Gralha

Eu possuo seu corpo...

Com o estalar dos dedos de uma mão.

Exigindo de cada beijo a doce imaginação,

Que faz transpirar cada gota de seu amargo suor,

Insípido e incolor, mas saboroso de sentir,

Em minha pele que descasca como árvore...

No prazer de te fazer entender

Quem de fato é você.

Eu domino seus pensamentos...

Impuros, sujos, sangrentos;

Transparentes sob uma camada inodora de veneno.

Ouço quando o chocalho de cobra vibra,

E manda através de cada chacoalhar um aviso,

De sedução irregular.

Acredito na beleza vulgar, acredito no céu e acredito no mar,

No prazer de redesenhar...

Com a minha unha em sua pele,

O desejo que a carne nos pede.

Eu controlo seus passos...

Com as sandálias macias que todo o dia,

Você calça para agradar meus ouvidos.

Enquanto a escuto se aproximar, calmamente,

Insolente quanto sua própria beleza.

Ora, sedenta alma que pede pela aspereza,

Nas palavras tão grotescas quanto o ouro conquistado

Pela débil realeza francesa.

Cada qual traz para si o sentido do poder,

Enquanto minhas unhas repetem o rápido movimento...

Para fazer as grossas cordas tocarem seu som de jazz.

Eu domino sua alma...

Pois a lacei num rodeio itinerante,

Onde o próprio amor se declarou amante...

Com seus redondos anéis de brilhante.

Maestria é falácia perto do modo em que dançamos...

Sob um véu de noite profano e insano,

Abençoados por uma luz que mais fraqueja que ilumina.

De súbito, uma indagação sucinta...

Prefere as luzes acessas ou apagadas?

Eis minha ilustre concubina.

Eu sou dono de seu coração...

Que palpita em ritmo fúnebre para os altares,

Onde uma palavra pode selar para sempre esse tácito contrato.

Fato após fato, isso nos tornaria fardo?

Entenda-se como eterna,

Amante dançante sempre bela...

Eu a tenho,

Como ela me tem.

Mas não tente se achar Cinderela.

Talvez o sapatinho de cristal...

Não te caia tão bem.

~Gabriel.