Luffy estava acabando de sair da casa de Sanji, onde a turma toda tinha se reunido para comemorar a vitória de Zoro no torneio nacional de Kendo. Era mais ou menos três da madrugada e ele estava voltando pra casa de pé, já que seu apartamento era perto, ele só precisava andar umas quatro quadras.

O garoto caminhava com as mãos nos bolsos da bermuda jeans e a camiseta vermelha que vestia não era o suficiente para protegê-lo do frio da noite. Ele colocou a mão sobre o chapéu de palha em sua cabeça quando uma brisa fria soprou. Qualquer um teria se encolhido, mas Luffy preferia garantir que seu precioso chapéu não voasse, mesmo que o vento fosse fraco.

Naquela hora da manhã as ruas estavam vazias, a cidade já estava dormindo e o silêncio deveria ser supremo, se não fosse o bar ainda aberto na próxima esquina, que tocava uma música qualquer.

Luffy estava passando por ele, sem nem sequer olhar.

— Dona, a senhora precisa ir pra casa... Nós já vamos fechar - um homem estava dizendo num tom desesperado e irritado ao mesmo tempo.

— V-vais-se ferrar! - uma voz feminina gaguejou completamente bêbada e um arrepio de reconhecimento correu pela espinha de Luffy, que parou de andar no mesmo instante - Eu v-vou ficar aqui, s-seu idi... Idiota!

O garoto levantou o olhar em direção ao bar, onde estava apenas uma mulher, sentada em cima de uma mesa parecendo prestes a perder o equilíbrio de tão bêbada que estava, e o homem que claramente era o dono do estabelecimento, tentando tirá-la de lá sem machucá-la.

— Hancock... - Luffy murmurou com preocupação.

Sem pensar duas vezes – tá legal, na verdade ele nunca pensava mesmo – o Monkey saiu num passo apressado direto para o bar. Antes mesmo dele se aproximar o suficiente, Hancock o viu e gritou o seu nome com alegria evidente.

— Lu-Luffy! - gaguejou empurrando as mãos do homem que tentava descê-la da mesa - Luffizinho!

— Hancock! - o garoto chegou perto abrindo o seu típico sorriso gigante.

— Moço, você conhece essa dona? - o homem perguntou a Luffy com um fio de esperança - Pode levar ela embora, por favor?

— Hein?

— Já está na hora de fechar, mas ela está completamente bêbada e não quer ir embora!

— Tá certo! - Luffy concordou e o homem se afastou.

Luffy fitou Hancock enquanto a mesma remexia os braços em cima da mesa ao som da música que tocava. All In My Head, o garoto reconheceu, do Fifth Harmony.

— Boa, eu vou te levar pra casa! - ele exclamou chegando mais perto e abraçando a cintura dela, pronto para ajudá-la a descer da mesa.

No mesmo instante, Boa se inclinou e escondeu o rosto no ombro do Monkey.

— Luffy... - murmurou no ouvido dele - Tem certeza que quer fazer isso aqui mesmo?

As pernas dela envolveram a cintura do garoto enquanto o rosto dele ficava vermelho, como se o corpo dele conseguisse entender a situação, mas ele mesmo continuava alegre e ingênuo como sempre, confuso apenas pela reação de Hancock o abraçando com as pernas.

— Vamos dançar, Luffy - Boa o chamou baixinho, ainda murmurando em seu ouvido - Eu amo essa música...

— Hancock... - Luffy retrucou ainda ingênuo - Nós vamos embora.

— Ah, não... Luffizinho... - o tom bêbado se tornava manhoso e lento - Vamos dançar... Não seja um garoto mau... Garotos maus vão pro inferno, sabia?

Enquanto ela falava, as mãos que abraçavam a nuca de Luffy começavam a se embrenhar pelo cabelo dele, o acariciando. Um arrepio percorreu o corpo do Monkey com o toque e ele inconscientemente apertou a mulher contra si, sentindo os fartos seios dela indo de encontro ao seu peito.

— Droga - Luffy murmurou contra o pescoço dela e a afastou, mas continuava a envolvendo pela cintura.

