Maison in Paris escrita por Leticia Vicce


Capítulo 12
Inimigos declarados


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, demorei, mas enfim, estou de volta! Uhulll!
Me perdoem pelo sumiço, mas prometo que agora voltarei a postar com mais assiduidade.
Quem quiser e puder, me deixe um comentário, me incentivem a continuar, me cobrem capítulos, e é isso.
Essa semana, teremos atualização em alguma das minhas outras fic's, então se liguem lá.
Beijos, e boa leitura amores.



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Os ventos de inverno sopravam em uma melodia fúnebre, os carvalhos já não tinham folhagem, seus galhos retorciam-se secos com a falta de vida, vida essa, que havia se extinguido com a chegada do rigoroso inverno.

Apenas mais uma manhã se iniciava em Paris, a doce paisagem outrora procurada por inúmeros estrangeiros e tão orgulhosamente apreciada pelos franceses, para Emmett, lhe parecia apenas sem cor, sem propósito. Talvez tudo que enxergasse naqueles momentos terríveis os quais vivenciava, fosse apenas o reflexo do que sua alma sentia, o amargor da derrota unida da impotência cruel que o acompanhava desde o fatídico dia em que Royce King tomara suas palavras, ações e dignidade com um tiro certeiro de maldade desenfreada.

Essa fora apenas uma das noites mal dormidas às quais o Cullen vinha enfrentando, as madrugadas pelas quais outrora ansiava para que pudesse ter os mais belos sonhos com sua amada noiva, agora tornaram-se uma constante tortura de pensamentos misturados e ideais falidos. As noites corriam tão brevemente que o rapaz mal percebia o despertar de um novo dia, apenas quando o caminhão de leite encostava ao lado de fora dos portões de ferro é que o mesmo notava que mais uma vez passara uma noite em claro, observando os céus escuros e tempestuosos, com seus inseparáveis maços de cigarros, que aos poucos lotavam uma lixeira no canto da sacada.

Ao decorrer do dia, ocupava-se com os papeis da empresa, aproximava-se o dia da posse interina de Royce, e o esforço que o jovem fazia para entregar-lhe tudo pelo qual o pai tanto lutou para construir, lhe doía fisicamente e psicologicamente. Nos poucos momentos que permitia-se estar com as pessoas que ama, tornava-se apático e mal-humorado, fingindo sorrisos que já não lhe pertenciam mais e uma força que há tempos havia se esvaído.

Esme costumava definir seus filhos de duas maneiras distintas, Edward seu orgulho, e Emmett sua alegria.

Edward sempre fora especialmente diferente, um jovem peculiar, dotado de uma inteligência ímpar e de conhecimentos inimagináveis, observador como uma águia, nada fugia a seus olhos cor de esmeralda, aqueles olhos cativantes e que tanto falavam por ele, mesmo que o próprio rapaz não pudesse perceber essas qualidades em si mesmo, ela sempre soube que ele havia vindo ao mundo para completá-lo, era como uma peça que faltava para completar o quebra-cabeças do universo.

Já seu primogênito, Emmett, nasceu com dons naturais invejáveis, não era algo ao qual pudessem ensiná-lo a ser, ele apenas era. O sorriso de covinhas sendo sua marca registrada, o coração mais puro que ela já vira em alguém daquela idade, os sentimentos mais profundos que alguém poderia demonstrar, a empatia, o entendimento pela dor do próximo, a autoconfiança, o espírito indomável, a alma destemida, o amor incondicional a quem ama.

Certa vez Esme havia dito algo ao marido que a princípio o surpreendeu, mas poucos segundos depois o fizeram sorrir. Enquanto observavam os meninos brincando nos jardins com suas roupas de cavalaria e espadas de plástico, fingindo serem príncipes valentes, Edward caiu quando um passo em falso o levou ao chão, Esme levantou-se aflita, mas antes que pudesse mover-se já visualizava Emmett, um garoto grande para seus 8 anos, levantando o irmão de 4 e o carregando nas costas enquanto corria, fazendo o irmão rir e se esquecer completamente do pequeno ferimento. Foi neste momento que Esme concluiu algo sobre os filhos.

— Sabe Carl, - a mulher disse sentando-se novamente e segurando a mão do marido sem desviar os olhos de seus filhos. – Observando os meninos, pude facilmente notar algumas diferenças.

