Corvos & Lobo

Vagante incessante nesse deserto de gelo...

Faça de seu som hino uivante

A voz melódica e ressoante,

Enquanto caminha como alma perdida...

Se esperas encontrar solidão,

Cubra-se nas peles quentes de seu próprio pelo.

Mas se aguarda a reunião de sua alcateia,

Fareje o destino e o persiga sem medo.

Porque ainda é líder, mesmo solitário...

O alpha de sua própria trilha,

Manchada de vermelho sangue e sina.

A garoa que a neve faz pede para que siga...

Em frente.

Sempre rente à linha que faz alarde quanto as correntes

Onde sua própria alma ainda se prende,

Condizente ao intente e súbito conclamar,

Sendo livre para começar ou terminar.

Bem ao longe, no reino, eu ouço-os crocitar...

Os corvos débeis e atrapalhados ao voar.

Vens em bando, como mancha escura em céu azul,

Procurando derradeiros guerreiros que sangraram cru.

Ninguém lhes toca a carne,

Senão os negros pássaros do Sul.

As penas caem como chuva escura...

Em redemoinho e tempestade.

Faz-se jus ao nome, traga-os como representantes da calamidade.

Metaforicamente aceitos como cavaleiros do apocalipse,

São a guerra, a peste,

A morte, a fome.

Materializadas nas asas sombrias desses seres que voam

Com primazia sobre os ares.

Em seu inferno de gelo, o lobo os observa...

Anjo na neve branca, sua pelagem cinza dança com o vento.

Enquanto o vento avança,

E crocita em sua débil arrogância.

Conto em crônicas, as fábulas ancestrais em esboço...

Do encontro entre corvos & lobo.

O apocalipse encontra o gênesis,

Uma batalha que determina o futuro de um conto esquecido de Esopo.

Constrói-se o ápice das histórias apostólicas...

Onde se materializa matéria sólida

À fábula esópica.

É histórica essa luta que define...

A glória de quem morre,

E a tristeza de quem vive.

O lobo escolheu a solidão,

Em sua trilha de neve, envolta de destino e destruição.

Os corvos escolheram a sujeição,

Aos preceitos inatos ante sua própria configuração padrão.

Uma guerra se instaura, entre o erro e o errado...

D’onde não existe distinção clara de lado.

~Gabriel.