紅葉 (Kōyō) escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, você!

Se você for minha amiga secreta: seu presente foi feito com muito amor, rascunhos e desespero. Te adoro muito, não vou mentir. ♥

Se você não for minha amiga secreta: espero que aprecie a leitura! ♥



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                — Ah, é tão injusto que a biblioteca não feche mesmo no feriado — Ino desabou sobre o balcão de atendimento, derrubando o porta-lápis.

                — Bom, algumas pessoas aproveitam o dia para ficar lendo por aqui — Sakura ajeitou os lápis, dando um tapinha brincalhão na cabeça inerte da amiga.

 Era o primeiro dia de outono, Shuubun no Hi. O primeiro dos últimos dias de Sakura trabalhando na Biblioteca Municipal.

 Antes que o inverno chegasse, ela estaria de malas prontas para se mudar para Veneza. Vinha sonhando com esse dia desde que, numa noite chuvosa há cinco anos, quando ainda era uma caloura na faculdade, iniciou seu livro nas páginas amareladas de um caderno de notas. O livro se tornara um projeto engavetado logo após o primeiro capítulo e, desde então, Sakura se limitara a acrescentar-lhe novas partes de maneira desconexa e esporádica.

 Mas agora que tinha eliminado as últimas matérias da faculdade, a cerimônia de graduação acenara o fim de seus dias repletos de lamúria. Ela tinha aguentado o curso de Administração até a última e mal acreditava que finalmente estava livre para começar a buscar novos ares — os ares que queria desde que estava no colegial.

                — Ninguém veio — Ino apoiou os cotovelos sobre o balcão, bocejando. — Você que se a gente fechasse as portas e fosse embora alguém ia perceber?

 Sakura estava fitando a rua além das portas de vidro da biblioteca. As folhas das árvores no parque do outro lado estavam começando a assumir um laranja ameno. Desejou que pudesse comprar a sugestão de Ino sem remorsos e atravessar a rua para escrever no parque. Mas eram seus últimos dias no trabalho e ela queria fazer as coisas do jeito certo.

                — Vamos só aceitar — suspirou, varrendo a biblioteca vazia com os olhos. — Além do mais, seu turno acaba em duas horas. Eu vou ter que fechar isso aqui sozinha.

                — Pobrezinha — Ino lhe mostrou a língua, abrindo um sorriso jocoso.

—-x—

 Itachi aproveitou o sinal vermelho para se livrar da gravata, suspirando pesadamente. Seu plano inicial para o dia era ir para casa após o trabalho, abrir uma cerveja na varanda do apartamento e apreciar o clima agradável do outono. Mas, a despeito disso, Deidara telefonara para ele naquela tarde e o encarregara de salvar seu pescoço na Biblioteca Municipal.

 Livre do trabalho, o amigo estava em Akita, relaxando nas fontes termais. Itachi pensara que fazer a devolução de um livro na biblioteca seria a última de suas preocupações. Porém, tinha se surpreendido ao descobrir que até mesmo Deidara podia ter um pingo de responsabilidade às vezes.

 A Bilioteca Municipal surgiu numa virada de rua, com umas poucas luzes ainda acesas no térreo. Itachi estacionou o carro na primeira vaga que encontrou, apressando-se para alcançar o livro no banco do carona e salvar Deidara de uma multa. Os degraus de pedra da biblioteca nunca lhe pareceram tantos e tão cansativo, incutindo-lhe a vontade de simplesmente voltar para o carro e mandar a multa do amigo se danar.

 Assim que alcançara o último, as luzes dentro da biblioteca se apagaram, fazendo com ele soltasse um palavrão entredentes. O livro acertou a lateral de sua coxa bruscamente, num gesto de indignação irritado.

 Era pleno feriado de outono, e ele xingava Deidara e o mundo em frente à Biblioteca Municipal enquanto poderia estar tomando uma cerveja.

                — Só pode estar de brincadeira — Itachi forçou as maçanetas, mas as portas não lhe cederam passagem.

 Persistiu nos puxões pelo o que pareceu uma eternidade, reclamando sozinho com o livro de Deidara preso entre os joelhos. Então o trinco das portas abriu-se e as folhas de vidro o empurraram para os degraus. Seu equilíbrio vacilou na beira do primeiro, deixando que o livro caísse no chão.

                — Posso ajudá-lo?

 Itachi recuperou os livros e levantou os olhos para a bibliotecária. Ela o encarava com as sobrancelhas erguidas, desconfiada e alarmada. O modo defensivo como segurava a bolsa e as pastas L evidenciavam que estava pronta para correr ao menor movimento suspeito da parte dele.

                — Na verdade, pode sim — ele suspirou, passando uma mão pelos cabelos longos levemente desalinhados. — Preciso devolver isso — esticou o livro na direção dela, já mentalizando a quantidade de metros até o carro.

                — Não sei se o senhor percebeu, mas já fechamos por hoje — ela gesticulou para a biblioteca mergulhada no escuro atrás de si.

 Esforçando-se para permanecer calmo, Itachi massageou as têmporas e recolheu o livro. Poderia descontar sua raiva em Deidara no dia seguinte, mas deveria poupar a bibliotecária.

                — Olha, estou aqui fazendo um favor a um amigo. É feriado, está uma noite ótima e eu certamente gostaria de me encontrar em casa. Mas estou aqui, tentando fazer uma devolução para um amigo — ele balançou o livro, falando devagar.

