Fuyu 冬 escrita por Lua


Capítulo 5
Merii Kurisumasu


Notas iniciais do capítulo

Quinto Drabble ou Primeiro Conto?
メリークリスマス = Merii Kurisumasu = Feliz Natal.



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Nevava, como todo natal em Konoha, o frio era absoluto. Mas dentro daquela casa nada além do calor e ansiedade de três crianças tinham a permissão de entrar. Ansiosas pela hora que o tio iria começar a contar alguma história de um tempo antigo e fantasioso, era uma tradição, ansiavam o ano todo por aquele momento. Mas hoje a história seria diferente. 

Sentadas no chão em volta de uma poltrona, as crianças esperavam enroladas em mantas, azul, rosa e laranja, os olhos concentrados onde Kakashi estava com um livro velho nas mãos. A lareira logo ao lado trazia o calor necessário para afastar o frio, 

— Estava tão frio! A neve não parava de cair, como hoje,  e a noite se aproximava. – Kakashi começou aparentemente concentrado no livro, mas de olho nas crianças. 

"Aquela era a última noite de Dezembro, véspera do dia de Ano Novo. Perdida no meio do frio intenso e da escuridão, uma pobre menina seguia pela rua fora, com a cabeça descoberta e os pés descalços."

— Ela não tinha um casaco? – Naruto questionou curioso, puxando a barra da calça do mais velho para pode chamar sua atenção. 

— E chinelos? Os pés dela vão congelar! – Sakura emendou a pergunta do amigo, as mãos apertadas em cima do colo, uma preocupação infantil estampada no pequeno rosto. 

— Eu quero ouvir o resto da história! – Sasuke reclamou arrancando uma risada de Kakashi. 

— É claro que ela tinha chinelos, mas não duraram muito tempo porque já haviam pertencido à mãe dela, eram grandes e ela acabou perdendo quando teve que correr pela rua. E não, ela não tinha casaco. – Respondeu as perguntas, dando continuidade à história. 

— Um dos chinelos se perdeu na neve, o outro ela não viu, por isso andava descalça e com os pés roxos de frio. – Kakashi olhou para Sakura, a menina se encolheu o pouco olhando para a janela, a neve ainda caia. 

"A menina vendia fósforos, mas naquele dia ninguém comprara sequer uma caixa, portanto ela não conseguira um centavo. "

— Ela devia estar com fome e frio. – Sasuke murmurou baixinho, ele conhecia aquela sensação, já fora menino de rua, agora tinha um lar, um quarto quentinho pra chamar de seu, comida gostosa todos os dias na mesa. E aquela menina, o que ela tinha? 

— Os flocos de neve caíam sobre os cabelos da menina, mas ela nem pensava neles, pensava apenas nas luzes vivas e o cheiro de carne assada que chegava às ruas, era véspera de Ano Novo. 

Kakashi observou as crianças abaixo de si, Sakura parecia que iria chorar a qualquer momento, Sasuke parecia distante. 

— A menina sentou no chão e se encolheu perto de uma porta, sentia cada vez mais frio, mas não podia voltar pra casa, não havia vendido nada, o pai era capaz de lhe bater, e no final das contas, também não havia calor em casa. Era um lugar ruim, o vento entrava pelos buracos da telha, tornando o ambiente frio. 

— Ela vai congelar. – Naruto disse alarmado, os olhinhos fixos no tio. 

— Um calorzinho de um fósforo faria bem à ela, tiraria só um na parede para aquecer os dedinhos. A chama quente apareceu, viva como em uma candeia. 

"Mas que luz era aquela? A chama ardia como se fosse uma fogueira, era intensa e tinha um calor tão bom; quando viu já esticava toda para se aquecer, mas de repente a luz se pagou e ela notou, ainda estava sentada na neve, a ponta do fósforo queimado na mão. Riscou outro fósforo, que se acendeu e brilhou, e o lugar em que a luz batia na parede tornou-se transparente. Viu o interior de uma sala de jantar onde a mesa estava coberta por uma toalha branca,  e no meio da mesa havia um peru assado, com recheio de ameixas e puré de batata, que fumegava, espalhando um cheiro apetitoso. Mas, que surpresa e que alegria! De repente, o peru saltou da travessa e rolou para o chão, com o garfo e a faca espetados nas costas, até junto dela. O fósforo apagou-se, e a pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria." 

— O frio está fazendo com que ela veja coisas. – Sasuke concluiu, mesmo tão pequeno já tinha noção de assuntos bastante avançados para sua idade. 

Sakura, a menor dos três já se inclinava para o ombro de Naruto, sonolenta. 

— Ainda acendeu um terceiro fósforo. Imediatamente se encontrou ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de Natal. Era ainda maior e mais rica do que outra que tinha visto no último Natal, através da porta envidraçada. Milhares de velinhas ardiam nos ramos verdes, e figuras de todas as cores, pareciam sorrir para ela. 

"A menina levantou ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo apagou-se, e todas as velas de Natal começaram a subir, a subir, e ela percebeu então que eram apenas as estrelas a brilhar no céu. Uma estrela maior do que as outras desceu em direção à terra, deixando atrás de si um comprido rasto de luz. Foi alguém que morreu, ela pensou, a avó, a única pessoa que tratara ela bem, já havia falecido, mas algo que havia lhe dito ela nunca esquecia, quando visse uma estrela cadente, era uma alma que iria a caminho do céu." 

— Que bonito. – Naruto disse baixinho, tentando se lembrar das vezes que vira uma estrela cadente. Alguém teria visto seus pais partindo? Eles devem ter sido duas estrelas bem brilhantes.

— Ela ainda acendera outros fósforos, vendo a avó, pedia para que a levasse, não queria que a avó sumisse como o peru e como a árvore de natal. Continuou por minutos porque queria que avó continuasse junto dela, nunca a viu tão linda. Em algum momento ambas voaram alto, já não sentiam frio, nem fome, ou desgosto. Estavam juntas, a menina sorria, as bochechas vermelhas pelo frio passado, mas nada disso importava.  – Kakashi fechou o livro, decidiu que não contaria o final, a menina morria, eram pequenos para entender, talvez quando fossem mais velhos ele contasse a versão completa. 

— Ela morreu, não é? – Sasuke perguntou, os outros dois já dormiam há alguns minutos. 

— Esse é o fim, Sasuke, vem, é hora de dormir. – O mais velho disse ao se abaixar para pegar Sakura e Naruto no colo. 

— Esse não pode ser o fim. –  O garoto disse baixinho para não acordar os amigos, ele queria saber o final, o de verdade. 

— Algumas coisas não precisam chegar ao fim. Ela estava feliz no final, eu prometo. Não demore, está tarde. – Respondeu encerrando o assunto, saindo da sala com as crianças adormecidas. 

Sasuke se aproximou da janela, tendo que ficar na ponta dos pés para poder enxergar a rua completamente, a neve ainda caia, não era possível ver sequer uma estrela, mas ele jurava que viu no final da rua uma luzinha brilhar fraquinha. Seria ela? Poderia ser, talvez ela ainda tentasse se aquecer, fugir da noite fria. Ou talvez ela, junto da avó, aquecesse crianças perdidas como um dia ele fora.


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