Make a Memory escrita por Paula Freitas


Capítulo 12
Capítulo XI – Questões sEm Explicações


Notas iniciais do capítulo

“Sentimento não tem explicação... Só existe.”



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...

— Edith... – Félix tentava se recordar da ex-mulher, mas nenhuma memória lhe vinha à cabeça.

— Não se recorda, não é?

— Não.

— Tudo bem... Eu posso te ajudar a lembrar, se você quiser.

— Como?

Edith olhou se Jonathan não estava mais lá por perto e chegou mais perto do ex-marido.

— Assim... – E o beijou.

Félix foi pego tão de surpresa que sequer se mexeu. Não esboçou nenhuma reação ou sentimento. Ela, então, parou de beijá-lo ao ver que ele não corresponderia.

— Você não sentiu nada? – Ela perguntou.

— Não. – Ele respondeu e ela se afastou calada. – Sinto muito...

— Não sinta. Não é culpa sua, é minha. Fui eu que criei esperanças de te que você gostasse de mim agora que você não lembra quem é de verdade.

— Edith... Quem eu sou de verdade?

Ela ficou com vontade de lhe contar, mas, por outro lado, o medo de que ele se lembrasse de tudo e a rejeitasse ainda mais era maior.

— Você é... Você. O único homem que eu amei.

— Você ainda me ama?

—... Amo. Do meu jeito, mas amo.

— Eu... Eu te amava também?

Edith respirou fundo tentando segurar as lágrimas. Com um sentimento que beirava a raiva, ela respondeu friamente:

— Você nunca me amou.

Félix estava cada vez mais confuso.

— Nunca? Então... Por que nos casamos?

— Por quê? Pelo Jonathan, pelo seu pai, por um milhão de erros consecutivos que nós dois cometemos... Mas, enfim, é como eu disse... Foi bom enquanto durou.

...

...

...

Baseado em tudo que eu havia ouvido e sentido até ali, comecei a pensar mil coisas ao mesmo tempo. Por que algumas pessoas me faziam sentir bem, enquanto outras me deixavam aflito? Edith era uma dessas últimas. Eu não a entendia! Por que ela dizia que me amava se parecia ter raiva de mim? Seu choro era tão diferente do... Do Niko.

Mais uma vez me peguei pensando nele. A imagem dele chorando me veio à cabeça. Mas, nas minhas memórias, eu não o vi apenas chorando por mim no hospital! Eu o vi chorando em um cenário diferente, em outro contexto. Seu rosto estava próximo ao meu e era como se eu o abraçasse.

Por que essa imagem me veio à mente? Já teria acontecido? Seria uma lembrança minha, uma lembrança perdida? Qual era minha relação com o Niko, afinal? Por que eu não conseguia tirá-lo do pensamento?

Foi então que, quase desesperado por respostas, pedi:

— Edith! Me beija outra vez.

— C-Como é? Você quer que eu te beije outra vez?

— Sim!... Só mais uma vez.

Eu queria comprovar se eu sentia algo quando ela me beijava. O que eu poderia sentir? Eu não sabia. Só imaginava que talvez meu coração palpitasse mais forte, meus olhos se fechassem automaticamente e eu tivesse vontade de beijá-la mais.

Mas... Nada. Não senti nada. Outra vez.

...

...

...

— O que estão fazendo? – Jonathan entrou no quarto de repente vendo a cena.

— Jonathan, não é nada...

— Como nada, mãe! Você estava beijando ele, você... Eu não acredito que você tá enganando o meu pai de novo!...

— Calma, Jonathan! Não é o que você tá pensando. Será que dá pra me dar um voto de confiança uma vez que seja, meu filho?!

— Mãe, o que você...

— Jonathan, fui eu que pedi para ela me beijar. – Félix esclareceu.

O filho ficou com uma expressão tão confusa quanto a do pai e indagou apenas:

— Por quê?!

Félix deu um suspiro cansado e foi sincero: - Eu não sei por quê. Eu achei que... Talvez, eu fosse... Não sei, fosse sentir alguma coisa que me fizesse lembrar...