— Isso é bem nítido Esme. Emmett é grande e forte como um urso, enquanto Edward é franzino como um pássaro. – Carlisle concluiu.

—Não estou falando sobre diferenças físicas, amor.

— E o que seria? – Carlisle perguntou-lhe unindo as sobrancelhas.

— Observe-os bem, seus interiores. Edward é incrivelmente especial, sei que ele veio ao mundo para completá-lo, sem ele é como se algo estivesse faltando, como se a peça principal de um quebra-cabeças estivesse perdida. Já Emmett, é único, ele não se encaixa em qualquer quebra-cabeças que possa lhe surgir pelos caminhos da vida, ele veio senão para mudar o mundo, para mudar as vidas de todos ao seu redor. Para mim, antes dele, era inimaginável visualizar as coisas com tanta clareza, com tanta sabedoria, ele é puro amor, enquanto Edward é pura luz. Edward é meu menino de olhos e mente brilhantes, e Emmett é meu menino do sorriso de covinhas, do coração puro, da alma de amor. – Ela concluiu.

Carlisle observava os filhos com ternura enquanto ouvia sua esposa, não havia entendido quando ela deu início àquele assunto, mas sorriu quando notou que Emmett se aproximava com o irmão ainda pendurado em suas costas, sorrindo largamente enquanto contava uma história sobre bichinhos nas goiabas. Foi quando associou todas as palavras de Esme a cada um deles dois.

—Papai, - Edward chamou – machuquei meu joelho, olha.

—Está doendo filho?

—Estava, e eu quis chorar, mas o Emm cuidou de mim e me contou que meninos fortes continuam sorrindo e brincando.

—É mesmo filho? – Carlisle perguntou à Emmett.

O menino deu de ombros sorrindo.

—Ele está certo Eddie, devemos sempre sorrir e brincar. – Esme disse.

Enquanto Edward distraiu-se com o cachorro beagle de nome Scott e voltou a brincar, Emmett que já ia atrás do irmão, pausou sua corrida e continuava parado em frente aos pais os observando.

—O que foi meu filho? – Carlisle perguntou.

—Não foi nada. É que eu amo vocês de montão, bem grande. – O menino gargalhou e voltou a correr de encontro ao irmão.

Os olhos do pai marejaram, passou os braços pelos ombros da esposa e aquele fim de tarde passou a ser o dia mais lindo o qual tinha vivido e do qual tinha recordação, com sua esposa amada e seus filhos que enchiam sua vida de amor, e principalmente, lhe traziam esperanças de um futuro melhor, um futuro iluminado pelos sorrisos dos dois garotos sapecas que, sem dúvidas, o homem de fé inabalável, considerava um presente inestimável do criador.

Porém, aquele menino de sorriso inigualável, de alma destemida, aos poucos estava se apagando, se deixando consumir pelas trevas aos quais seus dias vinham submetendo-se. Os desejos de bom dia durante os cafés da manhã, já não passavam de simples acenos de cabeça, as perguntas feitas pelos pais obtinham respostas curtas, os sorrisos se desfizeram, a alegria havia partido, um home carrancudo, de olhar perdido, havia tomado o seu lugar.

Edward tão observador como sempre fora considerado, naquela manhã percebeu que a movimentação na sacada do quarto do irmão, ao lado do seu, havia sido intensa, o que queria dizer que mais uma vez Emmett havia passado uma noite em claro. Com uma grande lufada de ar e tomando uma coragem típica de seu irmão, Edward caminhou a passos firmes e largos pelo corredor, já era hora de colocar um basta naquilo. Como Emmett o havia ensinado, machucados e arranhões não podem ser motivos para o fim de sua vida.

No corredor, o jovem encontrou o pai, com olhar cansado. Se Emmett sofria, todos daquela casa sofriam, era como se a alegria de todos fosse levada para seu exílio escuro e frio.

—Filho, bom dia. Onde vai com tanta pressa? – Carlilse questionou.

— Resolver essa situação, Emmett não pode continuar assim.

Carlisle apenas concordou com um aceno de cabeça e saiu do caminho do rapaz, observando suas costas enquanto seguia firme em direção a seu destino.

Com um rompante Edward abriu a porta do quarto do irmão, chamando sua atenção de forma abrupta. O rapaz caminhou até a sacada, onde num misto de sentimentos, levantou o mais velho pelo colarinho da camisa e com seus olhos que tanto falavam por si o observaram por um longo tempo.

