – Vamos levá-las. Vamos descobrir sua utilidade à HYDRA.

Steve voltou para o lado de Natasha, e deparou-se com algo que parecia um laboratório de filmes de terror. Caixas, tubos de cores vibrantes, agulhas e instrumentos cirúrgicos estavam por toda a parte, cobrindo todas as paredes de uma das salas. A outra porta, por sua vez, dava para um quarto cheio de compartimentos, cada um com uma cama e um guarda-roupas.

— Onde é que nós nos enfiamos? – A voz de Stark rodou pelos comunicadores, e os outros não deixaram de assentir. Steve percebeu a expressão perturbada de Romanoff, que parecia querer correr dali o mais rápido possível.

— Tudo bem? – Natasha voltou-se para o amigo e assentiu, mas ele percebeu a preocupação da outra. Era quase como se ela reconhecesse aquele lugar.

— Que diabos é isso? – Dessa vez, a voz veio de Wanda. Entraram por outra das portas do corredor, e deram de cara com um imenso salão em forma de octógono, também com várias portas. No centro, algo que parecia uma imensa jaula, como a de um zoológico. Um arrepio percorreu a espinha dos Vingadores. Dava para sentir a crueldade daquele lugar.

 Stark abriu uma das portas do salão e chamou a atenção dos colegas para um imenso salão branco, com uma janela de vidro em um dos cantos.

— Nós estamos em um prédio de testes. – Wanda murmurou. Ela sabia, também já fora usada como cobaia. Ver Natasha assentir só fez um frio ainda mais intenso percorrer sua espinha. Afinal, a ruiva também fora usada por loucos.

— Capitei um sinal de vida aí onde vocês estão. – Sam se pronunciou pelo comunicador. – Parede esquerda, a porta parece bem grossa.

Os três voltaram-se para a direção indicada por Wilson. Uma porta enorme de metal, com tantos teclados ao seu redor que distraíram a ruiva. Stark preparou-se para atirar, mas Natasha segurou-o rapidamente.

— Não use fogo. A porta é protegida, e você pode machucar quem estiver lá dentro. – Ela virou-se para Wanda, que prontamente foi para a frente, esticando a mão e se concentrando.

Foram interrompidos por agentes que surgiram por uma das portas, provavelmente os últimos do complexo. Uma mulher de cabelos escuros arregalou os olhos ao ver o que Wanda fazia.

— Não! Não abram essa porta! – A mulher mirou a arma em direção à Feiticeira, e foi imediatamente derrubada por Steve. Wanda conseguiu abrir a porta ao mesmo tempo em que os parceiros derrubavam os últimos agentes de vermelho.

A nova sala era iluminada apenas pela luz que vinha da porta arrombada, mas isso era o suficiente. Eles arfaram ao entender o que estavam vendo.

No centro da sala, pendurada por correntes, uma garota. Seu corpo quase não tocava o chão, talvez pela maneira que ela estava presa. Seus olhos estavam tampados por uma venda de algo que parecia aço, sua boca e pescoço cobertos pelo mesmo material. Seu tronco preso em uma camisa de força, também do mesmo material, e suas pernas presas por correntes nos tornozelos, os joelhos arqueados de uma forma que apenas seus pés e cóccix pareciam tocar o chão. Ao redor disso tudo, uma argola de metal, circulando todo o seu corpo. As pernas estavam cheias de hematomas e cortes, assim como o pouco que aparecia de seu rosto, um filete de sangue ainda escorrendo de seu nariz e por suas pernas. O vestido branco – o mesmo que cobria as meninas encontradas no quarto anterior – estava rasgado e sujo, e os cabelos ruivos eram tão longos que chegavam ao chão, emaranhados em nós e cobertos de algo que parecia fuligem.

Wanda nem percebeu, mas chorava. Levantou as mãos para soltar a prisioneira, mas foi impedida por Stark.

— Não sabemos o porquê de ela estar presa. Não se precipite.

Mas Rogers já corria em direção à prisioneira, sem saber por onde começar a tentar soltá-la. Stark revirou os olhos, acompanhando a Viúva Negra, que também se juntava ao Capitão, com o olhar.

— Cuidado. Não a assuste.

