Clean cuts escrita por topofilia


Capítulo 1
goddammit


Notas iniciais do capítulo

muitas vontades de morrer porque o akashi se parece comigo e é literalmente só nisso que eu penso



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O treino já tinha acabado, e Akashi estava sozinho, deitado no meio da quadra, encarando fixamente o teto do ginásio escuro. Entre inspirações e expirações, parecia que tudo dentro dele abandonava o corpo junto do ar. Foi súbito, como um terremoto, mas não o abalou nem um pouco — afinal, não tinha mais nada ali para abalar. 

Virou a cabeça, os olhos entreabertos visualizando com certo desdém a entrada da quadra, como se desafiando alguém a entrar. Podia ouvir o som das cigarras, servindo como uma trilha sonora naqueles minutos de completo e infinito vácuo, onde Seijuro se perdia nas vozes que ecoavam em sua cabeça, e ao mesmo tempo tomava completo controle.

Sua visão ficou borrada, e Akashi Seijuro não sentia mais a ponta de seus dedos.

O seu levantar foi um movimento repentino, uma reação de defesa contra passos que ressoavam com tanta clareza quanto suas preces silenciosas. Seus olhos cortantes, já atenuados, fitaram a origem do som, um certo tipo de desespero invadindo o território que antes pertencia ao nada

— A...Akashi-kun?

Por mais familiar que a voz fosse, tudo ao seu redor lhe era estrangeiro, porque ele não pertencia ali — não pertencia a lugar nenhum. Franziu as sobrancelhas, e as mechas azuis como o céu da manhã logo lhe serviram como dica sobre quem era o invasor.

Houve um silencio, que Akashi estava temeroso de extinguir.

— É você, não é?

Contentou-se em ficar calado, o que era uma afirmação ainda maior para Kuroko Tetsuya, cujos olhos igualmente sem vida estavam cravados em seu corpo frágil escondido pela escuridão da noite. — Tudo bem aí? Achei que você já tivesse ido embora.

— Sim, tudo bem. Eu estava só... pensando. — dessa vez ele foi rápido, porque a resposta para essa pergunta repetia-se em sua cabeça como uma gravação. "Sim, tudo bem". "Sim, tudo bem". "Sim, tudo bem". "Sim"--

— Você quer companhia? — o azulado balbuciou, como se acabasse de perceber o que tinha falado, e respirou fundo. — Eu estou precisando de pensar um pouco.

Akashi hesitou. Não estava com a mínima vontade de continuar a manter sua fachada de capitão naquele momento. Os olhos do outro continuavam fixados em seu corpo, o julgando, avaliando, consumindo por inteiro. Resolveu escolher a resposta impulsiva. — Pode vir.

Não olhou para a face de Kuroko quando ele se assentou ao seu lado, muito menos nos primeiros cinco minutos em que compartilharam o silêncio. Logo suas mãos suavam de modo desconfortável demais, e não aguentava mais ficar parado no mesmo lugar sem entrar em completo e incontrolável pânico.

Foi Akashi que teve a iniciativa. — Eu quero morrer.

Fantástico jeito de iniciar uma conversa.

Mesmo assim, suas palavras pareciam se encaixar perfeitamente com a situação, e o companheiro não parecia as estranhar nem um pouco. Não que ele parecesse demonstrar alguma emoção boa parte do tempo. — Quero desaparecer. Parar de existir. Odeio esse lugar. Odeio quem eu sou. Odeio quem eu estou me tornando. — continuou, um pouco mais corajoso.

Kuroko não respondeu, mas algo dentro de si lhe incentivou a prosseguir. — Você já se sentiu assim? Já se sentiu inútil, vazio? Como se nada mais importasse, mas ao mesmo tempo importasse demais?

O silêncio continuou. Seijuro esperava ansiosamente por sua resposta, e a visão ficava trémula novamente. 

— Você é uma ótima pessoa, Akashi-kun. Por favor não fale assim de você mesmo.

Seu corpo estava bambo, o coração rápido demais, o sangue percorrendo cada parte de seu corpo e instigando uma insatisfação perigosa dentro dos espaços vazios. — Cala a boca. — sussurrou, respirando fundo em uma tentativa falha de se acalmar. — Não importa o que eu penso de mim. Estou te perguntando, Kuroko Tetsuya. Você já se sentiu tão vivo que parecia estar prestes a explodir, tão vivo que teve que controlar cada nervo do seu corpo para não acabar fazendo alguma coisa impulsiva e perder sua vida? Pois eu perco minha vida todo dia, todo minuto. Perco de pouco em pouco, mas perco em um ritmo estável e contagiante, como se me estimulando a perder um pouco mais.

O tom de sua voz aumentou um pouco, mas Kuroko não parecia ligar. Agora, mirava novamente os olhos do capitão, como se esperando que continuasse. — Quero me cansar tanto que vou parar de existir em um segundo somente, quero me deliciar na tragédia dos outros para encher um pouco mais de emoção o vazio que estar vivo assim traz em mim. Estou tão vivo que me esvaziei por completo, e agora não consigo voltar mais, e ninguém parece notar. É melhor assim, não é? Quem iria seguir um líder como eu, que só usa os outros para sentir um pouco por si só? — já estava gritando, por mais controlado que quisesse estar, mas a presença de Tetsuya ao seu lado lhe dava uma sensação de aconchego e segurança. — Dizem que você se sente pior quando está morto por dentro, mas estar vivo me traz uma dor ainda maior.

Dessa vez, o suspiro profundo extinguiu também sua ira, e só assim percebeu que já estava de pé. Com o cabelo tão suado quanto suas mãos, formigando em alívio, Akashi jogou-se no chão novamente, à mercê do olhar de Kuroko.

Este, por sua vez, assentiu com a cabeça assim que percebeu que o amigo (se é que podiam se chamar assim) acalmou-se. — Me sinto tão vivo que quero morrer. Quero ser bom, quero ser o melhor, quero brilhar tão forte que vou derreter a mim mesmo. Mas não posso ser nada disso. Já me contentei com essa parte. Tenho que ser frio, uma sombra. O conforto que posso dar é traiçoeiro, porque a escuridão é que nem uma teia. Não sou a luz no final do caminho, sou aquilo a que todos querem escapar, e isso me deixa imensamente frustrado. — Akashi surpreendia-se que o outro conseguia falar tudo isso com a face tão neutra. — Mas já me contentei com essa parte.

O ruivo soltou uma risada baixa, irônica, mas a vítima era ele próprio. — Você é tão você, Tetsuya. Consegue me fascinar mais ainda toda vez que conversamos.

Kuroko virou o rosto, as bochechas um pouco coradas, e um sorriso melancólico adornando a face. — Que tal voltarmos para casa juntos? Podemos dar uma passada em algum café. Se é que tem alguma coisa aberta a essa hora. Você precisa relaxar um pouco. — a última frase foi dita com certa preocupação, e Seijuro não pode deixar de abrir um sorriso.

— Agradeço a oferta. Mas acho que eu terei que recusar. Vou ficar mais um tempo pensando. — contemplou novamente o teto do ginásio, como se algo novo tivesse aparecido ali; como se algo tivesse mudado o modo que ele antes o visualizava.

— Então, permita-me o acompanhar.

O sorriso de Akashi alargou-se.

 


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Notas finais do capítulo

espero que vocês tenham gostado! se é que alguém vai conseguir ler isso antes de eu deletar hjksdn
oh well
uma boa noite/dia/tarde para todos, espero voltar nesse fandom com algo menos depressivo



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