—Já chega. – Ele balbuciou.

— Me solta Edward, não quero brigar. – Emmett pediu com a voz firme.

—Eu também não quero, mas você me obrigou a isso. Olhe para você, o que houve com o homem que eu conheço desde a infância? O que você fez consigo mesmo?

—Royce fez isso. – Emmett concluiu desvencilhando-se das mãos de Edward e virou-se de costas para que não pudesse ver que segurava suas lágrimas.

—Você está deixando ele fazer isso. Até quando? – Edward perguntou sem resposta.

—Me diga Emmett, até quando? – Edward gritou em frustração.

—Não sei. – O mais velho sussurrou.

—Você sabe sim. – Edward disse puxando-o pelo ombro e virando-o novamente para olhar seus olhos. - Você está se deixando abater por aquele maldito. E nós, como ficamos? Você despreza nossos sentimentos, nos exclui da sua vida. Eu ainda estou aqui, sempre estive.

—Não posso demonstrar esses sentimentos. – Ele respondeu apático sem deixar suas lágrimas caírem.

—Não pode? Como não? Onde está o “sorrir e continuar brincando”? Onde está você? – Edward exasperou – Se não pode demonstrar esses sentimentos às outras pessoas, demonstre a mim, seu irmão. Ainda somos o Eddie e o Emm, ainda nos amamos, o orgulho e a alegria de nossos pais. Se não quer que vejam sua fragilidade, me soca, me bate, eu não vou reagir, eu só quero meu irmão de volta. É pedir muito?

E então Emmett chorou, gritou e maldisse Royce na frente do irmão mais novo, num misto de sentimentos, de frustração acumulada. Se jogou no chão e socou a escrivaninha de madeira escura até que seu punho começou a sangrar.

Esme e Carlisle ouvindo o rompante de loucura de Emmett correram em direção ao quarto deparando-se com uma cena estarrecedora, Edward os parou com o olhar.

Emmett estava deitado no chão as mãos ensanguentadas na cabeça, enquanto Edward se aproximou e deitou-se ao seu lado aos prantos sussurrando “sorrir e brincar”, “continue vivendo”. Os pais notando o que o mais novo fazia, sentaram-se um ao lado de cada um dos filhos, Esme puxou a cabeça de Emmett para seu colo cantando a canção de ninar que lhes cantava durante a infância, Carlisle segurava a mão do filho mais novo e sussurrava os versos que ainda lembrava da canção junto da esposa,as lágrimas caindo sem parar dos rostos dos quatro.

Passados alguns minutos, Emmett apertou os olhos com força e sussurrou algo que lhes partiu o coração.

— Eu não sei como fiz isso com vocês e comigo. Não sei o que estou fazendo. Não sei de onde tirar forças para viver, não é algo que me deixa feliz mais, é como se eu apenas existisse.

E então aos poucos o sono perdido da madrugada o foi abatendo, dormiu ainda no colo da mãe, sobre o carpete grosso, e a inconsciência o pegou, o cansaço acumulado o levou para o mundo dos sonhos.

Edward suspirou ainda segurando a mão do pai, virou-se em direção ao irmão e mais uma vez sussurrou “ Sorrir e brincar”, levantou-se, ajudou o pai a também sair do lugar que havia tomado, pegou alguns cobertores e travesseiro e ajeitou o irmão ali mesmo no carpete.

—Venha mamãe, precisamos nos reunir e conversar. Ligarei para Rose e os demais, hoje essa situação irá mudar, nem que para isso eu precise tomar o lugar dele nas indústrias, e isso não está em discussão. – Ele exigiu.

Assim que todos deixaram o quarto, desceram para o café, café este que lhes desceu com gosto amargo, um silêncio estarrecedor tomando conta do ambiente. Edward pediu licença assim que terminara seu café puro, a única coisa que lhe desceu aquela manhã, pediu licença e dirigiu-se a sala de estar onde colocou-se a ligar aos amigos, um a um.

Rosalie já sabia o motivo da ligação quando ouviu a voz de Edward do outro lado da linha, estava nitidamente preocupada com o noivo, sabia que hora ou outra ele precisaria de intervenção, e sem dúvidas, aquele era o momento. A loira apenas esperou que o irmão gêmeo terminasse o café e lhe passou as poucas informações que o cunhado havia lhe passado, assim, pediu-o que pegasse Alice e a encontrasse nos Cullen, ela passaria na cede indústria para pegar Bella, já que naquele domingo de manhã, a professora havia tido sido convocada para uma reunião com as demais professoras.

