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Capítulo 1
You're my h o m e


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!

Eu não sou eu se não escrevo algo sobre o Natal, mas é a primeira vez que escrevo sobre Nezushi com essa temática.
Eu não acredito que o cristianismo esteja presente na sociedade deles, maaaaaas esqueçam essa questão porque Natal é lindo e eu amo muito.

Sempre fico nervosa quando escrevo sobre No.6, porque é difícil, rs. Coloquei algumas referências a falas deles no mangá/anime, não sei se alguém vai conseguir perceber.

Se gostam de ler com música, sugiro Forest Fire - Brighton, que é a música que aparece em itálico logo no início. Link: https://www.youtube.com/watch?v=qBqzXYcSdns

Boa leitura!



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oh, I hope you know
that you're my home

Os meses passaram devagar para Shion. Cada dia era uma tortura diferente e a cada mínimo afazer rotineiro ele se lembrava de Nezumi.

Os primeiros dias foram os mais difíceis. Até mesmo o ato de jantar trazia consigo um turbilhão de memórias que ele jamais gostaria de esquecer, mas que ainda assim doíam por saber que elas não se repetiriam tão cedo.

Mas o tempo era implacável e continuou seguindo seu fluxo ininterrupto, sem se importar com o fato de que cada dia que passava era um dia a mais longe de Nezumi.

A parte do muro que separava No.6 do Setor Oeste foi totalmente destruído e aquele ponto foi praticamente anexado a cidade. Os moradores que lá viviam continuavam marginalizados e em condições inferiores, mas educação e serviços de saúde agora eram de acesso a todos, apesar das superlotações e desorganização reflexos do momento em que viviam.

A falta de administração no local incentivou o surgimento de gangues e isso, somado com a desigualdade social, fez com que o índice de criminalidade aumentasse em níveis alarmantes.

Apesar de todos os problemas, Shion agradecia pelos rumos que as coisas tomaram. Não era fácil, mas era um retrato real. Bastava de utopias.

Ele agora ajudava sua mãe na padaria. Atendia no balcão, servia os clientes, limpava o local. Ele levava a sua vida como podia, adaptado a sua atual realidade e, ao mesmo tempo, em uma espera constante por alguém que sequer tinha certeza que voltaria.

Isso até o dia 24 de Dezembro. Na véspera de Natal, Shion acordou cedo e ajudou Karan como sempre fazia, porém por volta das 17 horas ela lhe deixou encarregado da padaria enquanto prepararia a ceia. Quando o sino sobre a porta anunciou um cliente, Shion estava sozinho e despreparado para o que viria:

— Posso entrar, Vossa Majestade?

Os olhos vermelhos se arregalaram de tal forma que arrancaram uma risada do visitante.

— N-Nezumi...?

Shion encarava o outro de maneira embasbacada. Por meses, tudo o que mais queria era vê-lo e ser surpreendido pela sua chegada justamente na véspera de Natal soava como um presente. Ao mesmo tempo, ele tinha vontade de socá-lo por ter desaparecido sem dar nenhuma notícia. Por tê-lo feito esperar e conviver por tanto tempo com expectativa e preocupação.

Aproveitando o momento de surpresa de Shion e sem esperar uma resposta para sua pergunta, Nezumi sentou-se de forma desleixada em uma das cadeiras do local.

— No.6 está bem diferente do que me lembro.

A atitude despreocupada do outro fez com que finalmente caísse em si e se aproximasse em passos rápidos, agarrando-o pela gola da camisa larga e fazendo-o se erguer. Daquela distância, Nezumi parecia um pouco maior do que ele se lembrava, mas não se deixou abater pela diferença de altura.

— Um ano sem saber se você estava vivo ou se te veria outra vez. Um ano! Custava ter mandado alguma notí–

Shion cortou sua fala de forma abrupta quando Nezumi obrigou que largasse sua camisa e  forçou sua mão sobre seu peito em um gesto familiar. O menor conseguia sentir o coração dele batendo acelerado, exatamente como sabia que o seu também estava.

