Seize The Day escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 1
Capítulo 1




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Seize the Day.

 

 

Seize the day or die regretting the time you lost

Aproveite o dia ou morra lamentando o tempo que você perdeu.

It’s empty and cold without you here, too many people to ache over.

Está vazio e frio sem você aqui, tantas pessoas estão sofrendo.

 

 

                          Shane Valdés pôs a mão sobre o ombro que já estava gélido de Brendon Urie. Ele inclinou seu corpo sobre o outro e o abraçou a fim de aquecê-lo. O que fora abraçado estava sentado na neve, encarando a foto que estava na lápide ainda completamente inconformado, dolorido. Já não dormia há algumas noites por conta do período que passou em um hospital velando pelo dono daquela lápide.

 

“George Ryan Ross III.

Nascimento: 30 de agosto de 1986.

Falecimento: 21 de Dezembro de 2009.

Amado filho, namorado e amigo.

Sentiremos saudades”.

 

                          Parecia inacreditável. Brendon continuava encarando a foto da lápide, culpando-se por não ter impedido. Por ter permitido que ele partisse e que as garras da morte o levassem. Ryan só tinha vinte e três anos. Ryan era um gênio quando compunha. Era sem sentido, mas contava em suas linhas tudo de si mesmo. Era Ryan o frio que Brendon Boyd Urie gostava de aquecer, e agora estava lá. Morto. E Brendon Boyd Urie queria morrer, também.

 

“Vamos, Brenny, vai começar a nevar.” Shane disse, baixinho devido a proximidade.

 

“Pode ir, Shane. Obrigado pelo apoio.” Brendon se despediu e Shane negou com a cabeça o apertando em seu abraço. “Eu vou ficar, Shane. Eu quero conversar com o Ryan ainda.”

 

“Não vou sair daqui sem você, Brenny.” Shane insistiu. Spencer e Jon estavam no carro com Keltie e Hobo. Todos muito tristes, mas Brendon era o pior. Para ele tanto fazia continuar na neve, com Ryan, ou ir embora para um lugar quente. Sua casa com Ryan. “Não vou deixar você na neve, Brendon.”

 

“Está nevando?” Ele estava tão descrente de continuar vivendo que nem se deu conta de que estava nevando. O vento bateu frio contra o rosto molhado de Brendon que deitou-se no túmulo de Ryan e começou a chorar de novo, desesperado. A neve caía sobre seu corpo, confundindo com o agasalho branco que vestia.

 

                          Shane chorou ao ver a cena. Não tinha derramado uma lágrima sequer pelo acidente de Ryan Ross. Nenhuma, mas ao ver o estado de Brendon Urie não pôde segurá-las. Brendon continuria ali, se dependesse dele. Foi então que Shane fez um sinal para os demais e ao abrir a porta do carro, Hobo correu e deitou-se ao lado de Brendon. Por mais que ele tivesse deixado-a com Keltie, ainda era seu pai.

 

“Por que, Ryan?” Brendon perguntou ainda deitado, mas dessa vez a pequena filha de Ryan Ross, a mini-beagle, lambeu o rosto de Brendon tomando para si as lágrimas do rapaz. Ele acariciou a cabeça dela e depois deu um brado longo de dor.

 

                          Hobo apenas deitou a cabeça no pescoço de Brendon que se encolheu na neve. Ninguém sabia ao certo o que fazer, Brendon não queria sair dali e estava triste demais para caminhar. Os dois ficaram ali por uns minutos e os demais ficaram olhando até quando aquilo ia durar. Alguns minutos ali e Brendon levantou-se do chão frio e entregou Hobo para sua mãe. Abraçou seus amigos e os seis seguiram para o carro. Deixaram Ryan para trás porque era isso que tinha que ser feito.

 

                          Shane deixou todos em suas respectivas casas e foi dormir no apartamento com Brendon, por precaução. Urie não estava nada bem e todos a sua volta poderiam ver isso. Seu apartamento com Ryan não era muito grande, não tinha quarto de hóspedes e por isso Shane iria dormir na sala. Brendon precisava de companhia para não cometer nenhuma loucura. Apesar do apoio dos amigos que tinha, dos fãs tanto da The Young Veins quanto da Panic! at the Disco, ainda era pouco. Sempre estaria frio. Sempre estaria vazio. Sempre faltaria Ryan.

 

 

                          O problema de Brendon era a culpa. Ele não queria aquele sentimento em si. Seu corpo exigia expulsá-lo, mas a tristeza lhe lembrava que na sexta-feira, Brendon pediu cuidado a Ryan Ross e o último apenas assentiu com a cabeça. Brendon amava Ryan de uma forma que nenhum dos dois iam esquecer. As bandas tinham se separado e eles tinham passado um grande tempo juntos.

 

 

                          Na sexta-feira, Ryan pediu para Brendon tomar cuidado no show que faria. Brendon pediu a mesma coisa em relação ao The Young Veins. Eles se beijaram fortemente e Ryan murmurou algo parecido com:

 

“Se eu morrer, Brenny, eu vou atormentar você até que venha pra mim.” Mal sabia Brendon que essa promessa ia ser cumprida. O avião de Ryan tinha os pára-quedas necessários. Ryan e os demais tiveram que pular, porém o pára-quedas de Ryan foi traiçoeiro e não se abriu.

