Suspirei.

            Meu coração estava tão pesado no peito, era um sentimento tão ruim, tão devastador. Não sei onde eu encontrei forças para vim treinar. Queria deitar na cama e gritar sobre o travesseiro e deixar que as lágrimas cheias de dor e tristeza transbordassem de meus olhos, enquanto eu tentava achar alguma solução para resolver tudo.

            Eu precisava dela. E isso se mostrava cada vez mais com o passar dos dias que eu não a via ou se quer tinha algum registro de que ela estava mesmo neste planeta idiota.

            - Hyuuga, sua vez! – escutei o instrutor chamar. Balancei a cabeça torcendo para que meu rosto não transparecesse meus sentimentos. Caminhei até o tatame com a espada de esgrima desembainhada. Em frente para o oponente abaixei o capacete de proteção e me posicionei. – Prontos?

            Assenti e dei uma leve mordida na parte interna das bochechas.

            Você não vai perder! Pare de pensar nela e concentre-se.

            - Lutem! – o instrutor Gai gritou, esperei que Lee avança-se primeiro, aproveitando o tempo para me livrar das lembranças das lutas que tive aqui mesmo, nestes tatames, com a Mitsashi. Desde que nossos laços se partiram eu não a vi mais na academia e parte de mim gostava de não precisar vê-la, de encará-la, enquanto outra parte queria observá-la, tocá-la, ao menos tê-la por perto.

            Lee atacou por cima, em um golpe que me cortaria do ombro até meu quadril, saltei para trás desviando por pouco. Eu tinha me deixado distrair novamente. Bloquei um ataque nas coxas, nos braços; direita e esquerda; desviei para o lado e para trás. Lee sempre fora o cara de atacar e eu sempre me mantive na defesa, o que as vezes me fazia perder algumas lutas. Dei um passo largo para o lado desviando de Lee que se desequilibrou em meio ao ataque, aproveitei disto e estiquei meu braço colocando minha espada na garganta dele.

            Levantei meu capacete, o suor escorrendo pelas têmporas, e abaixei a espada. Lee olhou para mim com um sorriso gigante. – Acho que perdi, não é mesmo? – Bateu uma mão nas minhas costas me fazendo ficar com uma leve falta de ar. – Na próxima eu ganharei! Você vai ver!

            - Rapazes! Parabéns, lutaram muito bem. – O instrutor falou sorrindo, apoiando as mãos no quadril. – Lee! É esse o pensamento! Nunca...

            - ...Desistir, instrutor! – Lee completou com um grito.

            - Neji, - o instrutor prosseguiu diminuindo a animação. – notei que estava distraído, aconteceu algo com a Tenten? Tem quase quatro dias que ela não vem treinar.

            Passei a língua pelos dentes, tenso pela menção e desviei o olhar para o chão.

            - Nós terminamos. – falei enquanto saia do tatame em direção aos bancos.

            - O que houve? – Lee perguntou. Guardei a espada na bainha e a pus atravessada nas costas; comecei a calçar os tênis.

            - Não quero falar sobre isso.

            - Lee, não faça perguntas inconvenientes!

            - Desculpa, instrutor!

            Neji os observou e deu um sorriso amarelo. – Vou me arrumar. Posso usar o chuveiro? Vou direto para uma festa hoje.

            - Claro! – o instrutor Gai falou enquanto bebia água.

            Eu realmente não estava muito interessado nesta festa, queria ficar sozinho com meus problemas, mas Kiba insistiu tanto que aceitar foi a única forma para tirá-lo do meu pé.

            Será que ela vai?

            Fiquei com essa mesma pergunta durante o percurso inteiro para a casa de Naruto, onde ocorreria festa. Talvez até fosse bom ela estar na festa, eu a encontraria e tentaria conversar, pedir perdão por tudo. A cada hora que passava eu sentia que ela me esquecia e a cada hora meu coração se perdia para a dor. Nunca pensei que fosse sentir algo tão forte por alguém ou que o fato de não ter mais esse alguém fosse me custar tanto, eu praticamente tinha parado no tempo. Estava comendo menos do que o normal, dormia mal e não aguentava mais estudar ou assistir filmes de ação sem lembrar dela.

