O barulho do dedo dele escorregando pelo vidro molhado fez Hermione gargalhar.

— O que você está fazendo? - perguntou enlaçando-o pela cintura e apoiando o queixo em suas costas.

— Você já vai descobrir - ele falou sobre os ombros. 

Aos poucos o desenho foi tomando forma no vidro embaçado.

— huuum, um coração? - perguntou pretensiosa.

— Meu coração - ele explicou - E você senhorita Granger, o flechou - ele terminou o desenho de um coração atravessado por uma flecha.

— Como vou saber que é o seu coração? - mesmo sem ver o rosto dela, ele sabia que Hermione havia arqueado as sobrancelhas.

Severo sorriu e começou a correr o dedo pelo vidro novamente.

— Porque tem seu nome nele.

Antes mesmo de terminar a frase ele se virou e a puxou para junto de seu peito. As faces da garotas estavam coradas por causa do vapor quente que saia do chuveiro e mesmo preso em um coque, algumas mechas de cabelo escapavam do penteado e estavam grudadas em sua pele. O corpo dela molhado e colado ao dele era mais que um convite.

— Você não deveria ter invadido o meu banho - ele rosnou muito perto do ouvido dela e percebeu os cabelos em sua nuca arrepiarem enquanto ela ria mais uma vez.

Suas mãos desceram da cintura de Hermione  para suas coxas.

— E o que você está pretendendo Severo?

— Você faz perguntas demais - A boca de Severo cobriu a dela imediatamente e eles fizeram amor encostados na parede do banheiro.

O som estridente do despertador ecoou pelo apartamento vazio tirando Severo de seu sonho. Ele abriu os olhos com dificuldade por causa dor lancinante em sua cabeça. Não bastasse isso, seu estômago parecia estar ao contrário nesta manhã. Ele sentiu um forte cheiro de álcool e não demorou a presumir que exalava de seu próprio corpo.

— aah não... não acredito...

Severo se levantou do velho sofá que um dia foi negro, mas cambaleou e precisou se sentar novamente. A dor em sua cabeça estava piorando a cada segundo. Ainda estava vestido com as calças sociais escuras e a camisa branca do dia anterior, ainda que a roupa estivesse bem mais amassada.

Ele bebeu naquela noite. Aliás seria hipócrita em dizer que havia apenas "bebido". Ele tinha enchido a cara no sentido mais sórdido da expressão. Pelo menos uma garrafa e meia de firewhisck, até onde ele conseguia se lembrar.

Hermione odiava quando ele bebia e seu coração pesou quando pensou nisso.

O que ela diria se pudesse te ver agora Severo Snape? Uma voz em sua cabeça zombava dele.

— Ela não se importa, não mais... - ele rosnou tentando se levantar novamente.

A casa estava parcialmente vazia. Além de uma parte do coração de Severo, Hermione tinha levado com ela boa parte dos móveis.

Ele preferia que ela tivesse levado tudo. Era como se ela estivesse presente nas poucas coisas que restaram. Nos cabides vazios, nas gavetas que continuavam abertas desde o dia que ela partiu. Naquele maldito desenho que se formava no box do banheiro toda vez que ele ligava o chuveiro.

Telefone para ela seu idiota! Mostre que VOCÊ se importa! Aquela maldita voz outra vez!

Ele amava Hermione Granger, de todo coração, ela sabia disso, ele tinha mostrado seu melhor lado a ela, mostrado um Severo Snape que ninguém mais conhecia! E mesmo assim ela o tinha deixado!

Mas você não disse isso à ela. Porque você é um ignorante! Ligue e peça perdão!

— Inferno!

Severo foleou uma velha agenda que ficava sempre ao lado do telefone que Hermione o ensinara a usar há algum tempo atrás e discou o número que ela havia anotado ali na noite em que partiu.

— Essas porcarias trouxas...- resmungou colocando o aparelho no ouvido.

— Alô...

— Alô Hermione, querida...

— ...você ligou para Hermione Granger, eu não posso atender agora, deixe seu recado após o sinal...

Bip.

Bip? Deixe um recado? OK.

— Hermione... amor... sou eu

Em nome de Mérlim, o que eu estou fazendo?

— Me desculpe, eu não sei usar essa coisa direito... estou telefonando para dizer que eu... eu... você tem certeza que levou tudo?

Você é um idiota Severo! Um idiota de primeira mão.

— Eu estou querendo dizer que... a casa esta vazia e mesmo assim eu vejo você em tudo, em cada canto que posso olhar,  nos armários, na nossa cama... e no box do banheiro toda vez que o vidro embaça tem aquele desenho... o seu nome... Hermione, o seu cheiro esta nas minhas roupas e eu não quero mais lava-las....

Ele se encostou na parede e afundou o rosto na palma da mão.

— Eu sinto muito se te magoei. Eu amo você. Se você puder... se você...

Ele fechou os olhos, se recostou na parede e passou a mão pelos cabelos. Houve um ruído do outro lado da linha, mas foi a voz suave que veio em seguida que o fez se sobressaltar.

— Severo...

— Hermione!

— Você está bêbado?

Então era isso que ela pensava dele? Que só poderia estar bêbado para dizer que a amava.

— Não, eu estou...

— Olha Severo...

— Me escute, está bem? - ele a interrompeu - Eu sou um idiota completo, mas eu amo você e eu não estou bêbado, pelo menos não agora.

Ele a ouviu soltar um longo suspiro.

— Tudo bem. E o que você quer?

— Você!

— Não Severo, você não entendeu - ela ficou em silêncio por alguns segundos - Você se lembra do que porque eu fui embora?

— Sim.

— E como vou saber que isso mudou?

— EU nunca menti para você. Menti?

— Não.

— Então não há razões para você não acreditar!

— Você está fazendo de novo.

— Venha jantar comigo,

Ela suspirou novamente.

— Você está mesmo com... quero dizer, você realmente sente minha falta?

Severo abriu um meio sorriso.

— Existe uma razão para eu não querer ficar sóbrio quando estou nessa casa.

— Não fale assim - ela sussurrou.

— Eu amo você - ele sussurrou de volta.

— Eu também amo você.

ele sorriu.

— Volte para mim.

— O mais rápido que eu conseguir...