 

                          Todo o The Young Veins se salvou, menos Ryan que infelizmente perdeu a vida. Brendon não aceitava a morte do seu amado. Não aceitava não poder dar a vida por ele como tinha prometido tantas vezes. Não aceitava que depois de uma separação de bandas complicada, cheio de altos e baixos, quando conseguiu pôr tudo no lugar, a morte não aceitava sua própria vida pela de Ryan. Porque Ross sempre se deu melhor com perdas e Brendon não conseguia. Preferia a morte.

 

 

“Brendon” Shane abriu a porta do apartamento de Brendon e este foi impactado com o cheiro de Ryan vindo em sua direção. Brendon Boyd Urie sentiu uma lágrima descendo involuntariamente e virou-se para Shane. “Você precisa de um banho e se aquecer.”

 

“Eu preciso do Ryan, Shane.” Brendon entrou em casa e o outro ligou o aquecedor. “Só dele.”

 

“Shh. Pensa no Ryan agora.” Urie olhou para Shane e ergueu a sobrancelha. “O Ryan amava você cheio de vida, te amava sorridente, cantando, pulando, quentinho e limpo, certo?”

 

“Uh-rrum” Não tinha como negar. Shane conseguiu persuadir Brendon. “O Ryan não gosta de me ver triste.”

 

                          E como corrigir a conjugação verbal de Brendon Urie que se dirigia ao seu quarto com lentidão? Como pedir a aquele ser abalado que dissesse os verbos em relação a Ryan num passado se tudo estava tão recente? A morte tirara o único motivo que Brendon tinha para viver, mas este lembrou-se do que Shane  tinha lhe dito. Ryan lhe amava por seu jeito cheio de vida, por ser quente e feliz. Ele recuperaria isso, com o tempo.

 

 

I see my vison burn, I feel my memories fade with time,

Eu vejo minha visão queimando, Eu sinto minhas memórias desaparecendo com o tempo,

But I’m too young to worry.

Mas eu sou muito jovem para me preocupar.

These streets we travel on undergo our same lost past.

Essas ruas que nos viajamos, irá resistir nosso passado perdido.

 

 

                          Os dias foram passando e Brendon continuava inerte. Por mais que Shane, Spencer e Jonathan tentassem animá-lo, ele não respondia. Estava com o mesmo moletom branco, abraçado ao travesseiro de Ryan e sentindo o cheiro que restou do amor da sua vida.

 

                          De vez em quando ouvia-se um brado dolorido para aliviar a maldita dor que Brendon carregava no peito. Dor, culpa, medo, solidão. Ele queria sentir Ryan Ross em seu ser o deixando feliz, não triste. Queria que Ryan olhasse nos seus olhos e encaixasse em seu abraço, como sempre fazia, mas naquele momento não seria possível.

 

Pára, Ryan!” Gritou com todas as forças dos seus pulmões. “Eu preciso tirar você da mente.”

 

                          Ele queria reagir, mas a promessa estava lá. Ryan ia atormentá-lo até que ele se matasse. Brados e mais brados doloridos se ouviam. Shane tinha tirado todo possível objeto cortante, exceto uma garrafa de whiskey que Brendon escondia em seu armário. Estava há dias sem beber e como era natal, ia ter bebida fácil por todos os lugares.

 

                          Brendon soltou o travesseiro de Ryan com relutância. Entrou no banheiro e tomou um pequeno banho. “Ryan amava você quentinho e limpo” repetiu ao olhar desanimado para o chuveiro. “Você irá ver Ryan. Você tem que estar apresentável para ele, Brendon Urie.”

 

                          Agasalhou-se muito pouco e saiu sem avisar a ninguém. Estavam todos reunidos no apartamento de Urie e estavam loucos para saber como ele estava, mas este tomou cuidado para ninguém vê-lo saindo. Estava um pouco bêbado de tristeza, misturado ao uísque escondido e também devido à falta de comida em seu estômago. Por dias.

 

 

                          Era 24 de dezembro e desde o dia 21 nada conseguia descer. E Brendon era o “comilão” do Panic! at the Disco. Seu estômago não tinha fundo algum, como brincava o amado dele. O fundo do estômago de Brendon era a morte de Ryan. Ele começara a achar que apenas bebida bastaria. Brendon sorria falsamente para a garrafa de bebida.

 

                          Ele arrancou com o carro em direção ao cemitério. Precisava estar o mais próximo possível de Ryan Ross. As estradas por onde passavam estavam enfeitadas e os bonecos de neve estavam por todos os lados. Brendon não sentia frio algum, porque ele estava cada vez mais entregue ao uísque.

 

 

                          Saiu do carro, já bêbado, e entrou em um barzinho qualquer. Não se importou com o título, com o lugar, se perderia sua dignidade ao beber em um bar. Não se importava com nada, apenas que sua bebida estava acabando e estava bem longe do cemitério. Ele trocava as pernas para andar. Não sabia ao certo aonde ficava a porta, só sabia que precisava entrar.

 

                          Quando conseguiu, notou que era um dia de karaokê. Na sua mente, um monte de lembranças começaram a vir e, ao mesmo tempo, se misturar em si. Focou os olhos no meio do nada e ergueu a mão. Queria beber, mas saiu sem dinheiro. Ele era Brendon Boyd Urie e algum proveito tinha que tirar disso.

 

 

                          Inclinou-se para o dono do bar e pediu para tocar. Por saberem de quem se tratava, eles decidiram deixar. Brendon Urie, do Panic! at the Disco, assumiu o palco. Ele cantou algumas músicas pedidas pelo público com o vilão, mas acabou chorando quando tentou tocar Unchained Melody. Lembrava-lhe coisas boas, na realidade. Embora precisasse de coisas boas para se animar, não queria. Estava bom demais da forma que estava; triste e desacreditado na própria vida.