Os dois se encararam por alguns momentos antes que Shion voltasse a falar:

— Eu já te disse uma vez: mais do que qualquer outro medo, eu tenho medo de te perder. Eu só queria ter certeza de que você não iria desaparecer na minha frente... E você desapareceu.

Nezumi quase cambaleou pelo impacto das palavras e pelo olhar magoado que o menor lhe dava. As palavras ficaram presas em sua garganta e ele observou Shion dar as costas e voltar a fazer o que quer que estivesse fazendo antes de sua chegada.

Longos minutos se passaram, até que conseguisse encontrar algo para dizer:

— Eu odeio esse lugar e tudo o que ele me faz lembrar, – ao ouvi-lo, Shion parou onde estava, ainda de costas – mas passei todos os dias durante esses 12 meses pensando nessa maldita cidade, porque você está nela.

O silêncio voltou a imperar e Nezumi suspirou, aproximando-se do outro e parando logo atrás dele, seu peito quase tocando as costas do garoto a sua frente.

— Não há mais o que ser destruído aqui. Todo o sistema já era e a cidade está colapsando. Apesar do meu ódio por esse lugar, não faz mais sentido. – De forma hesitante, tocou o ombro magro e apertou de leve. – Me desculpe.

O coração de Shion batia violentamente contra seu peito quando ele se virou e encarou o outro.

— Eu senti a sua falta, Nezumi.

Eles se encararam por mais alguns momentos até o maior levar a mão até o rosto de Shion e acariciar levemente sua bochecha antes de inclinar o corpo e beijá-lo nos lábios. O selinho durou poucos segundos.

— Pela primeira vez, não é uma despedida.

Shion sorriu e atreveu-se a colar novamente seus lábios. Dessa vez, Nezumi levou as mãos a sua cintura, trazendo-o para mais perto de si. Mordiscou os lábios macios que se entreabriram para aprofundar o beijo. Suas línguas se entrelaçaram de forma tranquila, fazendo o mais velho suspirar em contentamento.

Quando antes beijara alguém daquela forma, com tanta vontade e tanta delicadeza?

Se separaram quando a necessidade de oxigênio falou mais alto e Nezumi sugou levemente o lábio inferior de Shion antes de se afastar. Ele estava prestes a comentar sobre o que tinham acabado de fazer quando Karan irrompeu na padaria, assustando os dois garotos que se afastaram de forma desengonçada, o que fez a mulher olhá-los de forma desconfiada.

— Quem é, Shion?

O garoto tinha as bochechas em um tom rosado quando respondeu. Karan percebeu isso, assim como notou a felicidade estampada em sua expressão.

— É o Nezumi, mãe.

A mulher arregalou os olhos e pareceu em choque, mas logo se recuperou e foi até ele, lhe abraçando de forma apertada. Nezumi arregalou os olhos pelo contato inesperado, demorando um pouco para finalmente retribuir e arrancando uma leve risada de Shion.

Karan tinha os olhos um pouco úmidos quando o soltou:

— Eu nunca vou poder agradecer tudo o que fez pelo meu filho e por Safu.

Nezumi a encarou pensando em como, na realidade, era ele quem deveria agradecer. Afinal, só estava vivo porque Shion lhe salvara há anos atrás. Só estava vivo porque ele retirou as balas do seu corpo no Reformatório e lhe deu forças para lutar e sair dali. Era para Shion estar morto por causa daquilo, inclusive.

Mas a mulher não sabia de nada e ele decidiu apenas sorrir.

— Não tem o que agradecer.

‘’ ‘’ ‘’

Karan iria usar a cozinha da padaria para preparar a ceia de Natal e falou para Shion subir com Nezumi até estar tudo pronto. Eles insistiram em ajuda-la, mas ela foi pragmática ao dizer que eles precisavam conversar e passar um tempo juntos.

E eles realmente precisavam.