— Mas, ele não sentiu nada. Eu sei. – Edith concluiu.

Jonathan tentou compreender o que havia acontecido. Ele viu que os dois estavam tristes e, apesar de tudo, eram seus pais e ele os queria bem.

— Mãe, vamos embora. Minha avó acabou de me avisar que já está a caminho.

— Sim, vamos. Deixa eu só me despedir dele.

— Tá, vai rápido. Mas, sem beijos.

— Ah, filho... – Jonathan saiu e ela comentou. – Não sei a quem ele puxou tão certinho, porque nunca fomos o melhor exemplo. E quanto a você... – Ela olhou para Félix e suspirou. – Vê se recupera essa memória, tá? Porque é o que você precisa. E eu preciso ir...

— Edith, do que eu preciso realmente me lembrar? Parece que todo mundo quer me dizer alguma coisa, mas não diz. Isso me deixa mal.

— Talvez suas lembranças te deixassem ainda pior... Por isso que você as esqueceu.

— Minha vida foi tão ruim assim?

— É difícil explicar. Mas, quer saber? Continua pensando, tentando... Acho que só quando você conseguir recuperar tudo que perdeu você vai voltar a ser o Fé... – Ela parou de repente.

— Fe?...

—... Feliz. É isso. Só quando suas memórias voltarem você vai voltar a ser feliz. – Ela passou a mão suavemente por seus cabelos e lhe deu mais um beijo, agora na bochecha. – Agora eu tenho que ir. Provavelmente, não vou te ver mais, portanto, adeus.

— Adeus.

Ela saiu com o filho que a esperava do lado de fora, deixando Félix cada vez mais cheio de pensamentos e questões.

...

...

Ao mesmo tempo em que Edith ia embora, Eron chegava ao hospital.

— A ex-mulher do Félix?... O que ela faz aqui? – O advogado ficou se perguntando e decidiu fazer uma visitinha que há dias estava adiando.

...

— Bom dia! – Disse Eron entrando no quarto de Félix. – Finalmente te vejo acordado. Parece estar bem melhor.

Eles se encararam por uns segundos. Félix sempre com um semblante curioso.

— Quem é você? – Félix perguntou calmamente.

— Eu sou o advogado do hospital, Eron Lira Torgano. – Ele estendeu a mão para cumprimentá-lo. – Já nos conhecemos, mas você não se lembra, claro.

Félix retribuiu o aperto de mão e perguntou: - Éramos próximos? Amigos?

— Hum... Eu não diria amigos. Apenas nos tratamos cordialmente. Afinal, eu sou o advogado do doutor César Khoury, seu pai.

— Você é o advogado do meu pai? E da minha família?

— Só do doutor César, na verdade, e do San Magno. O Rafael é quem cuida mais dos assuntos da sua família, ele é muito jovem, mas é um advogado promissor.

— Rafael?

— É. É o meu assistente. E também marido da sua prima Linda.

— Linda...

Félix ficou com uma expressão como se tentasse se lembrar de quem ele estava falando. Enquanto ele estava pensativo, Eron reparou em um detalhe em seu rosto. A marca de batom deixada por Edith.

— Então... Sua ex-mulher veio te fazer uma visita?

— Hã? Ah, sim, sim, veio.

— E... Você a reconheceu?

— Não. Não me lembro dela, não me lembro de ninguém.

— De ninguém? Hum... – A curiosidade estava falando mais alto para Eron que puxou conversa. – Eu soube que você só se lembra dos seus familiares, como sua mãe, seu pai, sua avó... É verdade?

— Não sei se isso é lembrar, mas sei quem são. Não me recordo de nada que vivi com eles, mas eu sei quem é da minha família e quem não é.

— Entendi... E, me diz uma coisa, é... Cristiano, não é?

— Sim. – Félix o encarou desconfiado. – Como você é o advogado do meu pai e não sabe meu nome?

Eron quase engasgou com essa pergunta, mas antes que pudesse abrir a boca de novo, Lutero entrou no quarto.

— Doutor Eron, o que faz aqui?

— Hã... Eu só vim ver como ele estava. Acabei de chegar, não se preocupe.

