Tanaka Ryuunosuke era formado por uma série de características marcantes. Seu cabelo raspado, suas caretas, sua personalidade barulhenta, sua capacidade de criar laços.

Sua solteirice crônica.

Não tivera nem namoros de infância, aqueles em que crianças de cinco a sete anos às vezes dão as mãos. Ele gostava muito de garotas, sempre gostara, mas as garotas nunca gostaram muito dele. Talvez porque, como um gato, ele pensava que elas adorariam receber insetos mortos de presente. Talvez porque ele as derrubava por acidente quando saía correndo. Talvez por causa da mania de tirar a roupa quando ficava animado. Antes, não era só a camiseta que ele rodava acima da cabeça, mas sim uma peça em cada mão - seus pais receberam várias notificações da escola a respeito, por vários anos.

Saeko não entendia como, mesmo depois do fim dos insetos e das corridas desembestadas, as meninas não viam que seu irmãozinho era fantástico e bonito e gentil. Ela tinha certeza de que um dia uma garota iria abrir os olhos e perceber todas as qualidades dele. O próprio Tanaka continuava a sonhar, mas não sem certa resignação. Se Noya, que era tão legal, não conseguia uma namorada, quais eram suas chances?

Solidão, porém, não era um problema para Tanaka. Ele tinha Kiyoko-san, que aquecia seu coração à distância. Ele tinha o time, cheio de solteiros inveterados mais interessados em vôlei do que em meninas, mesmo que alguns (Suga) precisassem levar uma sacola extra no Dia dos Namorados para os chocolates recebidos. Era como se os seus companheiros tivessem feito um voto de celibato para que nada os distraísse do que era verdadeiramente importante; como dizia o velho ditado, ball is life.

Tanaka achava isso muito bonito. O pensamento o enchia de determinação toda vez que datas românticas chegavam e casais apaixonados enchiam as ruas e ele ficava tentado participar da procissão. O que era um relacionamento amoroso quando se tinha um time? Ele seria fiel ao time como o time era fiel a ele.

É claro, tudo isso foi antes. Antes do segundo médio, ano em que Tanaka começou a descobrir e ver coisas, e quando ele finalmente compreendeu A Verdade.

Não era que seu time fosse comprometido e que, por ideologia, virasse os olhos quando garotas passavam; eles só eram muito gays.

E depois Tanaka percebeu que isso não era restrito a Karusuno. Durante torneios e jogos de treino, a realidade começou a se revelar diante dos seus olhos: o vôlei estudantil estava repleto de gays. Era quase que formado exclusivamente por gays. Dava para contar nos dedos de uma mão a quantidade de não-gays dos outros times. Se Tanaka fosse de fazer estudos, estudaria esse fenômeno. Ganharia prêmios e seria reverenciado por sua inteligência e sagacidade. O tema analisado – Vôlei atrai gays, ou vôlei faz as pessoas se tornarem gays?

Mas Tanaka não era de fazer estudos. Ele só observava... e sofria, melancólico, pela primeira vez consciente de que sim, ele era solteiro, e não, ninguém o acompanhava nessa dor, porque todos em volta estavam apaixonados. Mesmo que alguns não soubessem que estavam comprometidos, Tanaka sabia. Tanaka via tudo, e esse dom era mais uma maldição do que uma bênção.

Era mais fácil listar os acontecimentos por tópicos, honestamente.