—Você tinha se esquecido de como é boa a sensação de poder?

—...pare...

—Não...você nunca esqueceu, você nunca esquecerá...

—Pare...

—...afinal...está no seu sangue...

—PARE!!!

—Kagura!!!

—Kagura-chan!!!

Os olhos azuis da garota de 17 anos se arregalaram ao ouvir seu nome sendo gritado tão desesperadamente por sua família adotiva da Terra. Mas por que eles estavam desesperados? Por que as vozes de Sakata Gintoki e Shimura Shinpachi pareciam tão exaltadas, desesperadas e preocupadas?

Ah...é mesmo...eles haviam se metido em mais uma confusão...uma confusão que de alguma forma havia os colocado para lutar contra Amantos que odiavam Umibozu, que por sua vez estava em Edo para visitar a filha mais nova. Sim...era por isso que Gintoki e Shinpachi estavam preocupados com ela, afinal, estavam no meio de uma luta...

Ela olhou a sua volta, havia centenas de corpos ao seu redor, todos haviam sido brutalmente mortos...mas por quem? Seus olhos recaíram sobre suas mãos, mãos cobertas de sangue, sangue do inimigo, o inimigo que ela, Kagura, matou.

Seu corpo começou a tremer e sua visão ficou embaçada por causa das lágrimas. E novamente aquela voz ecoou em seu ser.

O poder corre em suas veias...

...Não...

Está no seu sangue...você tem o poder de matar.

Não!

Você é um monstro.

—NÃO!!!!

                                                                           ...

—Kagura...-chamou o homem de cabelos prateados. Ele estava na frente do armário que a garota que ele considerava sua filha usava como quarto, o local de onde sua “filha” se recusa a sair fazia dois dias.

Sakata Gintoki soltou um longo suspiro, enquanto coçava a cabeleira prata, ele já não sabia mais o que dizer para a adolescente. Ele já havia tentado de tudo! E quando digo tudo, significa que ele até mesmo dissera que compraria para a garota o quanto de sukonbu ela quisesse, mas Kagura não lhe respondia.

A porta de entrada do “Yorozuya Gin-chan” abriu-se, revelando a figura de um rapaz de óculos que carregava algumas sacolas nas mãos. O jovem adentrou a sala onde Gintoki estava, e lhe lançou um olhar questionador e preocupado, em uma pergunta silenciosa sobre as condições da garota que ele via como sua irmã mais nova.

O mais velho simplesmente balançou a cabeça negativamente antes de voltar a falar, ou melhor, antes de tentar falar com a ruiva.

—Kagura! O Shinpachi chegou!-exclamou o ex-samurai-Você não vai acreditar, mas ele trocou os óculos achando que assim ele vai chamar mais atenção do que eu, que sou o personagem principal de Gintama!

Sem resposta.

—Gin-san...-murmurou o Shimura com uma veia saltando da testa-...será que você não poderia usar outro pretexto para tentar tirar a Kagura-chan do quarto/armário dela?

 -Shinpachi...estou tomando medidas drásticas, porque ela não sai do quarto/armário dela nem por sukonbu!

Os dois se encaram por alguns segundos e suspiraram, voltando seus olhares para o lugar onde a yato estava escondida. Shinpachi soltou as sacolas que carregava no chão e fechou suas mãos em punhos, seus olhos castanhos demostravam raiva de si mesmo por não ser forte o bastante para proteger, mesmo que fosse dela mesma, a garota que ele considerava sua irmã mais nova. Se ele fosse mais forte...

De repente uma mão pousou em sua cabeça e bagunçou seus cabelos, fazendo com que ele levantasse seu olhar para fitar o homem de cabelos prateados, que por sua vez continuava a olhar as portas do quarto/armário.

—A culpa não é sua Patsuan.-falou Gintoki-E nem da Kagura. Eu sei o quão forte vocês são.

—Gin-san...

—Kagura.-falou o Sakata colocando a mão na porta do quarto/armário-A culpa não é sua. Nós sabemos o quanto você luta contra seus próprios instintos, e sabemos melhor do que qualquer um que você estava apenas se protegendo e nos protegendo quando seus instintos acordaram.

Houve alguns segundos de silêncio, e então, a porta na qual Gintoki estava com a mão, deslizou para o lado, revelando uma Kagura de cabelos bagunçados, roupas amassadas e um rosto inchado de tanto chorar. No instante seguinte, ela pulou em cima das pessoas que ela considerava sua família, e chorou.

Chorou todas as lágrimas de culpa, magoa, raiva e tristeza que ainda lhe restavam, sendo consolada apenas pelo afagar das mãos de Gintoki e Shinpachi em seus longos cabelos ruivos. Naquele momento, tudo o que ela precisava era sentir o calor reconfortante daqueles que ela ainda podia ouvir, daqueles que as vozes ainda a alcançavam, mesmo ela estando em sua forma bestial, mesmo ela estando sendo controlada pelo sangue yato que corria em suas veias.

Continua...