— Sim, sei. – Lutero também encarou Eron, um tanto desconfiado. – Vocês não tinham uma relação muito amigável, não é verdade?

— Err... Não. Sinceramente, não.

— Então, sinceramente, não sei por que está aqui. Não acho bom tentar conversar com ele se ele nem se lembra de você e vocês sequer eram amigos.

— Tem toda razão, eu já vou. Com licença. – Depois do que disse Lutero, Eron saiu do quarto depressa. Ao sair, Lutero comentou:

— Nunca fui com a cara do Eron. – E virou para Félix. – E você, Cristiano, como se sente?

— O que você disse, Lutero?

— Perguntei como se sente...

— Não, antes... Que não vai com a cara desse tal advogado...

— Ah! É. Bem, eu não tenho nada contra o doutor Eron, mas ele nunca me inspirou tanta confiança quanto inspirou no César. E eu nem entendo por quê.

— Por que meu pai não confiaria nele?

— Porque o Eron... É... Quer dizer, porque o César não é de confiar fácil nas pessoas, né?

— Ah!...

— Então, você está pronto para o seu último exame?

Lutero tentou mudar de assunto, mas Félix retomou comentando:

— Sabe de uma coisa, Lutero... Eu também não fui com a cara desse sujeito.

— Ah, é? E... Por quê? Você tem alguma ideia? – Lutero perguntou para testar se ele recordava algo.

— Não, não sei por quê. Só não gostei dele. Talvez eu já não gostasse dele antes...

— Provavelmente. Bom, agora sim, vamos aos exames?

...

...

Do lado de fora, Jonathan conversava com a mãe.

— Você não vai mais voltar, não é?

— Não quer mais me ver, Jonathan?

— Não é isso, mãe, você sabe que eu te amo. Mas, não quero ver meu pai ainda mais confuso do que já está. Ele precisa de paz.

— Não se preocupa, filho. Eu acho que entendi como o Félix está. Ou melhor, o Cristiano. Ele agora pode ser outro... Mas, quando olho nos olhos dele, ele continua sendo o mesmo.

...

...

Pouco tempo depois...

Pilar chegou ao quarto do filho com uma notícia.

— Você já recebeu alta, meu filho! Já pode ir para casa!

Os dois se abraçaram contentes.

Félix não via a hora de sair daquele hospital e voltar para sua casa, para lá, talvez, recordar sua vida e preencher aquele vazio imenso que sentia.

...

Algumas horas depois, Pilar levou o filho para casa para cuidar dele. Mas, a sensação era de estar deixando para trás um filho e levando outro. Quem ela levava para casa era um filho totalmente diferente do Félix. Agia diferente, olhava diferente, falava diferente. Quem ela tinha em casa agora era o Cristiano. E estava sendo difícil para todos lidar com isso.

— Filho, vamos para seu quarto?

— Meu quarto é lá em cima, não é? – Ele disse apontando para a escada.

— É sim. Vamos.

Ela o levava pela escada acompanhada de Jonathan que ajudava o pai a subir. Félix olhava para a casa como se reconhecesse tudo.

— Você reconhece a casa, pai?

— Eu reconheço. Eu acho... Tem uma coisa ruim quando eu olho para essa casa.

— Ruim? – Jonathan e Pilar se entreolharam.

— É, mas... Ao mesmo tempo me dá a sensação de saber onde as coisas estão, sabe? Acho que eu consigo me lembrar de quase tudo aqui.

— Acho que isso é um bom sinal, então. – Jonathan comentou levando o pai.

Ao chegarem ao corredor, Félix deu uma olhada e se dirigiu direto a porta do seu quarto. Tocou-a com a ponta dos dedos e perguntou:

— É aqui, não é?

— É. Como você sabe? – Jonathan perguntou.

— Não sei.

— Vamos entrar, filho. Você precisa descansar, ficar em repouso. – Pilar falou abrindo a porta.

— Já fiquei muito tempo em repouso no hospital, mãe. Não aguento mais.

— Eu sei, meu filho. E pelo que te conheço você devia estar louco para sair de lá, não é?

