Foto: Chace Mackenzie e Louisa

Passei as duas ultimas semanas deitava sobre uma cama me recuperando da queda. Enquanto isso Sebastian me informava dos preparativos para o concurso. Vários candidatos haviam se apresentado, e um deles, que se encontra preso nas masmorras no Vilarejo dos Vampiros (onde não existem mais habitantes) não se apresentou. Seu nome é Ben, e em seu lugar foi enviado seu irmão Chace que acabou vencendo o concurso.

Eu ainda não o conhecia e os preparativos da festa no salão principal da minha casa já haviam começado. Lisa, uma das criadas entrou em meu quarto com três vestidos sobre os seus braços. Ela parecia animada, apesar de não participar da festa.

— Olá Vossa Graça. – ela se encurvou e colocou os vestidos sobre a poltrona – Estas são as opções que America preparou para você. E aqui estão suas opções de máscaras. – ela retirou uma sacola que estava escondida abaixo dos vestidos.

— Obrigada Lisa. – sorri me sentando junto aos vestidos – Você pode me ajudar? Gostaria da sua opinião.

Ela assentiu e bateu palmas animada com meu pedido. Levantei-me segurando um dos vestidos, um azul claro, e o coloquei na minha frente enquanto olhava no espelho a minha direita.

— Sente-se Lisa. Fique a vontade.

Ela recuou um pouco e sentou-se envergonhada depois que insisti novamente.

— Temos este também! – peguei um outro, dessa vez vermelho, e coloquei novamente na minha frente.

Seu vermelho sangue se destacava sobre minha pele branca e meus cabelos escuros. Eu havia gostado deste.

— E por fim... – peguei um verde e repeti o mesmo processo. – Este!

— Todos estão lindos, Vossa Senhoria. E certamente ficará linda em qualquer um deles.

— Oh, é muito gentil Lisa, mas deve ter um preferido, assim como eu.

— O vermelho, com certeza.

— Eu concordo! – e corri para a sacola com as máscaras, haviam apenas duas. Uma preta com algumas penas decorativas brancas, e outra verde com algumas penas azuis. – Essa preta combina perfeitamente com meu vestido!

— Ótima escolha Vossa Graça.

Olhei para ela e apenas sorri ainda entretida com as belas máscaras que America havia separado para mim.

— Peço licença Vossa Graça.

— Claro.

Logo à tarde, algumas mulheres vieram arrumar o meu cabelo para mim, elas fariam também a minha maquiagem.

— Olá Louisa! – Octavia abriu a porta do meu quarto como sempre como se estivesse arrombando-a. – Cheguei!

Eu adorava a forma que ela me tratava, não como sua alteza, mas como sua amiga. Ela e Sebastian eram os únicos que faziam eu me sentir “normal”.

— Sente-se Octavia! Separei um lindo vestido verde para você, ele realçará os seus olhos.

— Isso é incrível! Já estou empolgada.

— Esta junto ao meu na poltrona, pode olhar, experimentar.

— Obrigada lindinha! – ela quase me sufocou com seu abraço, mas Octavia era exatamente assim, seu jeito era contagiante.

— Por nada. – sorri quando ela finalmente me soltou. 

Depois de algumas horas estávamos prontas, as duas, todas as mulheres já haviam ido para o quarto de America a arrumar também. Enquanto isso eu e Octavia brincávamos com nossos vestidos e nossas máscaras em frente ao espelho. Posso dizer que estávamos bonitas.

— Convidei uma amiga para vir ao baile, você disse que podia. – Octavia disparou.

— Tudo bem, não há problema.

— Ela esta ansiosa para conhecê-la.

— America e meu pai convidaram algumas pessoas importantes no Reino dos Magos e representantes dos outros Reinos também. A família do rapaz vencedor também estará presente.

— Finalmente vai conhecer o garoto que passará vinte quatro horas grudada! – ela soltou uma gargalhada – E que seja bonito por favor!

— Octavia! – adverti e não pude evitar rir de seus comentários.

— Vai dizer que não iria gostar de saber que seu guardião é um gato?

A porta se abriu e America estava pronta, e acompanhada de meu pai.

— Vamos descer meninas, os convidados já estão lá em baixo.

— Vamos! – Octavia saiu me puxando pela mão.

Chegamos no salão e todos os convidados estavam devidamente mascarados. Procurei Sebastian em meio a tantas máscaras, mas só encontrei sua mãe Cecília e seu pai Antony.

Octavia e eu estávamos conversando em um canto quando meu pai e America se apresentaram no altar e me chamaram.

Caminhei até eles e meu pai logo começou um discurso de honra ao rapaz vencedor.

— ...convido para se apresentar o vencedor Chace Mackenzie.

Logo um rapaz alto, de cabelos castanhos e olhos azuis que saltavam atrás de sua máscara se apresentou. Assim que chegou próximo a meu pai ele a retirou e se encurvou.

— Nossas honras Mr. Mackenzie. Sinta-se parabenizado por todos nós do Reino. – meu pai completou.

— Obrigado Vossa Alteza. – me assustei com sua voz, parecia conhecida para mim.

Deixei minha máscara cair das minhas mãos e logo senti o olhar de todos no salão se voltarem para mim. America retirou a máscara e todos tiveram o mesmo gesto e palmas ecoaram por todo o salão, saudando o então vencedor.

