Make a Memory escrita por Paula Freitas


Capítulo 30
Capítulo XXIX – Comemoração


Notas iniciais do capítulo

“Até que nossos corpos sejam poeira ao vento. Até que não exista mais amor. Até esse dia, eu vou te amar sempre e para sempre.”.



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—... Félix... Você se casaria comigo?

Eu ouvi mesmo o carneirinho me pedindo isso? Para me casar com ele? Eu mal posso acreditar! É como se eu estivesse num mundo mágico, onde só existisse ele e eu. Seus olhos eram minha luz, sua voz era minha música, e meu coração era o meu único guia.

— Carneirinho... C-Como?...

— Félix... Se você quiser eu repito tudo que acabei de te dizer, quantas vezes você quiser, meu amor. Mas, tudo que eu quero nesse momento é que você entenda que você é o amor da minha vida e sem você eu não sou mais eu. Entende? Sem você eu não existo. Não há Niko sem Félix. Porque foi você o responsável por me proporcionar o que eu tenho hoje de mais precioso. Primeiro, meus filhos, meus sonhos realizados... E segundo, o homem que eu sempre esperei... Você.

Lágrimas tomaram conta de meus olhos junto a um sorriso feliz que se formou em meu rosto.

—... Niko, você... Você é... Inexplicável.

— Será que terei que repetir aquilo que te ensinei?

— Não, não. Eu sei. Sentimento não tem explicação, não é? Não se explica o amor, só se sente.

— E o que você sente agora, Félix?

Respirei profundamente, olhei bem para ele e deixei meus sentimentos falarem por mim. Acho que nunca falei nada tão bom na vida.

— Eu sinto agora... Que... Que devo te dizer sim.

—... Sim?

— Sim.

— Q-Quer dizer que...

— Você me perguntou se eu me casaria com você. A resposta é sim. Sim, carneirinho, eu quero me casar com você.

Vi seus olhinhos brilharem com uma luz resplandecente.

— Você... Você quer se casar comigo, Félix?... Mesmo?

— Eu quero, carneirinho.

Ele sorriu de uma maneira que me deixou pleno só por vê-lo tão feliz. Logo me abraçou forte e só aí eu percebi a presença dos outros. Minha família estava lá, minha mãe, minha avó, minha irmã, meu filho que havia me levado... Meus outros dois novos filhinhos... E um casal de senhores que eu não conhecia. Quem seriam eles?

Outra presença, porém, foi que me deixou nervoso. O que o Eron fazia lá? Ele olhava para nós como se quisesse me matar. Senti um frio na espinha como se me deparasse com uma alma ruim, mas abracei o Niko mais forte e minha paz voltou instantaneamente, por mais que meu coração estivesse acelerado.

Quando o Niko me soltou, achei graça na sua comemoração anunciando:

— Podem abrir o champanhe, pessoal! O Félix e eu vamos nos casar!

Todos comemoraram junto. Vi umas caras surpresas, mas que logo se transformaram em sorrisos de felicitações. Menos ele, que continuava lá, me encarando como se quisesse arrancar meus olhos.

O Niko trouxe de volta minha atenção quando me falou baixinho:

— Ah, meu amor... Eu tive medo de que você não me aceitasse como seu noivo. Eu acreditei muito, tive muita esperança, mas, eu não pude evitar em pensar que talvez você ficasse confuso com tudo isso, assim tão de repente, e que me dissesse não.

Peguei em suas mãos, beijei-as e falei com toda sinceridade:

— Carneirinho, se eu aceitei morar na sua casa, me tornar pai dos seus filhos, dividir tudo com você... Meus medos, minha angústia, minhas memórias e a falta delas... Como eu não aceitaria viver o resto da minha vida com você? Se eu te amo.

— Oh! Félix... Te amo tanto!

Eu enxuguei uma lágrima em seu rosto e ele sorriu dizendo:

— Eu não vou mais chorar, tá? Prometo. Esse deve ser o dia mais feliz de nossas vidas. E só será superado pelo dia do nosso casamento.

Eu também não conseguia parar de sorrir, pois tudo que ele me dizia fazia todo o sentido para mim. Encostamos nossos rostos e depois os lábios, num beijo que eu não queria que acabasse nunca mais.