“Me desculpem.” Sorriu falso “Não me importo se não me derem toda a bebida combinada, eu só preciso de uma garrafa a mais.”

 

                          Uma das garçonetes – a designada para atender Brendon Urie – era fã do Panic! at the Disco – sentiu seu coração doer ao vê-lo naquele estado. Aquele não era o Brendon Urie que todos conheciam. Um Brendon que sorria falso, que estava mal agasalhado, bêbado e que ainda precisava de mais bebida. Tão bêbado que seu usual perfume fora substituído apenas pelo cheiro do uísque que tinha bebido.

A garçonete o serviu a contra gosto. Entregou-lhe uma garrafa de vodca, algumas de cervejas além de duas latas de Red Bull. Ela temia pela vida de Brendon que estava sozinho e caminhava cambaleante em direção ao seu carro. Ia dirigir completamente embriagado e mal enxergava as coisas em sua frente.

“Cuidado, Brendon.” Ela o advertiu enquanto caminhava juntamente a ele para ajudá-lo com as beidas. “Você pode morrer.”

“Eu nunca vou morrer, prometo.” Sorriu falso mais uma vez “Ainda sou jovem demais para isso.”

Brendon repetiu mecanicamente a frase que Spencer lhe tinha dito em uma discussão. Em um pedido desesperado de reação, para que ele comesse e decidisse se ajudar a viver. Mas para quê ele viveria se não poderia mais ter Ryan Ross para si? Colocou toda a bebida que tinha ganhado no banco do carona – onde Ross costumava se sentar quando saiam juntos – e colocou o cinto de segurança nelas. Pôs o CD favorito do Ryan para tocar e arrancou em direção ao cemitério.

As lembranças se fundiam e confundiam na cabeça dele enquanto arrancava ao som de Beatles, banda essa que virou sinônimo de Ryan Ross desde que eles ouviram juntos pela primeira vez. Que Brendon entoou All My Loving ao pé do ouvido do maior. Ryan estava triste aquele dia, Brendon viajaria logo cedo para a Disney com sua família e ficaria um tempo por lá. Claro que sentiria saudades de Ryan, mas ainda não tinham assumido para seus familiares que eram muito mais que os melhores amigos do mundo. Que eram um do outro para sempre.

 

All my loving, I’ll send to you. All my loving, I’ll always be true. I’ll pretend that I’m kissing the lips I am missing and hope that my dreams will come true.” Brenny Bear cantou novamente enquanto puxava o resto do uísque e tomava – ainda o primeiro uísque, o do quarto – para manter-se quente e atento a direção, embora tudo estivesse “dançando” aos seus olhos.

Nada daquilo importava naquele momento. Nem mesmo a neve que agora encobria parte da estrada que conduzia Brendon ao cemitério de Los Angeles, onde Ryan Ross estava enterrado. Só desacelerou o carro quando chegou ao seu destino. Tudo naquele lugar – apesar de branco e ter aparente paz – era incrivelmente triste, até mesmo as árvores com galhos nus cobertos pelo gelo natalino.

Ele caminhava devagar, cambaleante, carregando nas mãos as duas latas de energético. Seus cabelos estavam completamente bagunçados e com alguns flocos de neve sobre eles. Os óculos com armação preta estavam embaçados pela densa camada de ar gelado que batia em direção de seu rosto. Nada importava. Nada além de estar próximo a Ryan Ross novamente.


Todos os túmulos estavam cobertos pela neve deixando o que já era frio ainda mais gélido. Urie só vestia um moletom lilás e calça jeans. Apenas a bebida e as lembranças distorcidas do amado eram o que lhe mantinha aquecido. E pouco importava as consequências de estar assim em meio a uma nevasca.

Passou sua mão pálida pela lápide, revelando a foto de Ryan Ross. Sorriu para ele, acariciando a foto com delicadeza e sentiu as lágrimas inundarem seu rosto novamente. Livres, quentes, grandes e dolorosas.

“Oi, Ryan” suspirou “Me desculpa pelas bebidas, eu só precisava me aquecer para chegar até você.”

 

E deu um gole longo em uma das latas quase congelada do energético, fechando os olhos enquanto a bebida descia por sua garganta. Aquela bebida já não tinha sabor algum para ele, porque tudo perdera o sentido e tudo tinha ficado cinza como o cimento da lápide de Ryan Ross. Sentou-se devagar em cima do túmulo e deixou as latas por perto.

“Me abraça?” Urie pediu olhando diretamente para os olhos da foto de George, mas não lhe foi concedido. “Por favor, Ryan Ross, me abraça?”

A promessa de Ryan tinha lhe levado até ali. Ao túmulo dele e ainda não tinha aceitado o fato de seu amado Ryan estar ali, enterrado, sem poder ser abraçado, beijado, entendido. Doía tanto que Brendon pensara em se juntar a ele. Em toda parte que o mais novo ia, o outro estava à sua espera. Exceto ali. Talvez por isso, apesar do frio, Brendon se sentia abrigado e protegido. Parecia que apenas naquele lugar, ele não era considerado a beira da loucura por amor a Ryan.

“Eu preciso tanto de você agora” tornou a acariciar o rosto da foto e tornou a chorar ao ver que por mais que pedisse, por mais que implorasse para Ryan, ele ia continuar inerte abaixo daquela grande camada de gelo.



