O sol raiou no dia seguinte, e os dois meninos começaram a acordar preguiçosamente.

Depois de muita insistência de Arthur, Gerard dormiu no quarto dele, mas com a condição dele dormir no chão e Arthur na cama, não o contrário como o outro queria.

Gerard se espreguiçou ainda deitado e se levantou brevemente para checar se seu amigo ainda dormia, vendo que sim. Por isso, decidiu observar um pouco seu amigo enquanto dormia.
Na opinião de Gerard, Arthur parecia um anjo dormindo com suas duas mãos debaixo da cabeça e pernas encolhidas de lado. Fitou os lábios de Arthur que pareciam formar um sorriso tímido e se lembrou da noite anterior.

Ele estava com seus pensamentos confusos e bagunçados dias atrás e quando achou que os colocaria no lugar, Arthur o surpreendeu com um beijo. Não fora algo grande, mas aquele beijo praticamente inocente, que pode não ter significado nada para o outro, para Gerard foi algo grande e significativo.

Gerard viu Arthur se mexer na cama e abrir seus olhos verdes lentamente enquanto se espreguiçava. Sim, Arthur tinha olhos lindos e verdes, ele explicou que esse era um dos motivos para ele não usar óculos escuros. Além de não ver sentido em usar o acessório, ele disse que seus pais lhe diziam que ele tinha olhos “bonitos demais para ser escondidos atrás de lentes negras”.
O garoto continuou quieto, assistindo ao amigo despertar, obviamente não faria sentido fingir que estava dormindo.

— Gerard, você já acordou?— Ele perguntou em um sussurro provocando um sorriso em Gerard, pelo carinho do amigo.

— Estou...— ele respondeu também sussurrando para brincar – E você?

— Também estou acordado, mas...— Arthur se sentou na cama – Já amanheceu? Sabe como é, de manhã eu não enxergo nada. E de noite também não.

— Nossa, Art!

Gerard exclamou e escondeu o rosto queimando de vergonha enquanto ria junto com Arthur que gargalhava da própria piada.

— Eu não consigo evitar, desculpa...— Disse Arthur ainda rindo.

— Se quer saber, já é de manhã sim.— Gerard riu – Art, desculpa perguntar, mas como você faz de manhã? Precisa de ajuda para o banheiro, escovar os dentes?

— Não se preocupe, eu consigo ir ao banheiro sozinho!

— Que incrível! Então, enquanto você faz suas coisas, eu faço o nosso café, pode ser?

— Claro! Eu só vou te chamar quando eu precisar descer as escadas, ainda não treinei bem essa parte...

— Ah, tudo bem! Só me chamar!

Cada um foi para um lado após sair do quarto e logo já estavam juntos à mesa comendo algumas torradas com chocolate quente, já que Gerard disse que não sabia fazer café.

— Gerard... Sobre o beijo de ontem...

— Não precisa se explicar Arthur, eu disse que estava tudo bem...

— Eu sei, mas... Esquece...

— Pode falar, Arthur... Qualquer coisa... – Gerard, mesmo nervoso, incentivou o amigo.

— Deixa, não é nada importante...

Gerard resolveu não insistir, o que quer que fosse, Arthur não parecia estar disposto a falar ainda, o que não deixava de ser verdade.

[...]

— Vamos pedir pizza de novo?

— Por mim, a gente pode fazer uma pipoca mesmo, Art... Eu posso fazer uma pipoca salgada e doce, se você quiser!

— Você sabe fazer pipoca doce?

— Claro! Pipoca doce, aquelas com açúcar e também de chocolate, só escolher!

— Quero de chocolate!

— Ótimo, farei doce e salgada então! Aliás, quero assistir o filme com os olhos vendados outra vez, achei muito legal a experiência.

Arthur sorriu feliz por ouvir aquilo e se pôs a escolher o filme enquanto Gerard foi fazer a pipoca.
Depois de alguns minutos, ele já estava de volta com as duas bacias com o lanche, Gerard colocou sua venda e Arthur deu play no filme, depois de encontrar o botão com Braille.

O filme escolhido, foi um romance e não um filme de ação como do dia anterior. Ambos ficaram em um completo silêncio até o final do filme.

— Gerard...

— Sim...?

— E-eu...— Arthur respirou fundo tentando espantar o nervosismo que sentia – Que droga, porque é tão difícil?

Gerard tirou sua venda enquanto Arthur tentava achar as palavras certas. Ele então pegou gentilmente o queixo de Arthur e trouxe para si o beijando ternamente, se demorando mais que o beijo do dia anterior.
Arthur aproveitou a proximidade e pôs sua mão na nuca de Gerard, lhe acariciando ali tentando passar a mensagem de que queria o beijar de forma mais “séria” e não apenas um selinho como antes.

O mais alto pareceu entender o recado e delicadamente aprofundou o beijo e Arthur apenas se deixou levar pela sensação boa que sentia.

Arthur pensou que ficaria nervoso e apreensivo por ser realmente seu primeiro beijo agora, mas Gerard era tão carinho e paciente, lhe transmitia tanta paz, que ele não sentiu nada além de um friozinho gostoso na barriga e um coração acelerado.
Quando o beijo se encerrou, os dois ficaram um bom tempo com suas testas coladas parecendo ainda aproveitar o bom momento.

— Me diz que era isso que você estava tentando me pedir...

— Exatamente isso, ainda bem que você me entendeu...— Arthur sorriu bobo – Eu sonhei com você essa noite, foi bom porque eu consegui ver o seu rosto, já que eu o senti, ajudou minha imaginação.

— Isso é incrível, Art! E como foi esse sonho?

— Desse jeito. Eu acabei de realiza-lo!

— Sério?!

— Mas tinha um detalhe a mais...

— E qual era?— Gerard ficou vermelho, e quase agradeceu por Arthur não o enxergar no momento.

— Você me pedia em casamento...

— Ah!— O mais alto se repreendeu mentalmente por ter pensado errado sobre o amigo.

— Já que estamos... Mais próximos... Preciso lhe confessar uma coisa.

— Diga.

— Eu gosto de você, desde o momento em que esbarrei em você na escola e enxerguei sua aura. Como já lhe disse antes, é a mais bonita que já vi em toda minha vida e me encantou no instante que a vi.

— Já que é para ser sincero, eu também estava confuso com meus sentimentos em relação a você, Art... Mas, preferi ficar em silencio, pensei que fosse apenas algo bobo ou engano, porém depois que nos beijamos ainda ontem e agora, eu só tive certeza de que também gosto de você.

— Pode ser precipitado, mas... Gerard, você quer namorar comigo? Se não quiser, não tem problema e...

Gerard beijou Arthur o calando de repente, coisa que lhe arrancou um lindo sorriso.

— Vou levar isso como um sim!

— Mas, e os seus pais? E Ryan? Não quero que você passe pelo mesmo que eu, Art...

— Fique calmo, tenho certeza que meus pais e Ryan vão nos aceitar, mas se você estiver inseguro, podemos manter em segredo por enquanto.

— Você faria isso por mim?

— Claro! Te espero quanto tempo precisar.

Gerard sorriu e abraçou seu - agora - namorado.