O loiro assentiu, enquanto tentava delicadamente soltar a trava da venda da menina. Um clique ecoou pela sala quando ele conseguiu, e retirou a máscara devagar, deparando-se com pálpebras fechadas e muito sangue, tanto seco quanto novo, principalmente perto da sobrancelha esquerda da ruiva.

E então os olhos se abriram, e ele teve a sensação de que era Bucky ali. Não seu amigo de infância, mas o Soldado Invernal que reencontrara alguns anos antes. O mesmo medo, desespero e confusão estavam presentes naqueles olhos, tão azuis quanto os seus, cortados por traços acinzentados e azul escuros. Eram lindos olhos, mas carregados de tanta dor e desespero que ele sentia vontade de chorar.

A menina o encarou nos olhos, e ele viu o misto de surpresa e confusão. E então, medo. E ela tentou com todas as forças que tinha se afastar dele, arrastando os pés. Estava aterrorizada.

Wanda se aproximou, afastando Rogers da prisioneira. Ao ver a Feiticeira, a menina parou de se mexer, encarando-a com evidente confusão.

— Ela está com mais medo de mim. – Steve franziu as sobrancelhas, parecendo confuso. – Por quê?

— Porque você é homem. – Natasha murmurou. Vendo a expressão confusa do companheiro, ela apontou com o queixo para a parte de baixo do corpo da menina. Machucada. Arranhada. Roxa. O vestido rasgado. O sangue.

Steve teve que se apoiar em uma parede, porque teve certeza de que cairia a qualquer momento. A que ponto poderia chegar a crueldade daquelas pessoas?

— Nós vamos te tirar daqui. – Ele murmurou. A menina voltou seus olhos para ele, e ele viu com dor no coração quando aqueles olhos tão lindos se encheram de lágrimas. – Vamos te levar para um lugar seguro. Vamos cuidar de você, eu prometo. Por favor, confie em mim. Eu não vou te machucar.

Mas ele reconheceu aquele olhar nas orbes azuladas. Ela não sabia confiar. Não tinha noção do que era isso.

Ele quebrou as correntes que seguravam as pernas da prisioneira com seu escudo. Aproximou-se, passando um braço por debaixo de seus joelhos ralados e apoiando suas costas com o outro. Ela parecia tão assustada que era incapaz de se mover. Mas ele percebeu que não era isso. Ela não se movia, é verdade. Mas sabia que ele não a machucaria. Nem se ele quisesse.

Wanda quebrou as correntes que a prendiam pela camisa de força com um só movimento, atraindo o olhar curioso da menina. Enxugou suas lágrimas e saiu da sala, seguida pelos outros Vingadores e, por fim, Steve, carregando a ruiva nos braços. Até Tony tinha ficado em silêncio. Frente a tanta dor, nem ele sabia o que dizer.

Steve acompanhou com os olhos os movimentos da menina. Enquanto ele a carregava, ela deixou a cabeça pender para trás, sem se apoiar no corpo do soldado. Percebeu como ela fechava os olhos quando a luz ficava muito forte, e como ela os abria rapidamente para não perder nada. E então, quando chegaram na parte de fora e a neve tocou seu rosto, seu olhar pareceu perder um pouco do desespero. Ela fechou os olhos, e não os abriu novamente.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOo

Ela estava acostumada ao escuro. Na verdade, não conseguia se lembrar da luz. A quanto tempo não abria os olhos? Meses? Anos? Era difícil lembrar. A boca e o queixo estavam sempre dormentes, e agora sangue pingava de sua sobrancelha direto em seu olho. As pernas doíam, e ela quase não sentia mais seu corpo. Um dos agentes da HYDRA havia acabado de sair na sala, finalizando precocemente mais uma das sessões de tortura. Para ela, ao menos. Para eles aquilo era puro prazer. Cruel e sanguinário prazer.

Mas ela não se importava mais. Deixou seus sentimentos de lado quando perdeu o direito à vida. Agora era cega. Muda. Surda. Imóvel. Nada podia fazer, a não ser respirar, ansiar pela morte enquanto rodava em um looping cruel de memórias. Não se lembrava de muita coisa, é verdade. Mas as poucas lembranças partiam seu coração em tantos pedaços diferentes que ela não sabia se algum dia seria capaz de reconstruí-lo.