 A bibliotecária abraçou as pastas contra o peito, apoiando-se numa das pernas numa postura impaciente.

                — Sei que a senhorita não tem absolutamente nada a ver com isso e que a irresponsabilidade de um usuário não é seu problema, mas... eu realmente apreciaria se pudesse fazer disso uma exceção... — ele inclinou-se para ler o nome no crachá preso ao suéter dela — Haruno-san.

 A brisa noturna balançou a copa das árvores no parque do outro lado da rua, agitando também a barra do fraque de Itachi e da saia de Haruno.

 Ela estudou sua aparência de cima a baixo, avaliando seu pedido. Itachi sentiu que um “não” inquestionável se formava em suas lábios e se sentiu subitamente cansado. Assim como o problema de Deidara não era da bibliotecária, também não era seu, e ter atravessado a cidade para resolvê-lo agora lhe soava uma perda de tempo.

 Ele fez menção de dar meia volta e esquecer aquilo tudo, mas um suspiro conformado da bibliotecária o impediu.

                — Acho que tentar ajudar os amigos é sempre uma atitude louvável — ela lhe sorriu, empurrando uma das portas no sentido contrário e abrindo a biblioteca para Itachi. — Mas vamos ser breves, por favor. Eu também não vejo a hora de chegar em casa.

 Itachi a reverenciou polidamente em sinal de agradecimento, adentrando o saguão repleto de quadros de aviso e mesas de espera rapidamente. Haruno afastou-se dele por um instante para ligar algumas luzes, caminhando para o balcão de atendimento em seguida e convidando-o a segui-la.

                 — Vou precisar da carteirinha do seu amigo — ela sumiu atrás do balcão e voltou com um livro ata em mãos.

 Assim como Deidara explicara, a carteirinha se encontrava na contracapa do livro, juntamente com o cartão de identificação do mesmo. Itachi apanhou os dois e os deslizou para Haruno, sustentando um sorriso que era um misto de alívio e gratidão.

 A bibliotecária subiu uma caixa repleta de fichas e mais fichas unidas duas a duas por clipes de metal, vasculhando-as em busca de alguma que exibisse o nome de Deidara. Itachi aproveitou para esquadrinhar a biblioteca, procurando não apressá-la com seu olhar curioso. Reparou nas mesas para estudos além do balcão, nas estantes de metal que formavam um labirinto minimalista, nos lustres que pendiam de fios compridos do teto e no mezanino às escuras. Era um local grande, que provocava uma sensação de solidão com seus livros fechados e espremidos nas prateleiras e suas mesas vazias.

                — Pronto — Haruno lhe devolveu a carteirinha de Deidara, arrumando o balcão.

                — Foi muito gentil da sua parte — ele sorriu, enfiando a carteirinha no bolso da calça social —, obrigado.

                — Não tem de quê — a bibliotecária assentiu, apanhando a bolsa e as pastas.

 Mais calmos do que antes, os dois deixaram a biblioteca num silêncio confortável. Itachi esperou educadamente que Haruno apagasse as luzes e trancasse as portas, acompanhando o tilintar do molho de chaves sob a luz âmbar dos postes de luz da rua.

                — Bom, eu vou por este lado — ela apontou na direção da avenida que levava para a estação de metrô, descendo um degrau. — Espero que seu amigo lhe dê alguma compensação pelo incômodo — riu, ajeitando as pastas nos braços.

 Itachi reparou em seus olhos verdes — que agora haviam baixado a guarda — e pensou que eles combinavam com aquela noite agradável de outono. Acompanhou seu riso, descendo para o mesmo degrau com os olhos postos nos portões do parque.

                — Não foi incômodo nenhum.

                — Você parece ser uma boa pessoa — Haruno lhe sorriu de maneira contida, colocando uma mecha do cabelo curto atrás da orelha.

                — A propósito, acho que a senhorita é quem merece uma compensação por isso tudo — ele enfiou uma das mãos no bolso, apontando com o queixo na direção que ela indicara. — Talvez você possa deixar o metrô de lado por hoje e aceitar minha carona.

                — Eu não costumo aceitar caronas de pessoas que nem sei o nome — Haruno riu.

 Itachi meneou a cabeça negativamente, estendendo uma mão para ela.

                — Uchiha. Uchiha Itachi — apresentou-se com um olhar que pedia uma segunda chance.

 A bibliotecária olhou de sua mão para seu rosto, parecendo decidir-se se aquilo valia pena ou não. Por fim, cumprimentou-o desajeitadamente.

                — Haruno. Haruno Sakura.

                — E então?

 Sakura olhou para o carro preto e comprido estacionado em frente aos degraus, um modelo da Toyota que ela não sabia o nome. Olhou para seu mais novo conhecido e depois para os borrões luminosos apressados na avenida ao longe.

 Normalmente, ela teria declinado o convite e se apressado até a estação de metrô. Mas era feriado, e o outono chegara com uma sensação refrescante para ela. Era outono, e seu tempo no Japão estava acabando.

 Ela podia se dar ao luxo de aproveitar a gentileza de uma carona.

                — Por que não? — Sorriu, esperando que Itachi assumisse o caminho para o carro.

 Itachi devolveu o sorriso com satisfação, desligando o alarme do carro.

 Seu primeiro dia de outono fugira de seus planos, mas não tinha sido de todo o mal.


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Notas finais do capítulo

Shuubun no Hi é o equinócio de outono no Japão, um feriado nacional.