Suspirou, sentindo o vazio ficar ainda maior e seus lábios grossos, já feridos pelo frio, tremiam contra a vontade dele. Ingeriu o resto da bebida congelada, mas seus lábios ainda continuaram a tremer porque balbuciavam um pedido quase sem som pela volta de Ryan. Tocou novamente o rosto do amado na lápide fria com suas mãos trêmulas. Não queria ir para casa, porque deixaria o seu Ryan Ross sozinho.

“Não quero ir pra casa” Choramingou. “Vim pra te encontrar, Ryan. Eu quero você pra mim de novo.”

E então, Brendon se deitou no túmulo, se encolheu e bradou carregado de dor. O único som que conseguiu ouvir foi seu brado ecoando por toda aquela imensidão silenciosamente branca. Os brados dolorosos eram a única coisa que aliviavam a dor do seu coração temporariamente.

 

“Senhor,” o coveiro se aproximou, tocando gentilmente o ombro de Brenny Bear que se virou rapidamente. “você deveria ir para casa.” Continuou.

“E o que eu vou fazer lá se não tem ele?” Brendon perguntou e o homem sorriu de leve na tentativa de confortá-lo, mesmo ambos sabendo que não daria certo. “Não quero voltar, senhor. Não quero deixá-lo sozinho.”

“Eu tenho certeza que ele fica feliz em vê-lo aqui, mas tenho mais certeza ainda que ele gostaria que você estivesse bem agasalhado e sóbrio.”

“É, você tem razão.” Brendon concordou, levantando-se com dificuldade e com a ajuda do coveiro. “Ele é tão especial pra mim.”

“Ele e eu sabemos, senhor.” O coveiro voltou a sorrir. “Agora vá para casa. Tenho certeza que ele entenderá sua partida. Está frio e vazio aqui, você precisa se aquecer.”

Brendon suspirou e agradeceu ao homem com um sorriso forçado. Caminhou novamente até seu carro e voltou pela mesma estrada que tinha vindo, mas dessa vez sem o álcool. Lembrou-se então que teria um show para fazer a noite e pouco se importaria. Ia cantar para Ryan ouví-lo, então daria o seu melhor, embora imaginasse que os demais meninos não achassem que Brendon estivesse em condições de fazer um show. Nem ele acreditava mais em seu próprio talento, preferia ficar em casa.

 

 

I found you here, now please just stay for while

Eu encontrei você aqui, agora, por favor, fique por um tempo.

I can move on with you around

Eu posso seguir em frente com você por perto.

I hand you my mortal life, but will it be forever?

Eu te asseguro minha vida mortal, mas isto será pra sempre?

 

 

 

 

Brendon chegou em casa e ao abrir a porta foi impactado pelo cheiro da comida que os meninos estavam fazendo. Parecia ser bom, mas Bden estava enjoado com as bebidas que tinha ingerido. Apoiou-se completamente na maçaneta e sentiu uma náusea ainda maior.

 

“Brendon, por onde andou?” Spencer caminhou até ele que estava ainda mais pálido e completamente sem forças para caminhar. “Como se sente, Brenny?”

 

“Eu estava com o Ryro” Brendon confessou um tanto baixo, sem responder a outra pergunta. Não poderia dizer ao seu amigo que cada dia que passava, a ausência de Ryan lhe doía ainda mais. Seria um tanto injusto. Apenas deixou que seu cheiro de bebida dissesse a Spencer como se sentia.  Brendon ainda esperava Ryan Ross voltar para seus braços dizendo que tinha sido apenas um pesadelo idiota e que tudo ia voltar ao normal.

 

                          E então Brendon imaginou o seu amado passando por aquela porta castanha em que se apoiava, dando-lhe um cutucão divertido e com um sorrisinho sádico no rosto falando algo parecido com “Te peguei” em seu ouvido, mas logo que caiu em si, seus olhos se encheram novamente e ele teve que forçar a porta  para não cair.

 

“Eu também sinto falta dele, Bden.” Spencer sorriu forçado para o de cabelos escuros que esticou os braços em um pedido mudo de abraço atendido imediatamente. Urie não queria ser cuidado, não queria que sentissem dó dele, só queria que em sua volta as pessoas também sentissem falta do jeitinho frio vindo de Ryan Ross. Smith foi o único que notara que Brendon só queria que as pessoas demonstrassem que Ryan era importante.

 

“Obrigado, Spence.” Sorriu, também forçado e sem emoção. “A gente tem show hoje, certo?”

 

“Yeeep”,  Spencer fez um carinho na cabeça de Brendon e foi  o soltando do abraço lentamente. “Toma um banho e descansa. Você precisa, Brenny.”

 

                          O loiro deu um beijo carinhoso no topo da cabeça de Brendon e deixou que ele fosse sozinho para seu quarto no andar de cima. Apenas ficou ao pé dela com o olhar voltado para ele que trocava os pés e se apoiava pesadamente no corrimão.  Urie parou no meio da escada e virou-se para trás.

 

                          Aquilo lhe lembrou o clipe de Nine in the Afternoon. Quando iam gravar no quarto verde e Ryan tinha que escalar um grande relógio que marcava nove da tarde para desligar o despertador, mas ao terminar, encontrava um mundo colorido e Brendon a tocar um piano de calda cor de creme.  Porém a parte que realmente lembrou, foi o medo que bateu em Brendon quando este viu os passos trêmulos de Ryan Ross naquela escada de madeira. Lembrou-se do quanto quis protegê-lo porque Ryro estava quase tropeçando em seu pijama maior que ele. As lágrimas de Brendon eram teimosas e o enfraqueciam ainda mais. Ele voltou a chorar quando sentou-se de qualquer jeito no degrau da escada.