Ele olhou para mim no mesmo instante que eu o olhava.

Depois das apresentações voltei para o local de antes, onde Octavia estava intacta sem tirar os olhos de nós.

— Ei, você viu o que eu vi? – ela disse com um sorriso largo no rosto.

— Se me disser o que você viu posso lhe responder.

— O seu guardião, Mr. Mackenzie, ele é incrivelmente lindo.

— Não reparei nisso. – dei de ombros.

— Para né Louisa! – ela me cutucou – Não seja tola!

— Esta chamando Vossa Senhoria de tola? – brinquei.

— Estou! – ela riu.

— Ele é apresentável. – conclui – Mas onde esta Sebastian?

— Eu ainda não o vi.

— Olá meninas! – ele finalmente apareceu.

— Você desapareceu! – Octavia advertiu. – Onde estava?

— Com uma amiga. – senti algo diferente em sua voz, o que me fez pensar que não era apenas uma amiga.

— Que amiga? – perguntei.

— Licença. – uma garota ruiva de cabelos longos e cacheados, cachos assim como os de Sebastian, chegou logo atrás dele. – Vossa Graça. – ela se encurvou para mim que a cumprimentei.

Sebastian a olhou sorridente e senti que algo acontecia entre eles.

— Quem é você? – minha voz saiu mais ríspida do que eu esperava. – Quer dizer, não lhe conheço ainda. – tentei sorrir.

— Meu nome é Amanda. – ela parecia sem graça.

— Me desculpe se pareci um pouco grossa talvez. Não foi minha intensão.

— Imagina Vossa Graça, eu que lhe peço desculpas.

— Louisa, pode me chamar de Louisa.

Ela sorriu e parecia feliz com isso.

— Amanda é a garota que te falei que convidei. É minha amiga também. – Octavia disse segurando nas mãos dela sorridente. – Mas parece que Sebastian que gostou dessa convidada. – ela brincou e os dois ficaram sem graça.

Senti os olhos de Sebastian em mim, mas me recusava a olhar para ele.

— Eu preciso tomar um ar. – falei e me dirigi ao jardim.

Assim que cheguei no jardim encontrei Chace, o meu guardião sentado no gramado ao lado de umas plantas.

— O que faz aqui? – perguntei e ele me olhou surpreso.

— Lhe faço a mesma pergunta Vossa Graça. – ele se colocou de pé.

— Tudo bem, não precisa se levantar. – me sentei ao seu lado e ele se sentou novamente. – Louisa, pode me chamar assim.

— Mas então Louisa, o que faz por aqui com tantos convidados lá dentro a sua espera? – ele parecia irônico.

— Não parece tão legal quanto deveria. – falei – Estou entediada.

— Não me parece entediada, me parece triste. – ele se virou para mim olhando fixamente para o meu rosto.

— O que foi? – senti meu rosto corar.

— Gosto de conversar com as pessoas olhando em seus olhos. – seus olhos encontraram os meus assim como na hora que estávamos sobre o altar.

— Se eu lhe disser que sua voz me parece familiar, você me acharia louca?

— Claro que não. – ele sorriu – Sempre me dizem isso. Eu entendo a minha simpatia.

Ele era divertido. Eu estava gostando de conversar com ele. Até me esqueci por alguns minutos que Sebastian poderia estar beijando aquela garota minutos antes de me encontrar enquanto eu o procurava naquela droga de festa.

— Você é sempre assim? Idiota? – brinquei

— E você costuma chamar as pessoas de idiotas, Vossa Graça? – ele brincou.

— Nem sempre. Apenas quando merecem. – sorri.

— Você me parece um pouco atrevida para uma donzela em perigo que precisa de um guardião a sua volta vinte quatro horas por dia.

Gostei de ouvir aquilo. Ele não me via apenas como a princesa idiota que não sabe se defender e só pensa em roupas, joias e um príncipe.

— Você sim me parece entediado.

— Eu odeio festas. Principalmente quando seu irmão esta jogado nas masmorras de um vilarejo que nem existe mais.

— Eu sinto muito por seu irmão, mas porque ele não se apresentou?

— Ele é orgulhoso demais para passar o resto de sua vida servindo o rei e protegendo sua filha. – ele revirou os olhos – E ele era apaixonado em Catherine. Uma garota do nosso Vilarejo. Ele queria se casar com ela, e se viesse isso não seria possível. – ele parecia triste ao se lembrar de seu irmão, e eu me sentia culpada por isso.

— Prometo que vou encontrar uma forma de ajudar o seu irmão. – coloquei minha mão sobre a dele para conforta-lo, mas ele logo retirou sua mão. – Meu pai tem um bom coração, não será difícil. – completei.

— Obrigado. Mas porque faria isso?

— Porque nós somos amigos agora, não? – sorri levemente com os lábios.

— Você é bem diferente do que eu imaginei, e do que dizem por ai.

— E o que dizem por ai?

— É melhor deixar pra lá. – ele riu – Mas tem haver com frágil, fútil, e outras coisas do tipo.

— É, realmente eles não me conhecem. – fiquei um pouco triste em saber disso, mas feliz porque ele havia se surpreendido com meu jeito – E você pensava isso também?

— É o que eu ouvia falar. Sempre. De todos a minha volta.