...

...

Eu puxei o Félix para um beijo apaixonado, que expressava toda a alegria daquele instante. Por uns segundos eu esqueci completamente da presença dos outros, como se no mundo só existisse nós dois. Eu não queria parar, mas fomos interrompidos ao ouvirmos a porta do restaurante bater com força.

— O que foi isso? – Perguntamos com o susto. E minha mãe se aproximou.

— Não foi nada, meninos. Foi só o Eron que saiu daqui correndo feito o diabo da cruz. Liga não.

Senti uma pontinha de satisfação ao saber disso. O Eron já tinha visto o que eu queria que ele visse, agora podia ir embora e não voltar nunca mais.

— Mas, agora, já que foram interrompidos, posso interromper mais um pouquinho, filho? – Minha mãe continuou e o Félix olhou para mim.

— Filho?

— Ah, sim! – Já era hora de reapresentá-los. – Eu vou apresentá-los pela segunda vez. Félix, esses são os meus pais.

— Ah! Seus pais?... Prazer. – Ele os cumprimentou meio sem jeito.

— O prazer é todo nosso, Félix. Pela segunda vez. – O meu pai brincou, mas logo falou sério, algo que eu gostei bastante. – Olha, já sabemos que você não se lembra de nada, mas nós já nos conhecemos antes e podemos te garantir que estamos muito orgulhosos do nosso filho ter te escolhido como companheiro. Além disso, você também o escolheu. E eu quero que o faça feliz, Félix.

Minha mãe também falou com o Félix.

— Félix, eu quero que a partir de hoje me considere uma mãe para você também. Eu nunca disse isso para nenhum namorado do Nicolas! Sabe por quê? Porque quando eu vejo o jeito que você olha para o meu filho, eu vejo o brilho do amor nos seus olhos. Da mesma maneira e na mesma intensidade que eu vejo nos olhinhos do meu Niko. Portanto, eu sei que vocês serão muito felizes juntos. E, acredite, uma mãe dificilmente se engana.

Ela me olhou e fez um sinal para eu continuar com o planejado.

— Ah, é! Félix... Esse anel pertencia aos meus pais e agora é seu e meu. Ele representa meu compromisso com você. O compromisso de te amar sem medidas até o fim dos tempos. Até que nossos corpos sejam poeira ao vento. Até que não exista mais amor. Até esse dia, eu vou te amar sempre e para sempre.

...

...

— Esse anel...

Quando o Niko me mostrou aquele anel no meu dedo, senti um arrepio diferente. Era algo bom, quente, quase palpável. Era o calor da confiança. De alguma maneira, eu sabia que já tinha visto aquele anel antes. Olhei de novo para a mãe dele e tudo se tornou mais claro na minha mente...

... ... ...

—... Me responde uma coisa, mas me responde de todo coração, Félix. O quanto você ama o meu filho?

— O quanto?...

— Sim. Quão grande é o seu amor por ele?

—... Quão grande?... Eu não sei.

— Não sabe?

— Não. ... Como eu posso mensurar algo como o que eu sinto pelo carneirinho?

— Você... Não sabe?

— Não. Se antes dele eu não sabia nem o que era amar... Como que agora eu vou saber definir o tamanho do meu amor por ele? Não há como fazer isso.

— É. Você tem toda razão, Félix. Não tem como definir o tamanho do amor. Porque ele é assim... Imensurável, inexplicável.

— Foi justamente isso que eu aprendi com o Niko.

— Parece que meu filho aprendeu bem tudo que o pai dele e eu ensinamos.

—... Vocês não sabem o que eu daria para ter tido uma família como a de vocês.

—... Em breve você fará parte da nossa família. Eu tenho certeza!

— É o que eu mais quero na vida. Não tenha dúvidas.

— Já que é assim, Félix... Eu tenho uma coisinha pra te dar.

— O quê?

— Isso.

— Um anel? Para mim? Que bonito!

— É um anel muito especial, Félix. Ele é um símbolo da nossa família há muitas décadas. E eu quero que fique com ele.

— Ah? Ah, não, pelas contas do rosário, eu não posso aceitar...