 

“Ryan” murmurou e Spencer subiu o mais rápido que pôde para abraçar o amigo, o fazendo apoiar a cabeça em seu peito.

 

“Shh...” Urie envolveu os ombros de Spencer no abraço que ficou apenas olhando um ponto fixo, mas suas lágrimas escorriam por ter perdido seu único amigo de infância e por ter que apoiar o seu outro melhor amigo, sem saber de onde tirar forças para isso. “Por favor, B. Chega de chorar...”

 

“O Ryan me chama assim...”

 

“Eu sei.” Spencer olhou para Brendon sorrindo sem emoção. Urie então percebeu o mal que estava fazendo para o amigo. “Vai pro banho, Brenny. Descansa. A gente tem um show pra fazer e você precisa ver a quantidade de pessoas que te amam.”

 

“Tá.”

 

                          Com muita dificuldade, Brendon se levantou e foi até seu quarto que era dos dois. Ligou seu notebook e viu a quantidade de pessoas mandando-lhe replys de incentivo e de amor no twitter. O mais importante era, para Brendon, que elas diziam “Ryan Ross never dies.”

 

                          Deixou um reply em agradecimento, dizendo palavras que nem ele mesmo conseguia acreditar nesse momento, mas uma coisa ficou martelando em sua mente: Ryan Ross nunca morreria. Ele não ia deixar sua memória morrer ou se apagar. Sua vida e obra permaneceria sempre acesa porque Brendon Urie se dedicaria a isso.

 

                          Tomou seu banho com dificuldades, porque mal poderia parar em pé. Além de começar a espirrar vez ou outra, sentiu-se enjoado e tudo que bebeu vindo garganta acima. E ele vomitou muito, muito mesmo, mas não ficou incomodado por ter vomitado tanto daquele jeito. Quando acabou, escovou os dentes  e jogou água em sua cabeça que latejava e estava quente.  Provavelmente, estava com febre.

 

                          Não se secou, apenas  vestiu-se com a primeira roupa que viu na frente e deitou-se. Era em seus sonhos que Brendon realizava seu maior desejo. Estar com Ryan o tempo todo, mas era apenas lá, porque era o mundo ideal construído por Brendon Boyd Urie.

 

 

                          Spencer o acordou umas horas depois. Notou Brendon em um círculo de suor frio com a água do banho, preocupou-se, mas o menor era teimoso e, sem palavras, negou ajuda. Ficou em silêncio todo o tempo do percurso até a casa de shows e abraçado a Spencer. Só desfez o abraço quando subiram ao palco.

 

Foi daqui que você surgiu em minha vida, Ryan Ross.” Pensou e fez o show tentando dar o último melhor de si, porque era um show dedicado a Ryan Ross.

 

                          Antes de descer do palco, Brendon apelou aos fãs que não deixassem a memória de Ryan se apagar. Porque Ryan agora estava acima do sol, olhando por cada um deles.

 

 

 

I’d do anything for a smile, holding you ‘till our time is done.

Eu faria qualquer coisa por um sorriso, segurando você até nosso tempo acabar.

We both know the day will come, but I don’t wanna leave you.

Nós dois sabemos que o dia vai chegar, mas eu não quero te deixar ir.

 

 

 

                          Natal. Brendon amava aquela data antes da sua terrível perda. Brendon Boyd Urie não tinha motivo nenhum para comemorar. Os demais tentavam manter as aparências de natal tranquilo e feliz. Entretanto, o vocalista apenas olhava a neve fresca cair do céu. Novamente, não se importava em estar agasalhado, ele queria mesmo era morrer.

 

                          Todo ano, durante o natal, Brendon recebia algum presente e um abraço do seu amado Ryan Ross. Ele dizia que não tinha coisa melhor que passar o natal cantando ao pé do ouvido do menor palavras docinhas de amor. A parte que mais gostava no natal de dois mil e seis, foi quando Ryan confessou que gostava de vê-lo dançar.

 

                          Sem falar nada com os amigos, Brendon se agasalhou muito bem e saiu. Uma última tentativa desesperada lhe passou pela cabeça para ter seu Ryan de volta. Ia se jogar da primeira carreta que visse na frente. Que se danasse do que iriam chamá-lo depois, apenas queria poder tocar Ryan Ross com suas mãos, não em sonhos. Passou em uma padaria e comprou cigarros e depois seguiu rumo ao cemitério. Por sorte, ele não achou nenhum veículo para se chocar contra. Precisava sentir o carinho do seu amado o mais rápido possível.

 

 

                          Quando chegou ao lugar frio, acendeu seu último cigarro e o tragou lentamente. Embora negasse que estava com frio, seu queixo lhe traía e a fumaça que saía dos seus lábios era uma mistura da respiração com a nicotina concentrada que ingeriu.  Ele não comia nada há alguns dias e por isso estava resfriado e completamente tonto. Consigo, na mão livre, ele trazia um engradado de Red Bull.

 

                          Mesmo assim, Brendon sentou-se na neve e ficou ali, encarando a foto da lápide. Ora ele a acariciava, ora ele sentia o vento frio bater em sua pele. Nenhuma lágrima caiu. Seu corpo não produzia mais lágrimas. Porém ficar ali com Ryan lhe trazia lindas e dolorosas lembranças.

 

 

 

 

Flashback.

 

 

                          Brendon e Ryan deitados em um dos quartos da cabana. Era início de dois mil e oito. Estavam na cama, sem roupa e Urie acariciava o peitoral do maior que mexia nos cabelos dele. Porém o silêncio incomodava o jovem Brendon Urie que adorava o som da voz de Ryan.