— Estava. E como! Eu me sentia... Preso.

— Preso?

Ele a olhou e questionou: - Mãe... Antes desse acidente, eu gostava de ir ao hospital?

Pilar e Jonathan se entreolharam novamente sem saber o que dizer. Félix insistiu.

— Por que vocês ficam assim e não respondem? Por acaso eu não gostava do hospital, eu tinha algum problema por lá?

— É... É que... – Pilar ainda se sentia mal ao ver o filho confuso e não conseguia chamá-lo de Cristiano. Então, pediu: - Jonathan, fala com ele?

— Pode deixar, vó. Vá descansar também, a senhora precisa.

Ela deu um beijo no filho e no neto e saiu. Jonathan se pôs a explicar.

— Olha, pai... É... Por que perguntou se você tinha algum problema no hospital?

— Por que quando eu estava lá eu não estava me sentindo bem. E não era só por causa do acidente, não, era uma sensação que eu não sabia explicar, uma sensação de estar preso, sufocado, entende?

— Eu acho que... Você sente coisas que sentia antes de perder a memória. Mas, como você não sabe disso, você se confunde. Talvez seja isso.

— Pode ser. – Félix levantou se pondo a andar pelo seu quarto, parecendo já estar pensando em outra coisa.

— Você se lembra do seu quarto, pai?

— Eu não sei se me lembro, mas tenho a impressão de saber onde tudo está. Quer ver? – Félix sentou na cama apontando para os locais. – Ali, naquela porta, é um banheiro, não é?

— É.

— Ali... É meu criado-mudo. Ali, a janela. Ali, o guarda-roupa...

— É, pai, você tá acertando, mas assim qualquer um acertaria, né? Você tá vendo. – Jonathan riu.

— Ah, é? Quer apostar que eu sei sem ver! - Ele levantou e fechou os olhos se pondo a caminhar até o armário. Pegou numa das portas e falou: – Acertei, viu só? E aposto que aqui deve ter... Uma roupa que eu gosto muito. Eu não sei explicar, entende? Só acho que tem.

— Abre pra ver, então.

Félix fez que ia abrir a porta, mas parou. Ficou como que paralisado e com uma expressão séria.

— Pai... Que foi?

— De repente, me deu um medo...

— Medo?

Ele se afastou do móvel dando dois passos para trás. Olhou fixamente para  a porta e vivenciou uma rápida lembrança. Se viu trancando Jonathan naquele armário. Foi uma imagem muito rápida em sua mente, mas muito real. Ele virou então para o filho, com uma cara assustada.

— Eu... Eu te... Eu te tranquei aqui uma vez?

Jonathan se arrepiou ao ouvir o pai perguntar por isso.

— V-Você... Você se lembra disso?

— Então... É verdade? Eu já te tranquei aqui?

—... Já.

— Como eu pude fazer isso?

— Pai... Você... V-Você tinha brigado comigo, por uma bobagem e... Enfim, era sua forma de me castigar.

Félix, confuso e exaltado, voltou a se aproximar do móvel, pondo as duas mãos na porta e dizendo: - Ninguém merece ficar trancado no armário.

Jonathan não segurou um comentário: - É... De maneira nenhuma.

Félix ouviu, mas achou melhor não perguntar o que o filho quis dizer com isso. Vendo que o pai havia se abalado com aquela informação, Jonathan tentou contornar a situação.

— Pai, não fica triste por algo que você fez no passado. O passado passou. Agora, é olhar pra frente.

Félix apenas concordou com a cabeça, mas mantinha as mãos no armário como se enfrentasse seus próprios medos.

— Então, você não disse que aí tem uma roupa que você gosta muito? Por que não abre pra ver se acertou. Vai que ver as suas roupas te ajuda a se lembrar de mais alguma coisa.

Félix respirou fundo e abriu a porta. Viu várias roupas suas. Nenhuma lhe fazia recordar.

— Acho que errei, Jonathan. Essas roupas não me dizem nada.