— Aceite, por favor. Se vamos aceitá-lo como genro, você precisará desse anel quando for pedir o Niko em casamento.

— Oi? É... É para pedi-lo em casamento? Já?

— É! Você não pensava em pedir?

— Pensava, claro! Nem que eu tivesse salgado a santa ceia para não querer ficar com o carneirinho pra sempre! Eu só não imaginava que esse anel fosse para isso. Eu pensei em eu mesmo comprar uma aliança para ele, sei lá... Mas, se bem que eu estou numa situação tão caótica com o dinheiro, que o máximo que eu poderia dar ao carneirinho nesse momento seria uma bijuteria qualquer.

— Que nada! Pra que gastar com bijuteria se tem uns anéis de plástico lindos hoje em dia, baratinhos...

— A senhora está brincando, não está? Diga que está.

— Ah ah! Claro que estou, Félix!

— Ufa! Ainda bem! Porque eu posso estar sem um tostão no bolso, mas anel de plástico, nunca! Seria o apocalipse!

— Tome. Fique com este anel e dê ao meu filho quando pedi-lo em noivado. O Nicolas sabe o que isso significa para nós e você me faria muito feliz se fizesse isso.

— Eu é que ficarei honrado em fazer isso. Principalmente em pedir para o carneirinho ser o meu companheiro, para morarmos juntos, para sermos a família que ele tanto deseja. Eu sei que esse será o dia mais inesquecível da minha vida. ...

... ... ...

— A senhora... A senhora já me deu esse anel antes...

O Niko e a mãe dele me olharam surpresos.

— Félix! V-Você lembrou?

— Acho que lembrei, carneirinho. – Olhei bem nos olhos dele outra vez... E, engraçado como eu sempre sabia o que dizer quando o olhava assim. – Então... Eu estava certo no que disse a sua mãe naquele dia.

— O que foi que você disse?

— Que esse seria o dia mais inesquecível da minha vida. E eu tinha razão. Eu não esqueci. Tá tudo aqui... – Apontei para minha cabeça. – E aqui. – Apontei para meu coração.

...

...

O que mais eu poderia fazer senão abraçá-lo forte e comemorar. Agora minha felicidade estava completa. O Félix já era meu noivo e em breve seria meu marido, meu companheiro para toda a vida.

Passamos o resto da noite comemorando com nossos familiares. Claro que ainda faltava a presença de uma pessoa extremamente importante para nós: a Márcia. Mas, para ela eu havia guardado uma surpresa especial.

...

No dia seguinte, fomos visitar a Márcia levando uma maravilhosa notícia.

— Oh, Félix! Estou tão feliz por você! E você, carneirinho... Felicidades! Olha, cuida bem do meu menininho, hein?

— Não precisa nem pedir, Márcia. Eu sempre cuido muito bem dele, não é, Félix?

— Muitíssimo bem. – Ele confirmou.

— Ah, vocês dois são tão lindos juntos! Eu quero saber quando vai ser esse casamento.

— Você vai ser a primeira a saber, Márcia. Até porque você foi quem cuidou do Félix quando ele mais precisava. Todas as vezes que ele precisou de alguém, você estava com ele, fazendo o papel de uma verdadeira mãe. E é por isso que temos um pedido muito especial.

— Um pedido? Ora, podem pedir o que quiserem. Querem que eu faça uns hot dogs pra servir no casamento? Eu tenho outras receitas também, viu?...

— Não, Márcia, obrigado, mas não é nada disso. Olha só, você foi a pessoa que mais nos ajudou a ficarmos juntos e sermos o casal que somos hoje. Desde que o Félix morava aqui na sua casa você nos apoiou. E depois promoveu nosso reencontro após esse maldito acidente, quando o Félix se perdeu...

— Ah, Niko, eu adoro vocês. Sempre notei como o meu menininho olhava pra você, como ele falava de você... Era de alguém apaixonado, eu tinha certeza! Pode-se até dizer que eu... Como é que chamam hoje em dia?... Ah! Eu shippei vocês desde o começo!

Nós dois rimos com as respostas da Márcia.