 

“Quero conversar.”, Resmungou baixinho Brenny Bear.

 

“Sobre o quê?” Ryan sorriu pro menor ao perguntar.

 

“Qualquer coisa.” Suspirou “Só não fica quieto.”

 

                          A súplica de Brendon Urie não foi atendida e Ryan ficou calado, pensando sobre o que falar para acalmar o seu quase namorado, mas ele deu um jeito de tomar a palavra de Ryan.

 

“Posso confessar uma coisa?”

 

“Yeah.”, Ryan sorriu “Você pode tudo.”

 

“Eu tenho medo do que começamos nos estragar.” Suspirou e escondeu o rosto no peitoral magro de Ryan que chegou a perder a respiração quando ouviu aquela confissão.

 

                          Depois sua respiração ficou fraca porém pesada e ele só conseguiu fechar os olhos pausadamente e confessar baixinho que era um de seus maiores medos. Era tamanho esse medo que ele não conseguiu sorrir mais.

 

“Eu não me arrependo...”, Brendon continuou “Mas mesmo assim tenho medo.”

 

“Eu tenho medo de estragar a banda, a gente...”, Ryro confessava uma palavra mais baixa que a outra “E eu não me arrependo de nada, também.”

 

“Eu não suporto mais pensar nisso.”, Brendon suspirou e apertou o maior contra si. “Fica martelando...”

 

“Posso confessar uma coisa?” Ryan perguntou baixinho e não deixou o outro responder quando continuou “Lembra quando eu tinha insônia e você tinha que passar a noite acordado pra me acalmar? Meu pesadelo era sobre ficar sozinho no fim de tudo isso.”

 

                          Brendon apertou Ryan contra si e depois pressionou seus lábios nos finos do garoto maior que quase chorava. Escondeu o rosto novamente no corpo do outro  e apertou o abraço por não saber o que dizer.

 

“Eu tenho medo de ficar sozinho para sempre.” Ryan manteve o abraço forte, como se pedisse mudamente entre aquelas suas palavras baixas que Brendon Boyd Urie jamais o deixasse.

 

“Não seja bobo, você nunca vai ficar sozinho.” Brenny sorriu.

 

“Eu só...” Suspirou, mordendo o canto do lábio, contendo sua frase triste por um momento. “Não controlo meus medos.”

 

“E eu sempre acabo falando algo para estragar o clima.”  Brenny torceu os lábios grossos num bico grande e depois deu um suspiro longo. “Sempre.”

 

“Não é culpa sua”, Ryan negou com a cabeça, esparramando os dedos longos e estranhos pelos cabelos do outro.

 

“Pára de pegar para si a culpa do mundo”, Brendon resmungou.

 

“Mas dessa vez não é só isso.” E com o olhar, perguntou a Ryan do que se tratava e este lhe respondeu: “Eu falei do sonho, então a culpa é minha.”

 

                          Urie sabia que não adiantava contrariar Ryan, então só resmungou qualquer coisa para pararem de discutir. O silêncio voltou a reinar entre eles e o maior apenas deitou sua cabeça no ombro do menor, suspirando baixinho.

 

“Eu te amo.” Murmurou Brendon. “Mais que tudo.”

 

“Eu também.” Ryan respondeu no mesmo tom.

 

“O que eu faço pra ganhar um sorriso?”

 

                          E Ryan sorriu, de leve e sem vontade, apenas para satisfazer Brendon e sua necessidade de fazê-lo sorrir o tempo todo.

 

 

Fim do Flashback.

 

I see my vison burn, I feel my memories fade with time

Eu vejo minha visão queimando, eu sinto minhas memórias desaparecendo com o tempo.

But I’m too young to worry (a melody, a memory or just one picture).

Mas eu sou tão jovem para me preocupar (uma melodia, uma memória ou só uma fotografia).

 

 

“Eu sou tão idiota, às vezes...” Brendon começou, levando o cigarro a boca e o tragando fortemente. Apesar do frio que sentia, se manteria  firme até poder atravessar os sete palmos de terra que os separavam. Não importava mais nada, apenas tocar seu doce rosto. “Tão idiota que eu estou de novo aqui, implorando que um raio caia na minha cabeça e me leve até você.”

 

                          Ele pôde escutar a risada baixinha de Ross. Brendon sabia que Ryan também gostaria de tocá-lo, de tê-lo, de ficarem juntos nem que fosse só por uma noite e estava ali para isso. Brendon queria sentir o abraço de Ross novamente e ia fazer uma promessa que nem ele acreditava que fosse transformar em realidade, mas qualquer coisa soava melhor que não ter tentado antes.

 

“Eu sei que isso é idiota, mais até do que eu, mas estou desesperado.” Balbuciava num lamento doce e ao mesmo tempo, entristecido. “Eu vou começar a beber agora até que entre num coma alcoólico. Sinceramente, não me importo em morrer congelado aqui, mas eu sei bem que você  não ia gostar que eu simplesmente desistisse de viver. Então eu vou beber e dirigir, sem me importar em nada com o que vai me acontecer. Quando eu entrar em coma – se eu não morrer enfiado em um caminhão por essas estradas – eu quero que venha até mim, que me diga que está bem e que eu poso ficar tranquilo aqui na terra. Quando eu voltar do coma, paro de chorar e volto a viver minha vida normalmente, tocando-a para frente. Se você não fizer isso, eu volto a beber até morrer de cirrose, exatamente como seu pai.” E terminou tocando a lápide, como se aquilo fosse um acordo de ambas as partes. Apagou o cigarro e saiu sem mais despedidas, indo para o carro afim de começar a beber descontroladamente.

