Game of Lovers escrita por Jamile James


Capítulo 3
Capítulo 3




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Jamile

— Você está bem? – Lysandre perguntou.

Desde o momento em que me levantei para tentar abrir aquela porta, eu passei por diferentes fases. A primeira durou apenas dois segundos: choque. Eu não esperava ficar presa na escola em meu primeiro dia nela. A segunda durou minutos, mas foi a mais frustrante de todas: esperança. Ela começou quando Lysandre começou a bater na porta, achando que alguém nos ouviria. Ele concluiu que uma advertência não era tão grave quanto ficar preso ali. A terceira foi o pânico, e ela teve início assim que percebemos que ninguém voltaria para nos tirar dali, estávamos sozinhos e sem nenhuma forma de contatar alguém fora dali, sem um telefone, nada. Essa foi a pior fase. Havia muito tempo em que não me sentia assim, desde que abandonei a terapia, devido à morte da minha prima, todas as situações a que fui exposta podiam ser resolvidas com uma ou outra atitude, por mais difícil que fosse tomá-las. Estar presa naquela sala, com um garoto que eu mal conhecia, totalmente vulnerável, colocava-me diante de um dos meus maiores medos: a impotência. Não demorou muito, e meu companheiro de cárcere notou o quanto eu estava aterrorizada, porque assim que a terceira fase chegou, ele se aproximou cuidadosamente e me abraçou sem dizer uma só palavra. Eu não sabia o que motivara aquela atitude dele, nem se ele gostava da ideia de ter que me consolar quando ele mesmo estava em apuros. Eu sequer poderia imaginar se ele fazia aquilo por mim, ou por ele. Mas, independentemente do que ele sentia naquele momento, ele soube me transmitir paz. Depois de muito tempo me abraçando, Lysandre pareceu perceber quando eu me acalmei e se afastou um pouco. Eu não sabia o que dizer, então o agradeci com um sorriso. Ele me olhou por alguns segundos, sorriu e assentiu com a cabeça. Passaram-se aproximadamente 5 minutos, e a quarta fase começou: agitação. Essa começou quando passei a pensar nas pessoas que estavam fora daquela sala. Meus pais, os pais do Lysandre, a diretora, talvez a polícia. Eu não sabia como lidariam com o fato de não voltarmos para nossas casas hoje. E foi nesse momento que Lysandre pareceu finalmente sair de seus pensamentos e sentiu a necessidade de falar comigo.

— Estou, eu só estou tentando imaginar as consequências disso – respondi.

— Como assim?

— Você sabe, nossos pais, o fato de não chegarmos em casa hoje...eles podem ficar preocupados. Eu não sei o que meus pais farão. Eu não queria que eles tivessem uma noite conturbada por minha causa.

Lysandre estava sentado no chão, escorado numa das paredes me observando andar de um lado para o outro. Ele parecia refletir, quando resolveu se levantar e se colocar no meu caminho.

— Isso é bonito, sua preocupação com eles – ele colocou a mão no meu ombro e me deu um sorriso tímido – mas você não vai ajudá-los ficando agoniada a noite toda.

Eu sorri e fiz um sinal para que nos sentássemos no canto da sala. Sentamos um do lado do outro e continuamos a conversar:

— Não está preocupado com seus pais? – perguntei.

— Eu não moro com meus pais.

— Você mora sozinho?

— Não, na verdade eu moro com meu irmão mais velho, Leigh. E sinceramente, levando em consideração nossos últimos dias, eu não sei se ele sentirá minha falta esta noite.

— Vocês deveriam conversar.

— Você nem sabe qual é nosso problema.

— Realmente, mas que outra forma há de se resolver um problema entre duas pessoas se não conversando? – eu dei uma risadinha tímida e ele retribuiu – Seu bloco de notas, você o usa para as aulas?

— Não, são anotações aleatórias. Eu gosto muito de escrever, compor músicas, desenhar...tenho uma certa paixão pela arte no geral.

— Com um apego especial aos clássicos, eu imagino.

— Por que você acha isso? – ele me olhou surpreso.

— Bem, esse seu estilo vitoriano diz muito sobre você – eu ri.

Depois de uma pequena pausa eu peguei a mão dele.

— Obrigada por estar fazendo não sei o quê por aqui hoje.

— Como? – ele não emitiu nenhuma reação ao meu gesto.

— Não sei como estaria agora se eu estivesse aqui sozinha – eu olhei para ele. Lysandre me encarou de volta e apertou carinhosamente a minha mão.

— Sou eu quem devo agradecer por você estar aqui.

Eu queria perguntar a ele o que eram esses assuntos que ele resolvia tão tarde na escola. Na verdade, havia muitas coisas que eu queria saber sobre Lysandre. Mas eu preferi deixar para depois, estava cansada, não sabia se era pelo horário ou pelo esforço mental que foi encarar aquele dia. Ele não demorou a perceber que eu estava com sono e pediu que eu escorasse nele, caso quisesse dormir.

— Você não acha que eu seria um pouco invasiva? – eu disse quando ele se ofereceu.

— Você tem a mim, ou às cadeiras. Eu acho que sou a alternativa mais confortável – ele disse com um largo sorriso no rosto.

Eu encostei sobre o ombro dele e adormeci. Foi assim que alcancei a quinta fase: alívio.

Armin

— Acorda! Ainda temos que ir pra aula – o Alexy me balançava.

Às vezes, eu preferia não estudar na mesma escola que meu irmão. Apesar de gostar de ter Alexy do meu lado, os jogos também eram boas companhias e, em dias como esse, em que eu passei a noite anterior toda jogando, eu adoraria perder o horário e não acordar para a escola. Mas meu irmão tornava esse “acidente” impossível.