Tinha 24 anos, não era mais inocente, porém ainda completamente ingênuo. E lerdo, demorara para compreender a frase de Boa... Tem certeza que quer fazer isso aqui mesmo?. Luffy apenas segurara sua cintura e ela dissera aquilo. Depois de um século, o garoto entendeu.

Ele engoliu em seco.

— Hancock - fitou os olhos azuis dela - Vou te levar pra casa - disse de modo firme e abandonando o sorriso gentil - Vamos.

— Mas, Luffy! - ela exclamou embriagada - Eu quero dançar!

No mesmo instante a música finalmente foi desligada.

— Ei! - a mulher virou o rosto em direção ao aparelho de som, completamente irritada.

O Monkey segurou a cintura dela de modo mais firme e a jogou em cima do ombro direito.

— Lu... Luffy! - Hancock gritou.

Ela era mais alta que ele e embora fosse magra e esbelta, tinha um peso considerável. Mas não era problema para Luffy, que tinha uma enorme força bruta. Estava pretendendo levá-la para o seu apartamento, já que a casa dela era mais longe, só que o dono do bar surgiu do além, na frente de Luffy, segurando a bolsa de Hancock, e o agradecendo incansavelmente, como se o Monkey tivesse lhe salvado a vida.

Segurando as pernas de Boa com uma mão, ele agarrou a bolsa com a outra e enquanto isso ela se debatia no ombro dele, estapeando suas costas.

— Boa, fica quieta - ele grunhiu - Senão vai acabar vomitando.

Luffy colocou a bolsa de Hancock sobre a mesa em que ela estivera sentada antes e se virou para a rua, procurando o carro dela com os olhos. Encontrou a Hilux negra estacionada quase na esquina e sorriu satisfeito. Voltou-se novamente para a bolsa e deu um jeito de vasculhá-la apenas com uma mão, a procura das chaves.

— Lu-Luffy! - a voz embriagada de Hancock ainda o chamava - Me... Me coloca no chão! Eu quero dançar, porra! Manda aquele idiota ligar o som e colocar Work From Home, eu vou dançar essa música pra você, Luffizinho...

Work From Home. Luffy engoliu em seco novamente. Conhecia essa música do Fifth Harmony também e tudo nela era sensual, desde a letra até o ritmo. A imagem de Hancock a dançando deixou o Monkey arrepiado. No final das contas ele se deixava "motivar" por certas coisas, principalmente agora, depois que o significado da frase de Boa percorria sua mente.

Com Hancock ainda pendurada sobre o ombro dele, a bolsa dela e as chaves em um mão, o garoto saiu do bar e caminhou pela noite gelada até a Hilux. Boa não parava de se debater, gritando para ele voltar e deixá-la beber mais um pouco.

— Luffy! - ela esmurrava suas costas - Garoto mal, mal, mal! Você vai pro inferno, sabia?! - então ela abaixou o tom de voz para um murmurio - Luffy... Luffy... Por favor...

— Hancock, você vai pra casa! - o Monkey destravou o carro e abriu a porta traseira - Você já bebeu o suficiente...

Surpreendentemente ela ficou quieta e Luffy a colocou no chão. Boa teve dificuldades para ficar em pé, além de bêbada estava calçando um salto alto enorme. Ela se apoiou nos ombros do Monkey, que lhe segurou pela cintura enquanto tentava fazê-la entrar no carro.

— Hancock, por favor - ele falou calmo - Entra logo.

— Mas... Luffy... - ela olhava para ele com uma expressão quase chorona, o rosto inclinado para baixo já que era mais alta - Luffizinho...

— Não, Boa - falou sério - Já disse que você vai pra casa.

— Mas...

— Agora entra no carro.

Ele conseguiu fazê-la entrar com muito custo e os grandes olhos azuis dela seguiam as mãos de Luffy enquanto o garoto lhe passava o cinto de segurança.

— Luffy... - chamou toda manhosa.

— O quê? - ele terminou de lhe passar o cinto e a encarou.

