Libélula Virtual. escrita por Aryeh


Capítulo 1
Capítulo 1




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Aglaë acordou ao som do alarme do orfanato.

A cada semana eles escolhiam uma música popular nova para acordar os alunos, e esta semana escolheram a que a jovem menina mais detestava. Uma música repetitiva e doce em um idioma diferente que todas as meninas do grupo dela estavam tentando cantarolar, mais uma música estrangeira afro-eslovena que se popularizava na região, nada novo. Aglaë acordou em um hospital com amnésia a apenas um ano, e já se sentia tão velha, tão cansada, e só faria seis anos em alguns meses. Ela ficou feliz pelos médicos terem meios de descobrir a idade dela tão facilmente, pelo menos ela teria um aniversário, e todas as outras meninas já comemoraram seus aniversários, na maioria deles ela não era convidada, mas ela via o quanto elas pareciam felizes, e ela queria ser feliz assim. Talvez no aniversário dela esse desejo se realizaria, e as outras meninas dançariam e ririam com ela.

Ela voltou a se concentrar no seu cotidiano, andando até a sala de banho entrou em um dos chuveiros velhos, disse seu nome e seu número para o identificador de voz e recebeu o banho matinal que era cronometrado. Fechou os olhos e sentiu a água cobrir seu corpo, seguida pelo eliminador de bactéria corporal, e então água pura novamente. Quando o banho terminou ela desejou que ele pudesse ser mais longo, sentia falta da sensação de água morna sob a pele, era como um abraço, mas uma órfã como ela não poderia gastar mais água que o necessário, e como diziam os monitores, o governo já fazia muito por sustentar as crias de vagabundos que não puderam arcar com os custos da própria descendência.

Os monitores faziam como o nome deles já diz, monitoravam todos os alunos, da forma mais grosseira e irresponsável possível. As aulas eram todas através do programa de educação do governo, e cada criança recebia um inter-tablet de algum modelo básico, porém resistente, com o aplicativo de educação. A voz eletrônica do aparelho a instruía, se ela não cumprisse a meta diária, não almoçaria nem teria recreação. Ela pegou o aparelho com cuidado, a última criança que quebrou ele apanhou na frente de todos, e ela não queria ser a próxima. Aglaë teve sorte por sempre ser a primeira a terminar a meta, pois sempre era a primeira a ser liberada para o almoço e então para a recreação, as outras crianças a invejavam imensamente por isso, mas ela não se importava, queria sair para subir nas arvores e fingir que estava acima de tudo e todos. Ela percebeu que seus companheiros de grupo estavam começando a criar certa inimizade com ela, e mesmo que isso a machucasse muito, ela não poderia fazer nada além de fugir deles antes que eles a odiassem mais. Era assim que ela lidava com as coisas que a incomodavam, e tem funcionado bem.

O orfanato se encontrava longe da cidade, e era cercado por uma mata que existia a séculos, desde a última guerra, que mesmo estando cheia de ferros antigos e lixo antigo que não se desintegrava corretamente, era o lugar mais pacífico que ela encontrou na vida. Ao menos a parte da vida cuja qual ela conseguia se lembrar. Depois de andar um pouco, ela parou e arregaçou as mangas do macacão azul-marinho do orfanato, e depois de escolher a maior árvore que viu, começou a tentar subir nela. Era uma arvore que ela tinha descoberto logo depois que chegou ao orfanato, e já tinha se apegado a ela. Infelizmente, o galho que ela sempre usava para se apoiar primeiro foi arrancado, e ela não conseguia mais subir lá. A frustração tomou conta daquele pequeno corpo, e com um espírito irritado, voltou ao pátio, sem direção, apenas tentando distrair a mente inquieta. Olhando em volta, viu algo que a perturbou. O galho da árvore dela! Ela reconheceria em qualquer lugar aquela cor específica, com as folhas escuras e pequenininhas. O galho “dela” estava nas mãos de um menino que aparentava ser de um grupo mais avançado, ele estava usando o galho para bater em outro menino mais velho, eles pareciam estar brigando. O menino que segurava seu galho tinha cabelos extremamente vermelhos, e parecia estar se divertindo muito em sua brincadeira violenta e cruel.

Ela ignorou o fato de um menino estar apanhando com um galho e chorando e andou corajosamente até o menino ruivo, quando chegou mais perto pode ver que ele era consideravelmente mais alto que ela, e em seu uniforme indicava que ele estava em um grupo com crianças de nove a doze anos. Quando ele levantou o galho para dar mais um golpe, ela rapidamente puxou ele pelas folhas, fazendo o galho voar para alguns metros longe dele.

Só agora o menino parecia notar a presença dela, virando cabeça lentamente até seus olhos se encontrarem, ela nunca viu olhos tão escuros e tão cheios de raiva. Neste momento o outro menino que estava no chão aproveitou a distração do agressor e saiu correndo, isso deixou o ruivo com mais raiva ainda.

Os dois olharam para o galho, e corretam até ele. Obviamente o menino ruivo chegou primeiro por conta de suas pernas mais longas. Pegando o galho de maneira bruta ele olhou para ela, que agora dava alguns passos para trás. Ele chegou mais perto com o galho e de maneira ameaçadora disse com uma voz muito obscura para ser de uma criança normal - Nunca. Eu repito. NUNCA. Nunca tente me fazer de bobo, menininha.

E antes mesmo que ele pudesse falar algo a mais, ela correu o mais rápido possível, para o mais longe possível, com o que pode ser a primeira vez desde que consegue se lembrar que sentiu realmente intimidada.

O que era aquele menino? Ela não sabia, mas enquanto corria decidiu que descobriria.

Descobriria tudo sobre ele.


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Notas finais do capítulo

É o primeiro capítulo, estou realmente obcecada por este mundo que estou criando, então não preciso de incentivo para escrever sobre isso, mas ainda assim preciso para editar e postar aqui. Comentários e críticas construtivas são bem-vindos.



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