            Virei uma esquina e comecei a ouvir a música alta. A casa estava cheia de luzes coloridas e pela quantidade de carros estacionados na rua eu chuto que o Uzumaki tinha convidado de cinquenta à setenta pessoas.

            Mostrei meu convite e entrei. Caminhei pelo caminho de pedras até a porta e bati três vezes, mas parecia que ninguém conseguia escutar. Por sorte ela estava aberta, então apenas entrei.

            A sala tinha sumido e dado lugar a uma pista de dança multicolorida. Pessoas andavam de um lado para o outro segurando copos descartáveis laranjas florescente e usavam pulseiras da mesma tonalidade. Não esperava menos de Naruto. Subi sem avisar para o quarto do Uzumaki e coloquei minha espada e mochila encima da cama.

            Enquanto eu descia a escada meu queixo caiu quando eu vi a Mitsashi conversando com um rapaz que, talvez, fosse um pouco mais velho que eu. Ela usava metade do cabelo solto caindo nas costas e metade em um coque preso alto com prendedor em forma de lírio, roxo e prata. Vestia um vestido ameixa que ia até tornozelo com mangas compridas e largas nos pulsos.

            Fiquei ali na escada não sei quanto tempo a observando, o jeito como gesticulava e andava. Aquele cara estava muito perto e eu definitivamente não estava gostando daquilo.

            - Hyuuga! – Alguém gritou da multidão abaixo. Então eu avistei Naruto e Kiba, ambos com uma lata de cerveja na mão.

            Descia as escadas e me encontrei com eles sem perder minha ex de vista. – O que você estava fazendo ali empoleirado naqueles degraus? – Kiba perguntou olhando ao redor. – Essa festa está uma maravilha! Tome! – Falou e me entregou a lata de cerveja. – Tem cada gatinha que vai fazer esquecer a Tenten rapidinho.

            - A Ino está linda, cara! – Naruto falou colocando uma mão em seu ombro. – Tire essa cara de gato perdido e vá se divertir! Roubar uns selinhos faz parte.

            - Está difícil. – respondi, não fazia muito meu tipo sair pegando qualquer uma como o Kiba fazia em toda festa que ia.

            - O Sai trouxe drogas! Gostaria de uma bala? – Kiba falou com um sorriso ferino. – Sabe? Ecstasy.

            Assenti. Iria procurar Sai depois, talvez, quem sabe, drogas me fizessem esquecê-la por alguns segundos.

            - A mesa do bufe está no quintal, pode comer quanto quiser. – Naruto falou virando a lata de cerveja e depois a jogou em nenhum lugar especifico. – Sasuke não vem, está ocupado com alguma coisa e eu...

            - Cale a boca, só fala isso, bêbado filho da puta.

            - A festa é minha. – Naruto replicou e notei que ele estava bêbado e provavelmente tinha usado alguma droga.

            - E eu com isso?

            - Como assim você com isso? – Naruto replicou enquanto pegava um copo colorido de uma bandeja.

            - Você é demente? O álcool destruiu seus neurônios?

            - Cale a boca, Inuzuka!

            - Naruto!  - Kiba deu um soco no braço do outro.

            Levantei meu olhos dos meninos rapidamente notando que havia perdido a Tenten de vista, eu tenho que falar com ela... Tenho que encontrá-la. Ignorando o falatório de Naruto desviei das mãos de Kiba e entrei na pista de dança ingerindo alguns goles da cerveja e degustando o sabor amargo; satisfatório. Não a encontrei ali, sai para o quintal onde também estava acontecendo a festa.

            Cadê você? Cadê você? Não me diga que está...

            - Sakura! – chamei a menina de cabelos rosas que trazia um copo colorido na mão.