Hancock estava fazendo bico, muito triste. Luffy sorriu de canto e ergueu a mão, colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha e ficou a admirando por alguns segundos. Os fios negros faziam um imenso contraste com a pele pálida, os cílios eram longos e volumosos, as imensas orbes azuis pareciam brilhar, o rosto era o de uma mulher bela e imponente, só que no momento ela não expressava nada disso, agindo como uma criança birrenta.

Boa acabou não dizendo mais nada e o Monkey fechou a porta do carro, deixando ela no banco de trás enquanto ia em direção ao lado do motorista.

*

*

*

Parou o carro em frente a casa de Hancock e pegou o pequeno controle que ficava embrenhado nas chaves. Pressionou o botão e o portão automático começou a se abrir.

Luffy olhou para Hancock através do espelho e riu de leve. Ela estava dormindo e a cabeça pendia num ângulo estranho.

Segundos depois, o Monkey estacionou a Hilux na garagem, e depois de fechar o portão novamente, saiu do carro e foi em direção a porta traseira, se preparando para pegar Boa no colo.

— Caramba - murmurou lembrando-se de ir abrir a porta da casa primeiro e acender a luz.

Depois que o fez, voltou para pegar Boa e ela ainda dormia com uma expressão mansa e Luffy sorriu de leve. Sim, ela era linda. Com Hancock no colo, ele fechou a porta do carro com o pé, e saiu a levando para dentro de casa.

Passou pela sala e subiu as escadas, encontrando o quarto de Hancock, o último do segundo andar. Luffy já estivera na casa dela antes, embora fosse um dia muito confuso para se recordar com calma naquele instante. Ele franziu o cenho. Realmente não se lembrava de como tinha acordado no quarto dela, há quase dois anos atrás. Certo, ele tinha bebido muito e mesmo que quisesse perguntar para Boa porque ele estava nu, tinha um certo receio.

Luffy sentiu o rosto esquentar de vergonha – coisa mais rara. Lembrou-se do que Hancock dissera mais cedo: Tem certeza que quer fazer isso aqui mesmo?. Talvez existisse mesmo um tarado enrustido guardado dentro do Monkey retardado.

O garoto depositou Boa na cama dela com cuidado. Levou as mãos em direção aos pés dela e começou o difícil trabalho de lhe tirar os saltos. No segundo em que ele conseguiu finalmente jogar os saltos dela em qualquer parte do quarto, a mulher abriu os olhos duma vez, se sentando no mesmo instante enquanto Luffy saltava dois metros de distância, tamanho o susto que levou.

— Droga - ela murmurou com uma mão na têmpora - Luffy...

A voz dela estava estranhamente manhosa. Ela olhou para o Monkey e deu um sorrisinho de canto, tentando se levantar.

— Va-vamosdançar,Luffizinho - ela gaguejou.

Ainda estava completamente bêbada. Claro... Um breve cochilo não poderia levar a embriaguez embora.

— Hancock - Luffy disse se aproximando antes que ela caísse - Você bebeu demais, precisa descansar.

— Cala a boca, Luffy! - ela retrucou se apoiando nos ombros dele enquanto fazia uma careta - Beber não deixa ninguém cansado!

— Caramba, Boa! - ele se deixou zangar por um segundo - Você entendeu o que eu quis dizer!

— Vamos dançar! - ela exclamou alegre, abraçando o garoto duma vez e enfiando o rosto dele nos seios dela - Meu Luffizinho...

— Han... Hanmock! - a voz dele saiu abafada.

O Monkey se livrou do aperto de Boa e teve uma ideia brilhante: iria colocar ela para tomar banho! Havia algo melhor do que uma água fria para acalmar os nervos bêbados?

— Vem - ele tentou puxá-la, mas a mulher se recusava a ir com ele, fazendo birra.

— Não! - berrou ela - Você não quer dançar comigo!

Luffy não conseguiu evitar: revirou os olhos do modo irônico que ele nunca expressava. Bem, tinha uma primeira vez pra tudo.

— Droga, Boa - reclamou - Para de ser teimosa!

E sem esperar mais, ele a jogou no ombro novamente enquanto a mesma continuava fazendo birra, batendo nas costa dele.

— Fica quieta, Hancock - ele pediu - Você já é gigante, fazendo escândalo desse jeito fica ainda pior de te carregar.