— É verdade, meninos! Eu sabia que vocês tinham que ficar juntos. Olha, eu torci, mas eu torci tanto... Eu até juntei os nomes de vocês pra ver se dava certo: Félix e Niko. Deu no quê? Feliko! Olha que bonitinho! Carneirinho, eu quase rezei pra Santo Antônio pra ele juntar vocês dois! Porque o Félix estava se fazendo de difícil, lembra? Ele fingia que não te queria, mas ele queria. E como queria! Naquela vez mesmo que você convidou a gente pra passar o natal na sua casa... Nossa, meu menininho só faltava pular de alegria! Ele ficou tão animado, você nem imagina!...

— Eu imagino, sim, sabe? Mas, eu adoro ficar sabendo disso. – Peguei no braço de Félix quando me lembrei de um detalhe. - Inclusive, Félix, eu te dei um par de sapatos nesse dia. Era para você dar seus primeiros passos em sua nova vida.

Félix sorriu, mas tinha uma tristeza no olhar. – Eu queria poder me lembrar dessas coisas que vocês falam.

Eu deslizei minha mão por seu braço e apertei sua mão, confortando-o. – Eu tenho fé que você ainda vai se lembrar de tudo, meu amor. Mas se não, lembre-se apenas que nós vamos fazer novas memórias juntos de agora em diante.

— Eu nunca me esqueço disso, carneirinho.

Dei um beijinho no rosto do meu amor e voltei a falar com a Márcia.

— Então, Márcia, o que a gente queria pedir pra você é que... O Félix e eu queremos que você seja como uma madrinha para o nosso casamento.

Vi que a Márcia ficou surpresa e feliz com a notícia.

— Ah! Não! Não acredito! É sério?

— Claro que é, Márcia. Você é muito importante para nós. Eu gostaria de ter sua opinião quanto à festa, às alianças... Enfim, tudo referente ao enlace. Além de que você vai ter um destaque especial nesse dia. Você vai estar ao lado da minha mãe e da Pilar no nosso casamento. Será como uma terceira mãe para nós. Bom, digamos que você é a mãe de Feliko, né? Afinal, você torceu pra a gente, você nos uniu.

— Oh, meus meninos!... Não sabem como me emocionam com esse pedido. Muito obrigada, viu? Eu aceito com muita honra. E, olha só, carneirinho, não fui eu quem uniu vocês dois, não. Foi o amor lindo de vocês. Vocês dois não podem se separar nunca mais, ouviram?

Apertei de novo a mão do Félix e confirmei aquilo que já havia dito a ele antes.

— Não se preocupe, Márcia... Porque de agora em diante e para sempre, nós prometemos não nos soltar nunca mais.

...

...

...

Longe dali, uma pessoa não tinha conseguido dormir aquela noite. Revirava na cama, remoendo o ódio que sentia pelo que havia visto na noite anterior.

... ... ...

... - Niko!

— Oi?

— O que significa tudo isso? Por que seus pais estão aqui?

— Ah, eles acabaram de chegar de viagem, vieram me ver.

— Mas... Mas... Eu pensei que você havia me chamado aqui para um... Um...

— Um quê? Um encontro? Ah, Eron, por favor, me poupe.

— Mas, Niko… Você mandou mensagem dizendo que queria que eu viesse até o restaurante...

— Sim, eu mandei. Assim como mandei para todos eles também.

— Por que a família Khoury está aqui?

— Porque hoje é um dia muito importante para mim e eu pensei em convidar os que são mais íntimos, digamos assim. E, bom, como você ainda se acha íntimo meu, eu pensei em te convidar. Por que não?

— Não estou entendendo nada, Niko. Que dia é hoje? Por que é importante?

— Você logo saberá. Enquanto isso, sirva-se, Eron. Tem bebidas no balcão. ...

... ... ...

— Era isso que ele queria... Passar na minha cara que agora é o noivinho do Félix. Pedir ele em casamento na minha frente. Nunca pensei que o Niko me faria uma coisa dessas.

... ... ...

... – Félix... O melhor que me aconteceu, foi te conhecer. E estar assim, junto com você... É o que eu sempre sonhei, meu amor. Eu não te transformei em meu companheiro nem em pai dos meus filhos, você ganhou esse posto por mérito. Porque você mereceu o meu amor desde o dia em que se apaixonou por mim, mesmo sem ainda sequer saber o que sentia. Nesse dia, eu já estava apaixonado por você há muito tempo. ...