 

                          Sua aparência ficava cada dia pior. Ele se mostrava cada hora mais frágil e não queria ser cuidado. Suas olheiras eram cada dia maiores e seus lábios se arroxeavam com bastante facilidade. Ele tinha comido poucos pedaços de poucas coisas durante esse tempo todo, mas nada que pudesse ser chamado de refeição. Brendon Urie não se importava mais consigo mesmo e estava fazendo exatamente como fora dito. Bebia e dirigia, sem pensar nas consequências. Então, acelerou e bebeu o máximo que pôde até cair barranco abaixo. Por sorte, havia um caminhoneiro passando naquele momento e viu o acidente, fora ele quem chamou o resgate.

 

 

 

                          No hospital, o vocalista andava por alguns corredores sem saber ao certo por onde ir. Não sabia quando era, nem porque estava ali. Sentia um pouco de dor de cabeça, mas era por causa da confusão que estava passando. Olhou para o relógio da parede e notou que faltavam quinze minutos para a meia-noite e suspirou para si próprio.

 

                          Andou mais alguns momentos pelos corredores daquele hospital e debruçou sobre a mais alta daquelas janelas, abaixando sua cabeça. Sua tentativa desesperada de ver Ryan Ross tornou-se ainda mais angustiante que estar vivo esperando Ryan Ross ressurgir em sua vida. Percebeu, então, que estar ali era ainda mais frio que estar no chão do cemitério e seu queixo batia, provocando um barulhinho atípico. Enfim, uns braços magros lhe envolveram a cintura docemente.

 

“Oi.” A voz de Ryan soou baixinha contra o lóbulo de Brendon. O maior apertava o menor em seu corpo, ambos desacreditados que estavam se tocando novamente. O vocalista estremeceu com o toque que tanto ansiava, mas desesperadamente, virou-se para o maior, enfiando as mãos pelos cabelos dele e os puxou fraquinho, juntando os lábios deles num desespero sem fim.  Uma lágrima vinda de Brendon começava a rolar naquele momento.

 

“Oi.” Brendon murmurou fraco ao fim do beijo. Seu sorriso começava a se abrir, como uma rosa que brotava. “Que bom que me ouviu, Ry. Eu já estava ao ponto de me matar só pra te ter.”

 

“Eu sou contra a sua vinda aqui...” Brendon roçou os lábios grossos nos finos e magros de Ryan e o aninhou em seus braços de forma meiga e não menos desesperada. O ex-guitarrista continuava com o tom repreensivo, mas já não tinha coragem de fazer mais nada. “Agora que está aqui, fica comigo essa noite?”

 

“Eu não me importo em ficar pra sempre contigo.” O vocalista do Panic! at the Disco falou em um sorriso, mas Ross discordou com a cabeça. “Não me quer mais, Ryan?” E soava triste.

 

“Seria tão mais fácil pra mim mentir que não te quero.” E dizia murmurando, lamentando, enroscando seus braços firmemente na cintura do outro, com medo que ele o deixasse novamente e ao mesmo tempo sabendo que uma hora ele o deixaria ir. “Eu não posso ser egoísta e te implorar que fique, Brendon. Você ainda tem uma longa vida pra viver.”

 

“E quem disse que eu quero viver sem você?” Brendon foi se afastando de Ryan, apenas para olhá-lo de forma doce e sutil. “Você é minha vida, Ryan.”

 

“Você prometeu parar de chorar quando voltasse.” Ryan abaixou a cabeça e Brendon levantou-a com doçura. “Você prometeu!”

 

“Não importa.” Brendon se afastou, cruzando os braços. “Já que eu estou aqui, quero viver pra você, Ryan, como eu tenho feito durante toda minha vida.”

 

                          Ryan girou os olhos, pois sabia que não tinha como lutar com Brendon naquele momento e nem queria de fato. Apertou Brendon contra si e ronronou baixinho. Eram um do outro, independente de onde estavam. Após se afastarem, Ryan começou a correr, rindo baixinho, por causa da cara meio boba de Brendon que correu atrás de Ryan, chegando então ao terraço do hospital.

 

“Você só tem uma noite, Brendon.” Ryan murmurou, mais para si do que para Brendon que vinha em sua direção. Quando os dois corpos se aproximaram, uma queima de fogos começou no céu daquela cidade. Trazia consigo o início do ano e eles já não se importavam com nada além de estarem juntos. “Quando você voltar, eu vou te fazer uma surpresa.”

 

“Que surpresa?” Brendon murmurou, sentindo um pouco de neve cair por seu corpo e por isso, se enroscou ainda mais em Ryan. “Conta o que é, Ross?”

 

                          E Ryan não disse nenhuma palavra a respeito daquilo. Apenas deixaria-o curioso e com um motivo para voltar a realmente viver. Fora daquela “realidade paralela”, Brendon não sabia o que acontecia ao seu corpo mortal e pouco lhe importava, ele queria ficar e ser abraçado eternamente por seu namorado que sabia muito bem que Brendon Urie tinha um legado para cumprir e seu legado era manter a memória de Ryan viva e intocável.

 

“Eu te amo.” Brendon murmurou “Eu te amo mais que a mim mesmo.”

 

“Eu sei.” Ryan respondeu. E olharam para cima, contemplando os fogos explodirem no ar. Explodirem como seus corações apaixonados num misto louco de saudade, dor, sofrimento e muito, muito amor. “Eu sei.” Repetia, escondendo o tom de voz cheio de dor em cada segundo que passava.