Depois de muita luta, o garoto conseguiu encher a banheira de água fria e simplesmente jogou Boa lá dentro, com roupa e tudo. A mulher soltou um grito agudo.

— Luffy! - berrou fazendo bico - Seu idi... Idiota! - ela já estava tremendo.

— Desculpa - ele pediu dando de ombros - Agora você tira a sua roupa e toma um banho direitinho, tá bom?

Ele já estava saindo do banheiro, mas parou quando notou Hancock olhando para ele com cara de quem chupou limão e não gostou.

— Que foi? - Luffy indagou.

Ela desfez a careta no mesmo instante e abriu um sorriso. Segurou-se na borda da banheira e tentou se levantar.

— Porra, Hancock! - Luffy gritou já perdendo a paciência - O que você tá fazendo, droga! É pra tomar banho!

— Só se você... Você dançar comigo! - falou muito animada.

— Não vou dançar, droga! - ele a fez sentar de novo - Caramba!

— Seu... Insensível! - e a mulher desabou no choro.

Luffy ficou olhando para ela sem saber o que fazer.

— Ei, Boa... - tentou falar algo útil - Calma... Desculpa... Eu não queria gritar com você...

— Vo-você é muito idiota, Luffy! - ela exclamou, batendo as mãos na água, fazendo o líquido espirrar por todo o banheiro e molhando Luffy inteirinho - Idi... Ota!

— Não chora, caramba - ele falou tentando soar calmo e compreensivo - Eu... Se você parar de chorar... Eu prometo que danço com você.

O Monkey acariciou os cabelos dela, murmurando de novo e de novo que dançaria com ela se a mesma terminasse de tomar um banho. Hancock foi se acalmando aos poucos, mas ficou mais quieta do que o normal.

— Hancock - ele chamou - Você tá bem?

Ela negou balançando a cabeça e voltando a chorar de novo, o que deixou Luffy desesperado. Qual era o problema daquela mulher? Ah, é mesmo. Ela estava bêbada.

No fim, Luffy teve que ele mesmo dar banho nela. O Monkey tirou o vestido roxo e justo do corpo dela, a deixando apenas numa lingerie branca. Ele engoliu em seco, tentando não encarar o busto dela por muito tempo, mas era quase impossível. E enquanto ele deixava ela nua, Hancock continuava no seu choro silencioso.

O garoto então respirou fundo e retirou-lhe o sutiã. Enfiou a mão na água e conseguiu retirar a calcinha dela também, Boa estava colaborando, mesmo que continuasse a chorar. Ele a esfregou, passou shampoo em seu cabelo e depois o massageou com condicionador. Cuidou dela como nunca havia cuidado de ninguém antes – aliás, nenhuma pessoa era louca o suficiente para se deixar cuidar por Luffy. Ele a fez levantar, a secou carinhosamente a enrolou na toalha, a tirando da banheira e mais uma vez a jogando por sobre o ombro.

Foi nesse momento que ela teve ânsia e pôs tudo o que tinha bebido para fora. Luffy suspirou e a desceu. Hancock se agachou na mesma hora e ficou ali, fazendo caretas de enjoo e vomitando. Ela realmente tinha bebido mais do que o necessário.

Minutos depois, Luffy ajudou a mulher a se levantar e a pôs debaixo do chuveiro. Depois usou outra toalha para enxugá-la mais uma vez e a pôs sentada no vaso com a tampa abaixada. Enquanto isso, ela o observava pegar o rodo e jogar água no chão do banheiro, fazendo o possível para limpar direito.

Ainda antes de levá-la para o quarto, Hancock pediu para escovar os dentes, não estava aguentando o gosto ruim na boca.

— Mas depois eu vou te dar água com açúcar - Luffy avisou - O vô Garp disse que é bom para pessoas bêbadas.

Minutos depois ele a estava guiando até a cama, a puxando pela mão. Parou com ela de frente ao enorme guarda-roupa e o abriu.

— Quer vestir o quê?

