As viagens de Júlia - Completo apenas no Wattpad escrita por Anne Ribeiro


Capítulo 1
Omg!


Notas iniciais do capítulo

Espero muito que gostem!



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Ser adolescente é um saco. Sei que você leitor já passou por isso, assim como eu estou passando agora. Meus pais me cobram muito: arrume a casa, tire boas notas, cuide de seu irmão mais novo, tire boas notas, arrume seu quarto, tire boas notas.

E como é que eu serei feliz com tantas obrigações? Onde sobra tempo para me divertir? Por exemplo, agora estou para a escola, onde passarei o dia todo por causa de um trabalho em grupo que o professor Mário passou nessa semana.

Caminho de cabeça baixa, ajeitando os óculos porque eles cismam de escorregar pelo nariz de bolota, como meu irmão mais novo diz. Meus cabelos soltos teimam em cair sobre os olhos, e eu tenho certeza que se ninguém me conhecesse, achariam que a Samara acabou de sair do poço e veio para assombrar adolescentes indefesos. A noite anterior foi tão cansativa que mal dormi e, quando me vi no espelho nesta manhã, até me assustei com as olheiras que resolveram aparecer.

O elástico que sempre me acompanha em todos os lugares é meu melhor amigo, por isso prendo meus cabelos em um rabo de cavalo na altura dos ombros, enquanto atravesso o corredor vazio das salas de aula.

— Olá – murmuro, para o grupo de cinco adolescentes sentados em cadeiras de ferro, arrumadas em meia-lua.

— Júlia, ainda bem que você chegou. Já estava achando que teria que ir até sua casa e busca-la na marra – Fernanda fala, me puxando pela mão e arrastando até a cadeira vazia ao seu lado.

— Nem demorei tanto assim – resmungo, abrindo a mochila e dela retirando meus livros.

Amigos, sou fascinada por livros de ficção. Não faço distinção entre gêneros, tá? Carrego todos eles comigo para onde for, até mesmo para a escola. Só tem um porém: ninguém sabe que leio Crepúsculo, por isso me ajudem! É, eu preciso da ajuda de vocês para saber o que fazer com os olhares tortos e sorrisos de canto de lábio que estou recebendo dos meus colegas de classe nesse momento.

Alternativa a) – fazer a egípcia;

Alternativa b) – guarda-lo de volta

Alternativa c) – N.D.A.

Aff. Vocês demoram muito para responder, por isso escolho a alternativa a. Satisfeitos?

Faço cara de paisagem e guardo de volta o surrado exemplar de Crepúsculo.

— Podemos começar ou a reunião será sobre vampiros e lobisomens não-peludos? – provoca Ivan.

Ele está fazendo para me irritar.

— Se você não gosta, não precisa caçoar – respondo, com aspereza.

Todos riram, menos Duda. É claro que ela não riu, porque era minha melhor amiga. Quer dizer, nós éramos mais que isso.

Duda e eu nos conhecemos desde que me conheço por gente. Moramos uma ao lado da outra e crescemos juntas. A mãe dela é professora do ensino médio, mas quando a conheci, ainda era do primário e foi na casa dela, cercada por tantos brinquedos que aprendi a ler e escrever. Também foi lá que meu primeiro dente caiu, só que não foi voluntário e sem dor como vocês aí estão pensando. Pelo contrário.

Vou contar a história rapidinho pra vocês.

Sempre fui moleca. Meus joelhos viviam machucados, e eu tinha a mania irritante de arrancar as casquinhas dos machucados. Doía, mas eu não gostava de ver aquelas feridas ali porque me dava nojo.

Quando aprendi a ler sozinha, e estava encantada com o mundo dos livros, Dona Rita, a mãe da Duda, pediu que escolhesse qualquer livro da sua estante para ler. Dizer que fiquei eufórica era pouco. Queria era logo pegar um daqueles, correr para um cantinho confortável e ler.

Claro que eu não lia na mesma rapidez que hoje em dia, mas era criança. Tudo era mágico, lindo e precisava acontecer na hora. Senão perdia a graça.

E, foi nessa empolgação toda que meu primeiro livro foi "O Pequeno Príncipe".

Por isso, corri pro cantinho mais afastado da casa da Duda, me escondendo atrás das cortinas amareladas e com cheiro de sol. Estava empolgada para começar a ler, porque eu sabia que no momento em que viajasse para dentro daquela história, já não seria mais a Júlia magrela. Não, naquele momento eu seria outra pessoa.