 

                          Conforme os minutos e horas foram passando, Brendon conseguia confortar o coração de Ryan com seu jeito doce. A pele alva de Ryan sentia o calor da pele ‘quase viva’ de Brendon e o toque de amor do seu amado era muito mais que especial, era impactante, confortador, decisivo.

 

                          Eles passaram uma hora abraçados, olhando as estrelas no céu e trocando algumas carícias. Os braços de Ryan pareciam tão mais confortadores agora que em vida e aquilo estava meio confuso ainda. Sentia necessidade de ficar com Ryan, mas o outro não queria sua morte, por isso, Urie o apertava contra seus braços. Aquilo era tocável, aquilo era o suficiente para ser feliz. Percebendo a inquietação de Brendon e o desespero do mesmo por saber que ele não queria ter que se despedir de Ryan, que juntou desesperadamente os lábios deles e aprofundou o toque, apreciou com necessidade o gosto daqueles doces lábios grossos e sentia sua pele aveludada entre seus dedos, levando os dedos grandes para os cabelos escuros de Brendon.

 

                          Se mantiveram ali por um longo tempo, o tempo que acharam necessário. Ao fim do beijo, foi a vez de Ryan apertar Urie contra si e acariciar suas costas como se fosse mesmo um jeito de guardar em si tudo o que ele significava para o outro. Suspirava baixinho, entristecido. Aquilo preocupou o menor, aquilo preocupou o próprio Ryan que se afastou devagar de Brendon e juntou suas testas com toda a doçura que pôde encontrar e sorriu para Brendon.

 

“Eu não quero que fique aqui, Brendon.” Murmurava, encarando os olhos do menor “Mas isso não quer dizer que eu vou deixar de te amar, ou que vou te amar menos. Eu vou te amar a cada minuto mais, Bden, por causa da sua alma pura, do seu jeito de ser. Eu vou te amar em seus sonhos, em seus pensamentos, eu serei tudo aquilo que te fará sorrir e vou perder meu tempo ao te observar viver. Eu vou esperar a sua real hora de ir, mas agora não. Eu tenho algo muito especial pra você lá, no mundo dos vivos.”

 

“Eu te amo tanto, Ryan Ross.” Brendon murmurou. “Eu te amo tanto que não tem sentido algum viver sem você. Acho que você não viu realmente o tamanho da minha dor, o quanto eu sofri por perder você, Ryan Ross. Meu, meu Ryan Ross.”

 

“Eu vi, Brendon.” Murmurou. “Mas você tem que cuidar do que eu vou te deixar. Vai ser seu sentido de vida.”

 

                          Para não discutir mais, Brendon assentiu e voltou a apertar Ross contra si, mas este voltou a correr pelos corredores do hospital. Parecendo uma criança querendo diversão. Brendon correu logo atrás, com um sorriso no rosto, travesso. Caíram quando chocaram seus corpos contra uma maca e com isso, Ryan roubou uma das flores do doente – que não parecia estar em seu quarto – que era uma bela rosa vermelha e entregou a Brendon que sorriu e colocou sua rosa nos cabelos, atrás da orelha.

 

 

Newborn life, replacing all of us, changin this fable we live in.

Nova vida substituindo todos nós, mudando esta fábula que vivemos.

No longer needed here so where should we go?

Não precisamos mais ficar aqui, então para onde iremos?

Will you take a journey tonight, follow me past the walls of death?

Você irá fazer uma jornada esta noite, me seguir além das paredes da morte?

But girl, what if there is no eternal life?

Mas garota, e se não houver vida eterna?

 

 

 

Para Brendon Urie, na sua doce vida com Ryan, foi apenas uma noite. Ele voltou para seu corpo sem despedidas, apenas sentiu-se obrigado a voltar. O que Brendon não sabia é que quando ele voltou para seu corpo, já tinha se passado quinze dias de sua quase morte. Havia passado por algumas cirurgias de alto risco.

 

Shane estava ali quando Brendon abriu os olhos. O cantor percebeu com o desenrolar daquilo que tinha muitos amigos. Não se lembrava da sua noite com Ryan, apenas se lembrava que Ryan tinha lhe feito uma promessa. Chovia muito quando Brendon acordou e a chuva que batia no teto do hospital incomodava os ouvidos de Brendon Urie que caiu em um choro desesperado. Nunca mais teria seu Ryan Ross nos braços.

 

Quando teve alta, foi para casa. Shane foi para a dele. Brendon tinha prometido ao seu amado que viveria, por isso, não tentou se matar em momento nenhum. Apenas ligou a televisão e tentou assistir, para o mais breve possível retomar a sua rotina com a sua banda; para assim fazer o seu amado Ryan Ross ficar vivo no coração de seus fãs. Era para Ryan que ele viveria, mesmo que ele não estivesse presente.

 

Brendon dormiu na frente do sofá, de qualquer forma e só acordou quando a campainha tocou. Ele levantou, se arrastando até a porta. A chuva lhe incomodava bastante, mas ao abrir a porta, encontrou um pequeno bebê. Olhou para os dois lados e viu que o elevador estava ocupado, então voltou para casa com o bebê loiro. Um bebê lindo.

 

Lembrou-se então da promessa de Ryan e deu um sorriso, seguido de uma gargalhada. Recolheu o menino para si e decidiu que cuidaria dele. Cuidaria porque era o presente que Ryan tinha lhe deixado e o seu nome seria uma singela homenagem a quem lhe dera o sentido da vida de presente: George Ryan Urie.


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