Boa não respondeu e o Monkey simplesmente pegou um vestidinho preto sem mangas que achou que fosse uma camisola. Desenrolou a toalha dela e lhe enfiou o vestido, lembrando-se que ela precisava de roupa de baixo também. Procurou a gaveta de calcinhas e pegou a primeira que viu, uma vermelha rendada.

— Toma - estendeu a peça para ela, mas Hancock nem se mexeu - Qual é, Hancock, não vai querer que eu te vista a calcinha também, vai?

Luffy suspirou olhou para a peça vermelha, a esticando. Suspirou mais uma vez e se agachou na frente dela.

— Vamos, Boa - falou meio irritado, meio envergonhado - Coloque primeiro a perna direita.

Hancock continuou parada. Luffy se ergueu e a olhou já sem paciência. Segurou o braço dela e a saiu puxando até a cama, onde a fez sentar. Então com o rosto queimando de raiva, frustração e vergonha, ele colocou a calcinha nela e depois respirou fundo, fechando os olhos.

— Luffy... - ele ouviu a voz dela o chamar num tom baixo e carente.

O Monkey abriu os olhos e puxou a mulher para a cabeceira da cama, a encostando lá e colocando o cobertor sobre suas pernas.

— Espera um pouco - pediu a ela.

Correndo, o garoto saiu do quarto e desceu as escadas, entrando na cozinha em alta velocidade. Passou uma mão no cabelo e ergueu o chapéu de palha o colocando na cabeça. Abriu os armários de Boa e encontrou açúcar, pegou um copo de água, fez a bendita mistura e antes de voltar para o quarto abriu a geladeira e engoliu o pedaço de pizza que encontrou lá, gelado mesmo.

— Bebe - ele disse para Hancock assim que entrou no quarto e a encontrou olhando para o nada com cara de sono - Vai te fazer bem.

— Luffy... - ela murmurou e lentamente ergueu a mão direita e pegou o copo de vidro.

— Vamos, Boa - o garoto incentivou, ajudando a mulher a beber a água com açúcar.

Quando ela terminou, Luffy tirou o copo das mãos dela e o pôs na mesinha de cabeceira. Fez Hancock se deitar e depois a cobriu até logo abaixo dos seios fartos.

— Hora de dormir - ele abriu um sorriso gigante para ela - Boa noite.

— Luffy... - ela estava quase fechando os olhos - Você disse que ia dançar comigo...

— Amanhã - ele respondeu ainda sorrindo - Eu prometo que danço com você.

Então Hancock fechou os olhos enquanto Luffy continuava a olhar para ela. Quando teve certeza que ela dormia profundamente, ele suspirou pesadamente e foi até o guarda-roupa dela, o abrindo devagar para não fazer barulho. Encontrou uma camisa social de Hancock, branca, sem detalhes. Sorriu consigo mesmo como quem diz que era o jeito, deixou o chapéu de palha sobre a escrivaninha de Boa e foi pro banheiro.

Era a primeira vez que o Monkey se sentia tão responsável na sua vida inteira de 20 anos. Ficou pensando se podia deixar Hancock dormindo e ir embora, mesmo que fosse uma pessoa hiperativa, ele estava cansado. Acabou decidindo que ficaria ali com ela naquela noite, poderia acontecer alguma coisa e Boa estaria muito mal para agir, o garoto estava preocupado.

Tomou um banho gelado e ficou debaixo do chuveiro mais tempo do que realmente precisava. Tinha se controlado um pouco quando estava cuidando da mulher, mas agora estava se excitando só de lembrar do corpo nu dela.

Droga, pensou mesmo que estivesse sorrindo.

*

*

*

Se vestiu com a camisa branca de Hancock e repetiu a cueca e o short jeans. Luffy saiu do banheiro pronto para pegar só um travesseiro e desabar no chão do quarto, mas quase teve um ataque cardíaco quando Hancock o chamou.

— Luffy...

Por que diabos ela não dorme?!, se perguntou em pensamentos, fazendo careta.

— Hancock - falou entredentes - Vai dormir.

— Luffy... - ela estava o fitando sorridente e sonolenta - Você vestiu minha blusa... Ficou bonito...

— Cala a boca - o Monkey já tinha perdido a paciência - Só dorme, Boa.