... ... ...

— Que ódio! Que ódio! Claro... O Niko foi bem claro quando disse que já estava apaixonado pelo Félix há muito tempo. Isso quer dizer que ele se apaixonou por ele quando a gente ainda nem havia se separado. Ele não pode reclamar de mim porque ele também me traiu. Sim... Ele me traiu em pensamento. Isso se... Se foi só em pensamento mesmo.

Eron não pôde deixar de pensar nas piores possibilidades sobre o caráter de Niko. Sua raiva naquele momento não o deixava ver as coisas com clareza, pois lhe tirava a razão.

— Quando o Félix foi cobrar a conta do hospital naquela vez... Aquilo foi muito estranho. Ele estava se achando o todo poderoso porque estava brincando de ser presidente do San Magno. Então, por que ele iria lá à casa do Niko só para me cobrar uma conta? E se eles... Se eles combinaram aquilo? E se eles já tinham um caso quando isso aconteceu? Só o Niko saiu beneficiado e o Félix quase acabou comigo. Depois eu tive que sair... E algum tempo depois eles assumiram o namoro. É claro... É claro que o Niko me traiu com o Félix. Essa foi a vingança dele. Foi a vingançazinha dos dois!... Mas... O Niko? O Niko seria capaz?... Não. Acho que não. Talvez... Se eles não tiveram um caso antes, pelo menos uma coisa é certa: o Niko se interessou por ele, sim. E o Félix também. E conhecendo o Félix de antes, ele fez de tudo para ficar com o Niko. E ele conseguiu! Cachorro! Eu perdi todas as chances...

Pensando em tudo que havia acontecido desde sua separação até quando Félix e Niko começaram a ficar mais unidos, Eron teve a pior das ideias.

— Hum... Talvez eu não tenha perdido a guerra ainda. Foi só uma batalha.Mas, eu ainda posso dar a volta por cima. Ainda posso ficar bem aos olhos do Niko. Por que não?... O que é mais importante na vida dele?... Eu sei o que é.

E dando um sorriso duvidoso, ao mesmo tempo em que mantinha o olhar fixo no nada, Eron afirmou:

— O Félix te devolveu o que você mais ama um dia, Niko. E até hoje você é agradecido a ele. Eu só não fui antes, porque ele saiu na minha frente. Ele foi mais esperto, mais rápido. Eu sabia que os dois viajando sozinhos ia dar nisso. ... Mas, eu gostaria de saber uma coisinha, Niko... O quanto você ficaria agradecido a mim se eu te devolvesse o que você mais ama outra vez?

...

...

...

DIAS DEPOIS...

Félix e eu namorávamos em casa enquanto Jayminho estava na escola e Fabrício tirava um cochilo no berço. Deitados no sofá, eu fazia um cafuné no meu amado enquanto declarava toda minha satisfação:

— Adoro meu dia de folga porque eu posso ficar aqui juntinho de você o tempo inteiro e aproveitar.

— Aproveitar, carneirinho?... – Félix deu uma risadinha e eu logo percebi que ele queria falar mais alguma coisa, mas ficou tímido para dizer.

— O que foi que você pensou, hein?

— Nada não.

— Ah, fala...

— Não, é só que me deu vontade de dizer: aproveitar não, né, carneirinho? Se aproveitar de mim, você quer dizer. Mas...

— Ah! Por que você desistiu de dizer isso? É exatamente o que eu queria dizer!

Ele deu outra risadinha e se aconchegou mais nos meus braços. Eu gostava de ver esse lado tímido dele, mas, às vezes, a verdade era que me dava uma saudade enorme daquele Félix que eu conheci, despojado, extrovertido e cheio de segundas intenções.

Bom, se ele não era mais assim, eu tinha que fazer um pouco o papel do ousado da relação de vez em quando.

— Nem faça essa carinha, você me entendeu muito bem, tá, senhor Félix! Eu gosto mesmo de me aproveitar de você e você sabe disso.

— Pior que eu sei.

— Ah, meu amor... Não vejo a hora de sermos legalmente casados. Imagina só!

— Eu nem consigo imaginar, carneirinho.