            - Neji, a quanto tem...

            - Você viu a Tenten?

            - Passou por aqui a pouco, foi naquela dire...

            - Obrigado. – Agradeci e me apressei na direção indicada. O quintal era bem grande até, tinha uma piscina, árvores e estátuas espalhadas. Enquanto eu andava me perguntei o que falaria, como agiria. Merda.

            - O grande Neji. – Escutei Sai falar quando virei em uma estatua próxima a piscina, ele estava encostado em uma estátua com Ino em um abraço. Não precisei pensar muito pra saber o que estavam fazendo. – Pensei que não viria depois que terminou com a Tenten.

            Dei de ombros tentando manter indiferença. Não disse mais nada e passei pelo casal.

            Encontrei a Tenten e o rapaz a poucos metros e pelo que vi a situação não estava muito legal.

            - Cale a boca, com quem pensa que está falando? – escutou a Mitsashi falar perdendo a calma. O cara tentou segurá-la pelo pulso, mas ela o afastou e tal ação acabou deixando espaço para que ele a enlaçasse pela cintura. – Me solte!

            Meus olhos não aguentaram ver aquilo, senti meu sangue correr mais rápido e me apressei para interceptar o que aquele idiota estava prestes a fazer com a minha... Com a Tenten.

            - Solte-a. – falei, minha voz saiu séria e firme. – Solte-a que eu estou mandando.

            O Rapaz me olhou de cima para baixo e levantou uma sobrancelha. – A quem devo a honra?

            - Não lhe interessa. Agora. Solte-a. – Não olhei para Tenten apesar de sentir seus olhos em mim. O rapaz a soltou e me deu passo em minha direção.

            -  Quem você pensa que é? – perguntou dando outro passo. Nos encaramos. – Ora, ora, você é um Hyuuga Metidinho? – Não respondi. Ele se aproximou e notei pelo movimentos dos ombros que iria me empurrar, abaixei rapidamente e soquei os dedos - indicador e médio - no espaço onde as costelas faziam um U de cabeça para baixo. Ele se curvou, o rosto formando uma carranca de dor e enjoo. Com a outra mão dei-lhe um soco na boca do estômago e logo ele caiu de joelhos no chão.

            Passei por ele dando nada mais que uma cara de nojo e ódio por ter tocado na Tenten daquele jeito.

            Quem ele pensava que era?

            — Você está bem? – Perguntei quase sussurrando, minhas palavras quase não saíram.

            - Hum... Obrigada, Neji. – ela falou e virou as costas começando a andar.

            Corri em seu encalço e segurei seu pulso, virei-a e encostei suas costas em uma árvore.  – Preciso falar com você. – inspirei – Tenten... – expirei procurando ar e palavras. – Eu...

            - Não tenho nada para falar com você... – falou enquanto rodava o pulso em minha mão para se soltar.

            - Eu achava que lhe entendia melhor... Do que qualquer outra pessoa entenderia. – ela mordeu o lábio inferior e olhou para baixo pensei que iria desabar. – Eu estou pensando apenas em você, isso machuca tanto... – Levantei o queixo dela devagar para que me olhasse nos olhos, para que soubesse que estava sendo verdadeiro e sincero. – Eu quero te proteger, quero cuidar de você como antes. Tenten, eu a amo.  – Os olhos dela começaram a lacrimejar. – Por favor...

            - Neji. – ela falou enquanto uma lágrima escorria por suas bochechas, apressei-me em secá-la com meu polegar. A pele dela era tão macia. – Neji, nós nos machucamos tanto, eu... Não sei.

            - Nos dê mais uma chance. – Pedi apoiando um braço acima da cabeça dela e encostei minha testa lá, sem conseguir olha-la nos olhos. Senti sua mão se soltando da minha.

            Ela colocou uma das mãos em meu peitoral me empurrando e olhei novamente para ela que forçou um sorriso em seus lábios, era tão adorável que machucava.

            - Eu também. – ela sussurrou. – Também te amo.