A sala era sonoramente isolada. Ela não deveria ouvir nada quando as portas estivessem fechadas. Quando sons de passos ecoaram em seus ouvidos, seu corpo estremeceu. A tortura acabara mais cedo para que outro pudesse aproveitá-la no mesmo dia?

Sua venda foi retirada, e ela pensou que estivesse sonhando. A primeira coisa que viu foi um par de olhos azuis, absurdamente claros, encarando-a. É um deles, ela pensou. E lutou para se afastar. Porque aquele não parecia ser como os outros. De alguma forma ele era diferente, e isso era aterrorizante.

E então uma jovem mulher apareceu em seu campo de visão, e ela chorava. Surpresa foi pouco. Ela ouviu suas vozes, e demorou um pouco para processar o inglês. O homem não sabia porque ela o temia. Oras, isso era hipocrisia demais.

Ele disse que a protegeria. Ele tinha compaixão nos olhos. Pena, talvez? E a garota que chorava? Ela tinha a sensação de que os conhecia.

Ela sentiu vergonha de si quando ele reconheceu porque ela o temia. Não era fraca. Não seria fraca. Mas ouvi-lo dizer que a ajudaria, a protegeria? Isso era demais. Ela estava desesperada sim, não tinha como negar. Estava presa a tanto tempo, tão sozinha. Ouvir alguém prometer ajuda, ver alguém chorar por ela... Isso era demais. E ela quis chorar.

Ele a pegou no colo e a levou para fora. O contato com o corpo de outro a assustava. Ela estava com medo, se controlando para não tremer. Viu a luz, e esta a machucou. Mas não queria perdê-la, não novamente. Fechou e abriu os olhos tantas vezes quanto podia. Conhecia aquele caminho. Ele estava a levando para fora. Viu a neve de longe, sentiu a brisa fresca em sua testa e pernas. Estremeceu. Estava de vestido, e a única coisa que a esquentava era o corpo do homem que a carregava. Quis correr para longe e desaparecer na neve, aceitar a morte.

Mas um floco caiu em seu rosto, e ela foi coberta por um sentimento de paz. Talvez estivesse realmente livre. Talvez ele não fosse mesmo machucá-la. Talvez ele não fosse usá-la, como todos os outros. Talvez ela finalmente pudesse encontrar seu fim. Ou, quem sabe, um novo recomeço?

Não. Fim. Ela queria o fim. Não tinha motivos para continuar ali. Fora inteira destruída. Sua mente estava em pedaços, seu corpo idem. E estava sozinha. Nem suas irmãs postiças estavam ali.

Ela fechou os olhos, torcendo para que ele a deixasse ali. Fechou, e não os abriu mais. Não merecia ver a beleza da neve. Fora corrompida. Tudo o que ela merecia era a morte, e nada mais.

Quando abriu os olhos novamente, já era dia. Sabia pela luz que entrava pelas janelas de onde quer que estivesse. Piscou várias vezes até se acostumar com a claridade, e respirou fundo. Sentiu o ar em sua boca e, de imediato, a abriu. Não era possível! Ela conseguia mexer a boca. Conseguia sorrir. Conseguia falar!

Suas bochechas doíam, mas ela conseguia mexê-las! Tentou levantar um pouco a cabeça, mas viu que o corpo ainda estava preso na maldita Coleira. As pernas, no entanto, estavam livres. Doloridas, mas livres. Ela as levantou até uma altura em que conseguisse vê-las. Roxas, arranhadas e com os joelhos esfolados, mas tudo já em processo de cura. Se ao menos pudesse tirar a maldita camisa de força para ter seus poderes de volta, seria ótimo.

Percebeu que por baixo do vestido, vestia algo. Roupa íntima? Um shorts? A quanto tempo não tinha isso? Tentou se mexer, e depois de muita luta e alguns malabarismos, conseguiu se sentar. Estava em uma cama grande, como nunca vira antes. Um quarto claro, em tons de branco e bege, com duas janelas abertas, as cortinas balançando com a brisa que vinha de fora. Ao seu lado, duas pequenas tigelas com água e um pano molhado. E sim, estava realmente de shorts. Com os ferimentos limpos. E algo que parecia remédio sobre eles. Onde diabos ela estava?