Rosalie seguiu em seu conversível vermelho em direção à empresa, ao chegar, notou o grande carro preto que mais lhe lembrava um carro fúnebre, parado no estacionamento na vaga de Emmett, sua vontade foi quebrar-lhe os vidros, mas se conteve quando viu a figura do demônio andando em sua direção.

—Bela Rosalie, o que faz por aqui? Está perdida? Acho que devo lembra-la que seu noivinho já não é mais o presidente disso tudo. – Ele disse sorrindo com escárnio e dando uma volta de 360º ao redor de si mesmo.

— Primeiramente, meu senhor, eu não lhe devo satisfações sobre a minha vida. – Ela responde-lhe com uma audácia que até mesmo ela desconhecia ter. – Segundamente, coloque-se em seu lugar, seu sujeitinho arrogante, não passa de um idiota engomadinho e mimado. O que foi? O papai não te deu amor na infância e por isso quer roubar tudo que os outros tem? – Ela concluiu altiva sorrindo largo.

Royce deu um passo em direção a Rosalie com fúria expressa no olhar, a loira não se deixou abater e o encarou ainda sorrindo. Quando Royce ia dar-lhe uma bofetada no rosto, Edward surgiu no estacionamento com Bella em seu encalço.

—Ah, mas é agora que esse sujeito me paga. – Edward balbuciou e correu parando o braço de Royce antes que atingisse o rosto da cunhada.

Num rompante de raiva e sentindo tudo aquilo que havia sentido pela manhã voltar, com a imagem de sua família aos pedaços e Emmett destruído. Com a frase do irmão ecoando por sua mente, Edward, sem dó ou piedade, lhe socou o rosto de forma brutal, deixando marcas que seriam visíveis a longa distância, parou apenas quando sentiu o pulso dolorido, isso após ter lhe deferido pelo menos três socos no olho direito.

—Aprenda, que em uma mulher não se bate, senhor King. – Edward levantou-se e cuspiu sobre o homem caído.

—Terá volta Cullen. – Royce gritou ainda no chão enquanto Bella tentava puxar Edward e Rosalie juntos.

— Só um minuto Bella. – Rose pediu.

Então a loira com toda sua classe caminhou com os salto finos ecoando no estacionamento vazio, exceto pela presença dos três, sorriu sadicamente e deferiu-lhe um  chute com toda força que migrou para seu pé direito, contra as partes genitais de Royce que urrou de dor. Em seguida, como uma criança arteira, caminhou até o carro daquele homem nojento, pegou a chave de seu conversível e o riscou de um lado a outro. De dentro da pequena bolsa de mão, retirou um canivete o qual usou para furar os pneus do carro escuro.

—Ops. – A loira colocou a mão sobre a boca teatralmente quando concluiu o trabalho, assoprou um beijo para Royce e em seguida lhe mostrou o dedo, andando novamente em direção a Edward que gargalhava alto e a uma Bella que ria de forma contida.

— Vamos meninos, temos um grandão pra despertar. – A loira sorriu e entrou no conversível dando partida, olhou na direção de Royce e sorriu ao vê-lo naquele estado deplorável, sendo ajudado pelo motorista que deveria estar nas dependências da empresa durante a confusão.

—Se quer guerra, Cullen, teremos guerra. – Royce gritou.

—Vá pro inferno Royce. – Todos então ficaram chocados quando viram que fora Bella quem o respondeu.

—Meu Deus! – Ela exclamou tampando a boca com as mãos não acreditando que aquelas palavras deixaram seus lábios.

—Se você não tivesse dito, eu diria coisa pior. – Rosalie disse e passou por eles gargalhando alto seguindo em direção a parte nobre e afastada da cidade

“Vamos lá.”. Edward pensou pela última vez antes de acelerar seguindo Rosalie, preparando-se para uma batalha árdua que sem dúvidas estava por vir. Desta vez a tempestade seria forte, e tanto ele quanto sua família, principalmente seu irmão mais velho, deveriam se preparar, pois caso contrário, Royce os atropelará como se fossem nada.

Mas era como o próprio demônio King havia dito: - “Se quer guerra, guerra teremos”, concluiu Edward em sua mente.


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Notas finais do capítulo

Comenteeeeem!
Até breve, amores!



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