Louisa e Sebastian

O chão estava completamente úmido, e meus pés afundavam na lama a medida que caminhava em sua direção. Seu rosto estava coberto pela sombra que pairava acima de seus ombros. Ele estava parado a alguns metros de distancia, mas eu conseguia ouvir sua voz com clareza.

— O que você quer comigo? – perguntei sem tirar os olhos dele a medida que a lama me sugava para baixo.

— Nada demais. – escutei sua risada sarcástica. – Apenas gostaria de vê-la morta. – o tom ríspido em sua voz me deixou apavorada.

Comecei a gritar, mas o som da minha voz não saia e a lama já estava na minha cintura. Olhei ao meu redor desesperada e ele havia desaparecido. Eu não conseguia me mover e a lama já alcançava os meus ombros.

— Calma. – um rapaz alto com uma voz suave dirigia-se a mim lentamente.

— Eu não consigo... – minha voz falhava e eu sentia a morte chegando.

— Você apenas precisa se acalmar, a lama sobe a medida que seu medo aumenta.

— Mas eu... – a lama alcançou a minha boca e eu não consegui terminar a frase.

Acordei desesperada como se estivesse realmente sendo sugada pela lama. Aquele homem sempre aparecia nos meus sonhos e em grande parte queria me matar. Eu sabia quem ele era apesar de não conseguir ver o seu rosto. Era Magnus, irmão do meu pai.

Mas pela primeira vez alguém aparecia para me salvar. Uma voz tão calma que eu não sentia mais o mesmo medo. Era como se ele fosse me salvar. Eu queria vê-lo novamente. Só não sabia como nem quando isso iria acontecer.

Meus sonhos estão ligados com a realidade de uma forma que não consigo explicar.

Passei a mão no meu rosto e o suor pingava no travesseiro que já estava encharcado. Levantei-me para abrir a cortina, mas a noite vibrava lá fora e a lua iluminava todo o caminho. Decidi colocar meu vestido e ir até a casa de Sebastian. Ele era meu melhor amigo, e o único que sabe dos meus pesadelos diários.

Desci as escadas lentamente para evitar que qualquer pessoa levantasse e me impedisse de sair.

Sebastian morava logo ao lado da minha casa, era filho de uma das melhores amigas de minha mãe, e eu amava ouvir as histórias que ela tinha com ela.

Peguei uma das menores pedras que encontrei no jardim de sua casa e joguei na sua janela. Sebastian tinha um sono pesado, provavelmente não acordaria com qualquer barulho.

Escolhi uma pedra maior e mirei em sua janela novamente. Não se passaram dois minutos e ele apareceu na mesma janela com o rosto amassado e o cabelo desgrenhado.

Quando me viu abriu um sorriso e sinalizou que iria trocar de roupa e descer. Sentei-me junto as plantas da entrada e esperei alguns minutos para que ele aparecesse.

— Você é louca. – ele sorriu e se sentou ao meu lado.

— Seu cabelo esta horrível. – brinquei ao ver que ele não havia penteado.

— Ei, eu não sou uma garotinha. – ele riu de volta passando a mão no meu cabelo o bagunçando.

— Sebastian! - adverti.

— Mas me diga, você deveria estar dormindo agora, não? – ele fez uma careta.

— Deveria, se eu não tivesse acordado de um daqueles pesadelos de sempre.

— Outro? – ele mudou sua expressão rapidamente. – O que houve dessa vez? – ele estava sério.

— Dessa vez foi diferente... – eu não sabia se era certo contar a ele sobre o rapaz.

— Diferente como?

— Outra pessoa apareceu para me salvar. – desabafei.

— Quem?

— Eu não sei, não consegui ver, só ouvi a sua voz.  – suspirei – Mas eu não o conheço.

Ele abafou a sua risada e disse:

— Pelo menos uma boa notícia nos seus pesadelos. – ele passou a mão em seu cabelo o alinhando entre os dedos formando seus cachos – Alguém quer salva-la.