— Luffy... - murmurou se remexendo na cama - Não fala desse jeito comigo... Eu te amo...

O garoto ficou estático por dois segundos antes de sorrir sem jeito.

— Você ainda está completamente bêbada, Hancock - falou ele - Vá dormir senão eu não danço com você amanhã.

A mulher fez uma careta chorosa.

— Você é cruel, Luffy - disse baixo.

Ele caminhou até a cama, se sentando na beirada.

— Não sou cruel - retrucou - Só quero que descanse.

— Mas eu não quero! - ela exclamou, se sentando e de repente deitou novamente, tonta - É só porque eu sou mais velha, né - murmurou olhando para qualquer lugar que não fosse o rosto dele - Eu sei.

O garoto ergueu uma sobrancelha, não entendendo nada.

— Não sei do que você tá falando, Hancock - disse arrumando o cobertor sobre ela novamente - Amanhã nós conversamos. Dorme, por favor.

Mas Boa apenas começou a chorar.

— Por que você não vai embora?! - disse zangada.

Luffy sentiu algo se apertar dentro dele, embora estivesse realmente cansado, irritado e sem paciência, não queria deixar ela sozinha.

— Boa, eu não vou sair daqui enquanto não tiver certeza que você vai ficar bem - explicou sem jeito e envergonhado - Agora dorme, por favor.

Sem nem pensar, o Monkey acabou desabando sobre Hancock, afundando o rosto no cochão macio e suspirado em sono. Colocou as pernas para cima também e se moveu para o lado esquerdo da cama, deitando ao lado dela.

— Tô morrendo, Hancock - a voz de Luffy estava num tom realmente morto.

No mesmo instante ele se sentiu sendo abraçado. Arregalou os olhos enquanto Hancock colava o rosto no peito dele e chorava tudo o que ainda não tinha chorado.

— São só doze anos!! - exclamava soluçando - Não é muita diferença, por que você não me ama, Luffy?!

O garoto não falou nada, apenas colocou os braços em volta dela.

— Eu também sou mais alta, mas e daí?! - ela continuava - Eu te amo, por que você se importa com essas diferenças?!

Luffy não aguentou, acabou rindo. Hancock puxou a blusa que ele vestia, irritada pela risada dele, ela não estava achando aquilo engraçado.

— Calma, Boa - ele pediu ainda rindo - Eu não me importo com essas coisas, para mim tanto faz. De onde você tirou essas ideias?!

A mulher se ergueu sobre ele, o olhando nos olhos, ainda lacrimejava um pouco e soluçava.

— Mas a Margaret disse que...

O Monkey inverteu as posições, colocando uma mão no cabelo de Boa e o acariciando.

— Você ainda está bêbada, Hancock - sussurrou para ela - Vai dormir, vai.

— Mas...

Ele a calou com um beijo. Foi calmo, Hancock não estivera esperando por isso. Ela então levou as mãos até a nuca do Monkey e o fez arrepiar com o seu toque. O garoto então parou o beijo, o terminando com um selinho.

— Vamos dormir, Hancock - murmurou caindo ao lado dela e a abraçando com força - Amanhã o dia será longo.

Então com ele abraçado a ela daquela maneira forte e ao mesmo tempo carinhosa, Boa finalmente caiu no sono, sorrindo.

*

*

*

Luffy abriu os olhos muito devagar, não estava mais com sono, mas também não queria se levantar da cama. O quarto era enorme, a consistência da cama era diferente, o cheiro no ar era melhor, o lençol cobrindo suas pernas era macio.

— Hancock! - ele se levantou de uma vez, lembrando de tudo.

Olhou ao redor, ela não estava com ele na cama e nem em lugar algum do quarto. Engoliu em seco com extrema preocupação, ela deveria estar com uma tremenda ressaca. O Monkey entrou no banheiro para ver se Hancock estava ali, mas o cômodo estava vazio. Ele então jogou água no rosto e desceu para a parte de baixo da casa correndo.

— Hancock! - estava chamando enquanto corria - Hanc... - se interrompeu.

Ela estava saindo da área de serviço da casa.