— Eu consigo. Sabe o que eu mais imagino?

— O quê?

— Nossa lua de mel, ora! O que mais? Eu quero continuar me aproveitando de você.

— Ah, Niko! – Ele ficava todo vermelho quando eu falava coisas assim e se escondia mais ainda em meus braços, sorrindo feito um adolescente apaixonado. Parecia até que nossos papéis haviam se invertido de como eram no começo da nossa relação. Mas, apesar da saudade do jeito único de ser do meu Félix, o que importava era que estávamos juntos e nada iria nos separar.

— Agora falando sério, meu amor, eu não fico pensando só nessa parte da lua de mel, não, tá?

— Não? Eu pensei que fosse.

— Não. Tá bom que é a melhor parte, mas eu também não sou ninfomaníaco, sou? – Nós dois rimos. – Mas, é sério, Félix, tanto que eu pensei para onde poderíamos fazer uma viagem rápida, assim, de um final de semana talvez. E eu só pensei num lugar.

— Qual?

— Angra dos Reis.

Ele levantou para conversarmos.

— Por que Angra dos Reis?

— Porque eu me lembrei de que era para lá que você queria nos levar.

— Eu?

— Sim. Um dia, Félix, você me disse que tinha planos para nós. Você me perguntou se eu iria com você para onde quer que você fosse, e é claro que eu te disse que sim. Aí pouco antes do acidente, você me contou que seu plano era que a gente fosse morar numa casa que é da sua família e fica em Angra. Eu até comentei isso com seu pai quando conversei com ele, mas naquele dia eu estava tão nervoso que nem me lembrei de que você tinha me falado onde ficava essa casa.

Félix ficou calado, pensativo.

— Meu amor, tudo bem?

— Sim. Eu só fiquei aqui pensando no meu pai. Desde aquele dia eu não fui mais vê-lo.

— Não foi culpa sua, Félix. Ele que disse que não queria mais te ver.

— Eu sei, mas mesmo assim sinto uma coisa ruim quando penso nisso, sabe? É como se eu não fosse voltar a vê-lo nunca mais.

— Ai, não, Félix! Não diz isso, por favor! Não pense assim. Você vai ver que com o tempo ele vai acabar aceitando a gente e vocês vão se falar de novo. Eu ainda tenho esperança que isso aconteça, apesar do gênio do senhor César.

— Será, carneirinho? Para mim aquela última vez que o vi foi tão como uma despedida.

— Por que está falando assim? Você tem um pressentimento ruim com o seu pai?

— Não... É comigo mesmo.

— Com você? Como assim?

—... Eu não sei porque, Niko... Mas, eu ainda tenho um medo aqui dentro. Medo de perder algo... Perder o que tenho... De me perder de novo, sei lá...

— Amor, você não vai mais se perder. Você está comigo e eu não vou te soltar, eu te prometi. Nunca se esqueça disso, por favor.

— Não vou esquecer, carneirinho. Eu te prometo.

Dei um beijo nele e mudei de assunto antes que ele ficasse angustiado.

— E aí, o que você acha da ideia de passarmos a lua de mel em Angra dos Reis?

— Acho ótimo, Niko. Aliás, você disse que eu queria te levar pra lá, que lá tem uma casa da minha família, é isso?

— É.

— Você sabe o endereço dessa casa?

— Não... Ah! Mas, podemos perguntar a Pilar. Félix, eu pensei em mais uma coisa! E se a gente fosse pra lá antes do casamento? Para conhecer a casa, ver se a gente pode se mudar pra lá... Poderíamos até levar os meninos junto, que tal?

— Mas, você quer se mudar pra lá?

— Bom, quem queria era você. Você não queria continuar morando em São Paulo e essa ideia foi sua. Mas, desde que você me contou os seus planos, eles se tornaram os meus planos também. Então, de repente, vai que ir pra lá reaviva alguma memória sua. Ou, talvez até você sinta a vontade de novo que você tinha de ir pra lá. Quem sabe.

— É o que você quer?

— Felix, onde quer que você esteja, se for ao meu lado, eu estarei feliz.

— Você conseguiu me animar. Quer saber, carneirinho... Vamos à Angra dos Reis.

...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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