Herança dos Lobos escrita por Woodsday


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindas!
Ps: Há trechos do livro "Lua Nova" nesse capítulo.



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❝ — Eu finalmente sentei sozinho, carne e osso completamente negros. 

+++

 

 

— Nós recebemos uma carta hoje. — Meu pai começou e eu podia notar pelo tom de voz que esse era um assunto que ele esteve evitando.

— Uma carta?

— Um... convite de casamento.

Todos os músculos do meu corpo se travaram. Uma pena de calor pareceu fazer cócegas nas minhas costas. Eu segurei a mesa pra manter minhas mãos estáveis. Billy continuou como se não tivesse percebido. — Há um bilhete dentro que está endereçado a você. Eu não li. Ele puxou um envelope grosso cor de marfim de onde ele havia sido enfiado entre a sua perna e a cadeira de rodas. Ele o colocou na mesa entre nós. — Você provavelmente não precisa ler também, filho. 

Não importa muito o que ele diz. Estúpida psicologia reversa. Eu arranquei o envelope da mesa. Era um papel pesado, um pouco rígido. Caro. Chique demais pra Forks. O cartão dentro era o mesmo, também cuidado e formal. Bella não tinha nada a ver com isso. Não havia nenhum sinal de gosto pessoal nas camadas de páginas transparentes, pétalas-impressas. Eu poderia apostar que ela não tinha gostado nem um pouco. Eu não li as palavras, nem sequer vi a data. Eu não me importava. Havia um pedaço de papel marfim grosso dobrado no meio com o meu nome escrito à mão com uma tinta preta no fundo. Eu não reconhecia a caligrafia, mas ela era tão chique quanto o resto. Por meio segundo, eu me perguntei se o sugador de sangue estava se regozijando. Eu o abri.

Jacob, Eu estou quebrando as regras ao te mandar isso. Ela está com medo de te magoar, e ela não queria que você se sentisse obrigado de forma alguma. Mas eu sei que, se as coisas tivessem acontecido de outra forma, eu teria gostado de ter a escolha. Eu prometo que tomarei conta dela, Jacob. Obrigado — por ela — por tudo. Edward.

— Jake, nós só temos essa mesa — Billy disse, olhando para a minha mão esquerda. Os meus dedos estavam agarrando a madeira com força suficiente pra que ela realmente estivesse em perigo. Eu os soltei um a um, me concentrando apenas nessa ação, e depois eu agarrei as minhas mãos uma na outra pra que eu não pudesse quebrar nada. — É, de qualquer jeito, não importa — Billy disse. Eu me levantei da mesa, tirando a minha camisa enquanto me levantava. — Não é muito tarde — Billy murmurou enquanto eu socava a porta do meu caminho. Eu já estava correndo antes de chegar nas árvores, as minhas roupas jogada atrás de mim como se fosse uma trilha de miolos — como se eu quisesse encontrar o meu caminho de volta. Agora era quase demais me transformar. Eu não precisava pensar. O meu corpo já sabia pra onde eu estava indo e, antes que eu pedisse por isso, ele me deu o que eu queria. Agora eu tinha quatro pernas, e eu estava voando. As árvores eram um borrão se transformando num mar negro ao meu redor. Os meus músculos se contraíam e se soltavam em um ritmo sem esforço. Eu podia correr assim por dias e eu não ficaria cansado. Talvez, dessa vez, eu não fosse parar. Mas eu não estava sozinho. Eu lamento muito, Embry sussurrou na minha cabeça. Eu podia ver através dos olhos dele. Ele estava muito longe, ao norte, mas ele havia se virado e estava correndo pra se juntar a mim. Eu rosnei e me empurrei mais para a frente. Espere por nós, Quil reclamou. Ele estava mais perto, só observando do lado de fora do vilarejo. Me deixem sozinho, eu rosnei. Eu podia sentir a preocupação deles na minha cabeça, e tentei muito me deixar mergulhar no som do vento e na floresta. Isso era o que eu mais odiava — ver a mim mesmo pelos olhos deles, e era pior agora quando os olhos deles estavam cheios de pena. Eles viram o ódio, mas continuaram correndo atrás de mim. Uma nova voz soou na minha cabeça. Deixem-o ir. O pensamento de Sam era suave, mas ainda era uma ordem. Embry e Quil diminuíram até que estavam andando. Se eu apenas pudesse parar de ouvir, parar de ver o que eles viam. A minha cabeça estava tão lotada, mas a única forma de ficar sozinho de novo era ser humano, e eu não conseguia aguentar a dor. Transformem-se de volta, Sam se dirigiu a eles. Eu vou te buscar, Embry. Primeiro uma, depois a outra consciência ficaram em silêncio. Restou apenas Sam. Obrigado, eu consegui pensar. Volte pra casa quando puder. As palavras eram fracas, caindo no vazio enquanto ele ia embora também. E eu estava sozinho. Muito melhor. Agora eu podia ouvir o leve murmúrio das folhas secas embaixo dos dedos dos meus pés, o sussurro das asas de uma coruja acima de mim, o oceano — longe, longe à oeste — gemendo contra a praia. Ouvir isso, e nada mais. Sentir nada além da velocidade, nada além dos músculos, tendões, e dos ossos, trabalhando juntos em harmonia enquanto os quilômetros desapareciam atrás de mim. Se o silêncio na minha cabeça durasse, eu nunca mais voltaria. Eu não teria sido o primeiro a escolher essa forma a outra. Talvez, se eu corresse pra longe o suficiente, eu nunca teria que ouvir de novo... Eu forcei mais as minhas pernas, deixando Jacob Black desaparecer atrás de mim.