— Bom dia, Luffy - sorriu fraco para ele.

Ainda vestia a camisola escura que ele colocara nela na noite anterior, os cabelos estavam recém-penteados e amarrados num coque e sua expressão estava cansada e um tanto dolorida.

— Bom dia, Hancock - Luffy respondeu abrindo o seu típico sorriso gingante - Você está bem?

Ela assentiu, andando até a pequena mesa da cozinha e se sentando. Sobre a mesa havia algumas torradas, manteiga, café e leite. Um barulho parecendo o de uma máquina de lavar estava soando.

— Só com um pouco de dor de cabeça, mas estou bem - ela disse o convidando para se sentar também - Olha, eu consegui fazer alguma coisa pra gente comer - sorriu de canto.

Luffy estava olhando para tudo com o estômago já sentado sobre as patas traseiras esperando comida.

— Parece bom - falou ansioso.

— Vamos comer então - Boa sinalizou com as mãos.

— Oba! - o Monkey atacou as torradas - Itadakimasu!!

— Itadakimasu.

Ambos tomaram o café da manhã sem trocarem mais nenhuma palavra. O silêncio era normal, não estava incomodando Luffy, mesmo assim talvez ele quisesse trocar algumas palavras com Boa, que comia de forma calma, como se tudo fosse arte.

— Gochisousama — eles disseram ao mesmo tempo quando terminaram a refeição.

Hancock se levantou antes de Luffy e voltou para a área de serviço. O Monkey não perdeu tempo e a acompanhou. A máquina de lavar realmente estivera ligada.

— Eu lavei a sua camisa - ela contou - Me desculpe por ter... Vomitado nela.

— Ah - ele sorria como sempre - Não tem problema... Eu meio que vesti essa blusa sua... Acho que se os caras ficarem sabendo disso vão me zoar eternamente, shishishishi... Desculpe ter vestido ela sem permissão.

Hancock deixou que a máquina continuasse lavando e secando não só a camisa de Luffy, como também outras roupas suas. Luffy a seguia enquanto ela caminhava de volta para a cozinha e depois para a sala. Ele agia como sempre, todo ingênuo e alegre.

— Luffy... - Boa o chamou.

— Sim?

— Você me fez uma promessa - contou meio sem graça.

Luffy coçou a nuca, erguendo uma sobrancelha.

— Fiz? - perguntou confuso - Qual?

A mulher olhou para o chão.

— Você disse que... Iria dançar comigo hoje.

O garoto se lembrou de que tinha mesmo prometido isso a ela. Sorriu contente e assentiu.

— Tudo bem - falou - Mas que música vamos dançar?

Hancock abriu um sorriso enorme e iluminado, que alegrou Luffy intensamente.

— Eu não sei - ela disse feliz - Deixa eu ver - correu para a estante e pegou vários CDs - Hmm... - passava os olhos sobre cada capa - Que tal essa? - disse finalmente escolhendo um dos CDs e o colocando no som - Eu amo essa música - ela foi selecionando as faixas - Ela é muito linda, se chama Stone.

— Stone? — Luffy repetiu e uma música lenta e calma preencheu o ar - Quem canta?

— Alessia Cara - Boa respondeu.

O Monkey sorriu e se aproximou dela. O ritmo da canção era mesmo bonito, a letra também. Ele enlaçou a cintura de Hancock e ela abraçou seu pescoço. Não importava que ela fosse mais alta, não fazia diferença. O clima naquele momento era algo que marcaria a vida de Luffy para sempre, ele nunca experimentara uma sensação tão boa quanto aquela que a dança com Boa lhe proporcionava. Não tinha nada a ver com luxúria ou outra coisa parecida. Era algo romântico, cheio de amor e vida. Calmo, lento e perfeito.

Em um momento muito profundo Luffy pensou que talvez aquela mulher poderia ser sua responsabilidade eterna. Não achou ruim, sorriu ainda mais. E também não se afastou quando Hancock se inclinou em sua direção e o beijou, bem no finalzinho da música.

Monkey D. Luffy decidiu que iria lutar para ter Boa Hancock para ele. Ele queria continuar... Cuidando dela.