Só que minha viagem àquele mundo acabou no exato momento em que ele encontrou a raposa. E pasmem: não teve nada a ver com a história, ou porque estava cansada de ler.

Duda caiu em cima de mim, batendo a mão no meu dente que não tinha nem pensado em amolecer, para tirar com jeitinho.

Aquela desastrada andava de patins dentro de casa, e por algum milagre ou qualquer outra coisa que possam imaginar, me achou ali escondida.

Parece até que eu tenho um ímã para esse tipo de coisa.

Naquele dia, nasceu uma paixão e um alerta: livros se tornaram a minha vida e me manter longe da Duda, quando ela estivesse distraída era essencial à minha sobrevivência – e também mantinha meus dentes intactos.

Assim que a reunião acabou, voltei para casa. Dessa vez, não havia ninguém para rir dos meus gostos da literatura, nem para tropeçar e cair em cima de mim.

De banho tomado e esticada na cama como uma estrela do mar, leio Crepúsculo pela décima primeira vez.

Vocês devem estar me achando uma louca, não é mesmo? Quem lê um livro tantas vezes assim? Mas, sabe quando uma história te prende de tal maneira que deseja entrar lá e fazer parte? É exatamente dessa maneira que me sinto, quando pego o livro, observo a capa por alguns minutos – para me inspirar na história – e abro. Ah...e aquele cheirinho de folhas novas? É claro que o meu exemplar já não tem mais o mesmo cheiro, porém eu finjo que tem.

De repente, minha cama começa a tremer. Olho ao redor e vejo tudo sacudir, como em um terremoto em grande escala.

No Brasil não tem isso. Ou agora tem?

— Mãe! – grito, espantada. – Pai! – berro.

— Joana – eles gritam de volta.

— Não saia daí, filha – minha mãe pede.

E é nessa hora que tudo escurece. As luzes se apagam, a cama treme cada vez mais e o livro, largado em cima da cama, acende.

Me afasto dele o mais rápido que consigo, embora tenha medo de cair no chão. Desde quando livros acendem?

Um clarão, que quase me cega por completo, ilumina o teto do quarto, as paredes, meus livros na estante e a cama. De repente, algo mais forte e incontrolável começa a me puxar, como se estivesse sendo sugada por um grande aspirador de pó. Até com o mesmo barulho.

Olho amedrontada para a janela, pensando que alienígenas pudessem querer meu cérebro para fazer alguma pesquisa. Mas, não.

A força assustadora vem do livro.

Agarro-me na cama, lutando para não ser levada para sabe-se lá onde e grito com todas as minhas forças:

— Não!

Mas, já é tarde demais. Não tive forças para me manter presa na cama e, quando dou por mim, estou em um túnel azul, girando sem parar. Sinto como se estivesse dentro de uma máquina de lavar roupa, porém sem água e sem outras roupas dentro. Estou sozinha e com medo. Meu estômago começa a embrulhar, a cabeça dói e os braços e as pernas balançam como os de uma boneca de pano; completamente desgovernada.

Tento lutar para sair daqui, no entanto quanto mais luto para não lidar com a realidade que me espera – que nem eu mesma sei – pior fica. Talvez seja a hora de aceitar o que quer que possa acontecer comigo e fechar os olhos. E então, me despeço mentalmente dos meus pais, meus amigos e de vocês.

— Tchau, amiguinhos que nem conheço direito e já considero – sussurro, de olhos ainda fechados e uma dor de cabeça de doer os olhos.

Desistindo de lutar, logo paro de girar loucamente. Já não sinto meu estômago embrulhar, minha cabeça ainda dói e me sinto leve como o ar.

Aos poucos, tateio o chão ao redor devagar e com medo, mas o que encontro até me tranquiliza e minha respiração desacelera sem pressa.

No chão encontro um gramado aparado e, com isso, abro os olhos. Ao meu redor há uma floresta e para todos os lugares que meus olhos conseguem alcançar descubro o verde. Verde nas árvores, no chão e nas pedras. No entanto, à minha direita não. Ali há uma casa, de dois andares e um carro de polícia na garagem, atrás de uma picape truck chevy 1953, vermelha desbotada.

Esfrego meus olhos para enxergar direito, porque não estou acreditando no que está escrito na porta daquele carro. Só pode ser uma brincadeira de mau gosto, ou eu morri e meus desejos se tornaram realidade.

Ei, amigos. Isso é culpa de vocês, não é? Alguém pode me beliscar aqui, por favor? Por favorzinho???

 

Não entenderam ainda? Vou explicar, então: eu, euzinha estou em Forks!

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem! ♥



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