Estavam sentados na cama de Shion, na parte superior do beliche. O quarto era bem pequeno, assim como a casa em que viviam, mas nenhum dos dois se importava com aquilo.

— Depois de tudo, não pensaram em se mudar daqui? Para outra casa ou até mesmo outra cidade?

Shion encarou um ponto fixo por algum tempo, refletindo sobre a questão.

— Eu não mudaria de casa só por mudar. Na atual situação, é praticamente impossível. Mas a ideia de mudar para outra cidade é interessante, mas não temos dinheiro para isso. Seria complicado abrir outra padaria. – Nezumi assentiu, voltando a observar o ambiente – E você.... Para onde você vai?

A pergunta fez Nezumi morder o lábio, contrariado. Tornou a encarar o garoto, encontrando a íris vermelha e identificando o quão temeroso Shion estava.

— Por que está me olhando assim?

O menor engoliu em seco, desviando o olhar por alguns instantes antes de voltar a encarar o cinza singular daqueles olhos.

— Você disse que não era um beijo de despedida.

O silêncio reinou enquanto os dois se encaravam com intensidade. Nezumi revirou os olhos e se aproximou, forçando seu corpo sobre o do outro e lhe obrigando a deitar. Shion resistiu por alguns momentos, sem entender bem o que ele queria, mas cedeu ao sentir os lábios finos contra os seus.

O beijo começou lento, mas rapidamente tornou-se urgente. Shion agarrava-se ao corpo sobre si com força, apertando-o como se ele fosse fugir caso o soltasse.

Nezumi rompeu o beijo para percorrer o pescoço com os lábios, mordiscando de leve antes de pressionar o nariz contra a pele alva e aspirar o cheiro do qual sentira tanta falta. Seus braços se estreitaram no corpo sob si em um abraço estranho.

Shion ofegava, desacostumado a contatos tão íntimos como aquele. Seu coração batia violentamente contra o seu peito e ele estava feliz como há muito não se sentia. Abraçou o outro de volta, mantendo-o apertado contra o seu corpo, mesmo que sentisse o peso começar a lhe incomodar.

Shion não saberia dizer por quanto tempo ficaram daquela forma, mas chegou a pensar que Nezumi dormira sobre si, até que ele sussurrou em seu ouvido:

— Não é uma despedida. Eu vou ficar com você, Shion.

O garoto sorriu, erguendo-se entusiasmado e obrigando Nezumi a fazer o mesmo.

— E como vamos fazer? Acho que você pode ficar aqui, minha mãe não vai se importar, eu morei com você por muito tempo e quero morar com você aqui também e– Os lábios do maior lhe calaram com um selinho e Shion lhe encarou sem entender.

Nezumi riu, acariciando a marca vermelha no rosto do outro.

— Você não tem jeito mesmo, não mudou nada – e essa constatação fez seu sorriso aumentar e algo em seu peito aquecer – Não vamos falar disso agora, depois decidimos. Eu também tenho algum dinheiro. Hoje vamos só aproveitar nosso primeiro Natal juntos, pode ser?

Shion sentiu os olhos umedecerem e assentiu, descendo do beliche com um sorriso nos lábios.

— Então vamos ajudar minha mãe com os preparativos para podermos cear logo. Quero que mostre seus dotes culinários para ela também, porque você pode ser muito útil na padaria.

Nezumi balançou a cabeça, rindo de leve pelo entusiasmo tão característico de Shion quando se tratava de algo que ele gostava. Observou-o descendo as escadas de forma animada e teve a certeza de que fez a escolha certa ao decidir finalmente ir atrás dele.

Estava em casa.


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Notas finais do capítulo

Bom, escrever algo pós-No.6 é sempre difícil, são tantas as possibilidades, né.
Já adianto um feliz natal pra todos vocês ♥ Muuuita paz, muito amor. E um próspero ano novo!
Espero que tenham gostado. Nos vemos nos reviews.

Beijoos,
@lumii_uchiha.

PS: Fanfic postada no Social Spirit também.



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