Meus instintos de lobo ganhavam de mim violentamente e a cada sanguessuga despeçado eu via a cabeça de Edward Cullen e isso me fazia querer matar cada vez mais deles. Não havia mais nada que eu pudesse fazer para colar minha mente em seu lugar, cada pedaço de mim ansiava por arrancar suas cabeças e braços e eu o fazia com maestria, estava indo bem demais até o cansaço e as ferias me vencerem e eu cair sob a beira de uma rodovia. 

A consciência me atingiu quando ouvi gritos, denunciando a mim mesmo que estava perto demais da civilização. Eu pisquei recuperando-me do torpor, questionando-me quanto tempo passei vagando. Minhas pernas doíam, mesmo no corpo do lobo e as ferias faziam com que andar fosse difícil e a transformação dolorosa. Meu shorts, agora se encontrava surrado e velho e ainda que sob a dor torturante, eu o vesti. Analisei a mim mesmo com surpresa, finalmente saindo de dentro do casulo que criei desde que parti de Forks. 

Há quanto tempo mesmo foi que isso aconteceu? Há quanto tempo deixei de ouvir meus irmãos? Há quanto tempo estou me curando das pancadas sozinho? 

— Esquece, seu idiota! — Novamente a voz chamou minha atenção, o tom era raivoso e seja quem fosse, não parecia de fato estar em apuros. Dessa forma, eu voltei e me embrenhar na pequena mata. Já havia me esquecido de que tinha duas pernas para usar, me perguntei há quanto tempo estava vagando sem direção. — Brady, eu disse pra esquecer!

— Lily...

— Me larga seu idiota! Ei, está me machucando. Eu disse pra você me largar Brady.

Eu esperei tentando me manter indiferente, mas parecia impossível resistir ao impulso, por algum motivo desconhecido por mim, o lobo sentia a pura necessidade de intervir, algo que ia além do instinto protetor. Meu peito não tinha mais aquela dor infinita, mas em seu lugar também não havia sobrado coisa alguma. Eu segui em passos ágeis em direção a gritaria e quando meus olhos focalizaram o que ocorria, entendi o impulso do lobo em ajudar.

Uma garota pequena parecia tentar se desvencilhar de um cara que muito mais alto e mais forte que ela. Parecia uma briga de casal, de um tipo que eu não me meteria, mas eu podia ver as marcas vermelhas que os dedos dele começavam a deixar na pele dela.

— Hey! Solta ela, cara!

Ele me olhou por uma fração de segundo, desvencilhando-se da garota e andando pesadamente em minha direção.

— E quem é você? – cruzei os braços, sabendo que se socasse o cara, provavelmente quebraria o crânio dele. Mas antes que eu pudesse abrir a boca, a garota baixinha se enfiou em meu campo de visão. — Sai daqui idiota, isso não é da sua conta!

— Saia daqui você, Brady. Olha... — Ela me encarou com os olhos grandes e negros, então arregalou os olhos surpresa, dando-se conta do meu estado. — Minha nossa, cara! Você está bem? — As mãos dela tocaram meus braços e os olhos procuraram qualquer indício de ferimento, acredito. — Você está sangrando! — Comentou nervosamente antes de apoiar as mãos no meu ferimento, um som estrangulado escapou de mim diante da dor que fez pontos negros surgirem na minha visão. — Ah não! — eu a ouvi lamentar antes de cair completamente na escuridão. 

 


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Notas finais do capítulo

Oi meninas, não esquecem que tem mais tirinhas lá no link, fiquem à vontade para ver.