O dia finalmente chegara, preparei-me o máximo que pude, fui treinada para suportar a maldição cruciatus e a maldição imperium, além de me prevenir contra invasões da mente, não havia forma de ser convencida a voltar atrás em minha decisão, eu salvaria Scorpion, mesmo que precisasse dar a minha vida por isso. 

Caminhei pelas ruas desertas do Beco Diagonal, ninguém tinha coragem de estar nas ruas a noite, não eram tolos o bastante para isso. Continuei caminhando, sem me dar o trabalho de olhar para cada canto, eu estava ali com um propósito e não desistiria até que estivesse completo. 

— O que você faz aqui sozinha? - Uma voz feminina perguntou.

Vi uma nevoa estranha preencher as ruas, não tentei reagir, nem pegar a varinha que estava ao alcance das minhas mãos. Ouvi o feitiço sendo dito, não era a maldição imperdoável:

— Antrium. - Ela disse com a voz melodiosa.

Comecei a lutar contra aquilo, ela não parecia tentar entrar em minha mente, aquele feitiço era diferente, então ela ordenou que eu estendesse minha mão, assim que o fiz a mulher me segurou e nós aparatamos.

Meu coração batia frenético em meu peito, eu queria poder saber para onde estávamos indo, nós paramos perto de uma casa estranha, parecia abandonada e caindo aos pedaços, mas eu conhecia o bastante de feitiços de ocultação para saber que aquilo provavelmente era só fachada.

— Vamos, minha querida, eu a estive esperando por muito tempo. 

Segui a bruxa de cabelos negros pelo caminho até a casa, pensei em tudo que poderia encontrar lá dentro, porém não estava preparada para o que vi quando ela abriu aquela maldita porta. 

Todos os jovens talentosos desaparecidos ao longo dos anos, eles treinavam, comiam e bebiam. Os olhos se voltaram para mim quando entrei, mas havia apenas um par de olhos que eu queria ver naquela multidão. 

 - Eu trouxe sua nova companheira de batalha, Thalia Krum. A extraordinária filha de Hermione Granger e Victor Krum! Deem as boas-vindas a ela e expliquem sobre nossa próxima missão. 

Scorpion não estava ali, notei após dar uma boa olhada na sala, um grupo de jovens mais velhos me chamou indicando um lugar ao seu lado no imenso sofá. Sentei-me de vagar e esperei que me dissessem. 

Eu pude notar que apesar de estarem fisicamente bem, havia uma especie de nevoa em seus olhos, eles pareciam fazer as coisas de modo automático, não havia um traço de felicidade em seus rostos, uma das garotas me disse que iriam invadir Hogwarts para tentar dominar a escola. 

Engoli em seco diante da fala, meu coração desesperado para acabar com a situação de uma vez por todas, eu me mantive calma, tentei pensar que tudo aquilo logo acabaria, ainda precisava encontrar Scorpion, assim que o rapaz terminou de explicar sobre o plano para dominação das escolas de magia. Algo me fez parar de prestar atenção nele. 

Um rapaz alto, com longos cabelos loiros e uma cicatriz na bochecha direita, seu cabelo estava na altura dos ombros e pingava, conforme ele caminhava pelo lugar com uma toalha jogada no ombro esquerdo. Usando apenas calças, Scorpion estava quase irreconhecível.

Ele me olhou, apenas aquele olhar fora suficiente para me arrancar do meu momento de transe, meu amigo me reconhecia, meus cabelos estavam quase desfazendo-se da trança, ninguém ali sorria e eu sabia disso, porém quando o vi, quando notei que ele ainda estava ali, um sorriso cheio de alivio se formou em meu rosto.

Scorpion ficou paralisado e uma lágrima rolou pelo rosto dele, eu me levantei ignorando todos que ainda me encaravam no sofá, caminhei até ele e limpei sua lágrima, o rapaz permaneceu parado, sem se mover deforma alguma, era como se sua mente estivesse aliviada por me ver, mas seu corpo não conseguisse reagir a minha presença. 

— Oi, Scorpion. - Sussurrei com um embargo por lágrimas me travando a garganta. 

A mandíbula dele travou, outra lágrima rolou por seu rosto, ele não conseguia dizer o meu nome e de repente era a coisa mais importante do mundo para mim, ouvir meu nome sair da boca dele. Engolindo a frustração, eu olhei ao redor, todos os olhos estavam sobre nós. 

Eu precisava tirar todos dali, precisava livrá-los daquela mulher maldita que eu sequer sabia onde estava. Uma certeza eu ainda tinha, sua maldição não era mais poderosa que as maldições imperdoáveis, ela podia ter todo poder do mundo, porém não foi capaz de fazer Scorpion me esquecer.

Os olhos dos demais bruxos na sala pareciam confusos, era como se tentassem entender como minha reação era diferente, o que estava errado com suas vidas, torci para que conseguissem sair daquele estado por conta própria. 

Respirei fundo, pensando que estava na hora de procurar a mulher, se eu não conseguiria quebrar sua maldição, derrotá-la era a coisa mais lógica a se fazer naquele momento.