Abriu e fechou a boca, para se certificar de que não estava sonhando.  Suspirou fundo e deixou uma risadinha escapar pelos lábios. Podia falar!

Quase no mesmo instante, duas pessoas entraram no quarto. A primeira foi a garota que rompera suas correntes e chorara na Jaula. Atrás dela, o homem que a tirara de lá. Não conseguiu evitar o arrepio, e o instinto de encolher-se. Se odiou por ser e demonstrar-se fraca.

— Ah, você acordou! Que bom, estávamos preocupados. – A garota era toda sorrisos. Ela estranhou, mas gostou da voz e do sotaque curioso da morena. – Me chamo Wanda. Você sabe falar inglês?

A ruiva concordou com a cabeça. Wanda. A morena era Wanda.

— Esse é o Steve. – Ela apontou para o homem loiro. Ele deu um passo em sua direção, mas parou por lá ao ver a expressão da menina. Seus olhos gritavam para que ele mantivesse distância. – Não se preocupe, ele não vai te fazer mal. – Wanda sorriu, sentando-se na cama ao lado dela. – Pode me dizer seu nome?

Ela fechou os olhos, tentando se lembrar. Nome? Não fazia ideia.

— Zero? – A afirmação saiu mais como uma pergunta. Não se lembrava, e isso era quase outra tortura. Não sabia seu próprio nome!

— Zero? Como o número? – Steve perguntou, a voz mais baixa que a de Wanda. Ele estava se esforçando para não assustá-la, e isso era ao mesmo tempo adorável e irritante.

— Paciente Zero. Eu tenho um nome, mas não me lembro. – Ela tomou fôlego. Fazia tempo que não dizia uma só palavra, que dirá toda uma frase.

— Zero, então. – Wanda sorriu novamente. – Até você se lembrar, vamos te chamar de Zero. Você sabe me dizer do que é feito esse negócio ao seu redor? Não consegui soltá-lo.

A ruiva negou com a cabeça, e encarou a morena com curiosidade.

— Aquela névoa vermelha... Foi você? – Wanda assentiu, fazendo surgir um pouco da coisinha vermelha entre seus dedos. A outra observou com interesse. Wanda era como Hanwi. – Você nasceu assim?

A morena negou, fazendo sumir a névoa. Levantou-se, indo em direção às vasilhas com água e molhando o pano.

— Meu irmão e eu fomos cobaias alguns anos atrás. Acabei conseguindo esses poderes, e ele...

— Ficou rápido. – Steve completou, fazendo Wanda sorrir. Mas era perceptível que falar do irmão a incomodava.

— Eu sinto muito pelo seu irmão. – A ruiva murmurou, enquanto observava a expressão de surpresa da outra, que se aproximava com o pano.

— Como sabe? – Ela perguntou, enquanto passava o pano molhado pela sobrancelha da ruiva, que segurou-se para não se esquivar.

— Você reconhece esse tipo de dor se também a experimentou. – A outra murmurou, e então voltou-se para Steve. Ele apenas as observava, em silêncio, e aquilo estava começando a incomodá-la. – Obrigada.

Steve percebeu que aquela palavra saíra com dificuldade. Se aproximou um único passo, até ver que ela arregalara levemente os olhos. Não podia deixar de sentir raiva, não dela, mas dos monstros que a machucaram. Ela parecia tão agressiva quanto uma boneca de pano.

— Nós vamos punir as pessoas que te machucaram, Zero. – Sua voz soou confiante até mesmo para ele. Wanda sorriu em silêncio. – Você está segura agora.

A ruiva assentiu, sentindo aquelas palavras ecoarem em sua mente. Sua cabeça começou a rodar, e ela quis vomitar. E então, enquanto ele saía do quarto e Wanda levava a vasilha até uma porta que passara despercebida, algo surgiu em sua mente. Um nome, tão claro quanto a luz que entrava pelas janelas.

— Selene. Meu nome é Selene.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Boa noite galeris! Espero que tenham gostado, de coração! Vejo vocês nos comentários? ♥