Porém, ele começou a passar as mãos por todas elas até que pegou uma em particular. Era uma camisa de manga comprida e gola v, cinza claro, fininha. Ao tirar aquela camisa do armário, Félix teve mais um flashback. Dessa vez ele se viu com um arranjo de flores bem moderno nas mãos que ele segurava junto ao corpo enquanto falava consigo: — Quando estou com você, eu sinto uma coisa que... Não sei nem explicar...

Ele percebeu na hora que ele havia usado aquela roupa em algum momento importante da vida dele. E com alguém especial, sem dúvida.

— Por que pegou essa camisa, pai? Ela te trouxe alguma recordação?

— Acho que sim... Uma boa recordação...

— Olha, você não acha melhor ir descansar um pouco agora? Depois você continua vendo suas roupas, suas coisas...

— Pode ir, se quiser, Jonathan. Eu quero ficar mais um pouquinho.

— Tem certeza?

— Tenho. Já descansei demais naquele hospital, agora quero me recuperar... Completamente.

— Tá bom. Então, eu vou pra o meu quarto. Mas, vê se não se esforça demais.

— Daqui a pouco eu fico quieto, pode deixar.

Jonathan saiu e Félix continuou mexendo no seu armário. Ele estranhou o fato de ter roupas mais elegantes de um lado, separadas e guardadas, enquanto roupas mais simples estavam do outro lado como se fossem mais usadas por ele. Foi isso que ele deduziu, que preferia as roupas simples e escolheu uma para vestir. Ele não queria descansar, seu corpo podia estar cansado, mas sua mente estava trabalhando acelerada tentando trazer suas recordações à tona.

Ele, então, achou no fundo do armário uma caixinha. Ele a pegou. Estava leve, parecia ter papéis dentro. Porém, quando ia ver do que se tratava, ouviu um choro de criança que vinha de um dos quartos.

— Um bebê? Há um bebê aqui? – Ele se perguntou e guardou o que havia achado antes de sair do quarto procurando de onde vinha o choro.

Ao sair, ele ouviu claramente de qual quarto o choro vinha. Bateu na porta e ouviu a voz da mãe dizendo-o para entrar. Ele entrou e viu Pilar balançando um bebê nos braços. Ela, de costas, dizia:

— Vem, Maciel, me dá a mamadeira que ele está com fome... – Mas, ao virar, ela percebeu quem realmente havia entrado no quarto. – Filho! É você!

— Mãe... Quem é esse bebê?

— É... É seu irmão.

— Meu... Irmão? Mas... É só um bebê.

Pilar não sabia como explicar aquilo para ele. E piorou quando Maciel chegou depressa ao quarto, dizendo: - Aqui a mamadeira, meu amor! Eu demorei porque... – Ele parou ao ver Félix. Pilar não viu outra saída senão deixar Maciel entrar para dar a mamadeira de Júnior enquanto ela tentava explicar a situação ao filho.

— Filho, vem cá. – Ela pegou na mão de Félix trazendo-o para sentar-se na cama, enquanto Maciel balançava Júnior nos braços.

— Mãe... Eu não estou entendendo nada. – Ele olhava curioso para Maciel e para o bebê.

— Eu vou te explicar. Filho, nos últimos tempos muita coisa aconteceu. O César e eu nos divorciamos. Ele... Se envolveu com outra mulher e eles tiveram um filho.

— Aquele bebê? É filho do meu pai?

— É.

Ele olhou de novo para Maciel. – E ele?

— Ele... É o meu companheiro agora.

— Você... Você está namorando? Ele?

Pilar sorriu. – Não é mais só um namoro. Nós temos uma união estável. Moramos juntos.

— E o meu pai? Por isso que eu não o vi aqui? Ele está com essa outra mulher?

— Não, filho. O César também está aqui.

— Como assim?

— Filho... A pilantra com quem seu pai se envolveu fez muito mal a ele. Hoje ele está com problemas de saúde e...

— Que problemas?

— Ah, filho, eu não sei como te dizer...

Maciel a interrompeu. – Pilar... Não seria melhor se ele visse o César?

— Ver o César? Para que, Maciel? Ele não pode...

— Quem disse que ele não pode? Quem sabe se ele ver ele não recobra alguma memória!

— Você acha?