Levantei, tomei uma chuveirada e vesti as roupas que Alexy atirou em mim. Insisti para que ele esperasse um pouco enquanto eu comia um pão de queijo e então fomos para a escola. Sweet Amoris ficava a um quarteirão da nossa casa, e mesmo assim, meu irmão insistia que tínhamos que sair meia hora antes do horário de início das aulas. Aparentemente, ele gostava muito de pegar no pé do Kentin, que além do Nathaniel e da Melody, que estavam sempre ocupados com a organização de alguma coisa para a escola, era o único aluno que já estava por lá esse horário.

Entramos e fomos direto para o fundo do corredor, onde Kentin costumava ficar durante a manhã. Quando o encontramos, ele parecia agitado, andava de um lado para o outro com o telefone na mão. Parecia estar tentando falar com alguém, mas não conseguia.

— Olá Kentin, há algo errado? – Alexy, que estava logo do meu lado falou.

— Sim, estou tentando falar com a Jamile, mas ela não atende.

— Ah, mas daqui a pouco é a aula, ela já deve estar vindo para a escola – eu disse.

— Eu não teria tanta certeza... – Kentin parecia preocupado.

— Por quê?Aconteceu algo com ela? – questionou Alexy.

— Parece que ela ficou presa na escola com o Lysandre ontem. Até onde sei, já era de madrugada quando os pais dela, a diretora e a polícia os encontraram aqui e os levaram para casa. Eu queria saber se está tudo bem com ela.

Kentin parecia realmente abalado. Eles pareciam muito próximos, até onde sabia, ele e Jamile eram grandes amigos de infância. Mas eu não fazia ideia de até que ponto essa amizade era profunda. De qualquer modo, por um lado eu o entendia. Eu não tinha muito contato com o Lysandre, sempre compartilhamos o gosto por ficarmos sozinhos, porém a garota, mesmo não a conhecendo bem, era do seu próprio modo especial. Ontem, Jamile dedicou muito tempo para me escutar a falar dos meus jogos, da minha família e de várias coisas aleatórias que eu gostava. Mesmo depois de eu falar várias coisas que ela deve ter considerado inúteis, ela permaneceu ao meu lado. E devo admitir que a conversa que tivemos me deixou feliz. O fato da experiência dela em seu primeiro dia aqui ter sido tão ruim, era no mínimo desconcertante.

— Mas se ela passou a noite aqui, deve estar descansando esse horário, talvez seja melhor tentar falar com ela depois – sugeriu meu irmão.

— Talvez, vou tentar só mais algumas vezes – respondeu Kentin.

Quando ele reiniciou suas tentativas de falar com Jamile pelo telefone, eu notei um barulho estranho vindo de cima de um dos armários que ficavam do lado esquerdo do corredor. Segui esse som até lá, procurei a fonte dele, e encontrei um celular. O aparelho vibrava incessantemente anunciando a ligação de Ken. O sinal anunciando o início das aulas tocou logo em seguida, fazendo as ligações pararem. Pude ver a foto de tela do celular: era Jamile sorrindo em frente à ponte São Francisco. Ela estava particularmente bonita naquela foto. Me virei para avisar aos rapazes o que eu tinha encontrado, mas eles já tinham ido para a aula. Guardei o celular na minha mochila e fui também, não tinha chegado tão cedo para me atrasar.

Nathaniel

Cada segundo até que a aula começasse pareceu durar uma eternidade. Quando cheguei a escola hoje, uma hora antes do horário como de praxe, eu esperava que a motivação para a fúria matinal da diretora fosse qualquer coisa, exceto o fato de dois alunos terem ficado presos quase a noite inteira em Sweet Amoris. Muito menos que um desses alunos seria Jamile. Quando soube o que acontecera a ela, toda revolta que eu havia sentido por ela ter me rejeitado para ficar com o Castiel no dia anterior foi apagada. Eu imaginei que ela não quis que eu a acompanhasse, para que pudesse ir com ele, no entanto, ela não foi para casa, e quando foi presa, não estava com ele. Estava com Lysandre. Foi nesse momento que percebi que tudo que eu passei a noite inteira remoendo, sobre porque ela se interessara tanto em alguém como o Castiel, ou o que eles teriam feito depois que eu saí, o que ela achava sobre mim, e ainda mais, porque eu estava tão mexido por uma garota que eu tinha acabado de conhecer, não fazia importância alguma. Eu não sabia se ela estava bem, como foi a noite dela, se a veria hoje e isso era assustador.

Quando vi Lysandre chegar, 5 minutos antes do horário da aula, senti uma pontada de esperança. Afinal, se ele havia vindo, talvez ela também viesse. Fiquei olhando para os lados, ansioso, mas nada. Até que alguém cutucou minhas costas:

— Nathaniel, temos que avisá-lo – era a Melody, sinalizando para o Lysandre.

Eu assenti, e fomos na direção dele.

— Bom dia, Lysandre. Você está bem? – eu disse.

— Bom dia Nath, Melody – ele olhou para nós dois – Sim, eu estou. Sinto muito se a noite passada gerou problemas para vocês.

— Não se preocupe com isso – disse Melody sorrindo – a diretora gostaria de conversar conosco e, claro, com você e a Jamile no horário do almoço.

— Você sabe se ela virá? – perguntei.

— Sinceramente, não. A noite passada foi um pouco complicada.

Eu concordei e fomos para os nossos lugares. As aulas foram passando, mas Jamile não chegava.


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