Maciel fez que sim com a cabeça. Pilar, então, perguntou a Félix:

— Você quer ver o César?

— Quero.

— Tá bom. Mas, fica aqui enquanto eu falo com ele primeiro. Depois eu te chamo, dependendo... Dependendo da reação dele.

Félix não entendeu muito bem, mas concordou com a mãe e ficou esperando-a no quarto.

Enquanto Pilar ia falar com César, Félix observava Maciel atentamente.

— Desde quando você conhece a minha mãe? – Ele perguntou surpreendendo Maciel.

— É... Desde... É... Faz um bom tempo.

— E você gosta mesmo dela?

— Eu não estaria com ela se não gostasse. Eu amo a Pilar. Já me sentia atraído antes e, um dia, vi que estava perdidamente apaixonado por ela.

— Já se sentia atraído antes? Antes quando?

— Antes... Desde que... A conheci.

— Quando você a conheceu... Ela ainda era casada com o meu pai?

Maciel pigarreou e titubeou para responder. – Sei que deve ser difícil para você não se lembrar de nada, mas... A Pilar nunca foi realmente feliz com o seu pai.

Félix demorou um pouco para falar, pensativo, mas comentou: - É muito difícil mesmo não lembrar.

Maciel tentou contornar a situação já que viu que Félix ficou muito calado após esse comentário.

— Quer segurar seu irmãozinho?

— Meu irmãozinho?

— É, o César Júnior. Claro, a gente prefere chamá-lo só de Júnior.

— Claro...

— Toma, pega ele. – Maciel colocou o pequeno nos braços de Félix.

Ele segurou meio desajeitado, mas logo pegou o jeito. Ao olhar para seu rostinho angelical, Félix teve uma breve recordação. Se viu com o irmãozinho nos braços e correndo para fora de uma casa, como se o salvasse.

Ele se descuidou por um instante com a lembrança repentina, mas Maciel lhe chamou a atenção.

— Cuidado! Tem que segurar a cabecinha.

— Ah, sim, sim... – Ele o arrumou em seus braços e decidiu continuar pensando depois no que aquela lembrança significava. Eram muitas imagens soltas em sua mente e muitas questões a fazer.

— Você tem jeito com crianças. – Maciel comentou. – Quer me devolver agora? Acho que ele vai dormir.

— Sim. – Maciel pegou de novo o bebê e o colocou no berço. Félix voltou a observar o companheiro de sua mãe.

— Qual é mesmo seu nome?

— Maciel.

— Maciel... Que idade você tem?

— É... A mesma que você. Por quê?

— Você não é jovem demais para namorar minha mãe?

Maciel riu. – Sentimento não tem idade. Sentimento não tem nem explicação.

Ao ouvir isso, uma frase veio à mente de Félix e ela falou alto:

— Sentimento não tem explicação... Só existe.

Maciel viu como ele falou aquilo parecendo distante, perdido em seus pensamentos. E perguntou:

— Que bonito! Onde você ouviu isso?

— Eu não faço a menor ideia.

Mesmo sem fazer ideia de onde tinha ouvido essa frase, tais palavras lhe faziam bem.

...

...

Enquanto isso...

Pilar falava com César.

—... Ele quer vir te ver, César.

— Eu vou ter que tratá-lo como... Cristiano?

— Se você conseguir. Porque eu não consigo. Eu nunca vou conseguir chamá-lo... Chamá-lo de... – Ela engasgou chorando, mas César completou:

— Chamá-lo de Cristiano. Imagino a dificuldade.

— Não, você não imagina. Não faz nem ideia. Não tem ideia do que eu estou sentindo, César.

— Só falta me culpar por isso também.

— Não, não vou te culpar. Cada um sabe a culpa que tem.

Os dois se calaram, até ela indagar: - Posso chamá-lo ou não?

—... Pode.

— Cuidado com o que vai dizer.

— Não se preocupe.

Ela foi chamar o filho enquanto César esperava, pensando que iria apenas ver um Félix confuso, desorientado e que achava ter outro nome. Ele mal imaginava que a diferença era notável já na forma de falar...

— Pai?...

...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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